A PROPOSTA DO FIM DO MUNDO
A seara educacional é
sempre reclamada pela população como a que mais sofre com as enroladas dos
políticos brasileiros, mesmo com todas as leis vigentes. Outra seara sofre um
desprezo ainda maior de quem está no poder: é o campo de meio ambiente.
O governo Bolsonaro não só
se esmerou na paralisação de políticas públicas. Ele fez o que pode para
desmontá-las. Em meio às discussões sobre a emergência climática já vigente,
aqui se caprichou pela destruição, ao ponto de criarem, em 2018, o dia do fogo,
patrocinado e protagonizado pela elite do agro.
Veio o terceiro governo
Lula, com promessas de meio ambiente em pauta. Tanto que o ministério de Meio
Ambiente e Mudanças Climáticas voltou a ser ocupado por ninguém menos do que
Marina Silva, figura muito respeitada por Lula e figura de reconhecimento internacional.
Enquanto os governos pelo
mundo reincluem o Brasil como protagonista em questões internacionais sobre o
setor, o Congresso apronta de novo. O Senado – em irônica teoria, menos áspero
com o governo federal – aprovou uma PL que torna mais maleáveis as licenças
ambientais para empreendimentos.
O texto não é novidade. O
PL 2159/2021 é a derivação de proposta original criada há 17 anos, que parou na
gaveta por impossibilidade de votar porque o Congresso em sua maior parte era
normal, mesmo com bancada do boi. As novas alterações desde o aprove pela Câmara em 2021 pioraram ainda
mais o retrocesso do texto.
Se as alterações já feitas
em 2021 já previam flexibilização das licenças ambientais para novos
empreendimentos, as realizadas pelo Senado agora são ainda mais profundas,
prevendo um desmonte. A alegação é o absurdo de sempre: na legislação em vigor
“os pedidos de licença são muito burocráticos”.
O aprove dessa PL é um
retrocesso de 40 anos na política ambiental, se alinhando à influência do ideal
desenvolvimentista indiscriminado da ditadura militar, à custa cruel de 8350
vidas originárias. Diante da escancarada emergência climática, essa pode ser
denominada de proposta do fim do mundo.
O aprove desse PL significa
um retrocesso de 40 anos na política ambiental, se alinhando praticamente à era
pré-Constituição de 1988, que ainda sofria a influência do ideal
desenvolvimentista indiscriminado da ditadura militar, indiferente às
necessidades socioambientais hoje consideradas.
O pior será a sanção
presidencial, se houver. Esta representará a sabotagem de Lula 3 ao trabalho fundamental
de Marina Silva em meio ambiente, e avalizará perigos como um data center
numa cidade do sertão cearense, já negociado nos EUA. Data centers sugam tanta
água quanto o grande agro.
O pior é que, se houver
sanção (com certeza imposta) de Lula 3, a aprovação da supracitada PL de 2021,
além de passar à revelia do ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas,
aprovará investimentos perigosos, como um data center em cidade do sertão
cearense.
Assim como o Marco
Temporal, que não reconhece terras indígenas homologadas após 5/10/1988
(CF-1988), o aprove da PL 2159/2021 é, na verdade, nova forma de afrontar o
governo Lula. Pode mais do que representação da elite do agro e da imobiliária.
Pode ser – por que não? – outra forma de golpe, como a onda incendiária de
2024, no rastro de Bolsonaro.
Um recado ao governo e, por
fim, ao STF: o planeta Terra não para de se aquecer, pois os sistemas humanos tornaram
o planeta como submisso subsidiário de nossos caprichos consumistas. Já se
observa o início de um processo insidioso, a sexta extinção em massa, cujos
fatores naturais foram muito suplantados por nossa má vontade de estancar o
problema em tempo, daí ela correr mais rápido. Para ajudar a resolver o
problema, por favor, colapsem o PL do fim do mundo.
Para saber mais
- https://ihu.unisinos.br/categorias/652432-senado-aprova-desmonte-do-licenciamento-ambiental-no-pais
- https://www.youtube.com/watch?v=j7gxZ6ST5z4 (Folha
Democrata – sobre a realidade da hostilidade de Aziz a Marina Silva)
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A Nova República é
considerada na historiografia atual como importante marco histórico. E, em
contextos mais específicos, a ultradireita do MBL e do bolsonarismo também
entra personificada em numerosos nomes, que mais se esmeram na arte das
propostas sem fundamento e em ofensas pessoais.
As instituições dos três
poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – possuem seus canais respectivos
de TV: Secom, TV Câmara/Senado e TV Justiça. A TV Senado transmitiu, em 27-5, a
audiência da Comissão de Infraestrutura, com depoimentos da ministra do
meio Ambiente e Mudanças Climáticas Marina Silva.
Um vergonhoso climão marcou
a audiência de mais de 3 horas, acompanhada por diversas mídias, as quais
criaram cortes focalizando o fato que vitimou a ministra com desligamento de
microfone e dedos em riste durante a sua fala muito interpelada. E, quem diria,
quem iniciou a verborreia agressiva foi um governista.
Show de horror – segundo
cortes de vídeos de várias mídias, Omar Aziz iniciou enaltecendo, em tom
agressivo, que é “uma pessoa ética”. Seguiu que a BR 319, aberta e
abandonada nos anos 1970 para ligar Porto Velho a Manaus segue parada, e que “morreram
15 mil por Covid por causa dela”, culpando a política ambiental atual.
Mesmo interpelada pelo
presidente da Comissão, o bolsonarista Marcos Rogério, Marina respondeu que a
inconclusão da estrada é antiga e que, após tantos anos e a paralisia por
Bolsonaro, agora ela passa por análise técnica, uma vez que ela atravessa mais
de 100 áreas públicas preservadas (47 parques nacionais e 69 terras indígenas).
Omar ainda reforçou que ela
“nunca sentou para dialogar com empresários e com o agro”. Marina discordou,
interpelada. Em seguida, os vídeos mostram Marcos Rogério desligando várias
vezes o microfone de Marina sempre que ela falava e a interrompendo. E, enfim,
ele a desaforou: “ministra, se ponha no seu lugar”.
A fala desaforada causou
tumulto no plenário, em que se ouviu a chamada crítica da senadora Eliziane Gama,
também governista, que tentou repreendê-lo. Marcos se voltou para interpela-la, enquanto
a ministra, ao seu lado, lhe apontava o dedo respondendo: “meu lugar é no
ministério do meio ambiente, e não sou mulher submissa!”.
Novo corte de edição
focalizou, dessa vez, o senador tucano amazonense Plínio Valério, que reforçou
Aziz ao dizer que “as pessoas querem passear na 319” e, depois “eu respeito a
mulher, mas não respeito a ministra”. Marina rebateu mesmo interpelada: “o
senhor está falando com as duas [...] e deve pedir desculpas. Se não pedir, eu
saio”.
Como Plínio teimou em negar se desculpar pelas falas indecorosas, Marina de pronto saiu, ignorando a proposição de Marcos Rogério pela sua convocação em nova audiência da comissão de Infraestrutura. Após a suspensão da audiência, Leila do Vôlei (PDT-RJ) se solidarizou com Marina e protestou contra a convocação, que obriga a presença do convidado.
Claro, para evitar novos ataques e consequente desgaste da ministra frente ao ministério.
Fria análise –
as falas foram machistas? Segundo uma ou outra fonte noticiosa, “não”.
Mas o teor das frases de Marcos Rogério e Plínio é claro. Mas cabe aqui uma
visão cria. Os bolsonaristas são machistas e sexistas por necessidade de
autoafirmação. Já Omar Aziz não foi machista, e sim agressivo, e antiético ao
distorcer papeis sobre a BR-319.
E mais: ele teve conduta
infantil ao rebelar agressivamente que “a PL (2159/2021) vai passar, sim, e
o STF não vai impedir, e vamos mudar a Constituição!”. O STF vai impedir, sim,
se necessário, dado que o colega Fabiano Contarato apontou várias inconstitucionalidades em artigos da proposta. E vale citar mais sobre
Aziz.
Aziz
tem influência no setor de agronegócio no Amazonas. Ajudou a colpasar a CPI da
C19 ao presidi-la, ao absolver Pazuello no MS com 400 mil mortes em curso, das
quais 15 mil em Manaus por falta do oxigênio, porque a logística do ex-ministro
“deu erro de cálculo”. O problema só foi resolvido por intervenção de
Nicolás Maduro.
Não bastando não mais
admitir a má gestão do MS na época como causa daquelas mortes, Aziz ainda
elogiou Airton Soligo, vulgo Cascavel, que atuou como testa de ferro de Pazu no
MS e foi estuprador da própria neta. A alcunha já nos sugere o currículo do
sujeito. Portanto, ele tornou piada o indiciamento de Bolsonaro na CPI.
Valério –
segundo a investigativa De Olho nos Ruralistas, ele tem uma propriedade
ilegal tipo chalé construída em área preservada pública, constada no site
Airbnb com diárias de quase R$ 1500. Ele presidiu a CPI das ONGs
posicionando-se contra a saída de fazendeiros da homologada, mas já degradada
terra indígena Apitewera, por ordem judicial.
Sua família tem influência
na cidade natal de Eirunepé, às margens do Juruá. E sua influência se estende a
canais de TV, como a afiliada local do SBT. Um dos irmãos de Valério, que chegou
a fazer carreira política na cidade, hoje é um dos sócios na empresa, e possivelmente está
envolvido no escândalo que faliu o Banco PanAmericano.
Marcos Rogério – formado
em jornalismo e Direito, com voz grave e forte, o rondoniano de Ji-Paraná foi
radialista antes da carreira política, em que foi vereador e deputado estadual
e federal. Sua eleição ao senado em 2018, na esteira da ultradireita
bolsonarista explica, em parte, a sua conduta com a ministra.
A outra parte a explicar o
teor sexista e machista de suas falas – que distorcem o papel da bancada
feminina do senado quanto ao climão – é ele fazer parte dos Legendários, um
grupo fundamentalista cristão que prega a autossuperação dos limites desafiando
a natureza em exercícios de força, para alcançar uma virilidade alfa irreal.
O que mais importa nesse
acontecido é que os maiores desequilibrados mesmo são os homens – e os
bolsonaristas se desesperam com a chance de a PF bater em suas portas numa
manhã qualquer, pois as investigações da intentona golpista não terminaram nos
grupos de comando e nos “bagrinhos” condenados.
Desconhecemos indícios de
desvios administrativos de Marcos, só o seu narcisismo de macheza impossível
traduzido em misoginia. E a crítica se estende a governistas como Jaques
Wagner, que soltou um risinho ridículo (não mostrado) e nem entrou no coro dos
manifestos tardios da bancada feminina e dos demais em defesa de Marina.
Embora não saibamos de
nenhum indício, tento imaginar se, como legendário, por vezes o senador não
entre em conflito íntimo relativo a esse processo da intentona. E não fiquemos
só nos agressores: o governista Jaques Wagner fez um risinho, e os demais
senadores foram tardios em suas manifestações em defesa da ministra.
Além de baixo e decrépito,
o show de ataques à ministra revela uma turma totalmente desequilibrada em nome
do capital que deprecia o ambiente conservado, mas dele depende para seguir. E
revela os agressores como incapazes: eles não são um décimo de Marina. A
grandeza de Marina humilhou os senadores que revelaram toda a sua pequenez.
Para saber mais
- https://www.bbc.com/portuguese/articles/ceqg02g3z8po.
(o que motivou ofensas a Marina Silva)
- https://www.youtube.com/watch?v=j7gxZ6ST5z4 (Folha
Democrata – sobre a realidade da hostilidade de Aziz a Marina Silva)
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