O Brasil foi uma colônia de
exploração – condição que subjaz até hoje, em nova roupagem em governo
escolhido por nós e vários novos colonizadores, alguns antagônicos entre
si, como China e EUA, por exemplo. E tudo graças às nossas riquezas, que
servimos de bandeja.
O ufanismo nacionalista no samba exaltação de Ari Barroso e na propaganda populista da ditadura militar camuflou
bem a serventia dos governantes (democratas idem) aos interesses
do capital dos países centrais. Dois exemplos fáticos foram
aproveitados.
Campo Lobato, 1939: o primeiro achado petrolífero, no mar da Bahia.
O batismo homenageia o escritor que acreditava haver óleo aqui. E Lei das 200
milhas marítimas, 1970, onde estão nossas bacias produtoras. Mas, até 1953, só
as estrangeiras sugavam nossos recursos.
Com a criação da Petrobras em 1953 (e depois, da Vale do Rio Doce), veio o monopólio da extração de recursos do subsolo. A siderurgia foi da Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN). Durou décadas, até vir a farra privatista dos anos
1990.
Da lei privatizante ao
Brasil privatizado – o termo neoliberalismo
é novo, mas seu ideal foi previsto em lei de 1965 sobre a venda de estatais.
Mas só nos anos 1990 ela saiu do papel, com ápice no Programa Nacional
de Desestatização de FHC (1995-2002).
Desde 1995, o Estado
brasileiro encolheu 50%. 70% disso foram na era FHC. O monopólio da BR acabou,
a Vale do Rio Doce virou Vale, do aço da ex-CNS nem publicidade vemos. A
nossa desindustrialização foi veloz, e produtos nacionais ficaram raros e caros
nos comércios.
O petismo a seguir inibiu a
gula neoliberal, mas sem eliminá-la. Enquanto isso, uma revolução sacudiu a
América do Sul.
Bolivarianismo –
é uma reação política em países sul-americanos à ambição externa. Seu nome se
refere ao ideal e soberania de Simón Bolívar, que libertou há 200 anos Peru,
Colômbia, Venezuela, Equador e Bolívia. Destes, só o Peru não teve governo bolivariano.
Tem cunho
socialista-populista e estatizante. Dos quatro países, três se destacam:
Colômbia (Correa), Venezuela (Hugo Chavez e Nicolás Maduro) e Bolívia (Evo
Morales e Lucho Arce. E um deles se destacou em sua peculiaridade.
Bolívia – o
país andino tem população de maioria originária, diversidade paisagística
de potencial turístico com destaque ao Salar de Uyuni e falta de acesso
ao mar que o torna economicamente carente. Mas possui
grande riqueza interna.
Politicamente, o país alternou democracia e golpes de Estado que permitiam a livre exploração
de recursos por empresas transnacionais. Cansada da exclusão econômica, a maioria da patuleia
elegeu o líder indígena uru-aymara Evo Morales – um marco peculiar.
Do Movimento ao
Socialismo (MAS), Morales (2006-19) é um ateu ligado às culturas
originárias. Mas chamou atenção global por sua ousada ambição pela soberania do povo indígena, historicamente oprimido pela minoria branca mais abastada.
Criou uma política de renda
mínima e de empregos para mitigar a desigualdade social e nacionalizou as
subsidiárias de empresas estrangeiras – inclusive a BR, com apoio de Lula, que
se tornou seu aliado político. Por trás disso tudo havia uma ambição talvez
corajosa.
Soberania –
Morales queria concretizar o domínio boliviano sobre as ricas jazidas de cobre
e lítio. Incentivou universidades e escolas técnicas para formar seu povo. Para
finalizar isso, ele queria disputar mais um mandato: convocou plebiscito
popular antes das eleições.
O plebiscito foi favorável a
Evo, dada a sua popularidade fortalecida por anos de economia positiva não mencionada
pela grande mídia ocidental. Mas no pós-eleição houve uma ruptura civil-militar que custou o
seu poder.
Golpe –
em 2019, o grupo militar invadiu o Palácio presidencial. Evo renunciou com armas apontadas para sua cabeça. Foi golpe
clássico, em meio à notícia de reeleição por fraude eleitoral segundo a OEA – que
foi desmentida, mas abafada.
Ameaçado e com familiares
atacados, Morales se exilou na Argentina. A golpista extremista Jeanine Añez teve seu breve mandato marcado por violentos protestos em
La Paz e outras cidades. Novo pleito emergencial elegeu Lucho Arce, do MAS.
A calma e Morales
retornaram ao país. Mas, Arce aparentemente não governa como o ex-líder mesmo mantendo a sua essência. E eles romperam a relação evidenciando uma divisão interna
no partido de ambos.
Motivos – o
breve golpe ocorreu em contexto direitista na América do Sul (Uruguai, Colômbia,
Peru de centro, Equador e Brasil na extrema). Mas, por trás da velha questão político ideológica há outros indícios, que se evidenciariam anos mais tarde.
Nesse 2024 houve nova
tentativa de golpe militar, desta vez contra o governo Arce. O comandante-geral do Exército Juan Zuñiga encontrou Arce, com quem discutiu. Antes de Arce demiti-lo do cargo, as redes sociais fervilharam em debate ideológico.
Post sugestivo – em
meio ao fervor, uma postagem chamou a atenção na rede social X (ex-Twitter):
a foto de uma águia voando plena contra o fundo de céu azul. A autoria chamou
mais atenção ainda: Elon Musk, o trilhardário dono do X.
A postagem parece inocente, mas ela diz muito. Além da rede social, Musk é dono da internet Starlink
e da SpaceX (espacial), com tecnologias que usam lítio e outros minerais.
Filho de um minerador de diamante na África do Sul, ele já nasceu empreendedor.
Identificado com nomes da
extrema-direita, Musk já desafiou a justiça brasileira devido às postagens de
ódio. Entre 2020-22, antenas Srarlink surgiram em postos de garimpo
ilegal e tráfico em terras proibidas. Indígenas cooptados se viciaram em
pornografia.
As consequências
socioambientais nefastas são tão sem importância para o mercado quanto para a extrema-direita. Afinal, nada mais funcional do que a aliança entre o
extremismo e o livre mercado, que alimenta o anarcocapitalismo que hoje aterroriza
o mundo.
Enquanto isso, a Bolívia de Evo Morales fica como lição, ainda que breve e superficial, de como um governante é capaz de lutar em prol da soberania como espírito de Estado, coisa que ainda falta ao Brasil.
Para saber mais
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