sábado, 21 de junho de 2025

CURTAS 94 - ANÁLISES (bolsonarismo em julgamento)

 

ZAMBELLI PERDEU DIGNIDADE. MAS NÃO SÓ ELA

                Desde 2018, a patuleia tem pesado a mão nas urnas votando em Jair Bolsonaro e muito de sua laia para o Congresso. Como eles então não foram maioria, o ex-presidente passou os 4 anos comprando votos com o bilionário orçamento secreto, de cuja anatomia de irregularidades hoje já sabemos.
                Entre os contemplados do séquito naquele fatídico pleito estão Marcel van Hatten, Marco Feliciano, Sargento Fahur (reeleitos hoje), Carla Zambelli e Joyce Hasselmann, entre outros. Entre as duas últimas, somente Carla foi reeleita favorecendo os eleitos da repescagem, como o bombado Paulo Bilinskyj e o palhaço Tiririca.
                Os bolsonaristas são valentões quando o rabo dos opostos está exposto (pessoalmente ou com recortes de vídeos com frases de efeito e mentiras, cujos feitos já bastam por si). Mas quando a batata deles assa feio, eles se esquivam, em gritante flagrante de covardia e mau caratismo.
                Eduardo e Carla – ele alegou licença pessoal do mandato e fugiu para os EUA, onde tenta apoio de Trump para sabotar o STF e o governo. Ela teve o mandato cassado pelo TRESP e depois foi condenada a 10 anos de cadeia pelo STF por contratar o hacker Walter Delgatti a pedido de Bolsonaro para invadir o sistema do CNJ e a segurança das urnas.
                Ele não foi indiciado em nenhuma das estratégias de golpismo. Ela, sim, por ter deixado evidências incontestáveis de sua ação desinteligentes.
                Em tentativa desesperada de evitar a jaula, Zambelli viu o exemplo de Eduardo Bolsonaro e fugiu para o exterior alegando licença. Caiu na lista vermelha da Interpol a pedido de Xandão. Agora, sua fuga atiça novamente o desejo de fuga dos Bolsonaro, dada a iminência de o ex-presidente ser condenado a décadas de prisão.
                Arrego de Motta – a punição em si já leva à cassação de mandato em tempo variável. O problema gora reside na sessão do Congresso. Após uma afirmação inicial de confirmar o fechamento do caso, o presidente da Câmara Hugo Motta abruptamente voltou atrás, alegando “analisar o caso com a Câmara”, após contato de Zambelli.
                E no mandato de Eduardo Bolsonaro, ninguém se mexe. Pelo contrário, uma comissão da Cãmara aprovou homenagem a ele por... sua atuação golpista nos EUA. É um deboche ao povo cujas merrecas pagam seus salários e penduricalhos para terem mais 25 nomes na Casa. Covarde por preferirem cassar Glauber por suas verdades. E escancara a aliança Centrão-ultradireita por mesquinharia contra o governo.
                A seletividade não é só ideológica. Zambelli é desprezada por ter sido condenada por ser mulher ou por ser “bagrinha” azarada que ajudou na derrota de Bolsonaro em 2022? Ela foi mais à frente do que o filho do ex-presidente agora “exilado” e pagou sozinha por isso, mesmo merecidamente. Sim, Eduardo escapou do indiciamento – até agora.
                E não esqueçamos do Senado, que se comporta como a Câmara ao atacar ministros do governo e seu Conselho de Ética nada fazer contra indecoros graves. Seu presidente Davi Alcolumbre também reagiu a Flávio Dino sobre emendas. Motta até ameaçou sabotar o governo. E como a Câmara, não revoga o hoje desnecessário Perse, espécie de seguro-pandemia para eventos criado por Bolsonaro.
                Em fria análise, os crimes de Zambelli provam que ela vendeu sua dignidade há anos. Mesmo desprezada, seguia e imitava o ex-presidente. Odiada após a derrota eleitoral em 2022, levou rasteira dele numa plenária do PL. Mas, ao assumir postura da ultradireita por birra, o Centrão dominante no Congresso também vende sua dignidade. Não só por emendas bilionárias. É também por se curvar a um descarado golpista.
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UMA VISÃO SOBRE O CONGRESSO ATUAL

               Brasília, Câmara dos Deputados, 5/10/1988. Então presidente da casa, o saudoso Ulysses Guimarães liderou o momento histórico da promulgação da Carta Magna de 1988. Erguendo o grosso livro de capa dura, ele disse: “apresentamos a Constituição da Nova República, a carta cidadã [...]. Os que traírem a Constituição da República são traidores da pátria!”.
                 Nesse discurso histórico, Ulysses acrescentou a passibilidade da Constituição a reformas, conforme a necessidade do contexto, mas sem perder sua essência. Vieram muitas emendas à constituição (ECs), que alteraram vários artigos inteiros ou em parte e substituíram sutilmente o teor cidadão por uma tendência mais empresarial, portanto, neoliberal.
                Mas o foco aqui não são as ECs, e sim o tratamento dispensado a colegas adversários, aos ministros de governo e aos do STF. Os discursos de Ulysses eram filosóficos, numa linguagem refinada. Mesmo o então constituinte Lula respeitava os colegas e se cuidava na linguagem popular natural de seu discurso. Mas acreditem, indecoro não é novidade no Congresso.
                Breve historinha – antes do golpe de 1964, uma deputada se virou ao colega Carlos Lacerda: “vossa excelência é um purgante”. Ele revidou: “e vossa excelência é a consequência”. Também antes do golpe, o senador Arnon Collor foi ameaçado pelo adversário Péricles e reagiu com um tiro que atingiu acidentalmente outro colega. Desde então se proíbe o porte de armas nas dependências dos 3 poderes, exceto a equipe de segurança.
                Tais disparos indecorosos eram raros, mas sempre resolvidos com advertências dos presidentes das Casas sem alarde importante. Palavras de baixo calão eram evitadas ou, se ditas, se tornavam motivo de processo pelos Conselhos de Ética. Isso, por décadas.
                Hoje – a história se repete mais profunda, com o franco desprezo às normas regimentais no Congresso. O bolsonarismo invocou precedentes absurdos. O deputado federal bolsonarista Delegado Caveira levou um fuzil e uma pistola ao seu gabinete, ostentando-os em foto com um assessor. O colega petista Rogério Correia acionou a PF para realizar busca e apreensão dessas armas, justificando-se na coibição legal.
                Os bolsonaristas imperam nessa onda. Nikolas Ferreira carrega preconceitos sexuais (tem coisa aí). André Fernandes, Gilvan da Federal, Eduardo Bolsonaro e Paulo Bilynskyj colecionam mentiras reiteradas e ameaças. Na CPI do MST, o gaúcho Coronel Zucco respondeu a uma fala de Sâmia Bonfim com um achincalhe: “está com fome? Quer comer hambúrguer?”, em clara gordofobia.
                De têmpera violenta e filho de falecido acusado de pedofilia, o paraense Éder Mauro desaforou adversários e esbofeteou um cidadão. Na comissão de segurança pública presidida por Bilynskyj, Gilvan desejou a morte do presidente Lula ao sugerir o desarme da equipe de segurança. No Senado, Plínio Valério e Marcos Rogério afrontaram Marina Silva por ser mulher de personalidade.
                Mas os Conselhos de Ética da Câmara e do Senado afirma serem tais indecoros “formas de liberdade de expressão”, em notável seletividade ideológica: o da Câmara reprovou as testemunhas e a defesa de Glauber Braga para apressar a cassação de mandato. Pior: não é por indecoro, é por dizer verdades.
                É normal? – em determinado momentos, reações emotivas mais efusivas comumente desencadeiam expressões incivilizadas resolvíveis com advertência e pedidos de desculpas dos advertidos. Mas o que vemos agora é a sucessão de destemperos desrespeitosos intencionais, nos revelando franca anormalidade nas condutas dos congressistas.
                Alguns justificam as condutas dos eleitos atuais são “reflexos do povo”. Se existiu, a famosa cordialidade brasileira já se foi há muito tempo. Mas a justificativa não cabe: se coubesse, o decoro parlamentar (tratamento civilizado aos colegas e em discursos) seria uma fantasia. O decoro se inicia não nas esferas políticas, mas na educação familiar.
                Mesmo tendo reflexos culturais da população, os parlamentares eleitos sabem que são agentes públicos e como tais devem se portar com exemplar civilidade em interagir com quem quer que seja. Não é por acaso que a Câmara tem o nome de Ulysses Guimarães, cujo nível é rememorado como exemplo de urbanidade, não importa a sua posição política.
                O Congresso é a casa da fala, daí ser o Parlamento (do latim parlare = falar). O que não justifica, em nenhuma hipótese, trocar liberdade de expressão por explosão de barbárie de baixo calão. Então, o nível que vemos atualmente nos passa a impressão de ali não há pessoas modernas, mas um bando de bestas pré-históricas. Realmente, a maior parte das duas turmas foi mal escolhida.

NOTA FINAL: estendo minha consideração como indecoros os seguidos deboches à população com relação ao proveito da grana pública para fins exclusivamente particulares. Foi uma insanidade de caráter reprovar vetos ao BPC exagerado a microcéfalos por Zika e BPC para autistas de alto rendimento, engavetar o projeto que isenta de IRRF rendas até R$ 5 mil, e manter o desnecessário Perse (bolsa-eventos criado na pandemia). Mas o mau caratismo revela apenas um objetivo: impossibilitar o Lula 4 nas eleições de 2026.
Por esse motivo considero parciais as pesquisas de avaliação popular somente sobre o governo, cuja comunicação de seus feitos não tem o mesmo alcance dos virais despautérios da oposição nas redes sociais. As pesquisas devem seguir o contexto da relação entre governo e Congresso, incluindo informações das ações deste último.
 
Sal Ross
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BOLSONARO E XANDÃO: GRANDE DIA?

                Transmitido ao público, o julgamento dos réus pela intentona golpista terminou em parte da quadrilha comandante condenada. Alguns milicos seguem presos após a negação de seus pedidos de domiciliar pelo STF. E um militar terminou expulso da Marinha após as provas gritantes de sua participação antidemocrática.
                E então chegou o momento tão esperado pela patuleia: na semana de 9 a 15/6, o ex-presidente Jair Bolsonaro senta no banco dos réus, junto com seu advogado. Ele não foi só clarificado como réu na ação penal por intentona golpista. Também é considerado pela opinião pública e jurídica como o cerne do golpe – por mais que alguns silenciem.
                Podemos imaginar o máximo de audiência alcançada pelos telejornais e canais da TV Justiça nas redes sociais. Afinal, ele foi o presidente cujo modelo governamental se aproximou muito da ditadura militar, com direito a mentiras reiteradas, censura sobre os escândalos de corrupção e paralisia de investigações criminais importantes.
                Se alguém esperava alguma humildade dele em assumir sua culpa diante do antes grande arqui-inimigo no STF, se enganou. Ele teve a pachorra de mentir ou distorcer em vários momentos, mesmo diante de todas as evidências da trama golpista em mãos dos ministros. E em momentos disse: “se eu fiz, por favor, me desculpe”, algumas vezes.
                A cara de pau chegou ao descaramento de ele brincar, com mau gosto, de convidar Xandão para ser vice-presidente quando ele retomar seus direitos políticos. O ministro respondeu “declino”, num gesto de cabeça, também entrando na brincadeira, sem delonga e retomando a seriedade própria do momento no segundo seguinte.
                Para alguns, o fato de Bolsonaro ter sido inquirido por Xandão foi uma vitória, pois o ex-presidente se julgava juridicamente intocável. Mas, depois, alguns noticiosos informaram uma fraqueza dele: soubemos que ele pediu socorro ao seu antecessor Michel Temer para saber como se portar durante a inquirição.
                Mas, foi mesmo um grande dia? Depende. O fato de Bolsonaro ter feito um media training com Temer revela sua fraqueza de civilidade. O mesmo se pode dizer em relação à inquirição direta com Xandão, a quem tanto desafiou enquanto esteve no poder. Mas toda reserva é válida: resta saber como será a conduta do colegiado na construção do veredito.
                A maioria da patuleia é contrária à anistia dos réus em julgamento, inclusive o ex-presidente. Os que têm consciência política esperam que não se repita o acontecido em 1979, em que torturadores e assassinos fardados foram tão perdoados quanto as vítimas do regime de terror de 1964-85. Esperamos encarecidamente que, desta vez, a institucionalidade funcione em favor da democracia, mas com o rigor necessário da justiça.
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