domingo, 3 de novembro de 2024

ANÁLISE: SUS x Capital, o novo round

 

            A primeira era petista deixou marcas profundas, com a melhoria de várias políticas públicas, como menor desigualdade social, arrefecimento da fome, empregabilidade recorde e reforço do Estado via concursos públicos RJU (cargos efetivos).
            A fragilidade do Estado pela privataria na era FHC motivou o petismo a abrir concursos públicos de cargos efetivos RJU, o que se tornou outra de suas marcas, junto ao PAC e às políticas sociais.
            
Serviços essenciais- saúde, educação, segurança, energia, saneamento e meio ambiente foram os serviços essenciais contemplados para reposição de pessoal, devido às muitas aposentadorias e algumas exonerações voluntárias ou não.
            Se em alguns desses serviços (e outros) houve mais concursos RJU, saúde e educação sofreriam um revés silencioso, mas sentido pelos servidores efetivos ativos com o passar dos anos. A saúde federal nunca mais veria um grande concurso RJU desde 2005, graças à lei dos contratos temporários da União (CTUs).
            A contratação via CTU e terceirizações são as mesmas através das organizações sociais (OSs) e das organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIPs), há anos tornadas as regras de recrutamento de profissionais na saúde nos Estados e municípios.
            Mas as novas levas de CTUs não resolveram a defasagem da saúde federal a contento: elas eram inferiores ao necessário. O ápice foi na era Bolsonaro-Guedes, que precarizou ainda mais os serviços e manteve os salários congelados até o fim de 2022.
            E pensar que em 2020 um decreto de privatização das UBS municipais foi assinado, sendo revogado por fúria de usuários e servidores. Daí não ter ido além no vespeiro nem mesmo na saúde federal. Até os servidores se esperançarem nas eleições de 2022.

Lula 3, a fúria – o pesadelo do desmonte do patrimônio público por Bolsonaro-Guedes foi finalmente substituído pelo voto de sobrevivência dos servidores da carreira PST, que ajudaram o Nordeste a eleger Lula em 2022.
            Mas a esperança de novos grandes concursos RJU e de valorização substancial na saúde pública – em especial na federal – se desmoronou aos poucos, a cada nova rodada de recrutamento de profissionais CTUs e negociações muito difíceis.
            A valorização da carreira de Previdência, Saúde e Trabalho (PST) por meio de adicional de qualificação (AQ) – pois muitos servidores de cargos de nível médio têm curso superior – não veio. Os reajustes foram inferiores aos concedidos a outros tipos de carreira. E o problema não parou aí.
            -Trocas- em meio às negociações sobre a reposição salarial após congelamento de 7 anos, a cobertura do Fantástico alardeou geral e, em seguida, o ministério da saúde (MS) determinou a “reestruturação da gestão dos hospitais federais (HFs)” para resolver a crise noticiada, que existe há décadas.
            Nomeada para afastar o olho grande de Arthur Lira, a ministra Nísia Trindade fez substituições substituições na cúpula do Depto de Gestão Hospitalar (DGH) do Núcleo de Saúde-RJ (Nerj), centralizando ali setores como o de RH e o de aquisição de suprimentos.
            -Perfil dominante no DGH- sabemos que a substituição de nomes não gera resultados em curto prazo, especialmente em se tratando de um conjunto de hospitais de atendimento em alta complexidade e de referência a nível nacional.
            Mas nas substituições ocorrentes no DGH sobreveio entre os servidores a dúvida a respeito do olhar dos novos gestores em relação à amplitude do SUS, fruto de décadas de luta daqueles que se comprometeram com a saúde ampla, gratuita e de qualidade. Daí viria uma surpresa.
            -Entregas- o MS anunciou a concessão dos HFs a outras formas de gestão, como parceria público-privada, municipalização e outras instituições, como o Instituto Fernandes Figueira da Fiocruz e a Fiotec (ambos da Fiocruz), deixando os servidores surpresos.
            Representações dos aturdidos servidores se sentaram com a ministra da saúde para tratar do assunto. Ela declarou que o MS está “sem competência” para gerir sozinho “máquina tão grande e de alta complexidade” dos hospitais federais do RJ.
            Já corrente por valorização da carreira PST e reposição de perdas salariais de 7 anos, a greve de parte da saúde federal via Sindsprev-RJ se fortaleceu, contrária à conduta entreguista da ministra, que nunca visitou as unidades no RJ, nem mesmo os institutos.
            Nesse tempo eleitoral, o MS anunciou a municipalização do HF do Andaraí tendo-se em pauta o mesmo com o outros dois HFs, como o Cardoso Fontes. Antes de ser reeleito, Eduardo Paes pareceu evitar o assunto, mas não negou o presente.
            Enquanto isso, outro susto: o HFSE (Servidores do Estado) foi fundido ao Gaffrée-Guinle da Unirio sob gestão da Ebserh. E o último foi a entrega do HF de Bonsucesso aos gaúchos do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), empresa pública de duvidosa ética.
            A essa altura engrossado com mais aliados, o grupo grevista acampado em Bonsucesso cresceu em resistência até ser contido com truculência pelo choque da PMERJ, que terminou detendo as lideranças mais resistentes. Elas foram depois liberadas.

A continuidade da resistência – nesse round vencido na brutalidade pela PMERJ e pela intenção privatista do governo federal, os protestantes foram civilizados até o fim, mesmo puxados por um sindicato judicialmente desqualificado para representar a saúde.
            Enquanto os monstros públicos de direito privado invadem os redutos antes exclusivos do MS, com promessa vinda de Brasília de que “a reestruturação dos hospitais federais do RJ fortalecerá o SUS”, os servidores seguem em protesto.
            Só que, após a força bruta do choque da PMERJ, esse protesto segue em comentários críticos nas redes sociais do governo federal. Mesmo sendo tais redes vulneráveis à espionagem cibernética, que deveriam ser melhor aplicadas contra os chefões das orcrims.
            No crescente grupo dos servidores mobilizados, não são poucos aqueles que discordam das redes sociais como meio eficaz de protesto. Mas todos os partícipes se convergem em, pelo menos, reconhecer a vantagem de resposta instantânea aos anúncios de Brasília.
            Além disso, dado que a mídia pode favorecer maior truculência da polícia em caso de protesto de rua, os servidores entendem que, com a proximidade do G20 no Rio de Janeiro e a determinação de GLO pelo governo federal, toda cautela nessa hora é necessária.
            
Para saber mais
- https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54727328. (como foi o decreto 10.530/2020, logo revogado após repercussão negativa)












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