quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

CURTAS 59 - ANÁLISES (democracia delicada, antraz bolsonarista)

 

Democracia, um regime delicado

            O resultado final que elegeu Lula reverberou em festa pelo Brasil inteiro. Foi uma explosão alegre e emocionada após o sufoco dos números por horas de apuração voto a voto naquele 30/10/2022.
            Como já posto no blog, o aperto na vitória de Lula foi imposto por tentativas fraudulentas como blitzes da PRF nos acessos a locais nitidamente lulistas; igrejas bolsonarizadas; redes de fake news e assédio eleitoral por patrões ameaçando de demissão sem direitos, entre outros.
            Essas forças contrárias ilegais fraudulentas foram sinais de que algo ainda pior estava por vir.
            Pós-eleição – os bloqueios de rodovias e acampamentos montados à frente ou nas áreas militares até o 8/1 revelaram o inconformismo com o resultado eleitoral, e esconderam bem os verdadeiros infiltrados: os kids pretos, militares de operações especiais e de alta confiança de Bolsonaro.
            Incêndios em veículos em Brasília e o porte de armas de grosso calibre e de explosivos indicavam até onde os bolsonaristas queriam ir. Os explosivos só foram frustrados porque foi difícil haver o momento certo, que seria o de serem detonados imediatamente antes do fim de Lula e Alexandre de Moraes.
            8/1/2023 – seria o dia do fim dos dois alvos. A invasão seria uma encenação e indicaria a consumação da intentona para a tomada de poder por Jair Bolsonaro à força. Por isso a PMDF agiu daquele jeito. O fracasso da intentona se deu porque os dois alvos-chave estavam ausentes no dia.
            As forças da PMDF e a Nacional (após autorização do governo do DF) finalmente atuaram para conter e prender os mais de 4000 vândalos.
            Democracia Inabalada – em 7/1/24, Lula disse ao povo que o terror de 8/1 “não pode ser esquecido”. Os futuros livros de História vão contribuir para isso, mas cobrarão a punição do artífice Jair Bolsonaro, milicos, parlamentares e empresários envolvidos, caso até lá estejam livres, leves e soltos.
            Em 8/1, o evento Democracia Inabalada celebrou a vitória sobre o terror. Com Lula estavam o STF (Barroso e Moraes), o Senado (Pacheco, Randolfe e Eliziane), deputados governistas, ministros de Estado e alguns governadores, principalmente do Nordeste. Fechado, o evento teve um telão disponível ao público.
            Entre as ausências, as do Centrão acompanhando Arthur Lira, parlamentares bolsonaristas e mais de 10 governadores (3 do Norte, 1 do Nordeste, 3 do Sudeste, 2 do Sul e todos do Centro-Oeste).
            Cagada de Zema – em Brasília, o governador de MG se recusou ir ao evento por ser “político”. E como se não fosse cagada o bastante, ele completou: “o Brasil precisa de menos política e mais gestão”. Sensatamente, sabemos que não se governa um Estado como se gere uma corporação empresarial, não é, Zema?
            Ele alegou que a dívida de MG (R$ 165 bi) à União vem de décadas. Verdade. Mas, como explicar que 49% desse valor cresceram somente nos seus dois mandatos, em 6 anos? Ele não iria saber argumentar, mas deu mais comicidade ao clima do momento.
            Apoio ao bolsonarismo – as citadas ausências foram vistas como indicações de viés bolsonarista. Faz sentido. Todos os ausentes têm simpatias com o ex-presidente. Arthur Lira o encontrou alegremente em Alagoas. É de bom alvitre desconfiar das intenções políticas deles.
            Com Bolsonaro ativo, a democracia está sob ameaça. Enquanto se pergunta se ele e Lira se encontraram cordialmente em Alagoas, Nikolas Ferreira gravou vídeo em rede com 7 milhões de visualizações conspirando contra o evento fechado do governo e glorificando seu ídolo “com o povo” no Nordeste.
            Usando palavras mágicas do nazismo (Deus, pátria, família, trabalho e liberdade), visual chamativo e som dramático, a ultradireita sabe se comunicar com o povo de forma que este nunca entenda o real sentido de suas palavras e intenções.
            Tal como uma teia de aranha, a democracia da Nova República resistiu à nova tentativa de golpe (a primeira foi a deposição de Dilma com lawfare e mentiras). Ela é elástica, mas delicada, mas um vento forte o suficiente pode arrebentá-la de vez. E os líderes da ultradireita sabem como usar esses ventos a seu favor.

Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=4f6fDU7jIy0 (ICL entrevista João Cezar de Castro Rocha – democracia ainda sofre ameaça).
- https://www.youtube.com/watch?v=O7r69DMwmuU (ICL – Chico Pinheiro analisa as ameaças à democracia no Brasil e no mundo).
- https://www.youtube.com/watch?v=pH8kdaqdSWI (Desmascarando – a fala sobre a alta capilaridade de bolsonaristas nas redes, com ideias de conspiração sobre o 8/1).
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Antraz bolsonarista

            O ato Democracia Inabalada de 8/1/24 foi fechado, mas havia um telão disponível ao público. Essa foi uma decisão institucional de última hora, por segurança para o público e as autoridades dos três poderes. Tudo porque nas redes sociais os bolsonaristas marcavam comemorações públicas do “dia do patriota”.
            A decisão fora razoável tendo-se em vista que a comemoração da vitória da democracia sobre um golpe tentado foi em salão do STF, o prédio mais atacado da Praça dos Três Poderes, no ano passado.
            Terrorismo – como sabemos, a ministra aposentada Rosa Weber não esconde que considera a barbárie do ano passado como terrorismo. Tanto que o STF condenou 30 pessoas com base na lei antiterror, daí a alta duração das penalidades.
            Como as más intenções permearam os movimentos bolsonaristas no seu “dia do patriota”, o terror voltou em Brasília. Com spray de pimenta e maquininha de choque, uma mulher tentou invadir a área externa do STF. Ela foi contida pela Polícia Judiciária e detida pela PMDF, que apreendeu seu material.
            O nome da mulher é mantido em sigilo, mas foi identificada como uma professora de História de 57 anos. Interessante: História é uma disciplina de papel crítico sobre os fatos sociopolíticos em vários momentos históricos. A razão do sigilo do nome é saber se ela esteve entre os partícipes da barbárie do ano passado.
            Ela foi detida por desacato, mas principalmente ameaça de terrorismo. Houve suspeita de ter material biológico no spray – nesse caso, supostos esporos de Bacillus anthracis, a bactéria causadora do antraz.
            Antraz – doença infectocontagiosa rara, mas perigosa. Até os primeiros sinais clínicos, a incubação dura até 6 dias na contaminação cutânea, e até mais de 1 mês na inalada. O contágio ocorre por contato direto com animal contaminado ou picada, por inalação ou ingestão de alimento contaminado.
            Seus sintomas variam conforme o sistema (cutâneo, respiratório, orofaríngeo, digestivo, nervoso). Embora seja frequentemente fatal, o antraz é curável por antibioticoterapia.
            Arma biológica – a bactéria é um dos materiais prediletos em potenciais guerras biológicas. Nos EUA, seus esporos foram transportados em cartas remetidas para políticos. Dos 14 infectados, 5 morreram. O surto foi eliminado, mas a vigilância das autoridades é máxima.
            No Brasil não há registros históricos de uso de arma biológica usando patógenos em guerra ou terror político. Mas as autoridades em Brasília já entendem já haver chance alta de usar esse material para esse fim. Misto de nazifascismo com fundamentalismo religioso, o bolsonarismo tem se mostrado capaz de tudo.
            Portanto, todo cuidado é pouco a partir de agora. E, com a mesma rapidez com que julgaram Lula antes de 2018, deve-se julgar e condenar pela lei antiterror todos os partícipes – e principalmente, os seus artífices e incentivadores. Sem anistia, porque a História não permite perdão.

Para saber mais
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