sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

CURTAS 84- ANÁLISES (golpistas pegos, pacote Haddad)

 
Golpistas indiciados hoje. E depois?

            Brasília, 8/1/2023: o Brasil se estarreceu com a transmissão, via TV e Internet, as imagens terríficas da destruição dos prédios públicos da Praça dos Três Poderes, em Brasília. Desenrolava-se então a Intentona Bolsonarista do 8/1.
            Por intentona se define qualquer insurreição social por insatisfação política. Por muito tempo aprendemos sobre a intentona Comunista de 1935 da coluna de Carlos Prestes. Agora, os novos livros de História incluirão a de 8/1.
            Breve cronologia do golpismo – em 7/9/2021, o então presidente Bolsonaro governou declarou guerra ao STF mirando especialmente o “Xandão”, que mandou prender fãs bolsonaristas e o bombado Daniel Silveira pelos crimes antidemocráticos de 2020-21.
            2022: para divulgar fakes sobre o sistema eleitoral brasileiro, Bolsonaro fez lives exigindo voto impresso “ou não terá eleição”, reuniu embaixadores e incitou os seus fãs contra Xandão, então presidente do TSE, posando-se de vítima.
            A atuação de Xandão no TSE controlou a violência nas cabines de votação no 1º turno, mas foi desafiada por assédio eleitoral no trabalho e em cultos evangélicos e, no 2º, pelas blitzes ilegais da PF nos lulistas Nordeste e norte mineiro.
            Eleito Lula, jornalões relataram a “triste reclusão” de Bolsonaro no Alvorada – mentira que abafou os planos por trás das bizarrices de bolsonaristas que bloquearam estradas e acamparam à frente dos quarteis em todo o país.
            O silêncio de Bolsonaro fez barulho. Na surdina, ele recebeu três ministros do STF: André Mendonça, Kássio Nunes e Dias Toffolli. O encontro foi extraoficial. Toffoli soube do barulho silente dentro do Alvorada.
            12/12: durante o dia, Xandão diplomou Lula eleito presidente. À noite, Brasília virou palco de terror, com os radicais bolsonaristas acampados incendiando 3 carros e 5 ônibus, e atacando posto de gasolina e delegacia da PMDF.
            24/12: foi descoberto artefato explosivo embaixo de um caminhão-tanque no Aeroporto de Brasília. Acionada, a PF percebeu que uma tragédia só não ocorreu porque o troço foi mal ajambrado. Esse terror foi, na prática, ameaça ensaiada.
            Golpe de Estado- estava para acontecer até 31/12, daí Bolsonaro fugir aos EUA em 30/12, em estratégia para assistir de longe.
            2023: em 8/1, a Intentona na praça dos Três Poderes, que levou à condenação de centenas de bois de piranha. Entre 18/5 e 20/11 houve a CPMI do 8/1, cujo o relatório final acusou Bolsonaro, vários militares e dezenas de outros nomes de alto escalão pela tentativa de golpe.
            2024: paralelamente ao caso Marielle, a PF visitou parlamentares e milicos bolsonaristas às 6h da matina. Um milico desmaiou, e alguns parlamentares explodiram nervosos de desespero durante comissões nas tribunas após as visitas.
            Assim, paulatinamente, talvez a partir do ano passado, como uma casa tijolo a tijolo, se construiu a nova operação da PF.
            Operação Contragolpe – esse nome caiu no conhecimento público no mesmo repente em que vimos o ex-presidente ser anunciado entre os 37 indiciados na tentativa de golpe de Estado. 6 milicos pararam atrás das grades.
            Em arquivos de mensagens salvos na nuvem online, o teor da trama revela o plano Punhal Verde-amarelo para matar Lula, Alckmin e Xandão, abrindo portas para uma junta militar pela qual Bolsonaro reassumiria o poder em molde totalitário.
            Uma ditadura, entenda-se, tão anarcocapitalista selvagem quanto sanguinária.
            A operação desesperou os bolsonaristas na Câmara, onde a PEC da Anistia ainda arrisca a ser tramitada a despeito da forte pressão popular e das explicações de juristas e especialistas em vários canais das mídias sociais.
            Visitas discretas- em 28/11 soubemos que Bolsonaro recebeu na surdina os juízes do STF André Mendonça, Kassio Nunes e Dias Toffolli 12 vezes de junho a dezembro/22, período em que a tramoia estava sendo desenvolvida.
            As visitas foram descobertas por mando de Xandão para investigar movimentos no Alvorada registrados pelo GSI no fim de 2022. O relatório do GSI não informou o motivo, mas quem, sim.
            Fria análise- não nos surpreende parte dos milicos terem participado dos planos de golpe – incluso o de matar três autoridades. É de sua formação autoritária, caráter da cultura militarista.
            Com isso, é admirável que a maioria não tenha se envolvido na bagunça. Freire Gomes e Tomaz Paiva, este último chefe das FFAA hoje, nos mostraram que ao menos há militares capazes de pensar e de respeitar as leis.
            Mesmo com muitos agentes bolsonarizados, a PF ao menos voltou à sua normalidade de instituição de Estado. E ainda terá muito o que fazer na presente operação Contragolpe: com tantos envolvidos ainda a pegar, o golpismo ainda não acabou.

Para saber mais
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Haddad x Kapital: dura batalha

            Após mais de 7 anos sem correção, o IRRF (imposto de renda da Receita) tem devorado rendas cada vez mais baixas. Só o salário mínimo (SM) escapou no fim de 2022. E veio 2023 com Lula 3, que recuperou ministérios.
            As pastas da Fazenda e do Planejamento têm Fernando Haddad e Simone Tebet à frente. Haddad se sentiu em casa, em harmonia com Tebet, sem deixar de lado suas intenções progressivas. Mas, não sem polêmica.
            Ele tem trabalhado para manter investimentos públicos com fiscalização e reduzir desigualdades. Mas deparou com um Congresso da pá virada. Com muito custo conseguiu corrigir a tabela do IRRF. Timidamente.
            Vitória amarga. Haddad queria isentar do Leão até R$ 4mil, quase 3 SMs. Mas o Congresso achatou o teto a 2 SMs, ainda ferrando boa parcela do povo. Mas conseguiu manter popularidade equilibrada a Lula 3.
            Uma popularidade longe de outrora, pelo contexto com segmentos bolsonarizados como evangélicos e policiais, e sem alarmar mercado e jornalões. Até recentemente.
            Presente de Natal?27/11/2024: em rede nacional, Haddad anunciou em rede nacional nova correção de IRRF para 2026, com teto de isenção a R$ 5 mil, sem prejuízo da arrecadação do Tesouro. É o pacote Haddad.
            O pacote Haddad foi uma resposta do governo à velha pressão do mercado de “cortar os gastos públicos”, ao que Lula é contrário por já haver o arcabouço fiscal, que limita despesas até em áreas essenciais.
            E como o mercado é voraz, o governo respondeu apresentando uma solução. Para manter arrecadação, haverá cortes em pensões de milicos expulsos e tributar mais a galera dos supersalários e as classes rentistas.
            Se bem cumprida pelas partes, estima-se economia de R$ 70 bi/ano, com bom investimento público no mercado e em empregos, e isentar do IRRF 26 milhões de pessoas. Estaria cumprida a intenção de Haddad.
            Haddad sempre considerou injusto isentar luxos inúteis do 1% mais rico do país tributando alto as classes populares. Não é só questão de justiça, nem de ideologia: ele quer seguir o resto do mundo. Ainda assim, sua ação gerou uma rebordosa.
            Reações díspares – as classes populares reagiram bem ao ver o Leão mais longe. Já as elites (rentistas, CEOS empresários, religiosos super ricos, altos milicos) não querem cortes em seus vultosos ganhos por “populismo barato”.
            A geral popular tem uma visão mais pragmática, enquanto os “de cima” politizam o fato, daí a reação negativa. O mercado é tão ideológico quanto econômico, daí dominar a conduta da classe política.
            Daí haver toda uma problematização a ser considerada sobre o pacote.
            Morde a elite – segundo Haddad, portador de doença crônica provada contemplada na lei com renda até R$ 20 mil fica isento de IRRF; se saudável, paga. Rendas a partir de R$ 10 milhões/mês terá alíquota mínima de 10%.
            Essa mínima é bem menor do que 27% pagos por trabalhadores com renda pouco acima de R$ 4 mil. Por que pegou tão leve nessa turma? Porque os ganhos são tão surreais que um pouco de cada um já rende R$ bilhões/ano.
            Mas outros segmentos entrariam para ajudar.
            Milicos – o pacote mata a morte ficta, a pensão passada a descendente solteiro de militar expulso e dado como morto pelas FFAA. A morte ficta é acintosa, mas os milicos reagiram jogando sujo.
            Circula um vídeo da Marinha no qual mostra um treinamento militar enquanto a geral civil só curte a vida. Chamou de vagabundos todos que pagam impostos para sustenta-los. Até o momento, o vídeo não foi punido.
            Mercado – o teor do pacote foi alvejado pelos especuladores: a cotação cambial do dólar aumentou (chegou a R$ 6), o que levou o BC a subir juros no pretexto de controle da inflação e entrar mais dólares no país. Só que...
            Essa grana obtida dos juros altos não se destina à nação. Ela cai nos títulos da dívida pública, mais de 45% do PIB hoje. Títulos esses que alimentam... o rentismo, no qual as megaempresas também investem como ações.
            Nem a patuleia escapa – mas há pontos no pacote fiscal que podem afetar a patuleia. Eles são as restrições sobre valorização do SM, dos benefícios previdenciários (aposentadorias, LOAS, BPC) e mesmo sobre o Bolsa-Família.
            Essa parte gerou uma divisão nas representações de esquerda. Até dentro do próprio PT. Achatar a valorização do SM e demais benefícios a 2,5%/ano é injusto e pode despencar a popularidade de Lula.
            Congresso e milicos – antes da Marinha vazar o vídeo, Arthur Lira disse aos jornalões que o pacote “é impossível de aprovar”. E não é só pelo mercado que o controla. Ele está em guerra com o STF.
            Flávio Dino mandou bloquear as emendas bilionárias devido à falta de transparência (novo orçamento secreto). Ele só as liberou exigindo a transparência das transações. E vai ter um teto.
            Com intermédio de José Múcio, os milicos convenceram o governo a não mexer no tempo de contribuição na previdência, mesmo aceitando o fim da morte ficta.
            Avanço de um vício - após descobrir que beneficiários de Bolsa Família gastavam com bets, o governo meteu a voadora na farra. Fez certo, mas o povo extra isentado se jogará mais. Um perigo.
            As bets viciam porque são programadas para induzir o jogador a querer insistir, mesmo sem nunca ganhar. Crime organizado e alguns influencers agradecem, enquanto a CPI das Bets não indiciá-los oficialmente.
            Fria análise final – ao observar o incômodo causado por seu pacote, Haddad viu que a chance de aprove é dificílima. Mas entende o motivo: a progressividade tributária incomoda os “de cima” – que têm Lira como exemplo político.
            Como os milicos, a elite financeira também joga sujo. Queda da bolsa e aumento do dólar derivam são especulações, manipuladas na grande mídia para impedir o ação da consciência socioeconômica. Afinal, o pacote nem saiu do papel, como ele vai fazer isso?
            Sobre os benefícios sociais não há corte, mas menor crescimento valorativo. Mas é ruim: o SM não satisfaz o previsto na lei nem para uma pessoa, quanto mais a família inteira – daí o Bolsa-Família ou BPC ser um complemento bem-vindo.
            Daí parte da esquerda considerar o pacote um risco. Mas, se o arcabouço em vigor já corta e a reforma tributária só foi aprovada após muito alterada, algo tem que ser feito e Haddad foi escalado para isso. Segue o baile e quem viver, verá a dura batalha Haddad x Kapital.

Para saber mais
- https://youtube.com (canais O historiador, Portal do José, Desmascarando, Brasil de Fato e outros em vídeos de referência)
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CURTAS 98 - ANÁLISES (Brasil- Congresso)

  A GUERRA POVO X CONGRESSO                     A derrota inicial do decreto do IOF do governo federal pelo STF foi silenciosamente comemo...