domingo, 29 de dezembro de 2024

Ligeirinhas 6 (de Alagoas à inflação)

 

Alagoas: pequeno, rico e precário

                 Em meados de 2023, durante uma reunião do Consórcio Sul-Sudeste (Cossud), o governador mineiro Romeu Zema discursou em desprezo aos nordestinos, dizendo que eles “vivem de auxílio emergencial”, enquanto “o Sudeste e o Sul trabalham”. Pegou bem mal.
                    Controversa nas redes, a fala de Zema foi muito criticada por políticos nordestinos e mineiros. O deputado petista mineiro Rogério Correia disse que Zema tem “profunda ignorância” do conceito de nação e da proximidade geográfica, histórica e cultural entre o norte mineiro e o Nordeste.
                    Vamos ajudar Zema: o Nordeste foi a região que mais cresceu economicamente quando o PT esteve mesmo no poder (hoje não está). E, individualmente, um Estado se revela o mais rico proporcionalmente ao seu tamanho: Alagoas, terra natal do deputado Arthur Lira.
                    Bem, pelo menos era para ser. Presidente da Câmara dos Deputados, o parlamentar mais poderoso do Brasil nesse momento, Arthur Lira é o responsável pelo direcionamento das emendas para Alagoas. As prefeituras influenciadas por ele são as que mais verbas recebem.
                    Mas a lupa social nos revela um Alagoas com extrema desigualdade na oferta de serviços públicos, saúde e educação precarizados e sem profissionais no interior, a despeito dos volumosos recursos recebidos das emendas. O populismo coronelista dos Pereira Lira vale ouro.
                    Não é por acaso que a mídia investigativa Agência Pública sofreu censuras judiciais por parte de Lira. Mas Lira não inaugurou esse coronelismo. Os Mello, clã do ex-presidente Fernando Collor, é um exemplo clássico, tendo Arnon Mello como protagonista pretérito.
                    Arthur Lira sairá em breve da presidência da Câmara. Seu indicado Hugo Motta é o seu mais provável sucessor, dada a relevância pelos jornalões, que bajulam o alagoano. Este perde o trono pelo tempo legal esgotado, mas segue o seu poder no rico, mas precário Alagoas.


Dino, hoje e amanhã

                  O maranhense Flávio Dino se formou em Direito, foi juiz federal e entrou na política – onde se revelou um nome muito popular em seu Estado. E o seu retorno ao Judiciário como ministro do STF não o licenciou da popularidade conquistada. Ainda mais agora.
                    Ele continua mantendo suspensas as emendas de comissão de R$ 4,2 bilhões, que supostamente envolveu um homem conhecido como “rei do lixo”, que teria atuado como laranja nessas emendas. Tudo porque, com relação à transação, tudo está muito obscuro.
                    O Congresso (leia-se centrão e extremistas) se desespera pela liberação da quantia retida. Só que o ministro endureceu na sua exigência de resposta urgente às suas perguntas contidas em ofício enviado à Câmara, devido à falta de transparência e rastreabilidade na transação.
                    Esse fato revela o brilho próprio da personalidade ética de Dino como ministro do STF. Mas cabe a reflexão: Dino nunca escondeu a sua inclinação política, mesmo sendo esta última um mundo à parte, no qual rola todo tipo de conduta ilícita para se obter vantagens.
                    Ele próprio já respondeu, numa entrevista, sobre sua possibilidade de retorno futuro à política. Embora não tenha afirmado literalmente, ele deixou lugar para a expectativa de, sim, poder retornar – ainda mais na incerteza de Lula concorrer à reeleição ou sair de cena.
                    Lula já está cravado na História política moderna. Mas, aos 78 anos e vitimado por um acidente doméstico recente que o levou a duas cirurgias cranianas, já pensa nas suas incertezas pessoais, e sabe que falta uma figura carismática e de boa comunicação popular como ele.
                    E Dino tem as qualidades adequadas: popular, carismático, assertivo e, quando precisa, rigoroso em tom cínico. Aos 56 anos, ele ainda tem fôlego suficiente para mais anos de empreitada no mundo da política. E, se for para ser presidente da República, o Brasil agradecerá em festa.


Perigos à sociedade, à democracia e à República

                  Por mais segmentada em particularidades econômicas e culturais, a sociedade nacional (ou nação) lida com um problema: o crime. Sua tipificação no Direito concorda com os valores éticos e morais de cada sociedade nacional, configurando sistemas penais distintos.
                    Entre as categorias criminais estão os crimes políticos, cometidos em função da posição de agente político. Mandatos com foro privilegiado são julgados pelo STF. No Brasil, a penalização é historicamente seletiva no viés ideológico, com predileção sobre a esquerda.
                    Tal seletividade se opera por interesse de força maior, do mercado privado. Mas, nesse governo, a pressão do debate público fez com que as instituições investigativas e os tribunais se voltassem contra nomes da extrema-direita, se obrigando a irem pela ética.
                    A mudança na ética institucional privilegia o governo atual, após o pretérito lawfare que levou ao golpe de 2016 e à prisão de Lula. E os fatos nos dão ciência do quão arriscado foi manter livre o caminho para a eleição de gente que agora sabemos ser tão perigosa.
                    Perigosa à sociedade por ter impedido a consciência pública de seus atos. Perigosa à República, pela política destrutiva ao patrimônio público com privatizações irresponsáveis e aos serviços públicos. Perigosa à democracia, por tentar se manter no poder para criar o caos anarcocapitalista.
                    E cabe salientar que o perigo dessa gente é tamanho que, mesmo com prisões, a sede golpista que inunda a mentalidade e as vontades ainda está bastante viva. Os que deram resistência à democracia – povo e instituições – devem ter toda a atenção possível.


Bets responsáveis, só que não

                 Durante o governo anterior, a condução mortífera na pandemia de C19 e as consequências sociais do anarcocapitalismo implantado foram os protagonistas que silenciaram publicamente um problema: as apostas eletrônicas.
                    Conhecidas como bets, as apostas se tornaram uma verdadeira praga a partir de 2022. No governo atual, elas viraram preocupação, por seus vários anúncios e fácil acesso sem regulamentação. Daí, elas despertam outra preocupação.
                    Além da falta de regulação, as apostas bets exercem forte poder psicoativo no jogador. Como são programadas para driblar a habilidade do jogador, elas o induzem a continuar indefinidamente, tornando-se dependente delas.
                    É uma dependência psicológica que pode ser severa. Relatos apontam perda de pertences pessoais e de empregos, descuido com a saúde e até perda de moradia. Ou seja, as bets não diferem das apostas tradicionais em nada, quanto ao seu modus operandi para se capitalizar.
                    A falsa garantia de responsabilidade das empresas de bets é uma armadilha para os apostadores, como é o caso da Vai de Bet, que tem celebridades entre os seus donos. Gustavo Lima e Deolane Bezerra foram alvo da polícia por envolvimento com bets.
                    A busca do governo em regular as apostas online visa mitigar esse poder viciante. Beneficiários de Bolsa-Família e correlatos foram proibidos de apostar em bets. Mas o vício vai dominar pessoas até então estáveis no trabalho e na família. Responsabilidade? Não mesmo. Sem vício não há lucro.


Lei Maria da Penha, ontem e hoje

                  Lula 1 criminalizou a violência doméstica ao sancionar a lei 11.340/2006, ou Lei Maria da Penha, numa homenagem à cearense Maria da Penha Fernandes, sobrevivente às tentativas de feminicídio cometidas pelo ex-marido Marco Antônio Heredia Viveiros nos anos 1980.
                    A sanção foi tardia – mais de 30 anos após a violência sofrida pela biofarmacêutica e assistida pelos três filhos então menores. Após o fim do casamento, mesmo tornada cadeirante, Maria da Penha virou ativista contra a violência de gênero e o feminicídio.
                    Mas, antes tarde do que nunca. Pois, mesmo que não tenha combatido o crime e o bolsonarismo tenha ajudado a revitalizar o machismo ferido de muitos, o índice de encorajamento para denunciar casos de violência doméstica no Disque 180 aumentou bastante.
                    A Lei Maria da Penha não combate o crime de violência de gênero – isso, só a educação relativa resolve. Mas oportuniza as políticas de apoio às vítimas, como disque 180, delegacias da mulher, abrigos temporários para as mais vulneráveis e punição dos criminosos.
                    Mas ainda há desafios. A cultura da violência de gênero ainda vivente se estende nas delegacias dedicadas às vítimas, e desde o fim dos anos 2010, a bolsonarização dessa violência tem embrutecido os números desse crime mantendo impunidade em muitos casos.
                    Ainda assim, se com a lei Maria da Penha em vigor ainda estamos longe de ser um país amigável às mulheres, pior sem ela!


Os vilões da inflação dos alimentos

                 Apesar do importante crescimento da economia de forma geral, com maior controle inflacionário em comparação com o governo anterior, a equipe econômica de Lula 3 deparou com a disparada dos preços dos alimentos neste 2024.
                    O governo frequentemente culpa as taxas abusivas de juros, em geral justificadas mais na crise cambial, arma do ataque especulativo do mercado contra os investimentos públicos. Só que, na prática, a lista de fatores é mais ampla e complexa do que parece.
                    Portanto, cabe apontar que há outro fator para a inflação dos preços de alimentos: o empurrão de impostos, com as isenções seguidas para a elite do agronegócio, que gera menos divisa do que a agricultura familiar, que alimenta 70% da nação e paga impostos.
                    Cabe assinalar o altíssimo consumo de água pelo agronegócio, pela indústria de celulose e bebidas e pelos data centers das big techs, comprometendo a disponibilidade natural de água na natureza e para pequenos agricultores.
                    E houve ajuda do clima. O clima quente e seco em 2024 amplificou a extensão dos incêndios florestais, em maioria criminosos. Só o clima não explica o tamanho fogaréu que se espalhou pelo Brasil. Por trás de tanto fogo, vale mencionar uma “coincidência”.
                    Quando Bolsonaro foi visitar aliados em campanha eleitoral no interior paulista, os primeiros focos “coincidiram” com sua presença; até então inexistiam. A moda de repente pegou, indo até no então chuvoso Sul do Brasil; a úmida Amazônia caiu em chamas.
                    Essa soma de fatores comprometeu o ritmo de produção alimentar no Brasil, um dos raros celeiros do mundo com três safras por ano. O Brasil seria uma potência para tudo, não fossem os vilões que nele habitam e são donos do poder.
                    Por saber que isso pesa muito na sua popularidade, Lula 2 que se cuide.
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quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Ligeirinhas 5 (retrospectivas e perspectivas, parte 2)

 

Um pastor contra a tríplice bancada

                    Como já abordado, no Congresso reina a tríplice bancada temática BBB, que reúne os grupos da bala (segurança pública), da bíblia (costumes) e do boi (agronegócio). Mesmo em relação aos seus respectivos focos específicos, elas se convergem em interesses comuns.
                    Se a maior bancada é a do boi, a mais barulhenta – e fascista como a da bala – é a da bíblia, que já interrompeu votações de propostas progressistas em costumes e tenta abolir a legalização dos casamentos homoafetivos e do aborto. E tem num pastor um inimigo: Henrique Vieira.
                    De uma família evangélica humilde de Niterói, Henrique Vieira inspirou sua formação teológica em nomes progressistas como Dom Hélder Câmara, São Francisco de Assis, Santa Tereza de Ávila, Dorothy Stang e Martin Luther King. É também poeta, ator, historiador, sociólogo e, enfim, político.
                    Esse conjunto de qualificações o fez entender com facilidade o intento do samba-enredo de uma escola de samba carioca que desfilou, nas suas alas, um Jesus Cristo intersexual crucificado, bem como participar do filme Marighella, do ator e cineasta progressista Wagner Moura.
                    Mas é na política mesmo que ele se destaca. De visão progressista e próximo do seu ex-professor de História Marcelo Freixo, ele entrou no Psol-RJ. Foi eleito vereador em 2012, 1º suplente em 2016 e deputado federal em 2022. E é nesse atual cargo que ele se destaca contra o pânico moral.
                    Chama a atenção especialmente por ser um pastor francamente oposto à bancada da bíblia ao defender o aborto nas disposições legais, os direitos sexuais reprodutivos femininos, criticar a liberação das armas desacreditando o pretexto pseudomoralista e o sistema penitenciário.
                    Coroa o fim do ano se lançando candidato à presidência da Câmara dos Deputados. Inclusive roda nas redes sociais um link de assinaturas de apoio popular ao seu mandato. Mas ele sabe que suas possibilidades são muito remotas. Mas a sua fé no progressismo é sua maior lição para o futuro.


Poucos, mas gigantes

                    Em um Congresso lotado de bizarrices da extrema-direita, alguns parlamentares da linha progressista têm compensado sua baixa expressividade numérica absoluta com posições corajosas e diretas contra temáticas bizarras ou mentiras com frequentes inversões de papeis.
                    Daiane Santos (PT-RS) representante negra, preside a comissão de direitos humanos e é relatora da PL que inclui servidores da saúde federal na pasta de C&T. Alice Portugal (PCdoB-BA) é a 2ª relatora da mesma proposta, que foi aprovada pela comissão de ciência e tecnologia a Câmara.
                    Agora, o gigantismo em ordem crescente ocorre no Psol: Guilherme Boulos, que limpou a barra de André Janones e Glauber Braga; Célia Xakirabá, indígena mineira que enfrenta ruralistas sobre o Marco Temporal; Érika Hilton contra a escala 6x1 de trabalho e pelos direitos das minorias sexuais.
                    E não para aí. A paulista Sâmia Bonfim, notória líder pelos direitos sexuais e reprodutivos femininos e enfrentamento aos bolsonaristas; e seu marido Glauber Braga (RJ), por travar uma guerra com duas frentes poderosas: o MBL do colega Kim Kataguiri e o todo poderoso colega Arthur Lira.
                    Glauber qualificou o MBL como uma organização criminosa nazifascista que colheu assinaturas para se tornar partido político. E expôs Arthur Lira quanto a fazendas não declaradas, emendas bilionárias para Alagoas e supostos crimes relativos ao kit robótica e violência doméstica.
                    Essa guerra foi facilitada por sua investigação como presidente da comissão de legislação participativa. Diante disso, Glauber corre sério risco de ser cassado, após indeferimento proposital de suas testemunhas em oitivas do conselho de ética. Mas segue em luta.
                    As ameaças não apertam a coragem de Glauber – que promete continuar na luta popular intensa contra os criminosos poderosos se for cassado. Como disse o jornalista Pedro Zambarda, da Folha Democrata, ele entrou grande e sairá gigante.


Presente de grego no Natal

                    Se o pacote Haddad teve de fato boa intenção de socializar os tributos para aumentar a arrecadação reduzindo desigualdades, a vitória do mesmo na votação da Câmara não garantiu vitória ao governo. Saiu um empate.
                    Tudo porque, escoltados pelos parlamentares, os super ricos que vivem na esbórnia de luxo e os militares se saíram ilesos. O fim da morte ficta (pensão a familiares de militar expulso dado como morto) deu vitória ao governo.
                    Mas foi uma vitória amarga. O BPC agora só será garantido para casos de comprovada incapacidade de trabalho e extrema pobreza, demais benefícios e salário mínimo menos valorizados, e o DPVAT enterrado. Pontos perdidos.
                    Foram, de fato, presentes de grego para o povo no Natal. Os mais pobres atingidos em beneficio dos super ricos do deus mercado. E o DPVAT foi usado pela extrema-direita. Nikolas Ferreira disse em rede social: “PT triste, Brasil feliz”.
                    Para quem não sabe, o DPVAT é um benefício temporário às vítimas sobreviventes ou os familiares da vítima fatal em caso de acidente, para tratamento ou traslado de corpo para a cidade de origem, respectivamente. Daí ser ruim a sua extinção.
                    Esse benefício de impacto quase zero no erário existia desde 1976 para sumir em 2024. Nada mais infeliz, após 41 mortos em grave acidente em MG.
                    A socialização dos tributos para reduzir a bizarra desigualdade social brasileira foi ralo abaixo, para manter causas injustificáveis e bizarras. E tudo em nome do mercado. Ao menos o governo se poupou de falas grotescas.


Corrupção: crime a serviço do capital

                    No pós-ditadura, a corrupção não só foi exposta como crime. Também foi ideologizada pelos jornalões. O golpe antipetista de 2016 é prova disso, pois a mania piorou, com a maioria criminosa – na direita - impune. E há um líder forte hoje.
                    Arthur Lira emerge com poder pessoal, político e financeiro. Para se fortalecer, ele elevou as emendas legais a valores inéditos: as super emendas.  O que o levou a fazê-lo tem sido questionado fora do mundo dos jornalões.
                    Super emenda é um nome mais adequado para o orçamento secreto. Pois dos valores já sabemos; secretos mesmo são os meios de obtenção, o que levou Flávio Dino (STF) a suspender R$ 4,2 bi antes do Natal.
                    Os jornalões adoram merchandising moralista anticorrupção, mas não criam questões éticas necessárias: por que obter valores tão altos? Por que se valer de meios secretos, se estes geram suspeita? Lira é mesmo o único interessado?
                    Além do investimento público para o mercado privado, o governo libera emendas impositivas de valores definidos em lei pelo Congresso. Os R$ 4,2 bi foram tornados suspeitos, o que sugere uma força maior de interesse por trás.
                    A esquerda cutuca aí. Glauber Braga tem apontado Lira à frente da obscuridade das super emendas. Embora acerte em acusa-lo de enricar ilicitamente, peca em não apontar outros. O Centrão participa dessa farra desde sempre.
                    Glauber Braga acusa Lira de enriquecimento ilícito mediante as super emendas, mas sabe que ele não está só. O centrão está junto. E todos agem em nome do mercado. Daí distorcerem os textos do governo antes de aprova-los.
                    Maioria no Congresso, o Centrão é bancado pelo mercado para aprovar textos que favorecem grandes capitalistas. Assim avança a entrega dos serviços públicos para os entes privados, enfraquecendo o poder do Estado.
                    Em pleno recesso, Lira encontrou Lula e depois se reuniu com líderes na Câmara para tratar da suspensão das emendas. Não sabemos se ele falou a mesma coisa para as duas partes. Mas a corrupção segue certa em prol do mercado.


Futuro próximo: servidores desafiam governo

                    Em 2024, o governo federal teve com os servidores públicos de diferentes carreiras negociações diversas. Carreiras mais burocráticas do Executivo tiveram aumento, mas a saúde, educação, previdência e trabalho ficaram de fora.
                    Nesse fim de ano, os servidores dessas carreiras vivem uma incerteza quanto ao prometido reajuste de 9%. A medida provisória (mp) enviada ao Congresso aguarda votação, enquanto a suspensão das emendas pelo STF não se resolve.
                    Essa incerteza faz sentido. Em parte de 2023, os servidores negociaram mais do que nunca pelo reajuste de 2024 que não se concretizou, devido à negativa do Congresso em votar uma PL. Daí a mp desenvolvida para 2025.
                    Como se não bastasse, servidores efetivos da saúde federal do RJ ainda amargam derrota na queda de braço com Brasília no fatiamento da rede hospitalar. Agora vivem a incerteza quanto ao seu destino, sob o descaso do governo.
                    Os servidores dos institutos nacionais (INCA, INC, INTO) do Rio lutam pela carreira C&T, o que pode ser benéfico para os cedidos pela rede hospitalar que certamente serão absorvidos pelos institutos. E vale aqui um recado para Lula 3.
                    O fatiamento da rede federal do RJ pelo governo poderá estreitar sua chance de reeleição em 2026. Eleito com ajuda dos servidores em peso por sobrevivência, ele pode ser engolido pelos próprios, como resposta a um gesto que soou traição. E isso importa muito.


PEC do 4x3 em 2025: possibilidades

                    O movimento Vida Além do Trabalho (VAT) saiu do Rio de Janeiro para virar uma PEC de autoria da deputada federal Erika Hilton (Psol-SP) para extinguir a escala 6x1 de trabalho, sem impactar no valor salarial dos trabalhadores.
                    Após obter as 171 assinaturas necessárias dos parlamentares por meio do Requerimento 82/2024, a PEC foi debatida pela CCJ da Câmara, recebendo uma chuva de críticas da tropa de choque bolsonarista e de parte do governista PSB.
                    Pode-se dizer que o movimento VAT – transformada por seu criador em controversa marca registrada – foi fundamental enquanto forma de importante mobilização popular de esquerda. Mas as discussões em torno da PEC ainda continuam.
                    A admissão da deputada à mídia de que “não houve ainda um estudo amplo” sobre os impactos da PEC para o mercado de trabalho foi explorada pela extrema-direita para depreciá-la publicamente. Mas não o conseguiu a contento.
                    Erika disse que o texto segue padrões europeus, prevendo flexibilidade da jornada de trabalho mediante negociação coletiva, impactando minimamente o mercado. Diante disso, o mercado até que vê a ideia com bons olhos.
                    Não só porque países europeus usam a escala 4x3 flexível. Isso pode indicar horas diárias a mais negociadas. E mais: o lazer também é um negócio que aquece, portanto, o mercado. O mercado, sim, será o grande beneficiado do VAT.
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terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Ligeirinhas 4 (retrospectivas e perspectivas)

 

Feliz Natal e próspero ano novo?

            Após passar o ano metendo a ripa no governo e nos parentes, a geral se prepara para as breves festividades de natal e ano novo com os familiares. Parece curioso ou divertido, mas é nessa dubiedade que, pelo menos no Ocidente, as sociedades se comportam.
            Por outro lado, este momento de inexorável proximidade do fim de mais um ano remete muitas pessoas para se oportunizar um momento de reflexão autocrítica. Aí tudo bem, nada como um pouco disso para que possamos ser melhores no ano vindouro.
            Mas, particularmente verifico ser muito difícil darmos lugar para qualquer reflexão. O sistema em que vivemos nos induz a recusar a coletividade e apreciar o individualismo (difere de individualidade!), a dizer não ao arrependimento de nossos erros – exceto de não termos consumido algo apreciado.
            Enquanto desejamos boas festas para nossos contatos – familiares e amigos presenciais e virtuais – o sistema em que vivemos nos bombardeia com publicidades cheias de efeitos brilhosos e com forte caráter estadunidense, como as famosas propagandas do Papai Noel no trenó ou trem da Coca-Cola.
            Como desejar feliz Natal e próspero ano novo se vemos nas ruas dezenas de pessoas famintas nas ruas após nos regalarmos de faustos almoços? Ou quando deparamos com marchas para Jesus cujos seguranças privados enxotam sem-teto das ruas de passagem?
            Como desejar feliz Natal e próspero ano novo se o Congresso votou favorável à completa incolumidade da elite rentista que nada contribui para a nossa economia e contra o direito ao DPVAT após sabermos de um acidente grave com 41 mortos no interior de Minas Gerais?
            Como disse muito apropriadamente o Papa Francisco, “vivemos no capitalismo”. Feliz Natal e próspero ano novo, somente para os “de cima”, que realmente ganharam um presente de Natal., pois quem está “embaixo” ou em apuros só teve mesmo presente de grego.
            Ainda assim, desejo a todos que tenham um 2025 o mais feliz e leve possível, para que tenhamos constante energia e motivação para a lide nossa de cada dia. Porque essa não para.



Ambiente e clima: falta prática, sobra capital

            Meio ambiente é assunto que vira e mexe entra em pauta política desde meados do século passado. E tudo graças à geração dos hippies, que mais do que um estilo de moda, música e filosofia de vida, foi um movimento de grande amplitude.
            Muitos eventos desde Estocolmo-1972 vieram, sem que nada concretizado. Até hoje, o melhor que conseguimos foi erradicar o cloro-flúor-carbono (CFC), o composto publicamente vilanizado pelo buraco na camada de ozônio, do tamanho da Antártida.
            Nos anos 1990 foi consagrada a Revolução Verde, que nada mais do que foi o boom das vastas monoculturas do agronegócio nos países pobres. O planeta ofereceu vastas terras aráveis, para receber, como retorno, muita contaminação química no solo e gases-estufa e fluoretos no ar.
            Hoje vivemos num mundo de clima cada vez mais extremista. Os negacionistas nos acusam de “ideologia climática”, enquanto o planeta fica cada vez mais quente e as chuvas trocam de endereço para encher a terra. Como no Saara (de forma inédita) e no sequíssimo e belo Atacama.
            Não sabemos da verdadeira perspectiva climática de 2025. Mas especialistas sérios e comprometidos com a verdade não garantem um ano mais ameno do que 2023 e 2024 – apesar da tênue assinatura de La Niña fazendo chover de verdade na Amazônia e no Centro-Sudeste daqui.
            Enquanto os eventos internacionais de meio ambiente e clima continuarem sob comando de magnatas dos recursos fósseis e do rentismo, nos resta torcer por uma La Niña realmente efetiva – ao menos enquanto perdura a esperança de contenção de gases-estufa e da destruição ambiental.


Lula 3, da expectativa à realidade

            Após 4 anos de surrealismo destrutivo, a maior parte do povo elegeu Lula pela sobrevivência. Os dados levantados pela equipe de transição fizeram Lula governar antes de tomar posse. E, a princípio, ele governou dando a impressão de que daria tudo certo.
            É um governo de frente ampla, em acordos aqui e ali com vários partidos à direita. Mas essa frente ficou tão ampla que Lula 3 aos poucos se perdeu em relação à sua essência pragmática, como alguns integrantes do Psol apropriadamente relataram.
            Por isso, apesar do investimento forte nas políticas públicas no momento inicial, o governante veria que os reflexos do governo anterior eram mais profundos do que imaginava. Inclusive, na mudança na consciência política popular em poucos anos.
            Agora encara o Congresso mais ganancioso e reacionário da história, que só vota se tiver em mãos R$ bilhões em emendas e retira a essência dos textos. Milicos fedem a golpismo e ainda ficaram mais manhosos por dinheiro do que nunca.
            Os resultados: fim do DPVAT às vitimas de acidentes graves; mega ricos seguem intocados; valorização rebaixada do SM e dos benefícios do INSS; meio ambiente e povos tradicionais ameaçados e atacados por ruralistas negacionistas; ameaça ao SUS 100% público, etc.
            São fatos que concorrem o tempo todo para testar a popularidade da capacidade do governo num Brasil contaminado pelas correntes fascistas ainda ventilantes em locais públicos e redes sociais, refletidas nos números das pesquisas de opinião. É a realidade contra a expectativa.
     

Um pastor contra a bancada da bíblia

            Como já abordado, no Congresso reina a tríplice bancada temática BBB, que reúne os grupos da bala (segurança pública), da bíblia (costumes) e do boi (agronegócio). Mesmo em relação aos seus respectivos focos específicos, elas se convergem em interesses comuns.
            Se a maior bancada é a do boi, a mais barulhenta – e fascista como a da bala – é a da bíblia, que já interrompeu votações de propostas progressistas em costumes e tenta abolir a legalização dos casamentos homoafetivos e do aborto. E tem num pastor um inimigo: Henrique Vieira.
            De uma família evangélica humilde de Niterói, Henrique Vieira inspirou sua formação teológica em nomes progressistas como Dom Hélder Câmara, São Francisco de Assis, Santa Tereza de Ávila, Dorothy Stang e Martin Luther King. É também poeta, ator, historiador, sociólogo e, enfim, político.
            Esse conjunto de qualificações o fez entender com facilidade o intento do samba-enredo de uma escola de samba carioca que desfilou, nas suas alas, um Jesus Cristo intersexual crucificado, bem como participar do filme Marighella, do ator e cineasta progressista Wagner Moura.~
            Mas é na política mesmo que ele se destaca. De visão progressista e próximo do seu ex-professor de História Marcelo Freixo, ele entrou no Psol-RJ. Foi eleito vereador em 2012, 1º suplente em 2016 e deputado federal em 2022. E é nesse atual cargo que ele se destaca contra o pânico moral.
            Chama a atenção especialmente por ser um pastor francamente oposto à bancada da bíblia ao defender o aborto nas disposições legais, os direitos sexuais reprodutivos femininos, criticar a liberação das armas desacreditando o pretexto pseudomoralista e o sistema penitenciário.
            Coroa o fim do ano se lançando candidato à presidência da Câmara dos Deputados. Inclusive roda nas redes sociais um link de assinaturas de apoio popular ao seu mandato. Mas ele sabe que suas possibilidades são muito remotas. Mas a sua fé no progressismo é sua maior lição para o futuro.


Poucos, mas gigantes

              Em um Congresso lotado de bizarrices da extrema-direita, alguns parlamentares da linha progressista têm compensado sua baixa expressividade numérica absoluta com posições corajosas e diretas contra temáticas bizarras ou mentiras com frequentes inversões de papeis.
            Daiane Santos (PT-RS) representante negra, preside a comissão de direitos humanos e é relatora da PL que inclui servidores da saúde federal na pasta de C&T. Alice Portugal (PCdoB-BA) é a 2ª relatora da mesma proposta, que foi aprovada pela comissão de ciência e tecnologia a Câmara.
            Agora, o gigantismo em ordem crescente ocorre no Psol: Guilherme Boulos, que limpou a barra de André Janones e Glauber Braga; Célia Xakriabá, indígena mineira que enfrenta ruralistas sobre o Marco Temporal; Érika Hilton contra a escala 6x1 de trabalho e pelos direitos das minorias sexuais.
            E não para aí. A paulista Sâmia Bonfim, notória líder pelos direitos sexuais e reprodutivos femininos e enfrentamento aos bolsonaristas; e seu marido Glauber Braga (RJ), por travar uma guerra com duas frentes poderosas: o MBL do colega Kim Kataguiri e o todo poderoso colega Arthur Lira.
            Glauber qualificou o MBL como uma organização criminosa nazifascista que colheu assinaturas para se tornar partido político. E expôs Arthur Lira quanto a fazendas não declaradas, emendas bilionárias para Alagoas e supostos crimes relativos ao kit robótica e violência doméstica.
            Essa guerra foi facilitada por sua investigação como presidente da comissão de legislação participativa. Diante disso, Glauber corre sério risco de ser cassado, após indeferimento proposital de suas testemunhas em oitivas do conselho de ética. Mas segue em luta.
            As ameaças não apertam a coragem de Glauber – que promete continuar na luta popular intensa contra os criminosos poderosos se for cassado. Como disse o jornalista Pedro Zambarda, da Folha Democrata, ele entrou grande e sairá gigante.











CURTAS 98 - ANÁLISES (Brasil- Congresso)

  A GUERRA POVO X CONGRESSO                     A derrota inicial do decreto do IOF do governo federal pelo STF foi silenciosamente comemo...