quarta-feira, 2 de julho de 2025

CURTAS 96 - ANÁLISES (CPMI do INSS; Centrão x Lula)

 


CPMI DO INSS: POSSÍVEL TRIUNFO DE LULA?

                Neste explosivo 2025, Lula 3 enfrenta pressões crescentes, que redundam em baixas inéditas nas pesquisas de sua popularidade. Em paralelo a boas notícias de crescimento econômico interno, a ultradireita no congresso se aproveita de sua eficiência comunicativa em propagar inverdades que culpabilizam o presidente.
                Agora, a nova pressão sofrida pelo governo é o vazamento de um escândalo de corrupção no seio do INSS. Em investigação pela PF, o crime se relaciona aos descontos indevidos em proventos de beneficiários por associações. Essa nova notícia mexeu no vespeiro da ultradireita, que criou uma nova bomba de inverdades.
                Efeitos e reais culpados – já sabemos que as inverdades transferem a culpa a Lula pelo escândalo do INSS. Lula pessoalmente não se ofendeu, mas foi obrigado a demitir o velho aliado Carlos Lupi (PDT) do ministério da Previdência, o que causou racha entre PT e PDT. Lula correu atrás para cicatrizar a ferida.
                Lula botou o pedetista Wolney Queiroz na pasta, e nomeou o procurador federal Gilberto Waller Jr para presidir o INSS, conseguindo acalmar os ânimos. Teve apoio dos parlamentares governistas e de esquerda que esclareceram na tribuna a cronologia do escândalo desde 2019, envolvendo entidades então criadas.
                Senadores da direita convidaram Queiroz para explicar os fatos em audiência. O minstro confirmou as principais entidades beneficiadas com os descontos as criadas desde 2019, na era Bolsonaro. E que foi decretado impedimento ao bloqueio dos descontos indevidos em 2020, sem citar nomes dos envolvidos.
                A investigação da PF cita a maior parte do rombo bilionário foi para entidades criadas a partir de 2019, e pessoalmente envolve nomes como Onyx Lorenzoni (ex-ministro do Trabalho de Bolsonaro), o ex-presidente do INSS Carlos Antônio Antunes (careca do INSS, também naquele governo) e o ex-assessor de Hugo Motta Arlindo da Silva Jr (Junior do Peixe).
                Durante a era Bolsonaro, Júnior do Peixe presidiu a Conafer, (confederação de trabalhadores do campo), uma das entidades beneficiadas no esquema. Essa entidade avisou o governo anterior em 2022 e o atual em 2024. O governo demorou a reagir, mas liberou a investigação do escândalo pela PF.
                CPMI do INSS – derrotados pela falta de provas na audiência com o ministro Queiroz, a direita parlamentar liderada pelos bolsonaristas protocolou a criação da CPMI do INSS para investigar o caso. De acordo com a mídia, a ideia teria incomodado o governo Lula 3. Uma reação natural inicialmente inevitável que depois acalmou.
                O objetivo central dos parlamentares bolsonaristas é fragilizar ainda mais o governo Lula com a repetição da velha tecla da acusação de corrupção: afinal, na mente deles, Lula é ladrão e ponto final. Ou seja, na real, a realização dessa CPMI é o avanço no caminho do projeto de poder de domínio completo da governança.
                Triunfo de Lula? – o objetivo da oposição motivou a reação inciial do governo e dos parlamentares governistas. Mas, muita calma nessa hora: a cúpula ainda não foi confirmada. Os governistas querem o senador Omar Aziz na presidência e a deputada Tábata Amaral na relatoria, enfraquecendo o poder da oposição.
                Segundo o líder do PT e do governo no Senado, Randolfe Rodrigues, a oposição esteve no seu direito ao protocolar a CPMI, mas a investida governista pelas duas posições na cúpula respeita os tamanhos das bancadas. No Senado há mais equilíbrio entre as bancadas da situação e da oposição do que na Câmara, dominada pela soma do centrão com a oposição.
                Caso Aziz e Tábata sejam confirmados na ocupação dos respectivos postos – afinal, eles são, na prática, de centro-direita – a CPMI do INSS pode, até certo ponto, ser um triunfo para o governo. A começar pelas evidências levantadas até agora pela investigação da PF atingirem nomes e entidades ligados à era anterior.
                Mas isso não significa facilidade na condução da CPMI. A oposição fará tudo o que estiver ao seu alcance para tumultuar sessões e conseguir, de alguma forma, incluir o governo Lula 3 no escândalo – talvez através de algum nome petista próximo a alguém já envolvido no esquema. No mundo paralelo da ultradireita, tudo é possível.
                Isso, sem falar na própria tensão entre o governo federal e o Centrão em relação ao decreto do IOF: dado o caráter cada vez mais abusivo do Congresso, para Motta e Lira se unirem para eleger uma cúpula bolsonarista de comando da CPMI, pouco custa.
                De qualquer forma, a CPMI do INSS será outro detalhe da disputa da queda de braço criada pelo centrão que agora atua de oposição a Lula 3. Por isso podemos apostar que Lula 3 poderá findar este mandato com a imagem chamuscada, mesmo tendo público fiel. Não pela reputação de ladrão que insistem em carimbar. Mas por suas derrotas impostas à força pelo Legislativo. Mas, sim, o triunfo na CPMI é possível.
Para saber mais
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O CORONELATO DO CENTRÃO

                Há até 40 anos atrás existia, na rede de ensino básico, a disciplina Organização Social e política do Brasil (OSPB). Ela falava da organização da República brasileira e dos três poderes: Legislativo, Judiciário e Executivo, e suas funções. Próprias. Achávamos que sabíamos tudo, até termos noção de política como ela é.
                Entre o conteúdo da OSPB e a realidade da vida política há diferenças abismais. Imagino o choque de um incauto eleito entrando na carreira política. Pois é no ambiente político que a pessoa se depara com o viés de interesses ideológicos, pessoais e mercadológicos sobre as funções precípuas dos poderes.
                O mais complexo é o Legislativo, criador das leis. Ele se compõe de vereadores municipais, deputados estaduais, e o Congresso bicameral de senadores e deputados federais. Em suas ações, todos se movem mais pelos combustíveis ideológicos e financeiros do que para satisfazer as necessidades populares.
                Daí se percebe um fenômeno. Há 40 anos, Sarney inaugurou o pós-ditadura. No Congresso surgiu um grupo informal de autodeclarados centristas do então poderoso PMDB de Sarney. Seu objetivo era influenciar a direção do Congresso e infiltrar seus interesses nos rumos dos governos federais: é o Centrão.
                Os novos coronéis – em 1990, os jornalões diziam que as eleições presidenciais de 1989 (estendidas a deputados estaduais e federais e senadores) findaram o coronelismo, fenômeno de opressão social imposto por certas elites familiares de poder político local no vasto interior brasileiro. Na verdade, o fim foi só impressão.
                No Maranhão domina a família Sarney na região de Imperatriz. Collor, Calheiros e Pereira Lira disputam Alagoas. Em Pernambuco, são os Campos e Arraes. Na Bahia, os Magalhães. Em Goiás, os Caiado são os poderosos. Todos indicam seus candidatos para as eleições. E Brasília? Bem, essa tem o Centrão.
                No sentido francamente objetivo, o centrão pode ser afirmado como um novo coronelato, cuja diversidade de origens se reflete na cosmopolita capital da República. Essa afirmação é plena quando vemos o quanto sua influência se impõe sobre os governos federais, especialmente a partir do golpe de 2016.
                Traição – a briga que observamos entre STF, Lula 3 e Centrão em relação às emendas parlamentares tem origem mais antiga. Em 2016, Eduardo Cunha arquitetou a deposição de Dilma Rousseff por falta de acordo sobre o valor das emendas e outros motivos. Mas agora a massa cresceu, somada à ultradireita.
                Agora, a infiltração do Centrão na governança alcança seu ápice sobre Lula 3. Além revogar vários vetos do presidente e guardar o PL da isenção do IRRF, Hugo Motta e Davi Alcolumbre o traem de madrugada reprovando o decreto do IOF após acordo tratado durante o dia – para blindar ricaços. Mesmo já bem pagos com emendas!
                Lula sentiu a traição. O Psol sentiu as dores e enviou ação cautelar ao STF para julgar a derrubada do decreto do IOF do governo. Barroso elegeu Xandão como relator do caso. Encarando tudo como ofensiva do governo, Hugo Motta o chantageou prometendo Nikolas Ferreira para comandar a relatoria da CPMI do INSS.
                Além disso, Hugo Motta ainda foi a um jantar com João Dória e uma trupe de empresários em SP, onde aprofunda conversas para emparedar Lula 3 ainda mais, ao ponto de impedir a sua governança minimamente normal.
                Maximizando a ganância – a traição citada revela a autenticidade do caráter do coronelato do Centrão, agora aliado à ultradireita para alcançar um projeto de poder. E por trás dessa ambição reside outro plano: a maximização do poder financeiro e da captura das atribuições do Executivo (presidente da República).
                A ambição se concretiza em nova interferência em ato executivo: para 2026, o Congresso já projeta definir total de R$ 106 bilhões, R4 52 bi só com emendas parlamentares. Os demais R$ 54 bilhões se dividem em outras despesas. Esse total poderá brecar a intenção do governo em administrar recursos de políticas públicas.
                Anomalia financeira – em audiência pública do STF, um consultor aposentado do Legislativo apontou ao menos 2 distorções do Congresso. A interferência nos atributos do Executivo não só revela a pressão extrema sobre o governo, como viola o princípio constitucional da independência entre os poderes.
                Em relação à definição de valores das emendas e outras despesas incluindo privilégios, ele aponta o objetivo de inflar benefícios políticos próprios, além, claro, de os valores estipulados revelarem uma anomalia financeira – que já era presente naquele orçamento secreto instituído no governo anterior.
                Em fria análise final, os coronéis do Centrão têm o mesmo caráter dos antigos coronéis da elite rural sertaneja: o de impor uma ditadura parlamentarista, desde que comandada pelo Centrão – que hoje é um grupo bastante numeroso e ideologicamente mais fisiológico e impositivo. Mesmo não sendo bolsonarista, ele chega ao extremo, se assim decidir.
Para saber mais
- Eduardo MoreiraHugo Motta derruba reajuste do IOF para obrigar governo a cortar recursos, 27-6-2025. https://www.youtube.com/watch?v=qd5Wh0u2UBY
- O HistoriadorLula manda recado ao Congresso: “já chega!”, /28-6-2025, em https://www.youtube.com/watch?v=65By8ZHqPE0
- ClaysonBrasil em perigo! Senador revela o segredo por trás do Congresso apavorado contra Dino e Lula, 30-6-2025, in https://www.youtube.com/watch?v=18bjSNCROAk
- Mídia Ninja – Consultor da Câmara mostra anomalia orçamentária (emenda beneficia políticos), 30-6-2025, em https://www.youtube.com/watch?v=hoRo8jm73ok
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