segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

CURTAS 58 - ANÁLISES (Lula e milicos; intentona)

 

Terror pós-eleição: Lula omite militares

            1 ano após os acontecimentos de que já sabemos do pós-eleição e do 8/1, o presidente Lula fez uma live na qual vários bois foram nomeados. Sobre os fatos em Brasília em 12/12/2022, ele responsabilizou Ibaneis Rocha, governador do DF, por inércia da PMDF.
            Ainda em relação aos fatos do pós-eleição, os de 12/12 e até o 8/1, Lula acusa o ex-presidente Jair Bolsonaro como o grande mandante planejador dos acontecimentos. E completou afirmando a responsabilidade de empresários do agro em financiar o terror.
            O presidente evitou especificar os nomes, devido às investigações ainda continuarem no rastreio de nomes empresariais que de fato financiaram a barbárie. Por enquanto só um foi identificado e preso.
            Falas medidas – as falas sobre pessoas e os acontecimentos que culminaram no 8/1 foram bem calculadas pelo presidente da República. É compreensível, considerando que as plataformas de redes sociais, em especial o Youtube, tem imposto cuidados sobre conteúdos.
            Sobre os empresários, por exemplo, ele evitou especificar nomes, dado o sigilo investigativo ainda em andamento da PF. Mas há um detalhe que ainda incomoda: os militares não foram citados.
            Exceção – sabemos que os militares tiveram, de alguma forma, participação na consagração do terror desde o pós-eleição até o dia 8/1. Mas Lula não os citou em sua declaração. Caso eles tenham participado de forma indireta, vale salientar que partícipes indiretos não se eximem de culpa.
            Militarismo – em parte, a omissão de Lula em apontar os militares na intentona de 8/1 se explica em dois sentidos: em um, o militarismo que permeia os poderes constituídos e o conceito de Estado; e no outro, o político, que recai na preservação da porosa e frágil conciliação entre Lula e a bolsonarizada classe militar.
            Fria análise – é um contexto que mais tende a revelar a tensão por baixo da máscara conciliatória mediada pelo ministro José Múcio, cuja ética é sutilmente duvidosa, mas é com quem os milicos se relacionam amistosamente.
            Cultural ou político, o militarismo explica porque o coronel Ustra e outros morreram impunes e ricos em seus crimes de tortura e morte a opositores e críticos à ditadura sanguinária, até hoje a última edição do regime que manchou o nascimento do sistema republicano brasileiro em 1889.
            Por conta disso, Lula pode não estar alinhado a tantos de seus eleitores que gritam “sem anistia!” para a punição dos partícipes da intentona de 8/1. Embora a maciça maioria dos populares seja civil e precisa ser punida, também urge por uma mudança o quanto antes: os militares precisam também ser responsabilizados.
            Pois sua impunidade diante dos crimes que mancham a história das Forças Armadas apenas nos leva a perguntar se elas nos são mesmo tão necessárias à soberania nacional.

Para saber mais
https://www.youtube.com/watch?v=xSnLBSM3tzg&pp=wgIGCgQQAhgD (ICLLula chama Bolsonaro e Ibaneis à responsabilidade, mas não cita militares, 6/1/24)
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Intentona: a morosa condenação

            Esse tempo de 1 ano já se constitui suficiente para que possamos apreciar bem criticamente a conduta das autoridades competentes no que se refere ao julgamento dos partícipes da intentona bolsonarista de 8/1/2023.
            Vimos claramente que toda a aberrante sequência cênica de depredação de patrimônio tombado – nem o relógio do século XVII trazido por D. João VI escapou – envolveu mais de 4000 partícipes que de imediato se sujaram na lama da criminalidade induzida por seita ideológica.
            Presos – segundo matéria da Piauí, cerca de 2200 vândalos foram detidos pelas forças da PMDF e da Força Nacional de Segurança (que só atuou após aval do governo do DF, como manda a lei). Os vândalos foram presos sob acusação de depredação de patrimônio tombado, crime contra as instituições e autoridades.
            Por tudo isso, os vândalos podem ser classificados de terroristas, pois a descrição dos crimes antes do 8/1 concorda com a dos crimes tipificados na lei antiterror de 2013 (incêndios em patrimônio público e privado, tentativa de atentado a bomba no aeroporto de Brasília, etc.).
            Julgamentos morosos – os primeiros julgamentos dos meliantes no colegiado do STF nos deram uma esperança de que os ministros lavariam a honra democrática através de um julgamento veloz dos crimes da intentona. Alguns dos vândalos foram condenados a 17 anos, em concordância com o CP e com a lei antiterror.
            A esperança tinha sido alimentada sobretudo por conta da intensa atividade de Alexandre de Moraes, cujo legalismo conquistou a população antibolsonarista. Mas, com o tempo, as mídias não têm mais passado os julgamentos. Agora soubemos que no fim de 2023, dos 2200 presos, apenas 30 foram condenadas.
            Números que contrastam com o caso Capitólio nos EUA: de 725 trumpistas (o total é incerto), 70 deles foram condenados em 2022. Os estadunidenses foram mais rápidos, mas nos dois países há muito o que fazer.
            Morte – o condenado Cleriston morreu na Papuda de comorbidade antiga. Parlamentares bolsonaristas se aproveitaram para acusar Moraes pela morte. O STF não se deixou levar, mas teve que pausar os julgamentos para julgar dispositivos legais, apaziguar a tensão do Congresso e as aposentadorias de Lewandoski e Weber.
            Militares – com a entrada de Zanin (já ativo) e Dino (a entrar) no STF, a volta dos julgamentos é muito esperada pelos brasileiros, dada a quantidade enorme de gente ainda a ser julgada em detalhes com risco de mais lentidão por conta de outras atividades e as tentativas de abuso do Congresso.
            Parcialidade não vale – o STF sabe que o povo quer os mandantes, financiadores e estimuladores tão condenados quanto os milhares de bois de piranha que atuaram na linha de frente da intentona. Por isso, todo e qualquer perdão aos de cima (Bolsonaro, parlamentares e militares) será condenado pela população.
            E, caso isso aconteça, toda a raiva e descrédito popular às instituições será razoável. Somente a pronta condenação a todos, independentemente do status social e cargo de poder, deverá dar ao povo o alívio e a sensação de que as instituições valem a pena – não importa a morosidade dos processos judiciais.

Para saber mais
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