Grande mídia vs Lula
Lula
3 vive sob tensão e pressão desde o início. Congresso hostil, bolsonaristas nos
espaços de poder, um país destruído pelo governo anterior e, agora, ameaças do
Centrão e reivindicações de servidores públicos. Para tanto, há um fomentador.
Mídia –
a mídia hegemônica presta importante papel nessa pressão heterogênea e
constante. Ela estabelece verdadeiro embate com o governo em searas diferentes,
desde a saúde, as relações institucionais, a comunicação e a economia.
Saúde federal – já
nasceu subinvestida, mas só agora a mídia a cobre, como novidade. Defasagem de
pessoal (70% são inativos), desvalorização da carreira e piora das condições de
trabalho são relatos comuns. E aí veio a ministra Nísia Trindade.
Ela ouviu servidores
cansados de serem acusados da crise. Mas os deixou de lado, pressionada por
gestores e jornalões sobre a “melhora” da rede federal, revoltando quem
trabalha. E agora, parte do INCA está na integração público-privada.
Relações institucionais – a
pasta responsável pela articulação política do governo com o Congresso e
Judiciário tem à frente Alexandre Padilha, desafeto de Arthur Lira – relação explorada
pela grande mídia, que apoia o Centrão privatista.
Comunicação –
o ministro do setor mais fraco do governo é Juscelino Filho, ferrado de
escândalos financeiros. Lula conversou com o UB, que disse “não ter outro”.
Daí o petista mantê-lo a contragosto. Mas os jornalões não o perdoam.
Economia – é
onde a mídia mais se apraz em maldizer do governo. Melhores índices
socioeconômicos, a mídia acusa “sorte de Lula”, subestimando a
competência da sua equipe econômica. E insatisfeita, ela ainda inverte valores.
Os jornalões chamam de
“gastos” os investimentos em serviços públicos essenciais, e de “investimentos”
os subsídios para empresas e bancos – uma visão mercantilista na qual surgiu o arcabouço
fiscal.
Este é na prática um teto
de gasto mais qualificado, que só passou no Congresso após sujeitar serviços
públicos essenciais a cortes para suprir “as necessidades do mercado”,
para evitar “excessos nas despesas com serviços públicos”.
Outro texto modificado pelo
Congresso, a reforma tributária visava mitigar a carga das classes
populares e tributar a elite. A mudança aprovada mais moderniza a distribuição tributária
vigente do que diminui a carga na patuleia.
Não bastassem as isenções
tributárias, o agronegócio foi contemplado com o plano Safra de R$ 450 bilhões
e a alta do dólar gera mais lucro nas exportações. Mas a galera do agro é
gulosa.
Haddad na berlinda – mesmo
com os investimentos, Lula e Haddad estão sob pressão máxima. Sabemos que o
capital é o fator real das oscilações econômicas, mas, a mando do mercado, a
grande mídia acusa uma fala de Lula ou do ministro.
O representante da elite do
agro prometeu um “tratoraço” a Brasília, dizendo que “esse governo
não serve mais” – apesar do Plano Safra recorde acima de R$ 400 bilhões.
Com toda a sua inteligência e competência, Haddad está na berlinda.
A ameaça de deposição é uma
aposta da grande mídia com o capital financeiro desde sempre. Nenhum governo no
pós-ditadura escapou desse gesto seletivamente maior para a centro-esquerda do
que para neoliberais como FHC e Bolsonaro.
A recente alta do dólar que
mantém juros a 10,5% anuais para controlar a inflação piorou o clima. Tramitam
nos corredores a PL da anistia do 8/1, e
o AI-5 de Lira que pode suspender arbitrariamente os mandatos de governistas
para atingir Lula.
Isso tudo pode destruir o
fogo amigo necessário à blindagem de Haddad. Sem o ministro, o governo Lula
pode perder a solidez ainda vigente e até ser deposto, e os jornalões estão de
olho: o capital tem seus líderes – nada alvissareiros para a nação.
Para saber mais
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Uma perigosa cortina
de fumaça
Enquanto Lula teve uma
passagem no exterior em novas costuras, o Congresso tocou o terror. No Senado,
um teatro de terror, e na Câmara, a truculência bolsonarista se revelava na
Comissão de Direitos Humanos.
Apelidada de PL
antiaborto ou do estuprador, a PL 1409/2024 capitaneada por Sóstenes
Cavalcante já foi abordada no blog. Mas surge uma pergunta nos canais da
esquerda: o debate dessa proposta veio mesmo em momento oportuno?
Limites – o
código penal de 1940 já legalizava interrupção da gravidez a qualquer tempo em
caso de risco à vida da mãe e estupro. O STF incluiu a anencefalia fetal após debate
com obstetras, psicólogos, psiquiatras, enfermeiros e outros.
O risco à vida materna tem
fatores internos (patologia em que a gravidez fornece risco ou cause
expulsão do embrião ou morte fetal), e/ou externos (trauma mecânico, ambiente
de radiação ionizante, ingestão química indevida).
O projeto propõe
criminalizar a interrupção de vida viável punindo vítimas adultas a até 20 anos
de prisão, e menores à medida socioeducativa (nome belo de uma prática horrível)
até completar 18 anos. É uma anistia ao crime sexual.
A interrupção sem motivo
comprovado em laudo ou B.O é crime de até 3 anos de prisão. Aí, o Brasil é mais
limitante do que Cuba, Colômbia, Guiana, Guiana Francesa (legislação da
França), Uruguai e Argentina. México discute liberar.
Tais limites se ligariam a
fatores cultural-religiosos. Mas as nações citadas também surgiram em contexto
parecido. O que nos diferencia delas é como investimos na educação sexual –
pauta para outro artigo, pois o problema aqui é outro.
Oportunismo político – a
PL do aborto surgiu num contexto em que outras propostas de maior interesse estão
em discussão. Ambas têm caráter essencialmente político e, se aprovadas, sua
prática impactará muito a nação.
Resolução 09/2024 – apelidada
de AI-5 do Lira, ela propõe suspensão temporária de mandatos por
indecoro pela mesa diretora da Câmara sem passar no Conselho de Ética. Risco: pode
alvejar governistas para atingir o governo Lula.
PL 5064/2023 –
propõe anistiar acusados e condenados por atentado ao Estado democrático de
direito (art. 359-L) e golpe de Estado (359-M do código penal de
1940). Risco: retorno político de Jair Bolsonaro e de futuro mais sombrio.
Mas, o que tem a PL do
aborto com isso? Muito. Como as bancadas do boi e da bala, a bíblica é
bolsonarista e joga os evangélicos contra Lula com fake news. Vota
contra medidas progressistas e se aproxima de Arthur Lira por privilégios.
Fria análise final – a
PL do estuprador surgiu em meio ao debate público invocado pela viralização do
vídeo de alerta do deputado Glauber Braga (Psol-RJ) sobre os perigos
subjacentes à proposta de Arthur Lira e a de anistia. Foi ele quem apelidou a
primeira de “AI-5 do Lira”.
Embora restrita à Câmara
(regimental), a proposta de Arthur Lira poderá impactar a política nacional. O risco
ao selecionar alvos governistas reside na relação tensa entre Lira e os ministros
Haddad e Padilha.
Antes da tensão com ministros,
Lira pareceu ameaçar o governo ao exigir “mais respeito à Câmara”, em outras
palavras. Sentindo nisso ameaça de deposição, Lula respondeu: “não sou Dilma”,
se referindo à falta de malícia da ex-presidenta.
Nesse ambiente político, a
PL do estuprador virou uma cortina de fumaça para que oportunistas ajam nas
sombras até a sonhada queda de Lula a partir da saída de Haddad. E na possível era
de direita liberal ou extremista, grávidas por estupro poderão ser penalizadas.
Para saber mais
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