A iminência de guerra
global
Há uma tradição
universalizada em todo o mundo, segundo a qual o início de cada ano corresponde
a um novo ciclo, que pode ser interpretado de diversas formas: renascimento,
reconstrução ou recuperação. Por isso desejamos o melhor ao outro.
Mas a crua visão da
realidade prática nos mostra que nosso desejo compartilhado se torna inviável. Entre
as más notícias que vemos diariamente estão os crimes cometidos por agentes
políticos e a escalada das guerras internacionais.
Os homens guerreiam entre
si há milênios. Algumas guerras são seculares e intermitentes, engatilhadas por
novos motivos. Estes são os casos da guerra Israel x árabes, e a
russo-ucraniana, afinal os dois principais conflitos, encobrindo outros tantos
por aí.
Ambas são exemplos notórios
da imensa disponibilidade de arsenal bélico, do qual apenas uma pequena parte
tem potencial destrutivo suficiente para exterminar a humanidade – ou mesmo
toda a biosfera planetária – mais de uma vez.
Por envolverem potências
como EUA, China e Rússia, só essas duas guerras despertam o temor midiático da
iminência da terceira guerra mundial. A julgar pelo arsenal bélico, na
prática ela já ocorre – só falta o anúncio oficial. Quem viver, verá.
Esse anúncio pode ocorrer
neste ano – mesmo que alguns países se declarem neutros, como nas primeiras
guerras mundiais. Só espero ardentemente que o Brasil seja um dos neutros. Meus
pêsames às famílias dos mercenários que entram nessa imbecilidade internacional.
Ao fim de 2024, as
instâncias judiciárias tomaram ciência das muitas evidências materiais que
provam o papel de Bolsonaro como líder da série de crimes ligados à tentativa
de golpe de Estado com início desde o pós-eleição de 2022
Daí sabermos que, neste
presente novo ano, as novas descobertas feitas pela continuidade das
investigações da PF aumentam o nível de certeza de que a prisão é o destino
mais adequado ao ex-presidente e demais lideranças envolvidas.
Por outro lado, a
correnteza das regras institucionais encontra um revés, como a remada contra um
recife submerso que redireciona as correntes d’água. No caso, as instituições
enfrentam a possibilidade de represália.
Depois da intentona de
8/1/23, o terror suicida de Tio França – seguido do incêndio de sua casa e a
estranha morte da sua ex no Sul – precedeu uma nova tentativa fracassada de
terror, dessa vez sem suicídio, em Brasília.
São fatos recentes que
revelam a nova faceta assumida pelo bolsonarismo, adictas à continuidade das
fake news. Cientes, as autoridades do DF reforçaram o esquema de segurança para
a festa da virada de ano, que costuma atrair muita gente.
A efetividade da segurança
na festa da virada se manterá até o aniversário da intentona, contra novos
ataques. Mas parece faltar o mesmo com a desinformação massiva na rede, apesar
das medidas severas aplicadas pelo TSE de Xandão.
A suspensão de perfis
divulgadores de mentira e ódio não garante a transparência necessária, proposta
na arquivada PL das fake news na advertência às big techs sobre
as postagens falsas ou ofensivas de seus usuários.
Na prática, alcançar a
transparência é muito difícil. Se propõe advertir big techs a notificar
postagens suspeitas e autores às autoridades judiciárias. Este é o temor dos
políticos envolvidos na intentona de 8/1. E, quiçá, também das big techs.
Será que as bjg techs
respeitarão as regras em prol da democratização da verdade? Afinal, o ódio gera
muito, muito lucro. Quem viver, verá.
Brasil, desde 2013: vemos mudanças profundas. As conversas se tornam
mais ríspidas em discordância de temas diversos. Se intensificam ataques
racistas e de classe; igualmente a terreiros de religiões de matriz africana.
Há mais violência contra a mulher.
Brasília: a partir de 2015 surgem ideias legislativas
retrógradas. Direito a porte de armas para cidadão em posse legal; punição a
meninas e mulheres que abortarem até nas circunstâncias legais; protesto
reacionário à sanção da tipificação criminal do feminicídio.
O auge bolsonarista em
2019-22 se desenhou na pandemia de C19, na boiada antiambiental, na liberação
geral de armas e no ódio profundo a minorias – em que se rendeu bem,
ocasionando divisões e consequentes hostilizações internas quase constantes.
A hostilidade entre grupos
minoritários nos dá pista para entendermos que identidade e identitarismo são
conceitualmente distintos, mesmo que haja ligação entre um e outro, de forma
que a patuleia entenda ambos como sendo um só.
Identitarismo é a resposta ampla, eloquente ou até agressiva a um
estímulo discriminatório. Identidade é a consciência confiante de seu
pertencimento específico (racial, cultural-ancestral, sexual, de procedência, social, etc.), sem se rebaixar à discriminação.
Exemplos identitários são
os movimentos pela legalização da união homoafetiva para ter os mesmos
direitos da união heteroafetiva; e os feministas pela equidade entre gêneros em
direitos e deveres. Historicamente, os negros são um exemplo valioso.
Nesse sentido, o
identitarismo não é necessariamente negativo. Pelo contrário. Seus movimentos
históricos protagonizaram a pressão sobre os governos para criar leis
mitigadoras de injustiças sociais. Ele propiciou, assim, o sentimento
confiante da identidade.
Se torna negativo quando alguém
usa sua prerrogativa para prejudicar alguém (pessoa ou empresa) sem
justificativa provável. Ou se a organização usa a pauta identitária para se
promover junto à sociedade, à mídia e ao governo, a fim de lucrar mais.
Nesse sentido, a pauta identitária
deve ser usada com sabedoria, em justificativa e materialidade documental ou
testemunhal. Estamos num país que abriga 75% de minorizados, um povo imenso que
pode ser usado no tema em prol do capitalismo.
Isso é um recado para a esquerda, em sua pretensão de atingir o auge político. Com tantas minorias diferentes constituindo uma nação, o melhor a ser feito para atendê-las é maximizar a universalização das políticas públicas. Aí, o problema passaria a ser a direita elitista do Congresso.
No blog há artigos referentes
aos meios de comunicação jornalística em diferentes tópicos: a importância do
jornalista, os tipos e portes de mídias existentes e quem as detém, e enfim, a
intenção do PT na polêmica regulamentação da imprensa.
Mesmo distintos entre si,
os tópicos referidos se ligam de alguma forma. O jornalista tem papel
informativo e contributivo à investigação (ramo investigativo), e seus informes
chegam ao público, pendendo para o campo ideológico de seu empregador.
Os jornalões são meios
hegemônicos antigos, de viés liberal-capitalista, longos textos de teor
academicista e recebem concessão pública. Eles alcançam as classes populares via
TV, rádio ou versões impressas ou online de matérias de linguagem acessível.
Meios não hegemônicos ganham
espaço público crescente mediante redes sociais, canais do Youtube ou newsletters
de e-mails. Alguns são independentes, sobrevivendo da ajuda financeira de assinantes
e de compartilhamentos das matérias visualizadas.
Mas o valor das mídias não as
torna imune a ataques. O ataque a jornalistas – principalmente mulheres – pelo
bolsonarismo virou moda. Principais alvos, os jornalões O Globo virou “Globolixo”
e a Folha de SP viraram, respectivamente, “globo lixo” e “folha lixo”.
Bolsonaro se foi, mas o
ódio dos apoiadores à mídia continua. E vale destacar que, no Brasil moderno,
as primeiras críticas vieram de grupos de esquerda. Mas as críticas podem ser tão
construtivas quanto o contrário, este revelado nas expressões bolsonaristas.
A crítica às mídias em
geral – especialmente os jornalões, dado o alcance de público – são salutares
para a posterior correção. Até as matérias cujos títulos já revelam viés
ideológico devem ser apontadas criticamente para responsabilização dos
difusores.
Matérias desinformativas ou
muito enviesadas não torna as mídias “lixos”. Não há jornal imparcial, porque ninguém
o é. O que falta é regulamentação para democratizar a informação em
diferentes vieses, capazes de alimentar a reflexão crítica do público – o papel
maior do jornalismo.
Lula foi eleito pela maioria para restaurar
o país. Reconstruir não significa pôr na mesa picanha maturada com cerveja
gelada – isso é só uma metáfora. E duas reconstruções foram as políticas de valorização
do salário mínimo (SM) e da distribuição de renda.
Essa valorização – superior
à inflação oficial + rendimento do PIB no ano anterior – permitiu às classes
populares consumirem mais de fato. A fila do osso virou fila da carne real, de
segunda ou, eventualmente, de primeira: tudo é válido na vida do povão.
Outros dados econômicos revelados
nas mídias foram o crescimento do PIB e da indústria, e a queda do desemprego, facilitando
o salto macroeconômico do país. Apesar da alta dos juros e, mais recentemente,
do dólar pela crise cambial.
Agora, mídias de vieses diferentes
como a liberal O Globo e a centro-esquerda Brasil de Fato divulgaram
que o Brasil se tornou um “país de classe média”: tudo porque “mais
da metade dos lares brasileiros passou a ter renda acima dos R$ 3,4 mil”.
Claro que, para o Globo, a
otimização da economia geral e o crescimento da renda média são produtos de “muita
sorte” no governo Lula 3, enquanto que para o Brasil de Fato, tudo é
fruto do esforço da equipe do governo. Mas esse não é o foco do artigo.
Na real, R$ 3400 de renda estão
abaixo da soma de 3 SMs de 2025 (R$ 1.518), ou seja, R$ 4.554 – abaixo do SM
sugerido pelo DIEESE, de mais de R$ 6 mil, para satisfazer necessidades de uma
família de 4 pessoas, conforme a CF de 1988.
Considerando-se a
desvalorização lenta e progressiva do SM oficial até 2022, bem como o conceito
de classe média a que tenha hoje renda igual ou maior que R$ 4.554, podemos
dizer que o país ainda é classe pobre melhorada. O resto é falácia
midiática.
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