quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Ligeirinhas 7 (destaques do ano, critica aos críticos, etc)

 

Pacote fiscal: uma bronca aos críticos

            Como soubemos publicamente, o pacote Haddad teve o teor socializante na tributação relacionada ao poder de renda (os do topo. Mas também prevê valorização menor do salário mínimo (sm) e dos benefícios sociais a ele vinculados.
            Por pegar também na base da pirâmide, o pacote Haddad sofreu fortes críticas da maior parte dos grupos de esquerda. Não sem razão, claro. Até porque essa frenagem foi facilmente aprovada pelo Congresso, com uma tesourada a mais.
            A crítica residiu principalmente na restrição de requisitos para obtenção do direito ao benefício de prestação continuada (BPC). Ela foi explorada por parlamentares bolsonaristas para desinformar o povo sobre a real intenção do governo.
            Foi um sacrifício convencer os desinformados da realidade. Na prática, a intenção era restringir o direito ao BPC a pessoas com 25% do SM ou menos, e portadores de deficiências ou necessidades especiais de fato incapacitantes para o trabalho.
            Somando-se todas as deficiências e necessidades especiais na população geral, se estima que até 36 milhões tenham algo. E destes, 18,6 milhões (8,9% da população geral) são, de fato, incapazes de trabalhar necessitando, assim, do BPC.
            Portanto, a parcela com deficiências e/ou necessidades especiais leves têm capacidade para ocupar cargos compatíveis com a sua condição individual. As cotas de concursos públicos e vestibulares preveem essa compatibilidade.
            A afirmação acima não é uma ideologia capacitista, nem identitária. Se a educação e, principalmente trabalho já preveem, por lei, meios inclusivos, vale frisar que a mesma afirmação é, na verdade, uma injeção de autoconfiança aos portadores.
            Isso não invalida de todo a crítica da patuleia esquerdista à menor valorização dos ganhos no andar de baixo. Mas vale a bronca por não criticarem duramente o Congresso de ter deixado os super ricos incólumes à benemérita tributação.


Memória: um governo em risco

            Quando Lula foi declarado eleito pelo TSE, a margem apertada fez muitos pensarem que a vitória só foi possível graças à lábia da Frente Ampla. Com certa razão, pois Bolsonaro só ficou no governo pagando muito caro ao Congresso de forma ilícita.
            Por isso, Lula teve que maximizar o esforço de refinar a sua velha sagacidade política para obter o apoio da ampla rede partidária da Frente Ampla, com o fim de derrotar Bolsonaro. Entre a lábia e o dinheiro, a competição foi acirrada.
            Antes de tomar posse, Lula teve que governar por fora, na PEC da transição, pela qual conseguiu recursos para recuperar o país do desastre. E desde já, ele recebeu olhares hostis, que se rebelariam de verdade após a posse.
            Seu ministério foi como a propaganda do desodorante Rexona: sempre cabe mais um. Pela frente ampla, Lula distribuiu alguns ministérios ao conjunto partidário do Centrão, e nomeou um aliado de Arthur Lira para tomar frente na Caixa.
            Acontece que isso não diminuiu a hostilidade do Congresso, por sua composição de centrão e extremistas à direita nas bancadas da bala, da bíblia e do boi, todas controladas também por uma força maior e unida: o mercado.
            Para se manter, o governo teve que ceder em muita coisa: não conseguiu a desejada justiça tributária na PEC da reforma nem no novo pacote; viu a pirotecnia agrobolsonarista durante a seca; e enfrenta um problema especulativo de juros e dólar altos, de difícil controle.
            Mesmo assim, houve algumas vitórias, mesmo amargas, para cumprir muitas das promessas de campanha. E agora, a restrição de emendas, determinada pelo STf, pode ser mais um desafio imposto pelo Congresso contra a sua governabilidade frente às adversidades.
            Enquanto há rumor de Lira ministro da saúde em 2025, Lula 3 avalia como agirá a partir de janeiro. Mas é certo que, com “tesão de jovem de 18 anos”, ele conclua o governo com chance de tentar se reeleger. E a guerra mercadológica certamente continuará.


A inversão no SUS amplo

           Embora se espalhe em todo o território nacional, a saúde federal operada por servidores diretamente vinculados ao Ministério da Saúde (MS) tem, ao menos, 70% de sua concentração de instituições e trabalhadores na cidade do Rio de Janeiro.
            Herança dos tempos de capital federal, essa concentração tem 6 hospitais federais (HFs) de controle pelo DGH (Departamento de Gestão Hospitalar), e 3 institutos nacionais (INs) de serviço hospitalar e suporte de ensino e ciência e tecnologia.
             Iniciada há mais de 70 anos, essa rede é operada principalmente por trabalhadores efetivos do Ministério da Saúde (RJU-MS), que paulatinamente perdem espaço para os temporários da União (CTUs) por falta de concursos públicos.
            Até aí temos aguentado. Mas a coisa piorou desde 2023, quando o MS declarou “impossibilidade” de continuar gerindo toda a rede no RJ, durante uma negociação. E desde então, os servidores vivem uma guerra hercúlea com Brasília.
            O motivo da guerra é o fatiamento: a Ebserh (que controla os HUs) pegou um HF; o município, dois outros HFs até o momento; e o até então obscuro Grupo Hospitalar Conceição (GHC) pegou outro. Dois HFs ainda estão sem futuro definido.
            Tudo isso acima é repetido, para informar os que ainda estão por fora dos acontecimentos, sem ciência das consequências de todo esse processo – que já se concretizam, por trás da promessa de um SUS mais amplo e completo.
            Desde que tomou controle dos HUs, a Ebserh acabou com a reabilitação cardíaca no HUAP da UFF-Niterói; e na última semana de 2024, o GHC simplesmente “matou” a referência nacional em Nefrologia no HF de Bonsucesso, no Rio.
            Mais um passo, para que o SUS seja fragmentado até a completa dissolução de seu princípio maior: o de ser para todos. Triste será ver nos jornais futuros: “O lucro bilionário do SUS (leia-se empresas) é o resultado de um acerto do governo”.


Os campeões da ética e moral em 2024

            Quando Lula disse, ainda preso na PF em Curitiba, que “não abre mão da dignidade para ter liberdade”, Lula oportunizou uma observação interessante sobre as possibilidades de haver dignidade na política.
            Isso porque a política se tornou mais do que uma ciência da diplomacia em nome da ordem nacional a partir da governança. Ela se revela um termômetro onde os princípios éticos são constantemente testados na guerra dos discursos.
            A política é mais do que um octógono do MBA. É um campo minado onde impera a guerra ideológica – na qual o mercado marca presença quase constante – em que diferentes figuras se notabilizam em matéria de dignidade, ideológica ou ética.
            Guilherme Boulos: fez boas observações nos Conselhos de Ética da Câmara. Graças às suas análises, André Janones foi absolvido da acusação de rachadinha, e o risco de cassação de Glauber Braga foi enfraquecido ao expor a tática do MBL.
            Glauber Braga: presidente da Comissão de Gestão participativa, não se intimidou com o poder de Arthur Lira ao expor acusações sobre este. Enfrenta processo no Conselho de Ética por ter expulsado um cara do MBL e expor a aliança do movimento com o neonazismo.
            Alexandre de Moraes: num dos cargos mais desafiadores, mostrou-se pleno legalista contra os abusos golpistas do ex-presidente Bolsonaro, e como relator do inquérito da intentona de 8/1/23, com numerosas condenações. E preside inquérito dos cabeças do golpe.
            Flávio Dino: após dar um banho nos bolsonaristas em 2023, com tiradas de simpático cinismo, ele se tornou o terror da turma de Lira ao reter R$ 4,2 bilhões em emendas de comissão de transação ilícita, das quais liberou R$ 370 milhões para manter o piso da saúde pública.
            Esses foram os campeões de dignidade em 2024 em relação à condução política – mesmo que, para tantos casos tenha sido necessária a intervenção da justiça.


O que esperar em 2025

           Enquanto milhões de pessoas se aglomeram nos principais pontos de referência para assistir ao colorido espocar de fogos e música pelo Brasil afora, aqui em Juiz de Fora, MG, a virada é ribombada por um raio. E em Brasília? Não sei, não assisti à TV.
            Mas imagino como deve ter sido. Para os moradores da capital brasileira, um breve momento de descanso decorre após tanto movimento no ano que mal acabou de morrer. E, pasmem, muitos fatos ainda continuarão em 2025. Exemplos a seguir:
            No STF, Dino reterá as emendas restantes até que seja elucidada a sua transação; e Xandão continuará relator dos inquéritos das fake news (iniciado na era Bolsonaro) e da intentona de 8/1/23, acrescida com o plano de matar Lula, Alckmin e ele próprio.
            Na Câmara, Glauber Braga ainda aguarda a continuidade do julgamento, pelo Conselho de Ética, do processo relativo à guerra ideológica implantada pelo MBL, e por estar à frente da Comissão de Legislação Participativa, que visa a participação social.
            A decadência de Bolsonaro gerará rebuliço no PL, compossível evasão de alguns nomes para partidos do Centrão ou mudança de apoio para o próprio Lula. É uma indicação de que o extremismo de Bolsonaro não faz mais sentido de manter.
            Pensando em seu futuro, a esquerda se divide entre pauta identitária e políticas sociais. Ante um eleitorado conservador, o pragmatismo das políticas públicas deve ser posto em 1º plano, deixando o identitarismo como consequência natural.
            Torçamos para que dispositivos como a PL da Anistia e os retrocessos nos direitos fundamentais tenham como destino a poeira da gaveta do arquivo. A primeira envergonhará a República, e as demais são socialmente inviáveis.
            Espero que haja consciência de se ter mais escolas e hospitais do que templos religiosos arrecadatórios. E que o SUS permaneça na Adm Pública regido por servidores estáveis, e não caia mais na rede empresarial de direito privado.
            Que o sol da mudança climática rache as cabeças dos poderosos para tomar ciência de maximizar a mitigação da destruição ambiental, para preservar as áreas socioambientais remanescentes e a capacidade produtiva do próprio agro e da indústria!
            Não quero muito. O que escrevi acima não é milagre. É o suficiente que possamos todos fazer para um futuro melhor. Quem torna melhor o mundo não é o novo ano, e sim a nossa sabedoria e humildade de fazê-lo.
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