quinta-feira, 7 de março de 2024

CURTAS 68 - ANÁLISES (mídias)

 

Mídia e o holocausto israelita

            Assim como acusou o Hamas de terrorismo por matar mais de 1000 numa boate de Gaza, Lula criticou a desmedida resposta israelense que se voltou contra mulheres, crianças e idosos, que são mais de 2/3 do total superior a 30 mil palestinos mortos pelo absurdo da guerra iniciada em 7/10/23, segundo Heloisa Vilela, do ICL Notícias.
            Na Cúpula da União Africana na Etiópia, Lula fez crítica pesada, mas verídica a Israel pelo progressivo genocídio palestino em Gaza e Cisjordânia, comparando, em certa medida, com o Holocausto nazista. Mais de 100 países lhe deram razão. Mas não aqui, e nem em Israel, onde Netanyahu teve umchilique.
            Chilique pró-sionista – após o chilique do premiê Nethanyahu, jornalões e políticos congressistas brasileiros se parafusaram e exigiram do presidente pedido de desculpas a Israel, como o citado premiê. Lula recusou, e depois deixaria claro que não blefou uma palavra sequer.
            Tática nazistóide – o início foi o confinamento de 2 milhões de palestinos no sul de Gaza, sem água, comida, abrigo e energia. Imagens de despejos sistemáticos com residências demolidas e plantações destruídas na Cisjordânia correram o mundo. E novo horror marcou essa semana.
            Massacre da Farinha – do ar e em terra, um tiroteio-surpresa alvejou centenas de palestinos em fila para ter comida oferecida em caminhões de ajuda humanitária. Mais de 110 morreram de balas e mais de 700 se feriram também pelo pisoteio da correria sequente: é o Massacre da Farinha.
            O vídeo aéreo deu voltas no mundo e despertou comoção global e aqui. Mas não nos nossos jornalões, que passaram pano a partir dos títulos: “confusão e correria mataram mais de 100 palestinos”, “ataque gera confusão e mais de 100 morrem”, “mais de 100 palestinos morrem em fila de ajuda humanitária”, etc.
            Nos textos correntes, a grande mídia brasileira ainda continuou a apoiar Israel a omitir sua própria culpa pelo massacre: em geral, a colocação é que “as causas reais das mortes ainda precisarão ser apuradas”. Detalhe:  se evita o termo Massacre da Farinha, que nomeia o fato pelo contexto da oferta de alimentos por alguns dos caminhões de ajuda humanitária.
            Comparações holocáusticas – fora da África, os palestinos superaram os curdos (etnia de fé islâmica rejeitada em alguns países do Oriente Médio). Após a repercussão da fala de Lula, novo vídeo viral compara vítimas palestinas com as judias da era nazista.
            Não é intento deste blog julgar, até porque se trata de um vídeo criado para circular em redes sociais, como tantos outros hoje em dia. Mas, mesmo a grosso modo, este suscita reflexão sobre as muitas e claras semelhanças entre o genocídio de 80 anos atrás e o de 2023-4.
            Como na Alemanha nazista, no Israel moderno as escolas doutrinam as crianças para desumanizar etnias não dominantes em respectivo. Essas crianças aprendem a acreditar que os palestinos “já nascem terroristas”. Daí crianças e mulheres serem 70% das vítimas do genocídio.
            Portanto, mesmo sem mencionar a palavra exata, a comparação de Lula foi certeira. Só atrasou, mas foi oportuna no presente conflito. Se existe quem deveria ter vergonha de si mesmo é o próprio Netanyahu, que se ofendeu com a punhalada da verdade.
            Embora hoje sustente o bolsonarismo – e o capitalismo –, a aliança Israel-cristianismo com a extrema-direita não justifica a vergonhosa relativização da dor palestina (e de outros povos historicamente negligenciados) frente ao que com muita clareza cursa no atual conflito. É Holocausto, sim. Aceitem que dói menos.

Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=lFJDH6rEMjI. (Meteoro – críticas à mídia hegemônica brasileira)
- https://www.youtube.com/watch?v=V7oVzD0nga0 (ICL Notícias – mídia brasileira esconde os verdadeiros culpados)
- https://www.youtube.com/watch?v=7r3Al6_4Bm0 (Meteoro – Lula sobe o tom contra Israel)
- https://iclnoticias.com.br/lula-propoe-mocao-pelo-fim-do-genocidio-em-gaza/ (ICL Notícias – Lula propõe o fim do genocídio em Gaza)
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Nossa contradita big mídia

            Fala-se muito de “mídia hegemônica” ou jornalão. O Globo, Estadão, Folha de SP, O Dia e Veja são exemplos muito conhecidos. Algumas são também emissoras de rádio e TV. Domina também a web, onde há crescente número de mídias de pequeno porte.
            Não é só aqui: é global. O acesso irrestrito à internet constantemente aprimorada na comunicação propiciou a explosão de noticiosos de todos os tamanhos, objetivos, óticas interpretativas e direções ideológicas. Uma verdadeira miscelânea jornalística.
            Peso externo – a diversidade midiática é um reflexo do leque informativo na web, que interfere na dinâmica jornalística. Daí as forças de teor ideológico e da opinião pública positiva ou negativa atuando sobre a imprensa. Quanto maior o porte da corporação, maiores são essas forças. Daí o Globo e Estadão serem campeões brasileiros no quesito.
            Forças ideológicas – quanto mais diversa é a imprensa num país, maior é o leque ideológico, em três naturezas: religiosa, econômica e sociopolítica. Elas coexistem, mas uma pode dominar o teor das matérias noticiadas.
            O mercado financeiro impõe o teor das notícias econômicas, fazendo a patuleia entender as matérias como “positivas” a ela (que depende de poderes públicos), mas que na prática defendem Estado mínimo e privataria geral, e sobrevalorizam lucros acionários recordes.
            As fontes alternativas contradizem a hegemônica ao revelar a realidade dos mais pobres, ocultada pelo sobrevalor mercadológico enfatizado pelos seguidos recordes de lucro acionário dos grandes grupos econômicos que mandam no mercado.
            Religiosa – normal em teocracias, ela ganha lugar em países laicos onde a extrema-direita se liga a segmentos religiosos específicos. A mídia sofre pressão para redigir matérias que defendam as instituições religiosas como decisórias em ações estatais, mas também em favor neoliberal.
            No Brasil, a associação político-religiosa permeou na imprensa ao ponto de alcançar matérias muito delicadas. Como o genocídio no Oriente Médio, interpretado como “autodefesa” israelense pelos líderes cristãos e bolsonaristas, a partir da distorção da relação cristianismo-Israel.
            Esse parágrafo explica porque a grande mídia brasileira tem poupado Israel de culpa nos crimes de guerra e se virou contra Lula, que acusou o governo Netanyahu de genocídio tal como o nazismo. E as fontes independentes de pequeno porte se voltaram contra as grandes.
            Os cristãos gospels se acreditam “os escolhidos de Deus para a Terra Prometida de Israel”, e acreditam na suposta incompatibilidade entre cristianismo e esquerda – visão muito sustentada pela extrema-direita e, discretamente, pelo caráter mercantilista da grande mídia.
            Esse parágrafo explica porque cresceu o desaprove ao governo Lula depois do presidente acusar Israel de genocídio: de 56 para 62%, segundo pesquisa mais recente da Genial Quaest e outras instituições de pesquisa.
            Sociopolítica – é também histórica, a partir da importância mais realista, direta e popular dada aos fatos das chamadas fontes alternativas contra hegemônicas, assim chamadas por sempre contradizer o status quo da grande mídia, em correlação de forças contrárias. Ela move o jornalismo investigativo, em todas as mídias de todos os portes.
            O jornalismo investigativo descobre e elucida sujeiras da elite econômica e dos poderes públicos, e seu valor é inversamente proporcional ao pequeno porte das muitas fontes contra hegemônicas online, em geral mais à esquerda ou socialdemocratas, que vivem da ajuda de assinantes. Daí essas fontes incomodarem a grande mídia, dado o crescente espaço de acessos online.
            Por ele soubemos da Vaza-Jato que ajudou a inocentar Lula das condenações; dos programas israelenses utilizados na era 2019-22 para espionar adversários e aliados que “sabiam demais”, vigiar educadores estaduais e camponeses; da venda, através do programa Córtex, da venda de dados de milhões de brasileiros a bandidos tornados CACs desde 2020; e muito mais.
            Mas a grande mídia tem premiado seus leitores com importantes matérias investigativas sobre os Bolsonaro: os 107 imóveis, a ligação dos mesmos com milicianos, bandidos tornados CACs pelas Forças Armadas e outros crimes tão obscuros quanto graves.
            Fria análise – a correlação de forças entre os jornalões e as fontes alternativas socialdemocratas ou de esquerda é um processo saudável da democracia. Por ele, fica mais claro e possível o debate de informações, desde que tenha havido acesso de tais fontes pelos debatedores.
            O domínio da força sociopolítica em fontes contra hegemônicas confronta a natureza mercadológica das hegemônicas. Mas nisso ainda se desvela uma luta difícil, pois os jornalões ocupam o maior espaço de informação jornalística há muitas décadas, e têm quadro profissional mais conhecido. É mais fácil uma pessoa conhecer William Bonner do que Chico Sá.
            Fontes online de pequeno porte de extrema-direita são contra hegemônicas quanto ao espaço a conquistar e na exploração (mais eficiente) da visão popular dos fatos, com linguagem frequentemente sensacionalista. Mas defendem, como a hegemônica, Estado mínimo e a atuação de Israel, por exemplo.
            O reconhecimento dos fatos sobre a ofensiva israelense se tornou um triunfo da contra hegemonia midiática sobre as seguidas omissões dos jornalões. Por outro lado, porém, temas delicados como esse influem, com variada gravidade, na manutenção das contradições e da força dos jornalões, mesmo sem razão.

Para saber mais
- https://revista.ibict.br/liinc/article/view/5133 (artigo da revista IBICIT em ciência da comunicação, de 2020)
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