domingo, 5 de janeiro de 2025

Ligeirinhas 8 (3ª guerra, golpismo, Brasil real)

 

A iminência de guerra global

            Há uma tradição universalizada em todo o mundo, segundo a qual o início de cada ano corresponde a um novo ciclo, que pode ser interpretado de diversas formas: renascimento, reconstrução ou recuperação. Por isso desejamos o melhor ao outro.
            Mas a crua visão da realidade prática nos mostra que nosso desejo compartilhado se torna inviável. Entre as más notícias que vemos diariamente estão os crimes cometidos por agentes políticos e a escalada das guerras internacionais.
            Os homens guerreiam entre si há milênios. Algumas guerras são seculares e intermitentes, engatilhadas por novos motivos. Estes são os casos da guerra Israel x árabes, e a russo-ucraniana, afinal os dois principais conflitos, encobrindo outros tantos por aí.
            Ambas são exemplos notórios da imensa disponibilidade de arsenal bélico, do qual apenas uma pequena parte tem potencial destrutivo suficiente para exterminar a humanidade – ou mesmo toda a biosfera planetária – mais de uma vez.
            Por envolverem potências como EUA, China e Rússia, só essas duas guerras despertam o temor midiático da iminência da terceira guerra mundial. A julgar pelo arsenal bélico, na prática ela já ocorre – só falta o anúncio oficial. Quem viver, verá.
            Esse anúncio pode ocorrer neste ano – mesmo que alguns países se declarem neutros, como nas primeiras guerras mundiais. Só espero ardentemente que o Brasil seja um dos neutros. Meus pêsames às famílias dos mercenários que entram nessa imbecilidade internacional.



A nova face do golpismo

            Ao fim de 2024, as instâncias judiciárias tomaram ciência das muitas evidências materiais que provam o papel de Bolsonaro como líder da série de crimes ligados à tentativa de golpe de Estado com início desde o pós-eleição de 2022
            Daí sabermos que, neste presente novo ano, as novas descobertas feitas pela continuidade das investigações da PF aumentam o nível de certeza de que a prisão é o destino mais adequado ao ex-presidente e demais lideranças envolvidas.
            Por outro lado, a correnteza das regras institucionais encontra um revés, como a remada contra um recife submerso que redireciona as correntes d’água. No caso, as instituições enfrentam a possibilidade de represália.
            Depois da intentona de 8/1/23, o terror suicida de Tio França – seguido do incêndio de sua casa e a estranha morte da sua ex no Sul – precedeu uma nova tentativa fracassada de terror, dessa vez sem suicídio, em Brasília.
            São fatos recentes que revelam a nova faceta assumida pelo bolsonarismo, adictas à continuidade das fake news. Cientes, as autoridades do DF reforçaram o esquema de segurança para a festa da virada de ano, que costuma atrair muita gente.
            A efetividade da segurança na festa da virada se manterá até o aniversário da intentona, contra novos ataques. Mas parece faltar o mesmo com a desinformação massiva na rede, apesar das medidas severas aplicadas pelo TSE de Xandão.
            A suspensão de perfis divulgadores de mentira e ódio não garante a transparência necessária, proposta na arquivada PL das fake news na advertência às big techs sobre as postagens falsas ou ofensivas de seus usuários.
            Na prática, alcançar a transparência é muito difícil. Se propõe advertir big techs a notificar postagens suspeitas e autores às autoridades judiciárias. Este é o temor dos políticos envolvidos na intentona de 8/1. E, quiçá, também das big techs.
            Será que as bjg techs respeitarão as regras em prol da democratização da verdade? Afinal, o ódio gera muito, muito lucro. Quem viver, verá.


Como diferenciar identidade e identitarismo?

            Brasil, desde 2013: vemos mudanças profundas. As conversas se tornam mais ríspidas em discordância de temas diversos. Se intensificam ataques racistas e de classe; igualmente a terreiros de religiões de matriz africana. Há mais violência contra a mulher.
             Brasília: a partir de 2015 surgem ideias legislativas retrógradas. Direito a porte de armas para cidadão em posse legal; punição a meninas e mulheres que abortarem até nas circunstâncias legais; protesto reacionário à sanção da tipificação criminal do feminicídio.
            O auge bolsonarista em 2019-22 se desenhou na pandemia de C19, na boiada antiambiental, na liberação geral de armas e no ódio profundo a minorias – em que se rendeu bem, ocasionando divisões e consequentes hostilizações internas quase constantes.
            A hostilidade entre grupos minoritários nos dá pista para entendermos que identidade e identitarismo são conceitualmente distintos, mesmo que haja ligação entre um e outro, de forma que a patuleia entenda ambos como sendo um só.
            Identitarismo é a resposta ampla, eloquente ou até agressiva a um estímulo discriminatório. Identidade é a consciência confiante de seu pertencimento específico (racial, cultural-ancestral, sexual, de procedência, social, etc.), sem se rebaixar à discriminação.
            Exemplos identitários são os movimentos pela legalização da união homoafetiva para ter os mesmos direitos da união heteroafetiva; e os feministas pela equidade entre gêneros em direitos e deveres. Historicamente, os negros são um exemplo valioso.
            Nesse sentido, o identitarismo não é necessariamente negativo. Pelo contrário. Seus movimentos históricos protagonizaram a pressão sobre os governos para criar leis mitigadoras de injustiças sociais. Ele propiciou, assim, o sentimento confiante da identidade.
            Se torna negativo quando alguém usa sua prerrogativa para prejudicar alguém (pessoa ou empresa) sem justificativa provável. Ou se a organização usa a pauta identitária para se promover junto à sociedade, à mídia e ao governo, a fim de lucrar mais.
            Nesse sentido, a pauta identitária deve ser usada com sabedoria, em justificativa e materialidade documental ou testemunhal. Estamos num país que abriga 75% de minorizados, um povo imenso que pode ser usado no tema em prol do capitalismo.
            Isso é um recado para a esquerda, em sua pretensão de atingir o auge político. Com tantas minorias diferentes constituindo uma nação, o melhor a ser feito para atendê-las é maximizar a universalização das políticas públicas. Aí, o problema passaria a ser a direita elitista do Congresso.



O antidemocrático ataque ao jornalismo

            No blog há artigos referentes aos meios de comunicação jornalística em diferentes tópicos: a importância do jornalista, os tipos e portes de mídias existentes e quem as detém, e enfim, a intenção do PT na polêmica regulamentação da imprensa.
            Mesmo distintos entre si, os tópicos referidos se ligam de alguma forma. O jornalista tem papel informativo e contributivo à investigação (ramo investigativo), e seus informes chegam ao público, pendendo para o campo ideológico de seu empregador.
            Os jornalões são meios hegemônicos antigos, de viés liberal-capitalista, longos textos de teor academicista e recebem concessão pública. Eles alcançam as classes populares via TV, rádio ou versões impressas ou online de matérias de linguagem acessível.
            Meios não hegemônicos ganham espaço público crescente mediante redes sociais, canais do Youtube ou newsletters de e-mails. Alguns são independentes, sobrevivendo da ajuda financeira de assinantes e de compartilhamentos das matérias visualizadas.
            Mas o valor das mídias não as torna imune a ataques. O ataque a jornalistas – principalmente mulheres – pelo bolsonarismo virou moda. Principais alvos, os jornalões O Globo virou “Globolixo” e a Folha de SP viraram, respectivamente, “globo lixo” e “folha lixo”.
            Bolsonaro se foi, mas o ódio dos apoiadores à mídia continua. E vale destacar que, no Brasil moderno, as primeiras críticas vieram de grupos de esquerda. Mas as críticas podem ser tão construtivas quanto o contrário, este revelado nas expressões bolsonaristas.
            A crítica às mídias em geral – especialmente os jornalões, dado o alcance de público – são salutares para a posterior correção. Até as matérias cujos títulos já revelam viés ideológico devem ser apontadas criticamente para responsabilização dos difusores.
            Matérias desinformativas ou muito enviesadas não torna as mídias “lixos”. Não há jornal imparcial, porque ninguém o é. O que falta é regulamentação para democratizar a informação em diferentes vieses, capazes de alimentar a reflexão crítica do público – o papel maior do jornalismo.


Brasil de classe média... só que não
            
            Lula foi eleito pela maioria para restaurar o país. Reconstruir não significa pôr na mesa picanha maturada com cerveja gelada – isso é só uma metáfora. E duas reconstruções foram as políticas de valorização do salário mínimo (SM) e da distribuição de renda.
            Essa valorização – superior à inflação oficial + rendimento do PIB no ano anterior – permitiu às classes populares consumirem mais de fato. A fila do osso virou fila da carne real, de segunda ou, eventualmente, de primeira: tudo é válido na vida do povão.
            Outros dados econômicos revelados nas mídias foram o crescimento do PIB e da indústria, e a queda do desemprego, facilitando o salto macroeconômico do país. Apesar da alta dos juros e, mais recentemente, do dólar pela crise cambial.
            Agora, mídias de vieses diferentes como a liberal O Globo e a centro-esquerda Brasil de Fato divulgaram que o Brasil se tornou um “país de classe média”: tudo porque “mais da metade dos lares brasileiros passou a ter renda acima dos R$ 3,4 mil”.
            Claro que, para o Globo, a otimização da economia geral e o crescimento da renda média são produtos de “muita sorte” no governo Lula 3, enquanto que para o Brasil de Fato, tudo é fruto do esforço da equipe do governo. Mas esse não é o foco do artigo.
            Na real, R$ 3400 de renda estão abaixo da soma de 3 SMs de 2025 (R$ 1.518), ou seja, R$ 4.554 – abaixo do SM sugerido pelo DIEESE, de mais de R$ 6 mil, para satisfazer necessidades de uma família de 4 pessoas, conforme a CF de 1988.
            Considerando-se a desvalorização lenta e progressiva do SM oficial até 2022, bem como o conceito de classe média a que tenha hoje renda igual ou maior que R$ 4.554, podemos dizer que o país ainda é classe pobre melhorada. O resto é falácia midiática.
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