sábado, 10 de maio de 2025

ANÁLISE: A mais nova herança maldita em Lula 3

 

          No pós-eleição-2022, a equipe de transição levantou dados do governo anterior. O levantamento revelou um enorme estrago. Lula os mostrou ao Congresso e ao STF, que avalizaram com a realização de um pré-governo antes da posse, com PEC da transição promulgada e tudo.
                Mas, o bolsonarismo revelou-se vivo: plano de golpe culminado com a intentona de 8/1, bolsonaristas presidindo comissões estratégicas, Lira desafiando STF e governo, cassação iminente de Glauber Braga, fakenews de Nikolas, Gayer e outros... e uma surpresa.
                Agora veio a mais recente novidade: a descoberta do rombo de R$ 1,3 bilhão nas contas do INSS pela operação Sem Desconto da PF – que surpreendeu o governo Federal ao ponto de melindrar o ministro Carlos Lupi e o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto.

                Glauber – o deputado do Psol-RJ não incomoda só os interesses das maiores lideranças da casa e mesmo em governos. Ele também é trincheira ocasional de Lula 3, como no apoio à isenção de IRRF em rendas até R$ 5 mil e na defesa a Erika Hilton, não só como colega partidária, também quanto às discriminações e na sua PEC trabalhista.
                Mesmo ocupado em lutar pelo seu cargo, agora na iminência de seu fim no plenário da Câmara, Glauber conhece a história do rombo do INSS, até por estar em seu quarto mandato na Casa. Foi escanteado pelos jornalões quando veio à tona a operação da PF sobre o rombo.

                História de um rombo acobertado –em 2019 foi promulgada a reforma previdenciária de Paulo Guedes. Após isso, houve um acordo de cooperação técnica (ACT) entre INSS, outros entes públicos e empresas, para dialogar sobre os impactos da nova emenda em vigor sobre os recursos.
                A legitimidade dos ACTs nunca foi discutida: neles se debate sobre execução de projeto, atividade ou serviço de interesse comum dos partícipes que não envolva transferência de grana, conforme o Decreto 3.048/1999, depois decreto 10.410/2020 – que bloqueia descontos não autorizados. Mas, como na maioria das nossas leis, sempre há ressalvas e brechas.
                O ministro da área era Ônix Lorenzoni, e o presidente do INSS, Renato Vieira (2019-20), quando os descontos indevidos iniciaram em 2019, antes do novo decreto. Na operação da PF, a grana obtida foi rateada entre várias pessoas e 31 entidades foram citadas.
                Entre os indivíduos envolvidos no esquema se destaca o de Antônio Carlos Camilo Antunes. Mais conhecido como Careca do INSS, ele é apontado na investigação da operação da PF como o maior responsável pela fraude e pelo rateamento do montante entre os demais envolvidos.
                De acordo com o levantamento, Antônio Carlos, um servidor de carreira do INSS em setor ligado à concessão de benefícios, foi o imbuído operacional do esquema. Em seus perfis nas redes sociais, ele se assumia bolsonarista-raiz e chegou a ter proximidade com o ex-presidente.
                Ofícios ignorados – a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag) divulgou nota apontando que “após a publicação do decreto, o INSS não criou ferramentas adequadas para que os benefícios fossem desbloqueados pelos aposentados e pensionistas”.
                A Contag acrescenta ainda que essa falta resultou em “alto volume de autorizações não processadas”, e que enviou 2 ofícios ao INSS em 2022 “para coibir a prática abusiva contra aposentados e pensionistas rurais e contra os descontos indevidos". Posteriormente enviou mais 4 ofícios entre março e outubro de 2023. A resposta demoraria a vir.
                CGU- o silêncio e a inação do INSS ocasionaram a elevação do montante indevidamente bloqueado. Para apurar melhor o problema, a Controladoria-Geral da União (CGU) entrevistou 1.273 beneficiários no país, entre 17/4 e 4/7/2024, descobrindo um resultado aterrador.
                Entre os beneficiários – aposentados e pensionistas, associados e “livres” – cerca de 98% relataram terem seus benefícios descontados sem terem dado autorização. Ou seja, os ACTs não criaram ferramenta de desbloqueio. A PF acredita que o valor do rombo chegou a R$ 2,4 bi em 2024.
                
                Racha no governo – dada a forte repercussão das notícias do rombo, Lula 3 se viu mais pressionado ainda. Demitiu Stefanutto da ponta do INSS e respingou no histórico aliado Carlos Lupi, ministro da Previdência. Pressionado por seus próximos, Lula foi aconselhado a demiti-lo.
                A decisão do presidente melindrou a cúpula do PDT, herança brizolista presidida por Lupi. Os partidários decidiram sair da base do governo. Por convite do desgastado Ciro Gomes, a bancada pedetista tentou guinada para o bolsonarismo, o que enxuricou fortemente a sua militância, especialmente entre os segmentos mais jovens.
                
                Aa resposta do governo – o governo já agilizou nas nomeações. O presidente do INSS é Gilberto Waller Jr, um procurador federal, que pode intervir mais rápido às adversidades. E o ministro da Previdência é o pedetista Wolney Castilho – uma resposta ao PDT após a demissão de Lupi.
                O governo já anunciou, também, o ressarcimento às vítimas das fraudes, mas sem querer mais prejuízo aos contribuintes em geral. Nisso, a Advocacia-Geral da República (AGU), com Jorge Messias à frente, planeja bloquear os bens acumulados do Careca do INSS visando convertê-los em verba para a execução do ressarcimento.
                Ainda, o governo federal revogou os ACTs, dada a sua ineficiência em questões tão nevrálgicas. Mas, ao menos até segunda ordem que resolva suas limitações. Pode acontecer que eles retornem, por meio de novo dispositivo legal bem elaborado e aprovado pelo Congresso.

                Fria análise – a bombástica notícia do rombo no INSS expôs outra fraqueza do atual governo: a demora em contra-atacar as irregularidades na administração pública. O que oportunizou a criatividade criminosa do extremista Nikolas Ferreira, que já lançou novo vídeo de ataque a Lula.
                No mesmo formato do vídeo do pix, esse do INSS busca jogar sobre Lula a responsabilidade pelo rombo. Seu efeito foi nefasto. Vergonhosamente, os jornalões caíram, ao menos um pouco, na armadilha do deputado fascista, e caíram malhando com foco na demora de Lula responder ao problema.
                A crítica dos jornalões pode ser válida para que o governo agilize nas providências. Mas não ao ponto de destrui-lo, por vergonhosamente acreditar na omissão sobre derruba de regra de exigência de autorização para descontos, na mentira do desvio de R$ 90 bilhões “pelo governo Lula”, se a própria PF estima os já citados R$ 2,4 bilhões.
                A nomeação do procurador federal pode significar maior rapidez na resposta a potenciais novas irregularidades ou, melhor ainda, em evita-las. Já outro pedetista ministro é estratégia de Lula de manter o PDT na sua base governamental. É uma questão política crucial: 2026 não demora a chegar.
                O mais importante nesse jogo todo é proteger a população beneficiária do INSS dos crimes de alto escalão que respinga.

Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=LHCCTVf7S00 (Desmascarandocoisa de gangster-vídeo de Nikolas sobre fraudes no INSS é cretino e mentiroso)
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Nota de atualização: assessor do presidente da Câmara Hugo Motta entrou na lista dos envolvidos no escândalo de corrupção do INSS. Ele é ligado à Conafer (Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais), que teve ACT com o INSS e recebeu valores dos descontos indevidos de aposentados rurais.







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