quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Ligeirinhas 1 (vieses mercadológicos)

 

Golpe do capital

            O pacote Haddad sobre IRRF intentou cobrar impostos dos super-ricos mesmo com alíquota menor do que os 27% pagos por quem tem 2 salários-mínimos, matar a morte ficta relativa a milicos expulsos e isentar quem ganha menos de R$ 5 mil.
            O pacote foi entregue ao Congresso. Foi apenas uma ação protocolar de cumprimentos e rapapés. No final, milicos e super-ricos continuam incólumes, o povo continua pagando pelos “de cima”, mídia hegemônica comemora em editoriais requintados.
            A negativa não surpreendeu Haddad. Mas sua formação pessoal, política e acadêmica não o permite jogar tão facilmente a toalha. Só que agora a equação estará mais difícil: como não desagradar o social sem melindrar o mercado?
            No Brasil, o golpe ideológico do mercado torna desnecessárias intentonas civil-militares como a de Bolsonaro ou de 1964. O capital sozinho já golpeia com eficiência o povo desde sempre.


Embate 1 – contra o STF

            Arthur Lira virou todo-poderoso que fez da Câmara um balcão de negócios. Então presidente, Bolsonaro pagou com orçamento secreto para que evitasse sua deposição e conseguiu. Emendas legais foram insuficientes.
            Extinto pelo STF após Lula eleito, essa grana deu lugar às emendas pix, nova forma opaca de sacar dinheiro. Pelo STF, Flávio Dino viu o ilícito e o suspendeu, irritando Lira profundamente.
            A voadora jurídica mexeu com o Congresso, que declarou guerra com o STF emperrando a votação de propostas do governo. Por birra, o governo foi por ora prejudicado. Até que houve liberação.
            Dino liberou, desde com transparência, e que as despesas com emendas não podem crescer além das facultativas do Executivo a partir de 2025. Lira rangeu e ainda range os dentes, mas aceitou. O STF venceu – até nova farra vir à tona.


Embate 2- Lira encara um gigante

            Arthur Lira apresentou nova resolução disciplinar que suspende por 6 meses o mandato de parlamentar por indecoro. Quase o total aprovou. Glauber Braga (Psol-RJ) então divulgou um vídeo de alerta.
            O alerta sinalizou que a resolução de Lira abre portas para uma escolha seletiva de quem teria mandato suspenso, com preferência sobre os de parlamentares mais à esquerda e/ou governistas.
            O tempo mostrou a sua razão. Após vários episódios em que bolsonaristas continuam incólumes, Glauber agora corre o risco de cassação por motivo torpe. É. Não é suspensão, é cassação quase direta.
            Boulos amenizou sua situação, mas o risco de cassação ainda é alto. Se cassar, Lira não conseguirá tirar a mancha de seu caráter. E também nunca conseguirá apagar o gigantismo de seu adversário de alma popular.


Assédio sexual 1: viés ideológico

            As acusações de assédio sexual contra o ex-ministro Silvio Almeida e dos professores Alysson Mascaro (que já foi orientador de Silvio na USP) e Jaime Martins (UnB) fizeram este crime ser novamente midiatizado.
            Este grave crime contra a dignidade íntima suscita forte apoio popular às vítimas, mas também acusações de “exagero identitário”. É interessante, face ao momento de recrudescimento da extrema-direita desde os anos 2010. É mera coincidência?
            Pensemos. Se por um lado, o crime que ofende 1 mulher a cada 6 minutos e 1 homem a cada hora (estimativa de 2024) é uma realidade que merece atenção, por outro vale saber por que ele aumentou tanto desde a metade da curta era Dilma 2.
            “Coincidindo” tal aumento justamente com a alta do bolsonarismo a partir de então, nós nos levamos a refletir sobre o crime ser mais do que mero revanchismo tradicional de machos feridos.
            Sim, há algo a ver, com certeza. O antifeminismo bolsonarista conseguiu ideologizar todas as formas de violência contra a mulher – especialmente a sexual, o ápice da violência de gênero, que constata ainda mais o Brasil como um país hostil às mulheres.


Assédio sexual 2: o caso Mascaro

            O Intercept Brasil publicou matéria que denuncia o professor de Direito da USP Alysson Mascaro de assédio sexual sobre alunos rapazes. A matéria repercutiu em forte controvérsia no debate público.
            A USP entrou com sindicância sobre o caso. Mesmo sem crítica pública à mídia, Mascaro foi para as redes sociais, nas quais nega as acusações atribuindo as supostas denúncias a perfis falsos.
            O professor não ficou só nas redes. Defendido por grupos de esquerda, que acusam o Intercept de se aliar à ONG Me Too para fazer a matéria, ele corre para buscar reparação na Justiça. E corre contra o tempo.
            Enquanto não sabemos quem diz a verdade, ele virou alvo do governador Tarcísio de Freitas. Por trás dessa treta toda está a suspeita de que as denúncias de assédio foram inventadas porque o professor é um dos maiores intelectuais marxistas do país.
            Sim. Em universidades elitizadas e contaminadas pela extrema-direita, denúncias falsas podem surgir para mascarar uma perseguição político ideológica.


Assédio moral: viés ideológico

            Se existe um ambiente social no qual o assédio moral já é normalizado de tão comum, este é o de trabalho. No âmbito jurídico, ele é tipificado como crime contra a dignidade e a honra pessoal, mas ocorre até mesmo em tribunais.
            Nesse sentido, o assédio se revela uma herança do escravismo de mais de 3 séculos, atuando como reprodução dos papeis sociais na teoria de Pierre Bourdieu. Direta ou indiretamente, esse fato tem outra função intrínseca.
            É uma relação de domínio para demonstrar poder. Chefes à antiga se sentem “donos” do pedaço e dos subordinados. No lugar da chibata, as ofensas ou desestímulos como sobrecarga sem retorno ou isolamento com retirada de funções.
            Na classe política, o que mais tem são patrões à antiga – tanto esquerda quanto na direita. Mas é entre aqueles com vínculo mais íntimo com os desígnios do capital que a herança e a representatividade escravista tanto se esmeram.


BC: autonomia pelo capital

            As instituições públicas são independentes quando o gestor nomeado pelo ex-presidente da República continua seu mandato no tempo mínimo obrigatório mesmo com o novo governante. São assim o Ministério Público e o Banco Central.
            O Banco Central (BC) adquiriu essa independência durante a era Temer (2016-18). Em 2022, para presidi-lo, Bolsonaro nomeou Roberto Campos Neto, por indicação do seu dileto ministro ultraliberal Paulo Guedes.
            Lula 3 conseguiu demonizar Campos Neto, por ter assumido o poder sob juros de 13,75%/ano, maior taxa do mundo. Lula teve razão, pela dificuldade de investimento imposta pela cifra. Campos Neto alegava que foi para controlar a inflação.
            O que impediu a patuleia de saber que, quanto mais altos os juros, maior é a dívida pública (hoje, 48% do PIB) que vai para o mercado financeiro – que, insatisfeito, ainda cobra do governo mais corte nas investidas sociais.
            O mercado agradece pela independência. Mesmo sendo ingrato com a população consumidora que mais o alimenta com impostos.



















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