Período
eleitoral: a democracia encurralada
Com
o fim da ditadura empresarial-militar, o governo de transição de José Sarney se
pôs à disposição da geral, através da grande imprensa, ser o mentor da volta da
democracia. Foi assim que o povo foi informado de mudanças significativas na
lei eleitoral, que recuperou ao povo o direito de escolher diretamente os governantes.
Tal
direito é por si uma conquista, e por isso foi largamente propagado pela grande
mídia como símbolo do fim do autoritarismo e o início da era do povo
participando da política. Daí o slogan
“festa da democracia” dado ao momento de pleito. Mas, será mesmo que pode ser
chamado de democracia?
Depende
do âmbito – ou ângulo – da coisa. É democrático enquanto os eleitores votam naqueles
com quem se identificam filosófica ou politicamente. Mas a sensação de
liberdade pode terminar aí: por trás dos postulantes à presidência da República,
por exemplo, há muito mais do que as propostas e ideologias defendidas.
A
“festa da democracia” termina quando o eleitor confirma o número digitado na
urna. Ou bem antes disso, por motivos básicos e conhecidos. A lei eleitoral tornou
obrigatório o voto, mesmo que os eleitores deparem com os mesmos nomes consagrados
no multifacetado submundo criminal. O que não invalida a eleição mesmo que a
maioria dos eleitores vote nulo ou em branco.
Se
a insistência acima citada já caracteriza um curral eleitoral, há os outros, mais
conhecidos, como as costumeiras indicações (quase sempre impostas) pelos
mandatários na vida de quem mora nas periferias dos grandes centros, trabalhe
em determinadas instituições públicas ou privadas, e até mesmo nos centros
religiosos.
A
grande mídia tem efeito semelhante, embora mais sutil, através das notícias que
enaltecem determinado candidato em detrimento de outros, frequentemente se
colocando no direito de forjar à sua maneira a apresentação dos fatos.
Diante
de tantos exemplos, a “festa da democracia” perde totalmente seu efeito de
marketing eleitoral. E a própria democracia, pela qual muitos lutaram e outros
tantos terminaram mortos e desaparecidos, permanece encurralada pelos interesses
da cultura dominante, que direciona a condução política.