terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Ligeirinhas 4 (retrospectivas e perspectivas)

 

Feliz Natal e próspero ano novo?

            Após passar o ano metendo a ripa no governo e nos parentes, a geral se prepara para as breves festividades de natal e ano novo com os familiares. Parece curioso ou divertido, mas é nessa dubiedade que, pelo menos no Ocidente, as sociedades se comportam.
            Por outro lado, este momento de inexorável proximidade do fim de mais um ano remete muitas pessoas para se oportunizar um momento de reflexão autocrítica. Aí tudo bem, nada como um pouco disso para que possamos ser melhores no ano vindouro.
            Mas, particularmente verifico ser muito difícil darmos lugar para qualquer reflexão. O sistema em que vivemos nos induz a recusar a coletividade e apreciar o individualismo (difere de individualidade!), a dizer não ao arrependimento de nossos erros – exceto de não termos consumido algo apreciado.
            Enquanto desejamos boas festas para nossos contatos – familiares e amigos presenciais e virtuais – o sistema em que vivemos nos bombardeia com publicidades cheias de efeitos brilhosos e com forte caráter estadunidense, como as famosas propagandas do Papai Noel no trenó ou trem da Coca-Cola.
            Como desejar feliz Natal e próspero ano novo se vemos nas ruas dezenas de pessoas famintas nas ruas após nos regalarmos de faustos almoços? Ou quando deparamos com marchas para Jesus cujos seguranças privados enxotam sem-teto das ruas de passagem?
            Como desejar feliz Natal e próspero ano novo se o Congresso votou favorável à completa incolumidade da elite rentista que nada contribui para a nossa economia e contra o direito ao DPVAT após sabermos de um acidente grave com 41 mortos no interior de Minas Gerais?
            Como disse muito apropriadamente o Papa Francisco, “vivemos no capitalismo”. Feliz Natal e próspero ano novo, somente para os “de cima”, que realmente ganharam um presente de Natal., pois quem está “embaixo” ou em apuros só teve mesmo presente de grego.
            Ainda assim, desejo a todos que tenham um 2025 o mais feliz e leve possível, para que tenhamos constante energia e motivação para a lide nossa de cada dia. Porque essa não para.



Ambiente e clima: falta prática, sobra capital

            Meio ambiente é assunto que vira e mexe entra em pauta política desde meados do século passado. E tudo graças à geração dos hippies, que mais do que um estilo de moda, música e filosofia de vida, foi um movimento de grande amplitude.
            Muitos eventos desde Estocolmo-1972 vieram, sem que nada concretizado. Até hoje, o melhor que conseguimos foi erradicar o cloro-flúor-carbono (CFC), o composto publicamente vilanizado pelo buraco na camada de ozônio, do tamanho da Antártida.
            Nos anos 1990 foi consagrada a Revolução Verde, que nada mais do que foi o boom das vastas monoculturas do agronegócio nos países pobres. O planeta ofereceu vastas terras aráveis, para receber, como retorno, muita contaminação química no solo e gases-estufa e fluoretos no ar.
            Hoje vivemos num mundo de clima cada vez mais extremista. Os negacionistas nos acusam de “ideologia climática”, enquanto o planeta fica cada vez mais quente e as chuvas trocam de endereço para encher a terra. Como no Saara (de forma inédita) e no sequíssimo e belo Atacama.
            Não sabemos da verdadeira perspectiva climática de 2025. Mas especialistas sérios e comprometidos com a verdade não garantem um ano mais ameno do que 2023 e 2024 – apesar da tênue assinatura de La Niña fazendo chover de verdade na Amazônia e no Centro-Sudeste daqui.
            Enquanto os eventos internacionais de meio ambiente e clima continuarem sob comando de magnatas dos recursos fósseis e do rentismo, nos resta torcer por uma La Niña realmente efetiva – ao menos enquanto perdura a esperança de contenção de gases-estufa e da destruição ambiental.


Lula 3, da expectativa à realidade

            Após 4 anos de surrealismo destrutivo, a maior parte do povo elegeu Lula pela sobrevivência. Os dados levantados pela equipe de transição fizeram Lula governar antes de tomar posse. E, a princípio, ele governou dando a impressão de que daria tudo certo.
            É um governo de frente ampla, em acordos aqui e ali com vários partidos à direita. Mas essa frente ficou tão ampla que Lula 3 aos poucos se perdeu em relação à sua essência pragmática, como alguns integrantes do Psol apropriadamente relataram.
            Por isso, apesar do investimento forte nas políticas públicas no momento inicial, o governante veria que os reflexos do governo anterior eram mais profundos do que imaginava. Inclusive, na mudança na consciência política popular em poucos anos.
            Agora encara o Congresso mais ganancioso e reacionário da história, que só vota se tiver em mãos R$ bilhões em emendas e retira a essência dos textos. Milicos fedem a golpismo e ainda ficaram mais manhosos por dinheiro do que nunca.
            Os resultados: fim do DPVAT às vitimas de acidentes graves; mega ricos seguem intocados; valorização rebaixada do SM e dos benefícios do INSS; meio ambiente e povos tradicionais ameaçados e atacados por ruralistas negacionistas; ameaça ao SUS 100% público, etc.
            São fatos que concorrem o tempo todo para testar a popularidade da capacidade do governo num Brasil contaminado pelas correntes fascistas ainda ventilantes em locais públicos e redes sociais, refletidas nos números das pesquisas de opinião. É a realidade contra a expectativa.
     

Um pastor contra a bancada da bíblia

            Como já abordado, no Congresso reina a tríplice bancada temática BBB, que reúne os grupos da bala (segurança pública), da bíblia (costumes) e do boi (agronegócio). Mesmo em relação aos seus respectivos focos específicos, elas se convergem em interesses comuns.
            Se a maior bancada é a do boi, a mais barulhenta – e fascista como a da bala – é a da bíblia, que já interrompeu votações de propostas progressistas em costumes e tenta abolir a legalização dos casamentos homoafetivos e do aborto. E tem num pastor um inimigo: Henrique Vieira.
            De uma família evangélica humilde de Niterói, Henrique Vieira inspirou sua formação teológica em nomes progressistas como Dom Hélder Câmara, São Francisco de Assis, Santa Tereza de Ávila, Dorothy Stang e Martin Luther King. É também poeta, ator, historiador, sociólogo e, enfim, político.
            Esse conjunto de qualificações o fez entender com facilidade o intento do samba-enredo de uma escola de samba carioca que desfilou, nas suas alas, um Jesus Cristo intersexual crucificado, bem como participar do filme Marighella, do ator e cineasta progressista Wagner Moura.~
            Mas é na política mesmo que ele se destaca. De visão progressista e próximo do seu ex-professor de História Marcelo Freixo, ele entrou no Psol-RJ. Foi eleito vereador em 2012, 1º suplente em 2016 e deputado federal em 2022. E é nesse atual cargo que ele se destaca contra o pânico moral.
            Chama a atenção especialmente por ser um pastor francamente oposto à bancada da bíblia ao defender o aborto nas disposições legais, os direitos sexuais reprodutivos femininos, criticar a liberação das armas desacreditando o pretexto pseudomoralista e o sistema penitenciário.
            Coroa o fim do ano se lançando candidato à presidência da Câmara dos Deputados. Inclusive roda nas redes sociais um link de assinaturas de apoio popular ao seu mandato. Mas ele sabe que suas possibilidades são muito remotas. Mas a sua fé no progressismo é sua maior lição para o futuro.


Poucos, mas gigantes

              Em um Congresso lotado de bizarrices da extrema-direita, alguns parlamentares da linha progressista têm compensado sua baixa expressividade numérica absoluta com posições corajosas e diretas contra temáticas bizarras ou mentiras com frequentes inversões de papeis.
            Daiane Santos (PT-RS) representante negra, preside a comissão de direitos humanos e é relatora da PL que inclui servidores da saúde federal na pasta de C&T. Alice Portugal (PCdoB-BA) é a 2ª relatora da mesma proposta, que foi aprovada pela comissão de ciência e tecnologia a Câmara.
            Agora, o gigantismo em ordem crescente ocorre no Psol: Guilherme Boulos, que limpou a barra de André Janones e Glauber Braga; Célia Xakriabá, indígena mineira que enfrenta ruralistas sobre o Marco Temporal; Érika Hilton contra a escala 6x1 de trabalho e pelos direitos das minorias sexuais.
            E não para aí. A paulista Sâmia Bonfim, notória líder pelos direitos sexuais e reprodutivos femininos e enfrentamento aos bolsonaristas; e seu marido Glauber Braga (RJ), por travar uma guerra com duas frentes poderosas: o MBL do colega Kim Kataguiri e o todo poderoso colega Arthur Lira.
            Glauber qualificou o MBL como uma organização criminosa nazifascista que colheu assinaturas para se tornar partido político. E expôs Arthur Lira quanto a fazendas não declaradas, emendas bilionárias para Alagoas e supostos crimes relativos ao kit robótica e violência doméstica.
            Essa guerra foi facilitada por sua investigação como presidente da comissão de legislação participativa. Diante disso, Glauber corre sério risco de ser cassado, após indeferimento proposital de suas testemunhas em oitivas do conselho de ética. Mas segue em luta.
            As ameaças não apertam a coragem de Glauber – que promete continuar na luta popular intensa contra os criminosos poderosos se for cassado. Como disse o jornalista Pedro Zambarda, da Folha Democrata, ele entrou grande e sairá gigante.











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