Mídia e o holocausto
israelita
Assim como acusou o Hamas
de terrorismo por matar mais de 1000 numa boate de Gaza, Lula criticou a
desmedida resposta israelense que se voltou contra mulheres, crianças e idosos,
que são mais de 2/3 do total superior a 30 mil palestinos mortos pelo absurdo
da guerra iniciada em 7/10/23, segundo Heloisa Vilela, do ICL Notícias.
Na Cúpula da União Africana
na Etiópia, Lula fez crítica pesada, mas verídica a Israel pelo progressivo
genocídio palestino em Gaza e Cisjordânia, comparando, em certa medida, com o
Holocausto nazista. Mais de 100 países lhe deram razão. Mas não aqui, e nem em Israel, onde Netanyahu teve umchilique.
Chilique pró-sionista – após o chilique do premiê Nethanyahu, jornalões e
políticos congressistas brasileiros se parafusaram e exigiram do presidente
pedido de desculpas a Israel, como o citado premiê. Lula recusou, e depois
deixaria claro que não blefou uma palavra sequer.
Tática nazistóide – o início foi o confinamento de 2 milhões de
palestinos no sul de Gaza, sem água, comida, abrigo e energia. Imagens de despejos
sistemáticos com residências demolidas e plantações destruídas na Cisjordânia correram
o mundo. E novo horror marcou essa semana.
Massacre da Farinha – do ar e em terra, um tiroteio-surpresa alvejou
centenas de palestinos em fila para ter comida oferecida em caminhões de ajuda
humanitária. Mais de 110 morreram de balas e mais de 700 se feriram também pelo
pisoteio da correria sequente: é o Massacre da Farinha.
O vídeo aéreo deu voltas no
mundo e despertou comoção global e aqui. Mas não nos nossos jornalões, que
passaram pano a partir dos títulos: “confusão e correria mataram mais de 100
palestinos”, “ataque gera confusão e mais de 100 morrem”, “mais
de 100 palestinos morrem em fila de ajuda humanitária”, etc.
Nos textos correntes, a
grande mídia brasileira ainda continuou a apoiar Israel a omitir sua própria
culpa pelo massacre: em geral, a colocação é que “as causas reais das mortes
ainda precisarão ser apuradas”. Detalhe:
se evita o termo Massacre da Farinha, que nomeia o fato pelo
contexto da oferta de alimentos por alguns dos caminhões de ajuda humanitária.
Comparações holocáusticas – fora da África, os palestinos superaram os curdos
(etnia de fé islâmica rejeitada em alguns países do Oriente Médio). Após a
repercussão da fala de Lula, novo vídeo viral compara vítimas palestinas com as
judias da era nazista.
Não é intento deste blog julgar,
até porque se trata de um vídeo criado para circular em redes sociais, como
tantos outros hoje em dia. Mas, mesmo a grosso modo, este suscita reflexão sobre
as muitas e claras semelhanças entre o genocídio de 80 anos atrás e o de 2023-4.
Como na Alemanha nazista,
no Israel moderno as escolas doutrinam as crianças para desumanizar etnias não dominantes
em respectivo. Essas crianças aprendem a acreditar que os palestinos “já
nascem terroristas”. Daí crianças e mulheres serem 70% das vítimas do
genocídio.
Portanto, mesmo sem mencionar
a palavra exata, a comparação de Lula foi certeira. Só atrasou, mas foi oportuna
no presente conflito. Se existe quem deveria ter vergonha de si mesmo é o
próprio Netanyahu, que se ofendeu com a punhalada da verdade.
Embora hoje sustente o
bolsonarismo – e o capitalismo –, a aliança Israel-cristianismo com a extrema-direita
não justifica a vergonhosa relativização da dor palestina (e de outros povos historicamente
negligenciados) frente ao que com muita clareza cursa no atual conflito. É Holocausto,
sim. Aceitem que dói menos.
Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=lFJDH6rEMjI. (Meteoro – críticas à mídia hegemônica brasileira)
- https://iclnoticias.com.br/assassinato-gaza-falta-pudor-jornal-nacional/. (ICL Notícias – a falta de pudor do JN)
- https://www.youtube.com/watch?v=V7oVzD0nga0 (ICL Notícias – mídia brasileira esconde os
verdadeiros culpados)
- https://www.youtube.com/watch?v=7r3Al6_4Bm0 (Meteoro – Lula sobe o tom contra Israel)
- https://iclnoticias.com.br/lula-propoe-mocao-pelo-fim-do-genocidio-em-gaza/ (ICL Notícias – Lula propõe o fim do genocídio em
Gaza)
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Fala-se
muito de “mídia hegemônica” ou jornalão. O Globo, Estadão, Folha
de SP, O Dia e Veja são exemplos muito conhecidos. Algumas
são também emissoras de rádio e TV. Domina também a web, onde há
crescente número de mídias de pequeno porte.
Não
é só aqui: é global. O acesso irrestrito à internet constantemente aprimorada
na comunicação propiciou a explosão de noticiosos de todos os tamanhos,
objetivos, óticas interpretativas e direções ideológicas. Uma verdadeira
miscelânea jornalística.
Peso
externo – a diversidade midiática
é um reflexo do leque informativo na web, que interfere na dinâmica
jornalística. Daí as forças de teor ideológico e da opinião pública positiva ou
negativa atuando sobre a imprensa. Quanto maior o porte da corporação, maiores são
essas forças. Daí o Globo e Estadão serem campeões brasileiros no
quesito.
Forças
ideológicas –
quanto mais diversa é a imprensa num país, maior é o leque ideológico, em três
naturezas: religiosa, econômica e sociopolítica. Elas coexistem, mas uma pode
dominar o teor das matérias noticiadas.
O
mercado financeiro impõe o teor das notícias econômicas, fazendo a patuleia
entender as matérias como “positivas” a ela (que depende de poderes públicos),
mas que na prática defendem Estado mínimo e privataria geral, e sobrevalorizam
lucros acionários recordes.
As
fontes alternativas contradizem a hegemônica ao revelar a realidade dos mais
pobres, ocultada pelo sobrevalor mercadológico enfatizado pelos seguidos
recordes de lucro acionário dos grandes grupos econômicos que mandam no
mercado.
Religiosa – normal em teocracias, ela ganha lugar em países
laicos onde a extrema-direita se liga a segmentos religiosos específicos. A
mídia sofre pressão para redigir matérias que defendam as instituições
religiosas como decisórias em ações estatais, mas também em favor neoliberal.
No
Brasil, a associação político-religiosa permeou na imprensa ao ponto de
alcançar matérias muito delicadas. Como o genocídio no Oriente Médio,
interpretado como “autodefesa” israelense pelos líderes cristãos e
bolsonaristas, a partir da distorção da relação cristianismo-Israel.
Esse
parágrafo explica porque a grande mídia brasileira tem poupado Israel de culpa
nos crimes de guerra e se virou contra Lula, que acusou o governo Netanyahu de
genocídio tal como o nazismo. E as fontes independentes de pequeno porte se
voltaram contra as grandes.
Os
cristãos gospels se acreditam “os escolhidos de Deus para a Terra
Prometida de Israel”, e acreditam na suposta incompatibilidade entre
cristianismo e esquerda – visão muito sustentada pela extrema-direita e,
discretamente, pelo caráter mercantilista da grande mídia.
Esse
parágrafo explica porque cresceu o desaprove ao governo Lula depois do
presidente acusar Israel de genocídio: de 56 para 62%, segundo pesquisa mais
recente da Genial Quaest e outras instituições de pesquisa.
Sociopolítica – é também histórica, a partir da importância mais
realista, direta e popular dada aos fatos das chamadas fontes alternativas
contra hegemônicas, assim chamadas por sempre contradizer o status quo
da grande mídia, em correlação de forças contrárias. Ela move o jornalismo
investigativo, em todas as mídias de todos os portes.
O
jornalismo investigativo descobre e elucida sujeiras da elite econômica e dos
poderes públicos, e seu valor é inversamente proporcional ao pequeno porte das
muitas fontes contra hegemônicas online, em geral mais à esquerda ou
socialdemocratas, que vivem da ajuda de assinantes. Daí essas fontes incomodarem
a grande mídia, dado o crescente espaço de acessos online.
Por
ele soubemos da Vaza-Jato que ajudou a inocentar Lula das condenações;
dos programas israelenses utilizados na era 2019-22 para espionar adversários e
aliados que “sabiam demais”, vigiar educadores estaduais e camponeses; da
venda, através do programa Córtex, da venda de dados de milhões de
brasileiros a bandidos tornados CACs desde 2020; e muito mais.
Mas
a grande mídia tem premiado seus leitores com importantes matérias
investigativas sobre os Bolsonaro: os 107 imóveis, a ligação dos mesmos com
milicianos, bandidos tornados CACs pelas Forças Armadas e outros crimes tão obscuros
quanto graves.
Fria
análise – a correlação de forças
entre os jornalões e as fontes alternativas socialdemocratas ou de esquerda é
um processo saudável da democracia. Por ele, fica mais claro e possível o
debate de informações, desde que tenha havido acesso de tais fontes pelos
debatedores.
O domínio
da força sociopolítica em fontes contra hegemônicas confronta a natureza mercadológica
das hegemônicas. Mas nisso ainda se desvela uma luta difícil, pois os jornalões
ocupam o maior espaço de informação jornalística há muitas décadas, e têm
quadro profissional mais conhecido. É mais fácil uma pessoa conhecer William
Bonner do que Chico Sá.
Fontes
online de pequeno porte de extrema-direita são contra hegemônicas quanto ao
espaço a conquistar e na exploração (mais eficiente) da visão popular dos
fatos, com linguagem frequentemente sensacionalista. Mas defendem, como a hegemônica,
Estado mínimo e a atuação de Israel, por exemplo.
O reconhecimento
dos fatos sobre a ofensiva israelense se tornou um triunfo da contra hegemonia midiática
sobre as seguidas omissões dos jornalões. Por outro lado, porém, temas delicados
como esse influem, com variada gravidade, na manutenção das contradições e da força dos jornalões, mesmo sem razão.
Para saber mais
- https://revista.ibict.br/liinc/article/view/5133 (artigo da revista IBICIT em ciência da comunicação,
de 2020)
- https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/43482 (artigo acadêmico UFPE, 2021)
- https://cepein.femanet.com.br/BDigital/arqPics/1411340210P576.pdf. (artigo acadêmico, 2015)
- https://fpabramo.org.br/2012/10/26/o-poder-da-midia-contradicoes-e-incertezas/. (Fundação Perseu Abramo, 2012)
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