domingo, 23 de março de 2025

Ligeirinhas 19 (rapidinhas financeiras)

 

VAMOS NOS LIVRAR DO LEÃO EM 2026?

            Desde que tomou posse, Lula 3 teve como preocupação crucial o cumprimento de suas promessas de campanha em contexto social mudado pelo bolsonarismo e dos desafios impostos pelo Centrão de Lira, então superalimentado pelo governo anterior – que, falando de boa, foi bastante destrutivo.
            Várias de suas propostas foram ou estão sendo cumpridas, aos trancos e barrancos. Mas há outras a serem ainda alcançadas, como a revisão da reforma da CLT e o aprofundamento da reforma tributária através da isenção de IRRF para rendas até R$ 5 mil. Essa é mais nevrálgica de todas agora.
            O motivo mais conhecido é a tributação sobre o trabalho e o consumo, e não sobre o capital. Essa tradição nefasta mantém o elitismo tributário (quanto maior a renda, menor a carga de impostos), o principal fator da manutenção das desigualdades sociais e na precariedade de serviços públicos.
            O novo projeto do IRRF se parece muito com o anterior em seu conteúdo e tem o mesmo intento socializante. Mas há diferenças: elas estão nos detalhes, que “pisam mais leve no freio”. O número de isentos reduzirá de 26 para 10 milhões, e negativa a arrecadação de R$ 70 bi para R$ R$ 25,22 bi em 2026.
            Mais uma vez, a compensação virá para rendimentos acima de R$ 600 mil anuais, em descontos de 10% gerando quantum equivalente. Quem investe em dividendos também será tributado em 10%, com impacto positivo de R$ 8,9 bi em 2026 com soma arrecadada de R$ 24,5 bilhões.
            A tributação dos “de cima” pegará perto de 200 mil pessoas (menos de 1% da população), já auferindo essa soma, segundo cálculos da Fazenda só com os 10% de imposto. Mas o elitismo tributário continua: no mundo, a tributação média só de dividendos é de 40%, aqui tem sido zero.
            Assinado pelo presidente, o PL foi entregue nas mãos dos presidentes do Congresso. Agora é que entra o desafio. Hugo Motta já adiantou que o texto será alterado em apreciação antes da votação. É aí que entra o problema: as Casas estão lotadas de gente ligada ou que passa pano no capital.
            Sobra agora, portanto, para o governo Lula 3 disparar em massa seus anúncios e feitos positivos tal como fazem os bolsonaristas para espalhar mentiras, para a patuleia saber do novo PL do IRRF. Aí o povo poderá cobrar dos parlamentares a aprovação de algo com tudo para beneficiar a nação.
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GALÍPOLO E NOVAS ALTAS

            Gabriel Galípolo é atualmente o presidente do Banco Central (BC ou BACEN). Indicado por Lula e aprovado em sabatina do Senado, ele foi considerado a aposta contra a política de juros praticada pelo antecessor Roberto Campos Neto. Mas, os fatos têm mostrado que não é bem isso.
            Ele fez parte do Copom. O Copom no BC é o equivalente econômico ao STF constitucional. É composto por 9 membros da direção e tem como atribuições elaborar, discutir e votar medidas que, em teoria, visam garantir a sustentabilidade da economia do país. É ele quem, enfim, decide as taxas de juros.
            O Brasil sempre carregou a fama justa de ser o país com os juros nominais mais altos do mundo. Indicado por Jair Bolsonaro, Campos Neto foi o diretor entre 2022-24 e foi o alvo preferido das críticas de Lula 3 devido à taxa nominal de 13,75% em juros alegando necessidade de segurar a inflação.
            Até que, algumas vezes, Lula teve razão em criticar. A citada alta, com hesitantes recuos após muita pressão, dificultava os investimentos do setor produtivo e a abertura de micro e pequenas empresas. Fora que Campos Neto autorizou exportação de ouro de garimpo ilegal para a Europa, em 2022.
            Agora veio um novo momento, em que um ataque cambial especulativo elevou o valor do dólar e pressionou o mercado interno, com alto risco inflacionário, sobretudo em importados. Daí veio a nova alta de juros, alcançando agora valor acima de 14%. E promete aumentar ainda mais.
            O presidente da República ainda segura a língua: afinal, suas críticas a Campos Neto eram também alfinetadas a Paulo Guedes, que na época o indicou antes das eleições. Mas sua língua já coça: se já havia alta devido à especulação cambial, agora se teme forte desaceleração econômica.
            O que já era esperado pelo mercado. A dívida pública gorda já atinge 75% do PIB e pressiona o orçamento dos serviços públicos essenciais e da indústria. O motivo quem leu já sabe: os beneficiários rentistas, menos de 1% da população, comemoram. E Lula se preocupa com sua popularidade.
            Agora vem o novo pacote tributário socializante de Haddad. Em nome da classe rentista que os corrompe, os parlamentares do Centrão só darão aprove ao texto minimamente alterado, mantendo sua essência, se houver juros maiores. Aí é que Lula poderá soltar a língua de vez. E com razão.
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APROVE COMPLICADO DA LOA2025

            A lei orçamentária anual (LOA) 2025 foi enfim aprovada pelo Congresso. Com muito atraso: era para ter sido votada entre agosto e outubro de 2024, como de praxe. O fator para isso tema sido o imbróglio entre o STF e o parlamento com as emendas obtidas com envolvimento de laranjas.
            O superávit primário aprovado é de R$ 15 bilhões. O mesmo valor calculado previamente pelo governo para 9% de reajuste salarial de servidores da União. Mas a grana salarial não será tirada daí, e sim dos recursos do teto aprovado de gastos públicos, em R$ 2,2 trilhões. É boa grana, mas se torna pouca.
            É que apareceram algumas complicações. Por exemplo, as emendas parlamentares, cujo valor aprovado chegará a R$ 50 bilhões. Como a nova regra da Resolução Parlamentar n. 1 transfere aos partidos a responsabilidade pelas transferências dos valores, possíveis dribles à transparência pública devem ocorrer.
            Explica-se: nessa LOA, só para o recebimento de emendas parlamentares irão a R$ 50 bilhões – exigência calculada pelo Congresso. Como as novas regras da Resolução Parlamentar 1 joga responsabilidade nos partidos e não os indivíduos, o que pode facilitar o drible na transparência pública dos repasses.
            E isso é só um detalhe: pode ocorrer de o governo ser ainda mais pressionado em relação à sua popularidade atual, em baixa como efeito persistente dos disparos de fake news – que correm e atingem como raios. É que o texto só foi aprovado com cortes na Bolsa Família e no Programa Pé de Meia.
            Meninas dos olhos do petismo, as duas bolsas mais aumentam a margem de consumo e incentivo e amenizar a fome do que para reduzir as desigualdades socioeconômicas. Mas a ultradireita (MBL e bolsonarismo) criou ódio popular à primeira, apesar de nenhuma delas ser problemática em termos de recursos.
            Há dois outros problemas intocáveis entre os jornalões. O Perse, criado na pandemia para manter o setor de eventos e hoje desnecessário, mas mantido; e o Bolsa Empresa, um auxílio para micro, pequena e média empresa financeiramente em crise, como em situação de recuperação judicial.
            Na fria análise final, as emendas – reconhecidas na Constituição – se tornaram o principal fator inflacionário por exigir muito dos recursos do Executivo. Mas o Perse e o Bolsa Empresa também têm para si valores de dezenas de bilhões. Bastaria a eliminação apenas do primeiro para gerar mais superávit público.
            O problema é a boa vontade do Congresso, que está em falta. Ainda mais na legislatura atual.
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