GLAUBER 1 – O GIGANTE
O deputado federal Glauber Braga (Psol-RJ) não é
novidade absoluta no blog. Já escrevi algo sobre ele, embora o tenha posto como
um personagem secundário no hoje multicolorido campo das esquerdas. O que,
admito, pode ter sido um erro. Ou não?
Pensando bem, talvez a secundarização de Glauber
tenha me proporcionado a chance de repensar melhor sobre a verdadeira
importância de Glauber Braga no panorama político nacional no contexto
democrático. O culpado é a cadeia de fatos da presente história.
Advogado, natal de Nova Friburgo (RJ), Glauber
entrou jovem na política, seguindo sua mãe, a finada Saudade Medeiros, ex-prefeita de
Teresópolis. Filiou-se ao partido dela, PSB, cujo diretório do RJ ele presidiu.
Eleito deputado federal em 2014, se filiou ao Psol em meados de 2015.
Em 2016 ele se revelou. Na votação do golpe
parlamentar travestido de legalidade, Glauber disse que o então presidente da
Câmara Eduardo Cunha de “gangster” e “o que (sustenta a) sua cadeira
cheira a enxofre”. “Por aqueles que nunca escolheram o lado fácil da
história [...] eu voto não!”.
Os nomes citados foram Carlos Marighella, Plinio
de Arruda Sampaio, Luís Carlos Prestes, Olga Benário e Zumbi dos Palmares. Com
exceção deste último, do séc. XVII, os demais são hoje pautados na História como
os principais inimigos dos governos autoritários da República.
Em 2019, já com Sâmia (Psol) como companheira,
ele proferiu sem titubear: “ministro, o senhor é um juiz ladrão”. Foi
durante audiência da Câmara com o então ministro da Justiça Sérgio Moro, ainda estrela
dos jornalões por ter condenado Lula à prisão ilegal no caso tríplex do Guarujá,
pela Lava Jato.
Sua combatividade cresceu com as ameaças de Lira,
as provocações públicas de militantes do MBL e o assédio de Eduardo Bolsonaro. Em
2022 chamou Lira de “ditador” ao ter o microfone cortado durante a sua
fala. A Eduardo disse, em 2023, “seu pai deve responder sobre as joias sauditas”.
Dudu saiu pisando duro.
Em 2024, ele viralizou um vídeo após aprove
quase unânime de resolução de Arthur Lira de suspender mandatos por 6 meses por
indecoro, batizando-o de “AI-5 do Lira” apontando “voto de
ingenuidade”, pois “irá, na prática, focar nos parlamentares da esquerda
e não nos arruaceiros” (bolsonaristas).
Essa postura combativa tem sido a sua tônica na posição
de deputado federal desde a primeira eleição em 2014. Agora, em seu terceiro mandato,
ele assim continua – e cresce, na mesma medida em que cresce o número de seus inimigos.
Todos os tons da esquerda o reconhecem nele o gigante que atemoriza os anões políticos.
Para saber mais
- https://acessepolitica.com.br/deputado-chama-lira-de-ditador-e-vai-responder-no-conselho-de-etica/
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No texto anterior foi descrito o resumo histórico
do perfil combativo do deputado federal Glauber Braga. Mesmo crítico de Lula 3,
ele defendeu o presidente de ataques à sua honra. Ao desconhecer o medo,
ele joga fatos na cara de gente do MBL e de Arthur Lira.
A franqueza é sua arma de combate – a mesma
usada por sua companheira Sâmia Bonfim. Uma arma de palavras, bastante incômoda
a muitos na Casa, em especial os nomes mais poderosos. Foi então acionado o Conselho
de Ética da Câmara.
Já abordado antes, o Conselho de Ética da
Câmara é um grupo de 20 parlamentares, criado para apreciar uma ação
processual, expor a descrição dos fatos e julgar a parte acusada na ação por conduta
adversa. Ele pode cassar mandato por voto próprio e do plenário.
Num Estado democrático de direito, a falta de limites
é tão grande quanto a variedade político-partidária. Criado para conter os
destemperos, o Conselho prefere, como alvos, os deputados da esquerda,
revelando que indecoro virou só pretexto para fins ideológicos.
Vimos, assim, dois processos contra deputados do
Psol. Um deles partiu da reação dos nomes da ultradireita ao protesto de 6 deputadas
contra o Marco Temporal, que foram absolvidas. O mais recente ainda não terminou:
é o que ocorre contra Glauber Braga.
Neste último, os jornalões vendem a história baseada
na reação de Glauber aos repetidos assédios ofensivos de Costenaro, um
militante do MBL. Esse fato foi aproveitado no julgamento pelo Conselho de
Ética, como boa cortina de fumaça para disfarçar a verdade.
O tema real é a acusação de Glauber a Lira devido
à continuação do orçamento secreto, por nova ação do Psol que fez Flávio Dino (STF)
decidir por reter, em 2024, R$ 4,2 bilhões, dos quais R$ 800 milhões foram
liberados para atender a serviços de saúde pública.
Glauber só foi temerário ao relembrar a agressão
física do relator do conselho Paulo Magalhães, sobrinho do coronel ACM da Bahia,
a um jornalista. E, talvez por vingança, e por ter recebido R$ 248 milhões, a maioria do grupo votou pela cassação do psolista,
que até já esperava de certo modo.
A incolumidade de vários nomes claramente indecorosos
da ultradireita, como Nikolas, Éder Mauro e Eduardo Bolsonaro, em contraste aos
atos mais simples de parlamentares da esquerda, apenas revela a verdadeira
identidade: o Conselho Sem Ética da Câmara. Porque, mais antiético do
que sua seletividade ideológica, impossível.
Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=9kGORJHiSJY
(Mídia Ninja – reportagem sobre R$ 248 milhões em emendas pix ao grupo do Centrão)
Como vimos nos últimos dias, o processo movido
pelo Conselho de Ética da Câmara contra Glauber Braga se iniciou em 2024, no
proveito dos fatos muito midiatizados envolvendo o militante do MBL Gabriel Costenaro,
que vive de postar assédios a progressistas.
Em dia tumultuado, o parecer final do Conselho
foi votado, com 15 votos a favor da cassação (com o presidente Lomanto Jr), e 5
contra. Calado, Glauber assistiu, já esperando o resultado e em início de uma
decisão corajosa ou, para alguns, extrema e temerária.
Ele entrou em greve de fome – decisão que
teve, mas com o devido cuidado: passaria a dormir no plenário da Casa, vivendo
de líquidos e isotônico. Foram 9 dias sem se alimentar. Mas, por que ele se
decidiu assim, se poderia recorrer à CCJ contra o resultado?
A ingenuidade passou longe: formada
majoritariamente pelo Centrão e bolsonaristas, a CCJ tem o bizarro comando de
Caroline de Toni (PL-SC), conhecida por sua postura reacionária e machista.
Glauber não gastaria energia inútil. Daí decidir pela greve de fome.
Foram 9 dias que agitaram Brasília, partidos e
movimentos sociais no país inteiro. Lula 3 e parlamentares petistas se lançaram
solidários. E mexeram até com Hugo Motta, que foi dialogar uma solução acintosa:
que Glauber postasse pedido de desculpas a Lira.
Glauber imediatamente recusou a proposta: “é um
limite intransponível”. Motta disse então que o processo “será levado
para o 2º semestre”. O psolista adotou moderação em suas postagens, sem
ataques, enquanto retorna gradualmente ao normal.
Apesar da promessa de Motta, Glauber interrompeu
o jejum devido “aos sinais do corpo”. Pois “a cabeça está firme e a
missão de continuar nesta batalha mais ainda. Não vou desistir, jamais!”.
Aliados tentam costurar alternativas para salvar o seu mandato.
Análise final – em
todo o exposto nos três artigos, o perfil político de Glauber tem muitos significados.
Um deles, o mais visível, é a essência de alguém que abraça a política por convicção
mais visceral, pela qual ele acredita que a política é o dever em nome da nação.
Ao proferir sua defensa num mandato como popular
– uma vez que é eleito para tanto – Glauber assume o perfil de combate ao corporativismo
político que criou o Centrão – grupo que recusa a alcunha de extremista
ideológico, mas o é na ambição de poder.
Ele encarna a esquerda clássica a partir
da sua luta árdua, mas correta, contra essa contaminação. Mesmo sabendo da ciência
do atual “trabalhador de chão de fábrica” do novo mundo de trabalho, ele vê abraça
a política como arma popular nos velhos tempos.
Por sua luta, ele busca levar às classes trabalhadoras
modernas que as transformações atuais só firam possíveis graças à lide dos
ascendentes por direitos trabalhistas junto a entes empregadores e benefícios sociais
a serem assegurados pelo Estado.
A solidariedade dos petistas e outros políticos
de centro-esquerda não é só formalidade. Pode significar uma reaproximação das
esquerdas em prol de uma política comum, na qual veem em Glauber como o maior símbolo
do resgate da esquerda.
Para saber mais
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Texto maravilhoso
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