Democracia, um regime
delicado
O resultado final que
elegeu Lula reverberou em festa pelo Brasil inteiro. Foi uma explosão alegre e
emocionada após o sufoco dos números por horas de apuração voto a voto naquele
30/10/2022.
Como já posto no blog, o
aperto na vitória de Lula foi imposto por tentativas fraudulentas como blitzes
da PRF nos acessos a locais nitidamente lulistas; igrejas bolsonarizadas; redes
de fake news e assédio eleitoral por patrões ameaçando de demissão sem
direitos, entre outros.
Essas forças contrárias
ilegais fraudulentas foram sinais de que algo ainda pior estava por vir.
Pós-eleição – os bloqueios de rodovias e acampamentos montados à
frente ou nas áreas militares até o 8/1 revelaram o inconformismo com o
resultado eleitoral, e esconderam bem os verdadeiros infiltrados: os kids
pretos, militares de operações especiais e de alta confiança de Bolsonaro.
Incêndios em veículos em
Brasília e o porte de armas de grosso calibre e de explosivos indicavam até onde os bolsonaristas queriam ir. Os explosivos só foram frustrados porque foi difícil haver o momento certo, que seria o de serem detonados
imediatamente antes do fim de Lula e Alexandre de Moraes.
8/1/2023 – seria o dia do fim dos dois alvos. A invasão seria
uma encenação e indicaria a consumação da intentona para a tomada de poder por
Jair Bolsonaro à força. Por isso a PMDF agiu daquele jeito. O fracasso da
intentona se deu porque os dois alvos-chave estavam ausentes no dia.
As forças da PMDF e a
Nacional (após autorização do governo do DF) finalmente atuaram para conter e
prender os mais de 4000 vândalos.
Democracia Inabalada – em 7/1/24, Lula disse ao povo que o terror de 8/1 “não
pode ser esquecido”. Os futuros livros de História vão contribuir para
isso, mas cobrarão a punição do artífice Jair Bolsonaro, milicos, parlamentares
e empresários envolvidos, caso até lá estejam livres, leves e soltos.
Em 8/1, o evento Democracia
Inabalada celebrou a vitória sobre o terror. Com Lula estavam o STF
(Barroso e Moraes), o Senado (Pacheco, Randolfe e Eliziane), deputados
governistas, ministros de Estado e alguns governadores, principalmente do
Nordeste. Fechado, o evento teve um telão disponível ao público.
Entre as ausências, as do
Centrão acompanhando Arthur Lira, parlamentares bolsonaristas e mais de 10
governadores (3 do Norte, 1 do Nordeste, 3 do Sudeste, 2 do Sul e todos do
Centro-Oeste).
Cagada de Zema – em Brasília, o governador de MG se recusou ir ao evento
por ser “político”. E como se não fosse cagada o bastante, ele completou:
“o Brasil precisa de menos política e mais gestão”. Sensatamente,
sabemos que não se governa um Estado como se gere uma corporação empresarial,
não é, Zema?
Ele alegou que a dívida de
MG (R$ 165 bi) à União vem de décadas. Verdade. Mas, como explicar que 49% desse valor cresceram somente nos seus dois mandatos, em 6 anos? Ele não iria saber argumentar, mas deu
mais comicidade ao clima do momento.
Apoio ao bolsonarismo – as citadas ausências foram vistas como indicações de
viés bolsonarista. Faz sentido. Todos os ausentes têm simpatias com o ex-presidente.
Arthur Lira o encontrou alegremente em Alagoas. É de bom alvitre desconfiar das
intenções políticas deles.
Com Bolsonaro ativo, a
democracia está sob ameaça. Enquanto se pergunta se ele e Lira se encontraram
cordialmente em Alagoas, Nikolas Ferreira gravou vídeo em rede com 7 milhões de
visualizações conspirando contra o evento fechado do governo e glorificando seu
ídolo “com o povo” no Nordeste.
Usando palavras mágicas do nazismo
(Deus, pátria, família, trabalho e liberdade), visual chamativo e som dramático,
a ultradireita sabe se comunicar com o povo de forma que este nunca entenda o
real sentido de suas palavras e intenções.
Tal como uma teia de aranha,
a democracia da Nova República resistiu à nova tentativa de golpe (a primeira
foi a deposição de Dilma com lawfare e mentiras). Ela é elástica, mas delicada,
mas um vento forte o suficiente pode arrebentá-la de vez. E os líderes da
ultradireita sabem como usar esses ventos a seu favor.
Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=4f6fDU7jIy0 (ICL entrevista João Cezar de Castro Rocha – democracia
ainda sofre ameaça).
- https://www.youtube.com/watch?v=O7r69DMwmuU (ICL – Chico Pinheiro analisa as ameaças à democracia
no Brasil e no mundo).
- https://www.youtube.com/watch?v=pH8kdaqdSWI (Desmascarando – a fala sobre a alta capilaridade de
bolsonaristas nas redes, com ideias de conspiração sobre o 8/1).
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O ato Democracia Inabalada
de 8/1/24 foi fechado, mas havia um telão disponível ao público. Essa foi uma
decisão institucional de última hora, por segurança para o público e as
autoridades dos três poderes. Tudo porque nas redes sociais os bolsonaristas marcavam
comemorações públicas do “dia do patriota”.
A decisão fora razoável
tendo-se em vista que a comemoração da vitória da democracia sobre um golpe
tentado foi em salão do STF, o prédio mais atacado da Praça dos Três Poderes,
no ano passado.
Terrorismo – como sabemos, a ministra aposentada Rosa Weber não
esconde que considera a barbárie do ano passado como terrorismo. Tanto que o
STF condenou 30 pessoas com base na lei antiterror, daí a alta duração das penalidades.
Como as más intenções
permearam os movimentos bolsonaristas no seu “dia do patriota”, o terror voltou
em Brasília. Com spray de pimenta e maquininha de choque, uma mulher tentou
invadir a área externa do STF. Ela foi contida pela Polícia Judiciária e detida
pela PMDF, que apreendeu seu material.
O nome da mulher é mantido em
sigilo, mas foi identificada como uma professora de História de 57 anos. Interessante:
História é uma disciplina de papel crítico sobre os fatos sociopolíticos em
vários momentos históricos. A razão do sigilo do nome é saber se ela esteve
entre os partícipes da barbárie do ano passado.
Ela foi detida por
desacato, mas principalmente ameaça de terrorismo. Houve suspeita de ter
material biológico no spray – nesse caso, supostos esporos de Bacillus
anthracis, a bactéria causadora do antraz.
Antraz – doença infectocontagiosa rara, mas perigosa. Até os
primeiros sinais clínicos, a incubação dura até 6 dias na contaminação cutânea,
e até mais de 1 mês na inalada. O contágio ocorre por contato direto com
animal contaminado ou picada, por inalação ou ingestão de alimento contaminado.
Seus sintomas variam conforme o sistema (cutâneo, respiratório, orofaríngeo, digestivo, nervoso). Embora seja frequentemente fatal, o antraz é curável por antibioticoterapia.
Arma biológica – a bactéria é um dos materiais prediletos em
potenciais guerras biológicas. Nos EUA, seus esporos foram transportados em
cartas remetidas para políticos. Dos 14 infectados, 5 morreram. O surto foi
eliminado, mas a vigilância das autoridades é máxima.
No Brasil não há registros históricos
de uso de arma biológica usando patógenos em guerra ou terror político. Mas as autoridades
em Brasília já entendem já haver chance alta de usar esse material para esse
fim. Misto de nazifascismo com fundamentalismo religioso, o bolsonarismo tem se
mostrado capaz de tudo.
Portanto, todo cuidado é pouco
a partir de agora. E, com a mesma rapidez com que julgaram Lula antes de 2018, deve-se
julgar e condenar pela lei antiterror todos os partícipes – e principalmente,
os seus artífices e incentivadores. Sem anistia, porque a História não permite
perdão.
Para saber mais
- https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/bacilos-gram-positivos/antraz
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