Golpe
do capital
O pacote Haddad sobre IRRF
intentou cobrar impostos dos super-ricos mesmo com alíquota menor do que os 27%
pagos por quem tem 2 salários-mínimos, matar a morte ficta relativa a milicos
expulsos e isentar quem ganha menos de R$ 5 mil.
O pacote foi entregue ao
Congresso. Foi apenas uma ação protocolar de cumprimentos e rapapés. No final,
milicos e super-ricos continuam incólumes, o povo continua pagando pelos “de
cima”, mídia hegemônica comemora em editoriais requintados.
A negativa não surpreendeu
Haddad. Mas sua formação pessoal, política e acadêmica não o permite jogar tão
facilmente a toalha. Só que agora a equação estará mais difícil: como não
desagradar o social sem melindrar o mercado?
No Brasil, o golpe ideológico
do mercado torna desnecessárias intentonas civil-militares como a de Bolsonaro
ou de 1964. O capital sozinho já golpeia com eficiência o povo desde sempre.
Embate
1 – contra o STF
Arthur Lira virou todo-poderoso
que fez da Câmara um balcão de negócios. Então presidente, Bolsonaro pagou com orçamento
secreto para que evitasse sua deposição e conseguiu. Emendas legais foram
insuficientes.
Extinto pelo STF após Lula
eleito, essa grana deu lugar às emendas pix, nova forma opaca de sacar
dinheiro. Pelo STF, Flávio Dino viu o ilícito e o suspendeu, irritando Lira
profundamente.
A voadora jurídica mexeu
com o Congresso, que declarou guerra com o STF emperrando a votação de
propostas do governo. Por birra, o governo foi por ora prejudicado. Até que
houve liberação.
Dino liberou, desde com
transparência, e que as despesas com emendas não podem crescer além das
facultativas do Executivo a partir de 2025. Lira rangeu e ainda range os
dentes, mas aceitou. O STF venceu – até nova farra vir à tona.
Embate
2- Lira encara um gigante
Arthur Lira apresentou nova
resolução disciplinar que suspende por 6 meses o mandato de parlamentar por
indecoro. Quase o total aprovou. Glauber Braga (Psol-RJ) então divulgou um
vídeo de alerta.
O alerta sinalizou que a
resolução de Lira abre portas para uma escolha seletiva de quem teria mandato
suspenso, com preferência sobre os de parlamentares mais à esquerda e/ou
governistas.
O tempo mostrou a sua
razão. Após vários episódios em que bolsonaristas continuam incólumes, Glauber
agora corre o risco de cassação por motivo torpe. É. Não é suspensão, é
cassação quase direta.
Boulos amenizou sua
situação, mas o risco de cassação ainda é alto. Se cassar, Lira não conseguirá
tirar a mancha de seu caráter. E também nunca conseguirá apagar o gigantismo de seu adversário
de alma popular.
Assédio
sexual 1: viés ideológico
As acusações de assédio sexual
contra o ex-ministro Silvio Almeida e dos professores Alysson Mascaro (que já
foi orientador de Silvio na USP) e Jaime Martins (UnB) fizeram este crime ser
novamente midiatizado.
Este grave crime contra a dignidade
íntima suscita forte apoio popular às vítimas, mas também acusações de “exagero
identitário”. É interessante, face ao momento de recrudescimento da
extrema-direita desde os anos 2010. É mera coincidência?
Pensemos. Se por um lado, o
crime que ofende 1 mulher a cada 6 minutos e 1 homem a cada hora (estimativa de
2024) é uma realidade que merece atenção, por outro vale saber por que ele
aumentou tanto desde a metade da curta era Dilma 2.
“Coincidindo” tal aumento
justamente com a alta do bolsonarismo a partir de então, nós nos levamos a
refletir sobre o crime ser mais do que mero revanchismo tradicional de machos feridos.
Sim, há algo a ver, com
certeza. O antifeminismo bolsonarista conseguiu ideologizar todas as
formas de violência contra a mulher – especialmente a sexual, o ápice da violência
de gênero, que constata ainda mais o Brasil como um país hostil às mulheres.
Assédio
sexual 2: o caso Mascaro
O Intercept Brasil
publicou matéria que denuncia o professor de Direito da USP Alysson Mascaro de
assédio sexual sobre alunos rapazes. A matéria repercutiu em forte controvérsia
no debate público.
A USP entrou com sindicância
sobre o caso. Mesmo sem crítica pública à mídia, Mascaro foi para as redes
sociais, nas quais nega as acusações atribuindo as supostas denúncias a perfis
falsos.
O professor não ficou só
nas redes. Defendido por grupos de esquerda, que acusam o Intercept de
se aliar à ONG Me Too para fazer a matéria, ele corre para buscar reparação
na Justiça. E corre contra o tempo.
Enquanto não sabemos quem diz
a verdade, ele virou alvo do governador Tarcísio de Freitas. Por trás dessa treta
toda está a suspeita de que as denúncias de assédio foram inventadas porque o
professor é um dos maiores intelectuais marxistas do país.
Sim. Em universidades elitizadas e contaminadas pela extrema-direita, denúncias falsas podem surgir para mascarar uma perseguição político ideológica.
Assédio
moral: viés ideológico
Se existe um ambiente
social no qual o assédio moral já é normalizado de tão comum, este é o de
trabalho. No âmbito jurídico, ele é tipificado como crime contra a dignidade e
a honra pessoal, mas ocorre até mesmo em tribunais.
Nesse sentido, o assédio se
revela uma herança do escravismo de mais de 3 séculos, atuando como reprodução
dos papeis sociais na teoria de Pierre Bourdieu. Direta ou indiretamente, esse
fato tem outra função intrínseca.
É uma relação de domínio
para demonstrar poder. Chefes à antiga se sentem “donos” do pedaço e dos
subordinados. No lugar da chibata, as ofensas ou desestímulos como sobrecarga
sem retorno ou isolamento com retirada de funções.
Na classe política, o que
mais tem são patrões à antiga – tanto esquerda quanto na direita. Mas é entre
aqueles com vínculo mais íntimo com os desígnios do capital que a herança e a
representatividade escravista tanto se esmeram.
BC:
autonomia pelo capital
As instituições públicas são
independentes quando o gestor nomeado pelo ex-presidente da República continua
seu mandato no tempo mínimo obrigatório mesmo com o novo governante. São assim
o Ministério Público e o Banco Central.
O Banco Central (BC)
adquiriu essa independência durante a era Temer (2016-18). Em 2022, para
presidi-lo, Bolsonaro nomeou Roberto Campos Neto, por indicação do seu dileto
ministro ultraliberal Paulo Guedes.
Lula 3 conseguiu demonizar
Campos Neto, por ter assumido o poder sob juros de 13,75%/ano, maior taxa do
mundo. Lula teve razão, pela dificuldade de investimento imposta pela cifra.
Campos Neto alegava que foi para controlar a inflação.
O que impediu a patuleia de
saber que, quanto mais altos os juros, maior é a dívida pública (hoje,
48% do PIB) que vai para o mercado financeiro – que, insatisfeito, ainda cobra
do governo mais corte nas investidas sociais.
O mercado agradece pela independência.
Mesmo sendo ingrato com a população consumidora que mais o alimenta com impostos.
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