terça-feira, 14 de janeiro de 2025

ANÁLISE: Ultradireita na rede: velha novidade, nova tática

 

                    Iniciada nos Estados Unidos, a história da Internet se confunde com a da informática (EUA-Inglaterra), dada a época de seu germe, a sua origem estatal e os seus objetivos de rastreamento político de nazistas e soviéticos – aos quais as populações se viam alheias, por ter sido segredo de Estado.
                    A privatização e a posterior popularização dessas tecnologias possibilitou a proximidade virtual por afinidade, em que usuários acessam maior gama de informações cotidianas ou acadêmicas, e entretenimentos como chats de relacionamento e jogos. Foi um pulo para chegar em nossas telas os mensageiros instantâneos e as redes sociais.
                    
Efeito fulminante
                    Mensageiros instantâneos e redes sociais concretizaram proximidades virtuais por afinidades gerando nova dinâmica de relações interpessoais e sociais, bem como entre usuários comuns, empresas, órgãos públicos e grupos políticos. E viraram terreno fértil para a ultradireita.
                    Foi pelas redes de contato que políticos extremistas penetraram na vida pública seduzindo milhares de usuários com suas publicações, numa eficiência comunicacional eficiente baseada no disparo massivo. Os nazifascistas Donald Trump e Jair Bolsonaro foram eleitos dessa forma.
                    O disparo massivo de posts audiovisuais de conteúdo apelativo tem alcance muito longo, até públicos mais isolados, pouco ou não letrados e de mentalidade moral-punitivista, não detectores de desinformação e esquecidos pela esquerda. Assim se beneficia a capilaridade da ultradireita.
                    
Outros ataques
                    No calor dos fatos sociopolíticos no Brasil e no mundo em meados de 2024, o trilhardário Elon Musk entrou na sua rede X (ex-Twitter) acusando o STF de censura. Acabou tendo o X temporariamente suspenso, só retornando após pagar uma multa milionária.
                    Por Musk depreciar governos progressistas do Brasil, da Austrália e da Bolívia, e o nosso STF, os bolsonaristas viram no X a sua maior e melhor referência ideológica. Mas Musk já mostrou o seu viés após comprar a rede: ele demitiu sumariamente funcionários de viés progressista.
                    Como se não bastasse, outro CEO entrou em cena no início dessa semana. É Mark Zuckerberg, dono do Facebook, uma das plataformas integrantes da Meta. Esta última agrega empresas de aplicativos, entre elas os muito populares Instagram (rede social) e WhatsApp (mensageiro instantâneo).
                    Segundo "Zuck", como é conhecido, “tribunais secretos na América Latina” (leia-se STF) “querem censurar a liberdade de expressão dos usuários”, e declarou que suas redes sociais “não farão mais checagem rápida em postagens comprometedoras ou que possam ofender minorias”.
                    Ele disse ainda que suas redes abolirão a política de diversidade e permitirão posts que julguem condutas como homossexualidade e transexualidade doenças, mesmo após a OMS as excluir em definitivo. E completou que as redes precisam ter “mais energia masculina”. E ganhou um aliado nesses pontos.
                    A franquia de fast food McDonalds declarou em nota que não seguirá mais a política de diversidade, e ganhou a simpatia dos bolsonaristas, que certamente lotarão suas lanchonetes só por causa disso. A empresa agradecerá com os lucros tão volumosos quanto os incentivos fiscais do governo brasileiro.
                    E não esqueçamos do advogado e Pulitzer do jornalismo, o ex-Intercept Brasil Glenn Greenwald. Homossexual assumido, ele tem defendido divulgadores de conteúdos de ódio. Como judeu, já defendeu um neonazista. Ele se justifica nos “princípios libertários da Primeira Emenda Constitucional dos EUA”.
                    Não por acaso, ele acusa principalmente o STF de censura, ao criticar o banimento judicial de perfis que postam conteúdos de ódio contra a honra de alguém ou a minorias, e reiteradas mentiras contra a ciência e a história. Uma clara defesa à imposição global dos princípios em que acredita. O problema é que o Brasil não é os EUA e isso tem que ser respeitado.

Resposta dupla do Brasil
                    Mas os ataques de Musk, Zuck e da rede de fast food não ficaram sem resposta. Antes mesmo da McDonalds lançar seu manifesto em nota, o ministro do STF Alexandre de Moraes disse que o Brasil “não é terra sem lei, as plataformas também têm que seguir a lei”.
                    Vários colegas de STF, entre eles Gilmar Mendes e Flávio Dino, e membros do governo Lula 3 deram plena concordância à resposta de Moraes. Todos sabem que os ataques turbinam o ódio da extrema-direita aqui e mundo afora – uma verdade inconveniente, mas inevitável.
                    Punibilidade- enquanto no Brasil a checagem é obrigatória graças à tipificação de crimes cibernéticos no Código Penal, na Europa ela integra a lei de regulação das mídias, que o PT quer copiar. As big techs aceitam postagens criminosas no Brasil devido à falta de regulação.
                    É claro que, não raramente, as mesmas big techs façam jogo sujo com alguns usuários, tornando indisponíveis à visualização pública algumas postagens inofensivas, ou aquelas que porventura vão contra os interesses de grupos políticos ou empresariais ligados à extrema-direita.
                    Agora, a Advocacia-Geral da União (AGU) já se pronunciou sobre a demonstração de empáfia da Meta, e exigiu desta última uma resposta sobre o fim da moderação de conteúdo. A empresa respondeu, se justificando no suposto comprometimento com a transparência e com direitos humanos.

Em fria análise
                    Glenn Greenwald justifica sua posição na Primeira Emenda Constitucional dos EUA, que prevê a liberdade absoluta de expressão. E vale destacar que, exceto os chineses Tik Tok e Kwai e o russo Telegram, as big techs dominantes que protagonizam essa tática de ódio são todas estadunidenses.
                    No século XX, em especial a partir dos anos 1940, a exportação de cultura (em que subjaz o moralismo de costumes e o liberalismo econômico) para todo o Ocidente, e a exploração direta de recursos em terras alheias incutiram nos estadunidenses o espírito imperialista.
                    O exemplo veio na própria invenção da informática moderna e da internet para espionar nazistas e soviéticos.  E como o capitalismo e a citada Emenda já existiam, não se espera uma democratização política real entre as big techs – daí as postagens de ódio e de extremismo político não serem uma novidade, apenas se renovam e se inovam com o tempo.
                    Mas... cabe frisar que a citada Emenda não impede incoerências práticas. A cultura política dos EUA impede a ascensão de socialistas como Bernie Sanders ao poder, e inibe o interesse pelas verdades inconvenientes do pensador-escritor Noam Chomsky, que vive aqui.
                    Mas a acusação de censura de censura se desculpando na lei estadunidense é tudo que desperta o interesse de Zuck, Musk e outros de franquias como McDonalds. Daí não surpreender a permissividade das big techs a postagens comprometedoras de qualquer ordem.
                    Acontece que não existe lei que obrigue as demais nações de seguirem a lei dos EUA. A legislação brasileira segue o princípio da liberdade relativa de expressão, onde o “fala o que quiser e ouve o que não quer” (de preferência argumentando) fomenta o debate dialógico.
                    Na real, a liberdade absoluta de expressão só funciona na dominação ampla da ordem imaginada de um grupo específico sobre os demais. O elitismo em processos judiciais é um exemplo claro. Se permitido, o debate dialógico o dissolve. Daí a ultradireita não ser novidade nas redes sociais, que surgiram e foram desenvolvidas no meio capitalista.
                    Aê, Lula 3!- o Brasil, tanto pela fala firme de Alexandre de Moraes no STF quanto pela exigência de Jorge Messias na AGU, mostrou que possui institucionalidade e princípios legais, ainda que, por outras experiências, a patuleia tenha conhecido a cultura elitista no mundo do judiciário.
                    E nessa questão da conquista das plataformas pelos grupos de extrema-direita, vale uma sacudida no governo Lula. Mesmo visivelmente ativo para restaurar o país da quebra do governo anterior, Lula 3 não consegue fazer com que seus feitos penetrem no grande público que o elegeu.
                    Isso tem a ver com o formato das suas publicações em redes sociais. Nelas dominam esses enfadonhos banners com textos, em relação aos atraentes vídeos – que unem imagem, mobilidade e converte texto em áudio – com o presidente. Daí a queda da patuleia pelas publicações profissionais e muito bem pagas da ultradireita.
                    Lula 3 pareceu ter atendido a apelos de vários setores: substituiu Paulo Pimenta pelo marqueteiro Sidônio na Secom. Vamos ver se deslancha. E, quiçá, por que não realizar um disparo massivo de audiovisuais dos feitos positivos do governo, considerando-se a veracidade plena e a sua legalidade? Experimentem, de repente vale a pena! Antes tarde do que nunca.

Para saber mais
- https://youtube.com (canais A nova máquina do tempo, Desmascarando, O historiador, ICL Notícias e outros correlatos)
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