Golpistas indiciados hoje. E depois?
Brasília, 8/1/2023: o Brasil se estarreceu com a transmissão, via TV e Internet, as imagens terríficas da destruição
dos prédios públicos da Praça dos Três Poderes, em Brasília. Desenrolava-se
então a Intentona Bolsonarista do 8/1.
Por intentona se
define qualquer insurreição social por insatisfação política. Por muito
tempo aprendemos sobre a intentona Comunista de 1935 da coluna de Carlos
Prestes. Agora, os novos livros de História incluirão a de 8/1.
Breve cronologia do
golpismo – em 7/9/2021, o então
presidente Bolsonaro governou declarou guerra ao STF mirando especialmente o
“Xandão”, que mandou prender fãs bolsonaristas e o bombado Daniel Silveira
pelos crimes antidemocráticos de 2020-21.
2022: para divulgar fakes sobre o sistema eleitoral
brasileiro, Bolsonaro fez lives exigindo voto impresso “ou não terá eleição”,
reuniu embaixadores e incitou os seus fãs contra Xandão, então presidente do
TSE, posando-se de vítima.
A atuação de Xandão no TSE
controlou a violência nas cabines de votação no 1º turno, mas foi desafiada por
assédio eleitoral no trabalho e em cultos evangélicos e, no 2º, pelas
blitzes ilegais da PF nos lulistas Nordeste e norte mineiro.
Eleito Lula, jornalões
relataram a “triste reclusão” de Bolsonaro no Alvorada – mentira que abafou os planos por trás das bizarrices de bolsonaristas que bloquearam estradas
e acamparam à frente dos quarteis em todo o país.
O silêncio de Bolsonaro
fez barulho. Na surdina, ele recebeu três ministros do STF: André Mendonça,
Kássio Nunes e Dias Toffolli. O encontro foi extraoficial. Toffoli soube do
barulho silente dentro do Alvorada.
12/12: durante o dia, Xandão diplomou Lula eleito
presidente. À noite, Brasília virou palco de terror, com os radicais
bolsonaristas acampados incendiando 3 carros e 5 ônibus, e atacando posto de
gasolina e delegacia da PMDF.
24/12: foi descoberto artefato explosivo embaixo de um
caminhão-tanque no Aeroporto de Brasília. Acionada, a PF percebeu que uma
tragédia só não ocorreu porque o troço foi mal ajambrado. Esse terror foi, na
prática, ameaça ensaiada.
Golpe de Estado- estava para acontecer até 31/12, daí Bolsonaro fugir aos EUA em 30/12, em estratégia para
assistir de longe.
2023: em 8/1, a Intentona na praça dos Três Poderes, que
levou à condenação de centenas de bois de piranha. Entre 18/5 e 20/11 houve a CPMI
do 8/1, cujo o relatório final acusou Bolsonaro, vários militares e dezenas
de outros nomes de alto escalão pela tentativa de golpe.
2024: paralelamente ao caso Marielle, a PF visitou
parlamentares e milicos bolsonaristas às 6h da matina. Um milico desmaiou, e
alguns parlamentares explodiram nervosos de desespero durante comissões nas
tribunas após as visitas.
Assim, paulatinamente,
talvez a partir do ano passado, como uma casa tijolo a tijolo, se construiu a
nova operação da PF.
Operação Contragolpe – esse nome caiu no conhecimento público no mesmo
repente em que vimos o ex-presidente ser anunciado entre os 37 indiciados na
tentativa de golpe de Estado. 6 milicos pararam atrás das grades.
Em arquivos de mensagens
salvos na nuvem online, o teor da trama revela o plano Punhal Verde-amarelo
para matar Lula, Alckmin e Xandão, abrindo portas para uma junta militar pela
qual Bolsonaro reassumiria o poder em molde totalitário.
Uma ditadura, entenda-se, tão anarcocapitalista selvagem quanto sanguinária.
A operação desesperou os
bolsonaristas na Câmara, onde a PEC da Anistia ainda arrisca a ser
tramitada a despeito da forte pressão popular e das explicações de juristas e
especialistas em vários canais das mídias sociais.
Visitas discretas- em 28/11 soubemos que Bolsonaro recebeu na surdina
os juízes do STF André Mendonça, Kassio Nunes e Dias Toffolli 12 vezes de junho
a dezembro/22, período em que a tramoia estava sendo desenvolvida.
As visitas foram descobertas por mando de Xandão para investigar movimentos no Alvorada registrados pelo GSI no fim de 2022. O relatório do GSI não informou o motivo, mas quem, sim.
Fria análise- não nos surpreende parte dos milicos terem
participado dos planos de golpe – incluso o de matar três autoridades. É de sua
formação autoritária, caráter da cultura militarista.
Com isso, é admirável que a
maioria não tenha se envolvido na bagunça. Freire Gomes e Tomaz Paiva, este
último chefe das FFAA hoje, nos mostraram que ao menos há militares capazes de pensar
e de respeitar as leis.
Mesmo com muitos agentes
bolsonarizados, a PF ao menos voltou à sua normalidade de instituição de
Estado. E ainda terá muito o que fazer na presente operação Contragolpe: com
tantos envolvidos ainda a pegar, o golpismo ainda não acabou.
Para saber mais
- https://piaui.folha.uol.com.br/intentona-em-numeros/?utm_source=pushnews&utm_medium=pushnotification
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Após mais de 7 anos sem
correção, o IRRF (imposto de renda da Receita) tem devorado rendas cada vez
mais baixas. Só o salário mínimo (SM) escapou no fim de 2022. E veio 2023 com
Lula 3, que recuperou ministérios.
As pastas da Fazenda e do
Planejamento têm Fernando Haddad e Simone Tebet à frente. Haddad se sentiu em
casa, em harmonia com Tebet, sem deixar de lado suas intenções progressivas.
Mas, não sem polêmica.
Ele tem trabalhado para
manter investimentos públicos com fiscalização e reduzir desigualdades. Mas
deparou com um Congresso da pá virada. Com muito custo conseguiu corrigir a
tabela do IRRF. Timidamente.
Vitória amarga. Haddad
queria isentar do Leão até R$ 4mil, quase 3 SMs. Mas o Congresso achatou o teto
a 2 SMs, ainda ferrando boa parcela do povo. Mas conseguiu manter popularidade
equilibrada a Lula 3.
Uma popularidade longe de
outrora, pelo contexto com segmentos bolsonarizados como evangélicos e
policiais, e sem alarmar mercado e jornalões. Até recentemente.
Presente de Natal? – 27/11/2024: em rede nacional, Haddad
anunciou em rede nacional nova correção de IRRF para 2026, com teto de isenção
a R$ 5 mil, sem prejuízo da arrecadação do Tesouro. É o pacote Haddad.
O pacote Haddad foi uma
resposta do governo à velha pressão do mercado de “cortar os gastos públicos”,
ao que Lula é contrário por já haver o arcabouço fiscal, que limita despesas
até em áreas essenciais.
E como o mercado é voraz, o
governo respondeu apresentando uma solução. Para manter arrecadação, haverá
cortes em pensões de milicos expulsos e tributar mais a galera dos
supersalários e as classes rentistas.
Se bem cumprida pelas
partes, estima-se economia de R$ 70 bi/ano, com bom investimento público no
mercado e em empregos, e isentar do IRRF 26 milhões de pessoas. Estaria
cumprida a intenção de Haddad.
Haddad sempre considerou
injusto isentar luxos inúteis do 1% mais rico do país tributando alto as
classes populares. Não é só questão de justiça, nem de ideologia: ele quer
seguir o resto do mundo. Ainda assim, sua ação gerou
uma rebordosa.
Reações díspares – as classes populares reagiram bem ao ver o
Leão mais longe. Já as elites (rentistas, CEOS empresários, religiosos super
ricos, altos milicos) não querem cortes em seus vultosos ganhos por “populismo
barato”.
A geral popular tem uma visão
mais pragmática, enquanto os “de cima” politizam o fato, daí a reação negativa.
O mercado é tão ideológico quanto econômico, daí dominar a conduta da classe
política.
Daí haver toda uma problematização
a ser considerada sobre o pacote.
Morde a elite – segundo Haddad, portador de doença crônica provada
contemplada na lei com renda até R$ 20 mil fica isento de IRRF; se saudável,
paga. Rendas a partir de R$ 10 milhões/mês terá alíquota mínima de 10%.
Essa mínima é bem menor do
que 27% pagos por trabalhadores com renda pouco acima de R$ 4 mil. Por que
pegou tão leve nessa turma? Porque os ganhos são tão surreais que um pouco de
cada um já rende R$ bilhões/ano.
Mas outros segmentos
entrariam para ajudar.
Milicos – o pacote mata a morte ficta, a pensão
passada a descendente solteiro de militar expulso e dado como morto pelas FFAA.
A morte ficta é acintosa, mas os milicos reagiram jogando sujo.
Circula um vídeo da Marinha
no qual mostra um treinamento militar enquanto a geral civil só curte a vida. Chamou
de vagabundos todos que pagam impostos para sustenta-los. Até o momento, o
vídeo não foi punido.
Mercado – o teor do pacote foi alvejado pelos especuladores: a
cotação cambial do dólar aumentou (chegou a R$ 6), o que levou o BC a subir
juros no pretexto de controle da inflação e entrar mais dólares no país. Só
que...
Essa grana obtida dos juros
altos não se destina à nação. Ela cai nos títulos da dívida pública,
mais de 45% do PIB hoje. Títulos esses que alimentam... o rentismo, no qual as
megaempresas também investem como ações.
Nem a patuleia escapa – mas há pontos no pacote fiscal que podem afetar a
patuleia. Eles são as restrições sobre valorização do SM, dos benefícios
previdenciários (aposentadorias, LOAS, BPC) e mesmo sobre o Bolsa-Família.
Essa parte gerou uma
divisão nas representações de esquerda. Até dentro do próprio PT. Achatar a
valorização do SM e demais benefícios a 2,5%/ano é injusto e pode despencar a
popularidade de Lula.
Congresso e milicos – antes da Marinha vazar o vídeo, Arthur Lira disse
aos jornalões que o pacote “é impossível de aprovar”. E não é só pelo
mercado que o controla. Ele está em guerra com o STF.
Flávio Dino mandou bloquear
as emendas bilionárias devido à falta de transparência (novo orçamento
secreto). Ele só as liberou exigindo a transparência das transações. E vai ter
um teto.
Com intermédio de José
Múcio, os milicos convenceram o governo a não mexer no tempo de contribuição na
previdência, mesmo aceitando o fim da morte ficta.
Avanço de um vício - após descobrir que beneficiários de Bolsa Família
gastavam com bets, o governo meteu a voadora na farra. Fez certo, mas o
povo extra isentado se jogará mais. Um perigo.
As bets viciam
porque são programadas para induzir o jogador a querer insistir, mesmo sem
nunca ganhar. Crime organizado e alguns influencers agradecem, enquanto a CPI
das Bets não indiciá-los oficialmente.
Fria análise final – ao observar o incômodo causado por seu pacote,
Haddad viu que a chance de aprove é dificílima. Mas entende o motivo: a
progressividade tributária incomoda os “de cima” – que têm Lira como exemplo
político.
Como os milicos, a elite
financeira também joga sujo. Queda da bolsa e aumento do dólar derivam são
especulações, manipuladas na grande mídia para impedir o ação da consciência socioeconômica.
Afinal, o pacote nem saiu do papel, como ele vai fazer isso?
Sobre os benefícios sociais
não há corte, mas menor crescimento valorativo. Mas é ruim: o SM não satisfaz o
previsto na lei nem para uma pessoa, quanto mais a família inteira – daí o
Bolsa-Família ou BPC ser um complemento bem-vindo.
Daí parte da esquerda
considerar o pacote um risco. Mas, se o arcabouço em vigor já corta e a reforma
tributária só foi aprovada após muito alterada, algo tem que ser feito e Haddad
foi escalado para isso. Segue o baile e quem viver, verá a dura batalha Haddad x Kapital.
Para saber mais
- https://youtube.com
(canais O historiador, Portal do José, Desmascarando, Brasil
de Fato e outros em vídeos de referência)
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