Terror pós-eleição: Lula omite militares
1 ano após os
acontecimentos de que já sabemos do pós-eleição e do 8/1, o presidente Lula fez
uma live na qual vários bois foram nomeados. Sobre os fatos em Brasília em
12/12/2022, ele responsabilizou Ibaneis Rocha, governador do DF, por inércia da
PMDF.
Ainda em relação aos fatos
do pós-eleição, os de 12/12 e até o 8/1, Lula acusa o ex-presidente Jair
Bolsonaro como o grande mandante planejador dos acontecimentos. E completou
afirmando a responsabilidade de empresários do agro em financiar o terror.
O presidente evitou
especificar os nomes, devido às investigações ainda continuarem no rastreio de
nomes empresariais que de fato financiaram a barbárie. Por enquanto só um foi
identificado e preso.
Falas medidas – as falas sobre pessoas e os acontecimentos que
culminaram no 8/1 foram bem calculadas pelo presidente da República. É
compreensível, considerando que as plataformas de redes sociais, em especial o
Youtube, tem imposto cuidados sobre conteúdos.
Sobre os empresários, por
exemplo, ele evitou especificar nomes, dado o sigilo investigativo ainda em
andamento da PF. Mas há um detalhe que ainda incomoda: os militares não foram
citados.
Exceção – sabemos que os militares tiveram, de alguma forma,
participação na consagração do terror desde o pós-eleição até o dia 8/1. Mas
Lula não os citou em sua declaração. Caso eles tenham participado de forma
indireta, vale salientar que partícipes indiretos não se eximem de culpa.
Militarismo – em parte, a omissão de Lula em apontar os militares na intentona de 8/1 se explica em dois sentidos: em
um, o militarismo que permeia os poderes constituídos e o conceito de Estado; e
no outro, o político, que recai na preservação da porosa e frágil conciliação entre
Lula e a bolsonarizada classe militar.
Fria análise – é um contexto que mais tende a revelar a tensão por
baixo da máscara conciliatória mediada pelo ministro José Múcio, cuja ética é sutilmente
duvidosa, mas é com quem os milicos se relacionam amistosamente.
Cultural ou político, o
militarismo explica porque o coronel Ustra e outros morreram impunes e ricos em
seus crimes de tortura e morte a opositores e críticos à ditadura sanguinária,
até hoje a última edição do regime que manchou o nascimento do sistema republicano
brasileiro em 1889.
Por conta disso, Lula pode
não estar alinhado a tantos de seus eleitores que gritam “sem anistia!”
para a punição dos partícipes da intentona de 8/1. Embora a maciça maioria dos
populares seja civil e precisa ser punida, também urge por uma mudança o quanto
antes: os militares precisam também ser responsabilizados.
Pois sua impunidade diante
dos crimes que mancham a história das Forças Armadas apenas nos leva a perguntar se elas nos são mesmo tão necessárias à soberania nacional.
Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=xSnLBSM3tzg&pp=wgIGCgQQAhgD (ICL – Lula chama Bolsonaro e Ibaneis à
responsabilidade, mas não cita militares, 6/1/24)
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Intentona:
a morosa condenação
Esse tempo de 1 ano já se
constitui suficiente para que possamos apreciar bem criticamente a conduta das
autoridades competentes no que se refere ao julgamento dos partícipes da
intentona bolsonarista de 8/1/2023.
Vimos claramente que toda a
aberrante sequência cênica de depredação de patrimônio tombado – nem o relógio
do século XVII trazido por D. João VI escapou – envolveu mais de 4000 partícipes
que de imediato se sujaram na lama da criminalidade induzida por seita
ideológica.
Presos – segundo matéria da
Piauí, cerca de 2200 vândalos foram detidos pelas forças da PMDF e da Força
Nacional de Segurança (que só atuou após aval do governo do DF, como manda a
lei). Os vândalos foram presos sob acusação de depredação de patrimônio
tombado, crime contra as instituições e autoridades.
Por tudo isso, os vândalos podem
ser classificados de terroristas, pois a descrição dos crimes antes do 8/1 concorda
com a dos crimes tipificados na lei antiterror de 2013 (incêndios em patrimônio
público e privado, tentativa de atentado a bomba no aeroporto de Brasília,
etc.).
Julgamentos morosos – os primeiros julgamentos dos meliantes no colegiado
do STF nos deram uma esperança de que os ministros lavariam a honra democrática
através de um julgamento veloz dos crimes da intentona. Alguns dos vândalos foram
condenados a 17 anos, em concordância com o CP e com a lei antiterror.
A esperança tinha sido
alimentada sobretudo por conta da intensa atividade de Alexandre de Moraes,
cujo legalismo conquistou a população antibolsonarista. Mas, com o tempo, as
mídias não têm mais passado os julgamentos. Agora soubemos que no fim de 2023,
dos 2200 presos, apenas 30 foram condenadas.
Números que contrastam com
o caso Capitólio nos EUA: de 725 trumpistas (o total é incerto), 70 deles foram
condenados em 2022. Os estadunidenses foram mais rápidos, mas nos dois países
há muito o que fazer.
Morte – o condenado Cleriston morreu na Papuda de comorbidade
antiga. Parlamentares bolsonaristas se aproveitaram para acusar Moraes pela morte.
O STF não se deixou levar, mas teve que pausar os julgamentos para julgar dispositivos
legais, apaziguar a tensão do Congresso e as aposentadorias de Lewandoski e Weber.
Militares – com a entrada de Zanin (já ativo) e Dino (a entrar)
no STF, a volta dos julgamentos é muito esperada pelos brasileiros, dada a
quantidade enorme de gente ainda a ser julgada em detalhes com risco de mais lentidão
por conta de outras atividades e as tentativas de abuso do Congresso.
Parcialidade não vale – o STF sabe que o povo quer os mandantes, financiadores
e estimuladores tão condenados quanto os milhares de bois de piranha que
atuaram na linha de frente da intentona. Por isso, todo e qualquer perdão aos
de cima (Bolsonaro, parlamentares e militares) será condenado pela população.
E, caso isso aconteça, toda
a raiva e descrédito popular às instituições será razoável. Somente a pronta
condenação a todos, independentemente do status social e cargo de poder, deverá
dar ao povo o alívio e a sensação de que as instituições valem a pena – não importa
a morosidade dos processos judiciais.
Para saber mais
- https://piaui.folha.uol.com.br/intentona-em-numeros/?utm_source=pushnews&utm_medium=pushnotification
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