A LUTA DO PAPA FRANCISCO... E DA ICAR
A colonização portuguesa e
espanhola das Américas não só expandiu impérios, como também propiciou a hegemonia
da igreja católica apostólica romana (ICAR), que enfrentaria a eclosão
do protestantismo por movimento do ex-monge agostiniano Martin Lutero, na Alemanha.
Deu certo: hoje o catolicismo ainda é a fé cristã dominante, com 1,2 bilhão de fiéis pelo mundo. Mas nos últimos 30
anos ocorre uma retração lenta e contínua, enquanto crescem o islamismo, o
pentecostalismo e o ateísmo. Isso tem preocupado muito a cúpula do Vaticano.
Entre as tentativas de
solucionar o problema, o Vaticano resolveu apostar em eleger candidatos não
europeus ao papado. O intento era eleger alguém carismático, popular e bem
disposto como o finado João Paulo II. E esse momento tão oportuno chegou em
2013.
O reformista diferentão – em
2013, a renúncia do burocrático papa Bento XVI favoreceu a eleição de Mario
Jorge Bergoglio, o Papa Francisco. Argentino, ele furou o antigo requisito
europeu. Franciscano, ele se formou para uma vida simples e se dedicar aos
pobres.
Ainda em 2013, logo após a
posse, Francisco passou no teste de carisma, popularidade e disposição. Na ilha
de Lampedusa, confortou refugiados. No Rio de Janeiro, lotou a Jornada
Mundial da Juventude. Já foi flagrado fazendo caridade para moradores de
rua em Roma.
Mas Francisco também arrepiou
a cúpula. Abençoou casados pós-divórcio e casais homoafetivos, perdoou mulheres
que abortaram, já declarou defender grupos progressistas da ICAR e até hoje
critica o descaso dos capitalistas – inclusos líderes cristãos – com o planeta.
Um problema –
ao ser eleito e empossado Papa, Francisco já contava mais de 70 anos de idade e
porta uma afecção pulmonar adquirida na juventude. O Vaticano já sabia disso,
mas resolveu apostar nele. Agora, com 88 anos, a afecção pulmonar virou
pneumonia bilateral.
O temor dos católicos pela
vida do pontífice se deve à ciência de que, na juventude, Bergoglio teve que se
submeter a uma cirurgia que retirou parte de um dos pulmões devido a um
acidente pretérito.
Fria análise –
segundo o hospital Gemelli, Francisco segue “estável e tranquilo” após episódios
de piora respiratória em 3 semanas de internação. Mas o Vaticano já começa a
mexer os pauzinhos a portas fechadas, dada a possibilidade de o papa atual não ter
uma sobrevida suficiente.
Imaginando a chance de
Francisco não resistir, a Cúpula vaticanista já debate sobre o futuro papa. Os
fiéis se dividem em elucubrações diversas – e possível conspiração profética –
mas compartilhando a certeza da saúde delicada do papa e a incerteza do futuro
da ICAR.
Mas é certo que, conflitos
internos à parte, Francisco imprimiu à ICAR uma face um pouco mais humana, flexível,
mais próxima dos fiéis. E, dado o avançar do nazifascismo pelo mundo, o
sucessor de Francisco terá o desafio de manter essa humanidade tão necessária.
Para saber mais
Como descrito antes, Papa
Francisco agora luta contra um mau quadro respiratório. Se bem que as últimas
notícias do hospital Gemelli são mais animadoras: ele está fora de perigo, mas
ainda inspira cuidados, fazendo fisioterapia e exercícios respiratórios e espirituais.
Nesse ínterim, o pontífice volta
à ativa, embora o seu trabalho seja nesse momento mais leve, até por orientação
médica. Aproveitando a progressiva remissão infecciosa, ele prepara seu próximo
objetivo: um novo ciclo de reformas na ICAR.
Sínodo –
um dos objetivos do pontífice é a realização do Sínodo (reunião com
bispos), a partir de um texto com proposições diversas em que a ICAR pode incentivar
os fiéis a debater. Neste Sínodo, ele
pretende conversar sobre o novo ciclo de reformas para implementar na ICAR.
ICAR flexível – já
vimos que Francisco é tão popular quanto o conservador e centralista João Paulo
II, mas difere radicalmente deste e do burocrático e vaidoso Bento XVI. Reformista,
ele aprovou um texto sobre o processo de reformas na ICAR para torna-la “mais
acolhedora e responsiva”.
A evasão de fiéis invocaria
em todo papa o desejo de tornar a ICAR mais acolhedora. O problema é como realizar
e materializar esse desejo. Mas Francisco especifica a sua intenção de debater
sobre o papel feminino no diaconato e a inclusão de fiéis da comunidade LGBTQIAP+.
São pontos “muito
delicados e complicados” para a numerosa parcela conservadora de prelados participantes do Sínodo. Mas o Papa quer o processo de reforma acontecendo já,
para concluir em sua finalidade em 2028. E isso faz com que o pontífice esteja envolto de muitos
inimigos.
Aliás, desde o início Francisco
coleciona inimigos. O Vaticano pode ser o principal local deles, mas há outros por
aí, não referidos na mídia. Há os inimigos político-ideológicos. Vale lembrar que Steve Bannon queria “matá-lo”.
E agora quem deseja a sua morte é a turba nazifascista daqui, enquanto ele se
recupera para transformar a ICAR.
Para saber mais
Em fevereiro deste ano,
Arthur Lira (PP-AL) saiu da presidência da Câmara dos Deputados. Após dois
mandatos de opressão com direito a chantagens e ameaças, ele deu lugar ao novo
eleito, Hugo Motta (Republicanos-PB). A ascensão de Motta teve apoio até da
bancada petista.
Ele deu alívio para os
governistas quando, na sua posse, disse “não vai haver impeachment” de
Lula. Para parte da patuleia que assistiu, ele findou a arrogância opressiva:
Lira foi considerado a figura pública mais antipática, segundo pesquisa de
opinião. Mas, Hugo é mesmo melhor?
Prólogo – Hugo
Motta é médico da Paraíba. Sua estreia na política federal o aproximou de Eduardo
Cunha por afinidade ideológica e de fé. E como bom aluno de Cunha, se aproximou
de Lira, seu colega mais velho e com quem aprenderia outras “coisitas más”.
Temperamental –
segundo a grande mídia, o novo presidente da Casa é bastante diferente de Lira.
Não é só por ser mais jovem (ele tem 35 anos, Lira 55). Hugo Motta também é
conhecido por sua “amabilidade” – claro, segundo os jornalões. Mas calma,
muita calma nessa hora.
No grito e soco na mesa,
ele findou a baixaria entre a turba bolsonarista e o governista Lindbergh
Farias. Em reunião recente com a bancada feminina, ele foi agressivo ao negar
regime de urgência em pautas femininas, ao ponto de aliados pedirem sua
retratação às deputadas. É carne de pescoço.
A outra face –
antes das supracitadas explosões, ainda na posse, Hugo Motta acenou para votar
a proposta de anistia aos protagonistas da intentona de 8/1ao justificar que “não
houve tentativa de golpe de Estado, porque não houve líder”. Como se as
redes sociais escondessem os líderes.
A declaração deu esperanças
aos bolsonaristas, que a aproveitaram para encher suas redes de mais mentiras
ególatras. Um alívio ante o temor do julgamento de Bolsonaro e milicos presos e
do toc toc toc da PF às 6h da manhã em suas residências, por incentivo à
intentona.
Por outro lado, a
recém-empossada presidente do Supremo Tribunal Militar (STM) disse que a
declaração de Motta revela “desconhecer a história”, salientando que “houve
tentativa de golpe, que poderia ser desfechada se houvesse GLO”. Mas
bolsonaristas não gostam de mulheres.
Centrão – em
meio à disputa da presidência da Câmara, o então concorrente pastor Henrique
Vieira (Psol-RJ) viralizou um vídeo no qual aponta que Motta é a continuidade
política de Arthur Lira. Ele estava certo: Motta é do Centrão, o
oportunista que segue quem paga bem melhor.
Se Lula 3 pagar melhor do
que Bolsonaro, o Centrão será “lulista”, aprovando melhor suas propostas. A Resolução
1/2025 das novas regras, de emendas, que facilita o repasse das mesmas para
bancadas partidárias sem identificar quem realmente propôs os recursos, foi
promulgada.
Essa nova Resolução desafia
o STF em termos de legalidade. Desafia o
governo federal em torno da disponibilidade da quantia aprovada, estimada em
até R$ 50 bilhões. E os bolsonaristas, em caso de possível aprove da mesma pelo
STF e Lula pagar o combinado.
Político experiente, Lula
sabe quem é Hugo Motta. Sabe da sua proximidade com Lira. E nos bastidores se
sabe que ele comprou uma penca de bois do alagoano para tocar o seu latifúndio
na Paraíba. E tem apoio da bancada ruralista. No campo, a violência continuará
com certeza.
Para saber mais
Parabéns pelos excelentes textos!
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