Mordaças escolares
Quando não foi mais
possível apoiar Bolsonaro com tanta evidência criminal, governadores
bolsonaristas do Sudeste, Sul e Centro-Oeste preferiram ter prudência na
proximidade com o ex-presidente, que luta na justiça pela reelegibilidade.
Alguns se aproximam da
mídia neoliberal posando-se de moderados, como Tarcísio, convidado por Luciano
Huck a jantar com Campos Neto. Mas algumas condutas os condenam, como inimigos
dos servidores públicos.
Vigilância – a onda de ataques de ódio (2023) foi o mote
político dos governadores estaduais para lançar suas medidas de segurança nas
sedes de ensino. Vieram 3 delas: PMs armados, ferramentas de IA e sedes
cívico-militares.
Temporariamente, a
segurança policial e a IA de reconhecimento facial são medidas válidas. Além de
afastar gente mal-intencionada, as medidas, porém, se tornaram importantes em
revelar outras intenções dos governadores.
Emoções vigiadas – a escola é um espaço onde relações diversas vazam
reações que variam desde o calmo bate-papo ao exaspero emocional em diálogos
conflitivos relativos, por exemplo, a condições de trabalho e salário. Até aí,
normal.
Mas alguns governos
resolveram intervir ao verem reações de professores e alunos monitoradas por câmeras
com IA. Tarcísio (AP) decretou aulas por ChatGPT, e Ratinho Jr (PR) manda a PMPR
descer o cacete no lombo dos grevistas.
Caiado (GO) decretou censura
de acesso a informações sobre ilícitos ambientais do agro para impedir debates nas
aulas. Zema (MG) usa reconhecimento facial e “X9” de confiança para impedir críticas
ao seu governo.
Sedes cívico-militares – a conversão em escolas cívico-militares ocorre em sedes
consideradas modelos. Sua intenção não é melhorar o ensino, e sim, a imposição de
uma disciplina mais rígida, ao estilo militar, a toda a comunidade escolar.
Além de docentes, alunos,
funcionários e corpo gestor, comunidade escolar abrange as famílias dos
alunos e o bairro onde a sede se insere. Os governantes sabem disso, daí a
militarização escolar poder monitorar toda a comunidade.
Fria análise – a “segurança para melhor ensino” não passa
de engodo dos mandatários para, na verdade, mordaçar. O melhor ensino é aquele
que permite a informação verdadeira e ampla, algo evitado pelos políticos e pelo
capital.
Limites ao conhecimento
sempre houveram, o que muda são os meios. As redes sociais e IA são novos
reforços. Até a multiplicidade de informações disponíveis na internet se
sujeita a limitações pelas big techs. Isso
não importa, se é na democracia ou num regime totalitário qualquer.
O ChatGPT paulista e o
reconhecimento facial são meios pelos quais o ensino é forçosamente reduzido a informações
sem o democrático debate crítico, em como para persecução política de servidores
como em MG, GO, PR e SC.
Militar e/ou tecnológica, a atual mordaça reflete o ideológico Escola sem Partido, reduzindo a escola a ambiente que, ao invés de propiciar novas experiências, poderá retomar a velha e difícil evasão epidêmica, que pode minar perspectivas futuras para milhares de jovens pelo Brasil.
Para saber mais
- https://apublica.org/2024/05/mesmo-sem-apoio-federal-escolas-civico-militares-avancam-nos-estados/
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Mordaça midiática
A ditadura empresarial
militar foi nefasta na nossa República. Até elogios o povo temia fazer, por
medo de represália, pois era proibido comentar sobre política. A imprensa “oficial”
era sujeita ao crivo constante dos censores.
Para a imprensa, a
redemocratização foi um alento, pois poderia ir além de receitas culinárias,
fofocas de celebridades e tantas páginas de classificados e esportes pouco
populares na época. Mas ainda faltaria alguma coisa.
O que se pode dizer – a vigente Constituição federal-1988 ainda prevê a
liberdade plena de imprensa com proibição da censura aplicada na ditadura. Mas,
ao menos no Brasil, ainda verificamos uma mídia hegemônica que ofusca as
demais.
O motivo mais compreensível
dessa ofuscação é o temor de concorrência: com a internet, fontes alternativas
estão mais acessíveis pelo grande público. Talvez seja também a perda de
domínio, pela diferença de versão de um fato.
A desigualdade entre mídia
hegemônica e alternativa no conhecimento público motivou petistas a propor regulação
da imprensa, no intuito de democratizar a informação para combater
desinformação. Mas a grande mídia a vende como censura, ideia negada
pelo PT.
Mas há um problema maior no
nosso jornalismo. Enquanto algumas fontes alternativas vivem de doação pública
e outras se ligam a meios políticos, a grande mídia se domina pelo mercado, que
determina o teor das matérias.
Vale citar dois grandes
exemplos na grande mídia: as críticas a governos petistas em temas
sociais e econômicos; e o apoio (agora velado) a Israel e à Ucrânia nas vigentes
guerras no Oriente médio e na guerra russo-ucraniana, respectivamente.
As posições da grande mídia
refletem a dos grandes capitalistas que a controlam, assim como acontecem com
fontes ligadas a partidos políticos, que reportam sem ferir os desígnios destes. Isso é democrático? Não como desejaríamos.
Mordaça invisível – a nossa legislação democrática garante a liberdade
de imprensa e nos propicia uma aproximação virtual com o mundo político. Mas alguns
políticos usam a justiça para censurar matérias capazes de melindrar o seu
poder. E vale dizer: isso pode não ser iniciativa deles.
Fenômeno global, o sufoco
da mídia alternativa pela hegemônica se liga mais ao interesse capital do que ao
temor de concorrência. Mesmo a alternativa afim, de fácil acesso online, sofre
sufoco metódico para manter o domínio capital e controlar o teor das mentiras.
Tal domínio afeta até como
agências de comunicação da ONU reportam as restrições à liberdade de imprensa
pelo mundo. Talvez nem regimes totalitários escapam dessa mordaça invisível que
nos revela ser o pior desafio para o nosso governo pela sonhada democratização
das mídias.
Referência
- https://maquinandopensamentos.blogspot.com/2024/03/midia-e-o-holocausto-israelita-assim.html. (regulação da imprensa e tipos de fontes
alternativas)
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2016. Uma série de entreveros políticos e judiciais mordaçou o governo Dilma Rousseff num golpe parlamentar e levou ao sucesso do crime judiciário da Lava-Jato que levou Lula à prisão. Nessa esteira, o bolsonarismo se fortaleceu e foi eleito em 2018 para presidir o país.
Em 2023, o bolsonarismo fez escola. Mídias independentes de jornalismo investigativo tiveram que apagar matérias comprometedoras à imagem de políticos e religiosos poderosos. E agora, a escola está indo mais fundo nos corredores do Congresso, com indecoros históricos.
Seletividade – os bolsonaristas lideram as piores baixezas no Congresso,
mas os mais processados no Conselho de Ética têm sido os governistas, como as
seis deputadas da esquerda, Glauber Braga e André Janones.
Parte da patuleia já
percebeu essa seletividade. Mesmo minoritários, parlamentares de esquerda
compensam com o bom combate incomodando o mesmo mercado que financia e controla
os da direita e extrema-direita, e a grande mídia.
O exemplo mais recente de
incômodo na bolha envolveu um governista em julgamento final de processo.
Janones – na legislatura passada, um ex-assessor de André Janones
o denunciou por suposta rachadinha. O governista se defendeu com evidências de
má-fé do denunciante e, após fala de Boulos, foi absolvido por votos da maioria
presente.
Os
bolsonaristas Nikolas Ferreira, Zé Trovão e Éder Mauro partiram para cima de
Janones com gritos em fúria. Na saída, a Polícia Legislativa Federal (PLF) foi acionada
e conteve Janones e Nikolas, que iam se estapear.
Os bolsonaristas tinham
visto na denúncia a oportunidade para queimar mais um governista, mas se
ferraram. Antes de Janones, as deputadas contrárias ao Marco temporal foram
absolvidas uma a uma. Falta Glauber ser absolvido no caso Costenaro.
Propostas ideológicas – há também exemplos que desejam calar as posições
contrárias através de propostas de lei.
PL andi-delação – propõe impedir delação premiada de presos. Mas,
segundo o texto, ela não afeta as delações já homologadas, consideradas provas
materiais contra pessoas delatadas. Ainda aguarda votação na Câmara.
PL 1409/24 – a legislação vigente considera estupro, risco à
vida da mãe e teratogenia letal como motivos para aborto legal. A ‘PL do
estupro’ compara aborto a homicídio e prevê prisão de até 20 anos para quem
abortar. Foi aprovada a urgência para votação.
AI-5 de Lira – dá ao presidente da Casa poder de suspender em até
6 meses mandatos por indecoro, sem passar pelo Conselho de Ética. Apelidado de AI-5
de Lira pelo contrário Glauber Braga, a pauta teve aprove relâmpago em duas
votações, inclusive de parte da esquerda.
PEC das Praias – teve amplo primário na Câmara, inclusive com
orientação de alguns partidos de esquerda, alcançando 377 votos, mais do que os
308 mínimos. Essa PEC já foi abordada em artigo já publicado aqui.
Fria análise – a agressividade é a frustração dos bolsonaristas
com a absolvição dos governistas no Conselho de Ética. Mas agora eles acenam ao
projeto de Lira, cuja urgência teve aprove relâmpago, com ajuda de
muitos nomes da esquerda.
Como Braga pontuou, a
crença em possível freio à violência é ilusória: Lira poderá usá-la contra
adversários governistas para ferrar Lula e favorecer Bolsonaro – exatamente como
o real AI-5 empoderou generais e endureceu o terror.
Se delação é essencial no
combate à impunidade, a PL anti-delação é uma afronta a essa segurança
que já não é 100%, a julgar pelos interesses de alguns. Lira a defende, no
intento de beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro para o retorno da
extrema-direita no Executivo.
A PL do estupro pretende
reforçar a blindagem comum ao crime repassando às vítimas a carga da culpa que
não é sua. Nisso reside o interesse de reacionários que possivelmente fizeram
algo similar na vida pregressa. Mas, muita calma nessa hora.
Há inconstitucionalidades
na maioria destas e outras pautas dos congressistas neoliberais, muitos destes
reacionários. A proposta antiaborto e a anti-delação são as de mais difícil
aprove final. Diante da ameaça global no momento, cabe ao STF, como guardião
constitucional, evitar a pior mordaça ideológica do pós-ditadura.
Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=OH0C1SoB5r4 (O Historiador – PL de Lira para facilitar
golpe contra Lula)
- https://www.youtube.com/watch?v=wm_O6_5UESA (Mídia Ninja – Lira infla seu próprio poder,
legislações e outras propostas debatidas na Câmara)
- https://www.youtube.com/watch?v=j1WISy66SB0 (UOL – Maierovich : “delação é fundamental para
combater impunidade:”)
- https://www.youtube.com/watch?v=dgw_S1RcrMo (Meteoro Brasil – aprovada na Câmara urgência
de projeto que suspende mandato por indecoro)
- https://www.youtube.com/watch?v=C4uJDSxo4xY (MyNews e O Historiador – entenda a proposta
de resolução com urgência aprovada na Câmara)
- https://maquinandopensamentos.blogspot.com/2024/06/curtas-75-analises-jantar-capitalista.html (ver artigo sobre intenções na PEC das praias)
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