O animador do golpismo
Que o ex-presidente Jair
Bolsonaro é o personagem central da cadeia do plano de golpe de Estado, todos
já sabemos. Sabemos também que ele não foi único no comando de tudo. Há outros
protagonistas. E um deles é Braga Netto.
O milico – o general Braga Netto ficou conhecido da patuleia
ao ser designado por Temer para comandar a intervenção militar na guerra urbana
da Babilônia carioca em 2017. Não virou herói, mas por identidade ganhou
simpatia de Jair Bolsonaro.
Coletes na intervenção – conforme exposto no blog, Braga Netto solicitou
coletes balísticos para a tropa, a uma empresa de apoio militar dos EUA
envolvida no assassinato do presidente do Haiti Jovenel Moise¹, durante
intervenção da ONU na ilha em 2021. Investigações recentes notaram que a
negociação não licitada e superfaturada dos coletes foi efetuada com
mercenários.
De 2019 a 22, ele foi um
dos ministros militares de Bolsonaro. Em 2022 foi chamado para ser seu vice na
campanha eleitoral. Após a derrota para Lula, ele faria companhia a Bolsonaro
como personagem central no power point imaginário do plano de golpe com
os apoiadores do ex-presidente.
Do fracasso à
inelegibilidade – Braga Netto foi imbuído
de render aos telejornais notícias sobre a depressão pós-derrota de Bolsonaro
e, ocasionalmente, de injetar falsa esperança nos verde-amarelos já exaustos de
tanta chuva, reza e fake news.
Recentemente soubemos que o
afastamento por “não aceitar a derrota” foi tempo sabático de reuniões de
Bolsonaro com seus fiéis aliados para a intentona que pudesse impedir a posse
de Lula. A fuga em 30/12/22 foi estratégia para assistir a tudo de longe e
voltar para tomar o poder.
Mas foi ainda em 2023, com
as evidências no relatório final da CPMI do 8/1, que a inelegibilidade alcançou
Bolsonaro e, em seguida, Braga Netto. O milico que entrou na reserva para mergulhar
na carreira política terá que esperar a oportunidade política para 2030. Ou,
quiçá, tentar se reintegrar na vida militar.
E corre outros riscos. O Exército
pode não o reintegrar em seus quadros, para recuperar sua imagem arranhada pelos
fatos, ou por ordem judicial, como ocorreu com Mauro Cid. E ainda pode ser
preso pelo processo relativo aos coletes balísticos ou por participar como grotesco
animador golpista na continuada lavagem cerebral em nome do bolsonarismo.
O herói de 2017 – que já
não o foi de fato – se revelou no que é: um esperto fracassado. A esperteza de
hoje é a vergonha de amanhã. E disso as Forças Armadas vão lutar para se afastar, a não ser que vergonha na cara seja a última virtude imaginada na caserna.
Nota da autoria
¹ presidente do Haiti, ver em https://maquinandopensamentos.blogspot.com/2023/09/curtas-45-analises-haiti-1-e-2.html.
----
A ascensão da
extrema-direita que culminou na catastrófica era Bolsonaro deve parte de seu
sucesso à coparticipação das igrejas evangélicas pentecostais e neopentecostais
– cujo papel foi relevante no quase empate final das eleições de 2022.
A aliança Bolsonaro-igrejas
cria curiosidade, pois as partes se opõem, ao menos filosoficamente. Bolsonaro
defende “o povo armado para se defender”, e as igrejas o amor, ao menos
em teoria. Mas tal oposição inexiste nessa junção.
Novo olhar gospel – ao maximizar o combate às fés afro, no ramo neopentecostal
se desenvolveu nova interpretação dos textos bíblicos em que a higidez divina no
VT supera o revolucionário amor cristão do NT, oportunizando a visão hostil da
realidade pregada por figurões influentes que se enraizaram na política.
Silas Malafaia é o figurão mais
conhecido e influente, seguido por outros mais jovens como André Valadão, o
casal Hernandez, pastor Lucinho da Lagoinha em BH e até alguns padres
reacionários famosos. E eis que surge um novo nome no ar.
Leandro Rafael Cezar – é líder da Igreja Resgatar, em Pindamonhangaba,
interior de SP. O vaidoso millenial pastoral de 38 anos se declara evangelizador
de massa, mediante canal em redes como Youtube, Instagram, Facebook e TikTok. Embora
carismático entre seu rebanho, ele prega um evangelismo barra pesada. Num
culto, ele foi além dos limites.
Educação na surra – o tema em que bateu pesado foi sobre educação
familiar. Para ele, a família é a única que realmente educa, e chega a defender
a preferência pelo homeschooling à escola. Mas o pior ainda estaria por
vir.
Foi ao aconselhar castigo físico:
“Você tem que dar varada no seu filho, meu irmão. Depois que ele apanhou das
varadas, tem que sair mancando, senão não tem graça”. Para sustentar a fala,
ele se referiu a um versículo do VT bíblico. Mas, felizmente, não foi assim que a Justiça
viu.
Condenação – proferida em novembro de 2023, a pregação foi
denunciada pelo MP-SP e julgada e decidida pela Vara do Juizado Especial Cível
de Pindamonhangaba. O pastor foi condenado a 4 meses de pagamento de 1 SM a uma
entidade social pública ou privada, e a indenizar em R$ 10 mil por danos morais
coletivos. Mas... cabe recurso.
O acerto da decisão
indenizatória foi sobre o efeito psicológico de uma pregação de violência. O punitivismo
bíblico é totalmente incompatível com a atualidade e afronta a legislação
vigente. É conveniente a muitos líderes a interpretação de descritos bíblicos
violentos para facilitar seu domínio sobre seu público.
Dominar fiéis oportuniza a
prática de abusos e crimes por líderes religiosos em geral. Não é por acaso que
vários deles foram para a cadeia por seus crimes, principalmente sexuais.
Rafael Cezar pareceu caso “menor”, mas poderia ser mais ofensivo se não fosse
parado pela Justiça. A religião é uma marca cultural imaterial, mas como
ambiente humano, não escapa aos limites da lei.
Ainda bem que a lei existe.
E se a lei existe, agradeçam ao princípio da laicidade.
Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=mHTz7UbrIdc (Meteoro
Brasil – pastor bolsonarista defende espancamento de crianças “até
mancar, senão não tem graça”).
- https://www.folhape.com.br/noticias/pastor-e-condenado-por-incitar-violencia-contra-criancas/316897/
-----
Nenhum comentário:
Postar um comentário