MÃES DE REBORN: MODA OU MAL?
Não há menor dúvida de que os plásticos
vindos da indústria petroquímica e os silicones (sílica polimerizada com
hidrogênio, carbono e oxigênio) são muito versáteis e práticos, usados para
fabricar muitos tipos de utensílios. Versões atóxicas são tornados potes de
alimento, talheres e brinquedos.
O silicone ganhou espaço considerável na linha
de brinquedos, em especial na fabricação de produtos macios. E na subcategoria
de bonecos – que atrai tanto colecionadores quanto meninas nas brincadeiras de “casinha”
– surgiram os bonecos ultrarrealistas. Principalmente, como crianças de
colo.
Renascidos lucrativos – também
chamados de reborn (renascido, em inglês), os bebês são imitações perfeitas
na cor e na textura de pele, cabelos e expressões faciais. Seus preços no
mercado variam de R$ 500 a R$ 10 mil, a depender dos materiais utilizados e da
demanda. Sua procedência é, sobretudo, artesanal.
Chamadas de cegonhas devido à famosa
lenda, mulheres artesãs são as maiores fabricantes. Algumas fazem enxovais
completos e organizam “festas infantis” com buffet completo. No Rio de Janeiro,
a prefeitura criou o dia da cegonha reborn em 8 de maio. Mas, e se eu
disser que tais bonecos não são novidade?
Os primeiros bebês realistas surgiram nos anos
1940 nos EUA para escolas ensinarem às jovens noivas a puericultura
(cuidado com filhos de colo). Voltaram à tona por lá popularizados nos anos
1990, e aqui no Brasil a partir da pandemia de C19. Novos, só o hiper-realismo e
o apropriado termo inglês.
Assim como os já midiatizados homens japoneses
que adquirem mulheres de silicone ou hologramas, o público-alvo dos reborn são,
sobretudo, mulheres sem filhos. O que nos parece uma moda febril desperta,
agora, uma verdadeira polêmica sobre até onde reside a funcionalidade – ou terapêutica
– desses objetos.
Funcional ou problemático? –
na internet surgiram duas linhas de debates sobre as mães de silicone. Enquanto
a patuleia chove críticas eivadas de preconceito, alguns especialistas se
debruçam em perguntas se o fenômeno é problemático ou se tem algum potencial ao
nível psicológico e afetivo.
A comparação com o já citado caso dos japoneses com
bonecas infláveis possibilita reflexões mais claras sobre a funcionalidade
afetiva desses objetos. Há potencial terapêutico? Se sim, até que momento? Isso
tende a despertar divergências entre especialistas da psique humana –
especialmente psicólogos.
Segundo as várias fontes jornalísticas que publicaram sobre os casamentos japoneses, alguns entrevistados relataram sobre suas vidas classificaram como positivas as suas vidas cotidianas e afetivas em suas experiências. A maioria diz que
têm vida real normal. O mesmo sobre eles pode se aplicar aos bebês reborn?
Para a psicóloga Larissa Fonseca, os bebês “podem
funcionar como objeto transiciona em processo de luto ou no combate à depressão,
podendo estimular o retorno a uma rotina, do cuidado, do carinho”. Em relação aos idosos
com Alzheimer, ela reforça que os objetos podem “reduzir a ansiedade e facilitar as interações”.
A professora de Psicologia da Faculdade
Anhanguera de São Paulo Angelita Traldi concorda que o boneco pode ser “brincadeira saudável
ou expressão terapêutica”. Mas ela adverte que tudo muda quando “a atividade
interferir nas relações reais”, com experiência de transtorno mental ou
confusão com alguém real.
Especificamente sobre a doença de Alzheimer, Traldi
explica que, por prescrição dos psicólogos, as clínicas adquirem os bonecos para “desenvolver a afeição, a
socialização e sentimento de utilidade que resgatam a memória afetiva dos
pacientes”, de forma orientada e nos limites adequados, de forma a evitar excessos que levem à dependência inconsciente deles.
Em fria análise final, podemos,
dessa forma, concluir que faz parte da natureza humana a relação com objetos de
valor definido para cultivar ou despertar memórias afetivas, ou mesmo despertar
reflexões, ou mesmo contribuem para alguns superarem momentos de luto ou
depressão.
Na relação com um boneco hiper-realista, o
limite entre o saudável e o prejudicial é muito tênue. Alguns conseguem se
estranhar a tempo e buscam cortar o mal. Outros, tarde demais. Portanto, antes
de julgar uma mãe de bebê reborn, procure saber se ela está em a vida
normal em dia. Do contrário, ajude: a pessoa pode estar passando por algum pesar.
Para saber mais
- https://www.bbc.com/portuguese/articles/cpdg15e5kzzo#:~:text=Ele%20conta%20que%20a%20press%C3%A3o,atra%C3%ADdo%20por%20mulheres%20humanas%20reais..
(japonês casou com holograma de mulher anime).
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Quando se fala de apostas com jogos de azar, não
despertamos atenção: o apreço popular por essa categoria de jogos é secular.
Herança da colonização portuguesa, o jogo do bicho se tornou ilegal no
Brasil há mais de 100 anos, após uma mãe vender seu próprio filho para
sustentar seu próprio vício no jogo.
O tempo passou, o jogo do bicho continuou ilegal
e virou fonte de renda a mais para as novas orcrims, no tráfico e nas milícias –
além da proximidade das famílias mais proeminentes com a classe política e as
escolas de samba no RJ. E acompanharia as mudanças no mundo trabalhista, com as
fontes online.
No mundo do trabalho digital nasceu o influenciador
– que entra em todos os canais nas plataformas de redes sociais por meio de
vídeos e blogs. Entre os muitos canais, os de games, e daí se pulou para as
apostas, que em poucos piscares de olhos se tornaram centro de plataformas e aplicativos
de celular.
Imagino que a maioria dos influenciadores seja
ética, se ligando à verdade dos fatos em canais de história, atualidades e ciência,
e mesmo nos canais de games. Outros viram celebridades ao divulgar suas vidas pessoais.
Mas há que pregam desinformação, ódio e incitam a vícios com perda de grana. Aí
entram as bets.
Bets são apostas de jogos de azar online,
popularizadas como apps de celular mediados por influenciadores. A maioria dos
jogos é legalizada no Brasil, mas pipocam os ilegais, como cassinos e bingos. Se
a presença de jogos ilegais já é ruim, saibam que esta é só a ponta do novelo
de irregularidades nesse submundo.
Modus operandi
vicioso – os depoentes explicam que os jogos são pagos.
Motivado pelo influenciador, o cidadão insiste em obter novas supostas vitórias,
até se viciar. Na CPI das Bets, um policial civil disse que “os apostadores
precisam baixar um aplicativo, onde influenciadores recebem conta demo para
simular ganhos”.
Ele explica que a conta demo do influenciador é
um perfil falso usado para iludir o jogador com ganhos irreais. Os novos links
de apostas são enviados pela conta real (não acessada) do influenciador, que
responde pelo lucro da empresa de bet com os pagamentos do jogador. O caráter
de sucessão é o gerador do ciclo vicioso.
Feito geralmente em pix, o pagamento dos jogos –
nunca convertido em prêmio real – é usado para lavagem de dinheiro pela empresa
de apostas.
Contratos milionários – entre
os depoentes convocados pela CPI das Bets constavam alguns
influenciadores, para explicar sobre seus contratos e suas funções. Nos poucos
cortes que vi até o momento, ao menos com dois deles, quem assistiu pode
deparar com um verdadeiro show de vergonha – dos senadores.
Cabelos longos, óculos e traje e jeito de
adolescente mimada, Virgínia Fonseca era para ter sido advertida naquele dia, após
debochar de Soraya Thronicke por esta ter pego vídeos antigos. Só que, seduzidos
pela estrela de R$ 10 milhões de contrato, os senadores tiraram selfies com
ela. Foram duramente criticados nas redes.
Com Rico Melquíades, que entrou depois, a
postura dos senadores foi séria o suficiente para ele se sentir desconfortável com
a diferença de tratamento em relação à colega. Se essa mudança foi por vergonha
da humilhação da tietagem ou pelo contrato possivelmente menor de Rico, não sei
dizer. Mas foi visível.
Membro da CPI, Cleitinho Azevedo (PL-MG) chegou
ao cúmulo de pedir desculpas pela vergonhosa selfie com Virgínia após babar ovo
para ela no plenário da casa. Ele se perdoou sozinho, pelo imperdoável. Piorou
a sua própria imagem de oportunista sustentada por sucessão de vídeos em cima
de fatos do momento.
Ainda me pergunto até hoje como os meus conterrâneos de MG puderam eleger Cleitinho para um cargo de peso que representa o Estado (sim, os senadores representam os Estados, mas são eleitos popularmente). A mesma pergunta vale para Nikolas. São políticos sem propostas dignas de nota, só mentiras e oportunismo (felizmente Nikolas não é membro dessa CPI, Cleitinho bastou bem).
Não vi mais a CPI das Bets, nem tenho
acompanhado novidades desde então. Mas por outros canais soube que os senadores
reassumiram a postura que nunca deveriam ter perdido diante de Virgínia. Mas vejo
ser tarde demais: a CPI acaba bem em breve – humilhada pelo estrelismo de alguns
poucos.
Para saber mais
- https://apublica.org/2025/05/agencia-publica-lanca-hoje-campanha-para-investigar-as-bets-no-brasil
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