domingo, 23 de março de 2025

Ligeirinhas 18 (ultradireita, Zema, neoevangélicos)

 

PERIGO! ULTRADIREITA NO SENADO

            Já sabemos que a ultradireita bolsonarista ocupa um espaço bastante significativo no Congresso, ofuscando a centro-esquerda governista e a esquerda que por vezes aprova projetos do Executivo. Isso porque vários nomes das bancadas temáticas BBB¹ são bolsonaristas.
            Essa imensa oposição ao governo Lula 3 é mais pronunciada na Câmara dos Deputados, que tem bem mais gente por ser classificada como casa do povo pela Carta Magna, enquanto que o Senado representa os Estados (cada Estado elege três senadores para mandatos de 8 anos).
            Mas, diante da iminente condenação de Jair Bolsonaro à prisão e da possível apreensão dos passaportes de Eduardo Bolsonaro e Marcos do Val pela Justiça, a ala bolsonarista assume publicamente sem ponderação sobre seus crimes, de dominar o Senado como já tenta na Câmara.
            Como que numa tradição, a relação entre o governo federal e a Câmara sempre foi mais difícil. Talvez seja a oposição mais numerosa e, por isso, mais agressiva em chance. O Senado tem sido menos difícil, talvez por lideranças mais ponderadas. Mas agora a coisa pode mudar.
            Isso, se Davi Alcolumbre, que retorna à presidência do Senado após dois mandatos de Rodrigo Pacheco, se deixar levar. Legítimo Centrão, Alcolumbre, do União Brasil, se relaciona bem com governos federais ideologicamente díspares – desde que bem remunerado, claro.
            Mas agora reina um novo clima. Devido ao rigor com que o STF mantém retidas as emendas de origem irregular e sem transparência, os bolsonaristas e o Centrão se aliançam num só objetivo: criar medidas que inibem a “interferência autoritária” do STF na questão das emendas.
            Há outro perigo. É a turba bolsonarista querer, a todo custo, se tornar maioria no Senado para deter o poder depositado hoje no Centrão. O ataque ao poder de polícia constitucional do STF com impeachment de ministros se acompanha do desmonte final do governo Lula 3 para a retomada da ultradireita no poder.
Nota: ¹ BBB-bala, bíblia e boi
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ZEMA INVESTE CONTRA A  SAÚDE

            O empresário Romeu Zema (já abordado aqui) foi eleito governador de MG pela 1ª vez, aproveitando a modinha do bolsonarismo tão em voga. Mesmo tendo contribuído com o Nordeste para o retorno de Lula, a maioria dos mineiros reelegeu “inexplicavelmente” o bolsonarista.
            Sim, “inexplicável” – entre aspas mesmo.  A contradição ideológica aí é só um detalhe. O principal pormenor midiático foi o aprove de contas pela ALMG. Sendo Zema queridinho dos jornalões de massa por sua política privatizante, seus outros feitos foram cuidadosamente segredados.
            Malfeitos em 2019-22 – Zema triplicou salários: seu e de seus próximos. Desviou parte dos recursos federais para rodovias estaduais na estrada de acesso ao sítio Zema; foi denunciado, mas MP-MG arquivou. Trocou 11 vezes a chefia de fiscalização ambiental para facilitar a mineração em áreas proibidas.
            Entregou à ALMG projetos de privatização da Cemig (energia), Copasa (saneamento) e no fim, o da nevrálgica Federação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig). Entregou a gestão das APAs estaduais à iniciativa privada. E criou persecução política a servidores críticos ao seu governo.
            Malfeitos atuais – novamente triplicou os salários. Enquanto seguem análises dos projetos privatistas pela ALMG (por compra de votos), a proposta de federalização da Cemig por Lula para pagar a dívida estadual de R$ 160 bi (80 bi só no governo Zema) segue sem resposta de MG.
            Em 2023, Zema encerrou a instituição que qualificava empregados públicos ativos e aprovados em concurso da Cemig. Deseducado, saiu “à francesa” da reunião de governadores com Lula em Brasília, e continua ruim de conversa. E ainda insiste em alterar a Constituição mineira para retirar a consulta popular.
            Em 2025, os projetos de privatização – incluso o da Fhemig – avançam na ALMG gerando apreensão nos servidores e empregados públicos e nova onda de críticas. E, sem qualquer consulta pública, Zema vende as hidrelétricas da Cemig, em método de venda fracionada de ativos da empresa.
            Fria análise – na verdade, nada disso surpreende. Como muitos empresários, Zema enxerga o Estado como uma empresa diferenciada a ser gerida como meio privado. Mas os empresários sabem que, embora lucrativas, as empresas estatais contribuem gerando divisas para o erário público.
            Privatizar Cemig não é novidade. Os tucanos Eduardo Azeredo, Aécio Neves e Antônio Anastasia quiseram vende-la, mas a pressão popular os impediu. Só que Zema vai além deles, lançando a Fhemig e tendo a maior parte da ALMG relativamente refém dele. Tanto que a proposta avança na Casa.
            Parte dos servidores da saúde federal do RJ poderia imaginar Zema a imitar a empreitada de Lula 3 com entrega de três dos hospitais federais a empresas públicas. Mas é diferente: ele quer vender tudo para a iniciativa privada, o que é bem pior. Aí depende de os mineiros saberem e partirem em massa contra.
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HENRIQUE VIEIRA E EVANGÉLICOS BOLSONARISTAS

            Nos anos 1990, parlamentares da bancada da bíblia – composta principalmente de lideranças evangélicas neopentecostais – tomou corpo no Congresso. Mas foi a partir do século XXI que ela cresceu exponencialmente, chegando aos 300 deputados e senadores entre 2014-22.
            A bancada é conhecida por suas pautas naturalmente ultraconservadoras na complexa seara dos costumes. Ao trazer, ainda na primeira era Dilma, as pautas moralistas de costumes do MBL e o armamentismo de Bolsonaro, a ultradireita capturou a maior parte da bancada bíblica.
            A influência das lideranças bolsonaristas sobre as igrejas bastou para que a maior parte do povo fiel fosse cair na lábia. Observamos, então, maior nível de intolerância a minorias religiosas, étnicas e sexuais, mais proselitismo, fanatismo e violência – a aliança neoevangélica¹-bolsonarista.
            A aliança neoevangélica-bolsonarista fez desenvolver uma bizarra ligação desse cristianismo com Israel (vide Complexo de Israel liderado por um pastor-traficante, mesmo que judeus sejam descrentes em Jesus como Messias), e a visão de Jair Bolsonaro como um enviado divino.
            Não surpreende: mesmo no Brasil laico, a religião tem laço com a política, laço tornado nó na citada aliança. Nesse raciocínio, o deputado pastor Henrique Vieira (Psol-RJ) concedeu entrevista ao podcast Brasil de Fato para responder: é possível humanizar a população evangélica atual?
            Em sua resposta, Henrique ressaltou um ponto importante: “os evangélicos não são apenas religiosos, eles são pessoas humanas, com suas singularidades”.  Nesse raciocínio, ele explica que a bolsonarização transformou a religião num “dispositivo de ódio”, propondo ser necessária a campanha de humanização.
            Essa campanha leva a rememorar a política de desnazificação em massa do povo alemão no pós-II guerra juntando-se massivamente reeducação, Tribunal de Nuremberg e a criminalização legal do nazismo. Há grupos neonazistas, mas a Alemanha de hoje não é como a Alemanha daquele tempo obscuro.
            É quase certo que Henrique Vieira tenha se baseado no caso alemão para propor a humanização desses evangélicos Mas, num país sem tradição em educação cidadã, esse projeto hoje pode ser inócuo, se não investir também contra o ódio online nem responsabilizar judicialmente os líderes cristãos.
Nota: ¹neologismo para definir o evangelismo bolsonarizado.
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