segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

CURTAS 64 - ANÁLISES (Braga Netto; pastor barra pesada)

 

O animador do golpismo

            Que o ex-presidente Jair Bolsonaro é o personagem central da cadeia do plano de golpe de Estado, todos já sabemos. Sabemos também que ele não foi único no comando de tudo. Há outros protagonistas. E um deles é Braga Netto.
            O milico – o general Braga Netto ficou conhecido da patuleia ao ser designado por Temer para comandar a intervenção militar na guerra urbana da Babilônia carioca em 2017. Não virou herói, mas por identidade ganhou simpatia de Jair Bolsonaro.
            Coletes na intervenção – conforme exposto no blog, Braga Netto solicitou coletes balísticos para a tropa, a uma empresa de apoio militar dos EUA envolvida no assassinato do presidente do Haiti Jovenel Moise¹, durante intervenção da ONU na ilha em 2021. Investigações recentes notaram que a negociação não licitada e superfaturada dos coletes foi efetuada com mercenários.
            De 2019 a 22, ele foi um dos ministros militares de Bolsonaro. Em 2022 foi chamado para ser seu vice na campanha eleitoral. Após a derrota para Lula, ele faria companhia a Bolsonaro como personagem central no power point imaginário do plano de golpe com os apoiadores do ex-presidente.
            Do fracasso à inelegibilidade – Braga Netto foi imbuído de render aos telejornais notícias sobre a depressão pós-derrota de Bolsonaro e, ocasionalmente, de injetar falsa esperança nos verde-amarelos já exaustos de tanta chuva, reza e fake news.
            Recentemente soubemos que o afastamento por “não aceitar a derrota” foi tempo sabático de reuniões de Bolsonaro com seus fiéis aliados para a intentona que pudesse impedir a posse de Lula. A fuga em 30/12/22 foi estratégia para assistir a tudo de longe e voltar para tomar o poder.
            Mas foi ainda em 2023, com as evidências no relatório final da CPMI do 8/1, que a inelegibilidade alcançou Bolsonaro e, em seguida, Braga Netto. O milico que entrou na reserva para mergulhar na carreira política terá que esperar a oportunidade política para 2030. Ou, quiçá, tentar se reintegrar na vida militar.
            E corre outros riscos. O Exército pode não o reintegrar em seus quadros, para recuperar sua imagem arranhada pelos fatos, ou por ordem judicial, como ocorreu com Mauro Cid. E ainda pode ser preso pelo processo relativo aos coletes balísticos ou por participar como grotesco animador golpista na continuada lavagem cerebral em nome do bolsonarismo.
            O herói de 2017 – que já não o foi de fato – se revelou no que é: um esperto fracassado. A esperteza de hoje é a vergonha de amanhã. E disso as Forças Armadas vão lutar para se afastar, a não ser que vergonha na cara seja a última virtude imaginada na caserna.

Nota da autoria
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Evangelismo barra pesada

            A ascensão da extrema-direita que culminou na catastrófica era Bolsonaro deve parte de seu sucesso à coparticipação das igrejas evangélicas pentecostais e neopentecostais – cujo papel foi relevante no quase empate final das eleições de 2022.
            A aliança Bolsonaro-igrejas cria curiosidade, pois as partes se opõem, ao menos filosoficamente. Bolsonaro defende “o povo armado para se defender”, e as igrejas o amor, ao menos em teoria. Mas tal oposição inexiste nessa junção.
            Novo olhar gospel – ao maximizar o combate às fés afro, no ramo neopentecostal se desenvolveu nova interpretação dos textos bíblicos em que a higidez divina no VT supera o revolucionário amor cristão do NT, oportunizando a visão hostil da realidade pregada por figurões influentes que se enraizaram na política.
            Silas Malafaia é o figurão mais conhecido e influente, seguido por outros mais jovens como André Valadão, o casal Hernandez, pastor Lucinho da Lagoinha em BH e até alguns padres reacionários famosos. E eis que surge um novo nome no ar.
            Leandro Rafael Cezar – é líder da Igreja Resgatar, em Pindamonhangaba, interior de SP. O vaidoso millenial pastoral de 38 anos se declara evangelizador de massa, mediante canal em redes como Youtube, Instagram, Facebook e TikTok. Embora carismático entre seu rebanho, ele prega um evangelismo barra pesada. Num culto, ele foi além dos limites.
            Educação na surra – o tema em que bateu pesado foi sobre educação familiar. Para ele, a família é a única que realmente educa, e chega a defender a preferência pelo homeschooling à escola. Mas o pior ainda estaria por vir.
            Foi ao aconselhar castigo físico: “Você tem que dar varada no seu filho, meu irmão. Depois que ele apanhou das varadas, tem que sair mancando, senão não tem graça”. Para sustentar a fala, ele se referiu a um versículo do VT bíblico. Mas, felizmente, não foi assim que a Justiça viu.
            Condenação – proferida em novembro de 2023, a pregação foi denunciada pelo MP-SP e julgada e decidida pela Vara do Juizado Especial Cível de Pindamonhangaba. O pastor foi condenado a 4 meses de pagamento de 1 SM a uma entidade social pública ou privada, e a indenizar em R$ 10 mil por danos morais coletivos. Mas... cabe recurso.
            O acerto da decisão indenizatória foi sobre o efeito psicológico de uma pregação de violência. O punitivismo bíblico é totalmente incompatível com a atualidade e afronta a legislação vigente. É conveniente a muitos líderes a interpretação de descritos bíblicos violentos para facilitar seu domínio sobre seu público.
            Dominar fiéis oportuniza a prática de abusos e crimes por líderes religiosos em geral. Não é por acaso que vários deles foram para a cadeia por seus crimes, principalmente sexuais. Rafael Cezar pareceu caso “menor”, mas poderia ser mais ofensivo se não fosse parado pela Justiça. A religião é uma marca cultural imaterial, mas como ambiente humano, não escapa aos limites da lei.
            Ainda bem que a lei existe. E se a lei existe, agradeçam ao princípio da laicidade.

Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=mHTz7UbrIdc (Meteoro Brasil – pastor bolsonarista defende espancamento de crianças “até mancar, senão não tem graça”).
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