segunda-feira, 28 de junho de 2021

Análise: vacinoduto e reforma do Estado


        Quando o ex-governador fo RJ Wilson Witzel depôs na CPI, os brazucas mais céticos em relação ao possível sucesso desta comissão começam a sentir os seus efeitos. Afinal, Witzel, que não é flor que se cheire, foi o primeiro a realmente desnudar a família do presidente Jair Bolsonaro, após cócegas de Mandetta.
        Que o depoimento de Witzel foi útil a dar nova guinada mais diretiva aos Bolsonaro, disso não há dúvida. Mas agora entram em cena dois irmãos, cujo depoimento coloca de vez os Bolsonaro no alvo do protagonismo do que pode ser o maior escândalo da história da República: o vacinoduto Covaxin.
        Ao abrirem a boca de vez, os dois irmãos colocam não só em xeque o futuro de toda a família Bolsonaro, mas também de outra política que o ministro da Economia Paulo Guedes tanto briga para passar: a PEC32, reforma administrativa, que propõe reformar o Estado.
        O que a CPI da C19 tem a ver com a PEC32, que trata dessa reformulação do Estado? Este artigo surge para este objetivo de chamar à reflexão da importância dos fatos.

CPI: os irmãos Miranda e irregularidades na Covaxin

        Os irmãos são Luís Cláudio e Luís Ricardo Miranda. O primeiro é deputado federal do DEM-DF, eleito na onda bolsonarista em 2018, para depois se distanciar, acompanhando colegas do DEM. O segundo é servidor concursado do MS, em setor de licitação. Ambos são naturais da região do DF.
        Antes de estrear na política, Luís Cláudio Fernandes Miranda, nascido em 1980, já atuava como youtuber e empresário. Em seu canal, ele exalta o capitalismo estadunidense centrado em Miami e se coloca contra o socialismo, gerando polêmicas. Como empresário, teve duas empresas, FitCorpus e Gifts for Worlds e-commerce.
        A clínica de estética FitCorpus foi proibida de funcionar pelo CFM1 e processada por franqueados, sócios, ex-funcionários e pacientes por calotes e mau atendimento; e a Gifts for Worlds, criticada pelos clientes que pagaram, mas não receberam os produtos solicitados. Miranda responde a processos por fraude contra a justiça, estelionato, rejeição de contas e suposta ameaça de morte.
        Por sua vez, Luís Ricardo Miranda é servidor atuante na área de controle de licitações do MS. Não há dados sobre a vida anterior ao serviço público. Após tantas negativas do governo relativas à Pfizer e outras totalizando mais de 80 e-mails no vácuo, Luís impediu um negócio muito perigoso ao erário público. 
        Seria a compra irregular de uma vacina ainda desconhecida entre nós.

Covaxin: uma vacina problemática e cara
        A Covaxin é a primeira vacina totalmente indiana, tendo seu IFA desenvolvido por pesquisadores no laboratório Bharat Biotech, conhecido entre os indianos por fabricar produtos veterinários. O que, em si, não é nenhum problema, pois alguns gigantes da área fazem o mesmo.
        Além de fármacos veterinários e humanos, a centenária alemã Bayer fabrica agrotóxicos, adesivos e outros produtos sem nenhum alarde público. Portanto, criticar o laboratório indiano pode indicar um preconceito xenofóbico ou racista, pois a Índia é um país de povo em geral pobre e não branco.
        Segundo o UOL de 24/6, a Covaxin virou alvo de desconfiança na Índia pelo uso emergencial sem comprovação de eficácia, segurança e efeitos colaterais, só obtida após a 3ª fase, de testes em humanos em larga escala. O laboratório, então, procurou compensar com "dados preliminares", em abril.
        Esses dados eram obtidos de relatos de receptores de aplicação formal. Em junho, foi entregue ao MS indiano relatório apontando eficácia de 77,3%, mas sem mais detalhes do estudo, que envolveria mais de 25 mil pessoas, nem haver publicação em revista científica digna de nota.
        A pesquisadora em saúde pública indiana Mailini Aisola considerou perigoso "jogar ao público sem dados de intervalos de confiança, números precisos de casos analisados, informes de segurança e efeitos colaterais", gerando rejeição inicial entre os profissionais de saúde locais ao seu uso.
        Os profissionais e pesquisadores indianos preferem a Covidshield1, mas diante da insuficiência de doses desta e de outras com estudos completos, houve uma resignada aceitação da Covaxin para uso emergencial em face da nova onda de C19.
        No Brasil, devido a essa lacuna de dados, a Covaxin foi aceita pela Anvisa com forte restrição, importando apenas 4 das 20 milhões de doses iniciais, e a sua aplicação, rigidamente controlada pelo MS, apesar da garantia de segurança pelo presidente da Bharat Biotech, Khrishna Ella.
        Uma equipe técnica da Anvisa foi enviada à Bharat Biotech para a inspeção entre os dias 1º e 5 de março, encontrando 29 inconformidades, sendo 3 críticas, 12 maiores e 14 menores, que precisariam de meses para serem sanadas, segundo o próprio laboratório.
        Falta de testes específicos de potência, método de certificação de inativação do vírus, precauções insuficientes para evitar contaminação microbiana no processo asséptico e estudos incompletos estudos para validação são alguns exemplos que fizeram a Anvisa reprovar uso emergencial amplo da vacina no Brasil.
        Ainda assim, um contrato de compra foi fechado, levantando suspeitas.

Vacinoduto
        Além das inconformidades, a Covaxin se mostrou muito cara. O contrato fechado custaria ao MS brasileiro cerca de R$ 1,6 bilhão por 20 milhões de doses, o que gerou forte suspeita de irregularidade, que levou à investigação por aqui. 
        Contrariando a alegação do governo de só comprar Covaxin após a rigorosa inspeção técnica da Anvisa, que ocorreu de 1 a 5/3, o contrato foi fechado em 25/2. A negativa da Anvisa fez com que um pessoal no MS negociasse para sanar os obstáculos técnicos, segundo disse uma fonte à Reuters.
        Tal fonte, não identificada e com conhecimento do assunto, ainda acrescentou que tal mecanismo não ocorreu com vacinas de outros laboratórios. E detalhe: tudo correu enquanto a Pfizer insistia nos seus e-mails a Brasília, desde meados do ano passado, seguindo ignorada pelo governo.
        Nesse cenário entra a empresa Precisa, investigada como propriedade de brasileiro e patrimônio declarado de R$ 12 milhões. Ela intermediaria a tal compra por R$ 1,6 bilhão. A Anvisa liberou as 4 milhões de doses só neste junho, após 21 requisitos preenchidos e assinado termo de compromisso.
        A Precisa seria gerida pela Global Gestão e Saúde, de "má reputação" segundo o servidor do MS, que apontou a compra como irregular por falta de vários docs, pressão por pagamento total adiantado e divergências sobre nomes de empresas envolvidas, sugerindo haver empresa de fachada.
        O servidor contou que o pagamento adiantado não estava previsto no contrato e que o militar Alex Marinho, ex-coordenador de Logística no MS, pressionava com perguntas sobre andamento da compra, o que o levou a correr atrás do irmão deputado, para informar o presidente Bolsonaro dos fatos.
        Ao ser informado dos fatos, Bolsonaro prometeu comunicar à PF para investigar "isso aí" e quem estaria por trás, mas não cumpriu, conforme salientou o irmão deputado à CPI em 25/6.
        Pelo que se deu a compreender pelo depoimento, o presidente não informou a PF para, decerto, não atingir o nome de peso por trás, que o parlamentar alegava ter esquecido, mas acabou respondendo após pressão pelos senadores Alessandro Vieira e Simone Tebet: Ricardo Barros (PP-PR).
        Hoje governista, Barros é importante na trama política desde o bem-sucedido impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Engenheiro e empresário, foi MS na era Temer, defendendo a privatização do SUS. Felizmente não privatizou, mas meteu-lhe uma facada de R$ 12 bilhões de uma só vez.
        Barros não é flor que se cheire: deprecia os trabalhadores em home office, minimiza a sindemia de C19 e outras bobagens. Tem nos ombros processos na Justiça do Trabalho, nepotismo, e fraude quando foi prefeito da natal Maringá e no atual caso Covaxin, no qual é o pivô.
        Apesar da exposição da sem-vergonhice, Barros teve a sua mulher, Cida Borghetti, nomeada por Bolsonaro para cargo no Conselho de Administração de Itaipu por salário de R$27 mil. Tudo porque Barros tem se mostrado importante aliado do presidente na Câmara. Inclusive na ficha corrida.
        E o envolvimento de Barros com vacinoduto não para por aí: a CPI já sabe de outro negócio, de compra de 50milhões de doses de Convidecia, da chinesa CanSino, cuja dose custa US$ 17, somando a mercadoria total, US$ 850 milhões. Ou mais de R$ 4,190 bilhões, no câmbio de 28/5. Só que o total ultrapassou R$ 5 bilhões. Sobram aí mais de R$ 800 milhões.
        Como no caso Covaxin, há intermediários. A empresa, Belcher, é uma farmacêutica sediada em Maringá, cidade natal de Barros. Os envolvidos na intermediação desse negócio bilionário, além de Barros e outros, são os grandes empresários Carlos Wizard e Luciano Hang, o Véio da Havan. Detalhe: tudo isso é apenas a ponta de um iceberg gigante a esconder muitas outras imundícies.
        Diante disso tudo, se presume que Barros, Wizard e outros, além dos próprios Bolsonaros, viram no vacinoduto uma verdadeira mina de ouro, digo, de grana não declarada. Cuja fonte pagadora, claro, são os cofres públicos. E às custas de mais de 512 mil brazucas, em dados oficiais.

A atuação de Luís Ricardo e a PEC32: reflexões finais

        Toda a trama nos traz uma reflexão sobre o andamento da lixeira moral em que se encontra o país desde, pelo menos, o pós-golpe de 2016. Com a aceleração do acúmulo a partir de 2019, nunca se viu tanto lixo a ser resolvido, culminado com a PEC32, a reforma administrativa. Como assim?
        A referência à PEC32 é necessária para se refletir sobre seu potencial perigo num país tão atacado por ilegalidades de todo tipo por agentes políticos. Eis um resumo dos fatos mais marcantes.
        Em 2019, as principais denúncias de afrontas contra o erário público partiram da área ambiental: desmates ilegais por fazendeiros, grilagem, queimadas, garimpo e extração de madeira2 em áreas de proteção permanente públicas (terras indígenas, parques) dos principais biomas.
        Apesar de malsucedidas, as denúncias custaram os afastamentos de servidores do ICMBio3, Ibama e da PF-AM, entrando no lugar militares ou apaniguados do governo, e os crimes foram expostos nas redes sociais onde receberam muitas críticas.
        Tais denúncias custaram afastamento de servidores como os do Ibama, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da PF-AM. Em seu lugar estão militares ou apaniguados, os crimes expostos nas redes sociais, apesar das denúncias ficarem por isso mesmo.
        Na sindemia de C19, quando Mandetta ainda era MS, servidores do SUS, concursados e CTUs4, desde então se desdobram bravamente para salvar o máximo de vidas possível, às vezes às custas de suas próprias vidas. Hoje, Mandetta e até Teich, seu sucessor, são pró-SUS.
        Após más interferências de Pazuello nos contratos dos CTUs, os servidores com este vínculo hoje se mostram essenciais após tantas mortes entre servidores concursados pela C19 e suas complicações. Agora, estão novamente em contratos semestrais prorrogáveis como já ocorria antes do militar.
        O mais recente se refere ao caso Covaxin: além da restrição da Anvisa, a atuação do servidor Luís Ricardo ocasionou o feliz fracasso da compra irregular, mesmo cm tanta pressão de Alex Marinho. As irregularidades foram mais gritantes do que a tal pressão do militar.
        O castigo do servidor não foi a exoneração, pois ele salvou o erário público, como outros acima tentaram fazer. Mas, o bloqueio de sua entrada no SEI (sistema eletrônico de informações), que todo servidor usa hoje em dia para elaborar despachos, memorandos, ofícios e outros docs públicos.

Espaço para a PEC32?
        A punição de servidores públicos prevista na Lei 8112/1990 é tema discutido no parlamento federal há décadas, pois cabeças privatistas sempre a considerou branda demais para muitos acontecimentos. Tudo por influência do folclore anti-servidor sustentado pela direita, empresários e grande mídia.
        Collor sustentou o velho folclore bradando, como a grande mídia, que servidores genericamente são "marajás que trabalham pouco e mal e ganham demais". No seu governo, ele sancionou a Lei 8112 de 1990, ou Estatuto do Servidor Público, que substitui a antiga CLT especial cheia de benefícios.
        O Estatuto substitui a antiga CLT do funcionalismo que dava FGTS e benefícios extras. Não há mais FGTS devido à estabilidade, e os benefícios foram adensados em gratificações de desempenho, com perda de valor no provento final. Perda não sentida pela elite do funcionalismo.
        O Estatuto impõe restrições como não ter negócio privado lucrativo em seu nome. Com exceção das categorias CNPJs, como médicos, dentistas, advogados, engenheiros, publicitários. 
        O servidor é punível, de advertência à exoneração, a depender da gravidade do dano julgado por processo administrativo-disciplinar (PAD). A exoneração derruba a ideia de indemissibilidade. Servidor exonerado sai com seguro-desemprego e indenizações proporcionais à remuneração do cargo ocupado.
        O Estatuto delimita direitos e deveres precípuos à natureza do servidor público e de seu cargo ou função, que é encarado como único emprego para os dos estratos mais baixos que atendem ao público. Ele manteve a antiga progressão automática por tempo de serviço e 
        Em 2017, a senadora Ma. do Carmo Alves (DEM-RN) criou o PL 116/2017, que propõe, entre outas medidas, a demissão de servidor público por mau desempenho sem passagem pelo moroso PAD, bastando para tanto, decisão subjetiva da chefia imediata. Mas não dissolve o Estatuto em si.
        Tal ponto foi absorvido pela PEC32 de Paulo Guedes, que já foi abordada neste blog. Pela PEC, que atinge servidores atuais, o Estatuto se extingue, e com ele, os poucos direitos restantes, inclusive a condição de carreira de Estado a depender do cargo/ função, e flexibilidade de carga horária.
        É na demissão facilitada prevista na PL 116/2017 e na PEC32 que se observa alto risco de atentar contra o Estado, pois se facilitará substituir por apaniguado sem concurso, cuja margem se torna muito maior na PEC: no Estatuto são poucas dezenas; na PEC são quase mil,
        Outro detalhe na PEC32 é a previsão de aumento dos poderes do presidente da República sobre a gestão das entidades públicas e na vigilância, pelos chefes por ele indicados, de servidores subalternos, o que liberará toda sorte de assédios morais verticais de cima para baixo e onda de demissões.
        Com isso se dará liberdade a toda sorte de ilicitudes contra o erário público, nepotismo e cabide, que já correm ao arrepio da lei e da ética do servidor. Como hoje, os mandantes estarão em cargos de comando, enquanto os subalternos serão obrigados a operá-las para manter seu sustento.
        Assim, se a PEC32 já estivesse em vigor, o vacinoduto e outras ilicitudes cuja gravidade ainda não mensuramos seriam efetuados com uma liberdade insana, e não denunciados, investigados e noticiados como hoje. É aí que se observa o quão essenciais são os servidores públicos.
        Embora tão eficientes quanto os concursados estáveis, os CTUs ainda se veem em situação quase tão frágil quanto um celetista privado. A PEC32 ainda não aponta nada que os beneficie, no risco de convertê-los para a CLT privada.
        A depender do caráter de gente como Pacheco (Senado) e de muitos da Câmara, a PEC32 tem uma chance de votação favorável. Claro que a CPI interfere muito e dá incerteza ao futuro do governo, e isso é fato inconteste. Ainda há tempo de se ver como tudo está correndo graças às condutas de uma categoria injustiçada: os servidores públicos de carreira.

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Imagens: Google (montagem: autoria do artigo)

Notas da autoria
1. Covidshield é o apelido da vacina da Oxford, AstraZeneca.
2. Negócio criminoso em que o ex-ministro Salles e o presidente Bolsonaro estão metidos. A atividade foi denunciada pelo delegado Saraiva, da PF-AM, neste ano. Ele foi substituído, mas não exonerado.
3. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, uma fundação pública.
4. Contratados Temporários da União: vínculo de contrato temporário para calamidade pública (adendo na Lei 8112/1990).

Para saber mais
https://pt.wikipedia.org/wiki/Luis_Miranda_(pol%C3%ADtico)
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Ricardo_Barros
- https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2021/06/25/deputado-e-servidor-reafirmam-denuncias-contra-governo-na-compra-da-covaxin
https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/bbc/2021/06/24/covaxin-e-alvo-de-desconfianca-na-propria-india-por-uso-sem-finalizar-testes.htm
https://www.uol.com.br/vivabem/reuters/2021/06/25/anvisa-encontrou-29-erros-em-fabrica-da-covaxin-apos-saude-fechar-contrato.htm
- https://drluizfernandopereira.jusbrasil.com.br/artigos/376927970/a-exoneracao-do-servidor-publico-e-seus-direitos
- https://publica.org.br/2020/09/30/os-atuais-servidores-e-a-reforma-administrativa/
- https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2021/06/pec-32-reforma-administrativa-constitucionaliza-precarizacao-retrocesso-democratico/
- https://revistaforum.com.br/coronavirus/bolsonaro-nomeou-esposa-de-ricardo-barros-para-receber-salario-de-r-27-mil/
- https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2021/06/ricardo-barros-e-ligado-a-farmaceutica-que-participa-da-compra-da-vacina-mais-cara-do-pais/


sábado, 26 de junho de 2021

Análise: Bolsonaro e ode à misoginia

        Recentemente, Bolsonaro fez mais uma das suas com jornalistas. Estes até já se preparam antes da entrevista, seja no chiqueirinho do Palácio, ou em algum evento numa cidade qualquer do país. 
        Tudo porque já se observa ser costumeiro dele ser extremamente deseducado e indecoroso com a imprensa, seja por politização para agradar ao seus fanáticos seguidores, seja por ser antissocial por natureza mesmo.
        Embora não seja novidade, a agressão dele aos jornalistas é um fato que sempre repercute de certa maneira, seja como vídeos de canais diversos no Youtube e Facebook Watch, em lives ou mesmo em manifestações feministas.
        Embora pareçam cortinas de fumaça em meio aos escândalos ionosféricos na CPI e as votações da reforma administrativa e de PLs como a de exploração destrutiva em terras indígenas, as repercussões das agressões de Bolsonaro à imprensa chamam atenção pela preferência dele em agredir mulheres.
        São centenas de denúncias nas mãos das Associações Nacional de Jornalistas (ANJ) e Brasileira de Imprensa (ABI), que já enviaram documentos à OAB e até à ONU, figurando violação à liberdade de imprensa e de informação. A maciça maioria das vítimas é feminina.
        Seria Bolsonaro um misógino?

Breve compilado sobre as origens de um governo misógino

        Quando Bolsonaro despontou com sua personagem defendendo família heteronormal e cristã, se tornando espelho para boa parcela de homens a lhe dar boa margem eleitoral, com ajuda dos votos em branco nas urnas, vieram à tona debates sobre as possibilidades de retrocessos na política.
        Eleito presidente, Bolsonaro meteu decretos e MPs retrógrados hoje em vigor, cerceando algumas liberdades, enquanto Guedes já seguia mimando os megagrupos econômicos retirando dos pobres. O líder tem agradado a ala evangélica radical, nomeando pastores para chefiar instituições como MEC, direitos humanos, justiça e na Funai.
        Outro agrado ao cristofascismo foi o bloqueio de recursos ao projeto de abrigos para as mulheres vítimas da violência, anunciado pela própria ministra Damares, que já pregou: "a mulher deve ser submissa ao homem" para promover uma "harmonia nas relações de gênero".
        É sabido que os evangélicos radicais defendem diferenças rígidas de gênero, nos pontos de vista físico, sexual e em papeis e relações de gênero. O que se reflete na vida de milhares de casais fiéis, inclusive num tema muito delicado: a violência doméstica.
        São diversas as razões que levam mulheres a não denunciar o crime, e uma delas é a fé. Segundo a Hypness (2018), 40% das vítimas se declararam evangélicas, e ao buscar apoio do pastor, recebem o conselho de "mais submissão em nome de Deus". O que nos leva a entender a citada fala de Damares.
        A submissão feminina é tratada pela Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) como "ideologia do perdão", em alusão ao jargão cristão de perdoar como expressão de amor. Embora seja lindo, o perdão não remedia ressentimento ou medo, ainda que a pessoa se acredite melhor.

A fé explica a aversão de Bolsonaro à mulher?

        A norma cristã da submissão feminina também é católica. Aliás, a ICAR1 teve um essencial papel na nossa história em suas regras inquisitoriais - daí a marca da violência contra a mulher. Mas, delongar aí já é outra história; a ideia é saber se a aversão misógina de Bolsonaro é histórica ou ideológica.
        Como cada um de nós, Bolsonaro é reflexo de nossas marcas culturais. Mas, na relação com a mulher e outros temas, tendemos a questionar e evoluir, e o conhecimento ajuda muito. Já quanto ao presidente, ele se revela um poço de preconceitos. Contra mulheres, nutre certa aversão: misoginia.
        Tal frase desconstrói a obrigação da origem da misoginia presidencial ser originária de fé, mesmo literal. Deve-se abordar o lado psicológico, além do sociopático já avaliado neste blog. Vale debater o ponto de vista psicanalítico, que coloca o misógino em patamar diferente do machista.
        Um homem apenas machista não reduz a mulher a um mero corpo para sua satisfação sexual. Ele ainda a vê como alguém, mas moldada para assumir papeis sociais e relacionais submissos. O misógino já não a vê como pessoa, a despreza e reduz a nada além de objeto útil às suas satisfações subjetivas. 
        Segundo a fonte Universa UOL, de 20/12/2019, essa diferenciação, além de mostrar o machismo enquanto reflexo cultural, coloca a misoginia como sinal de distúrbio mental ou de personalidade por trás do comportamento de muitos estupradores ou serial killers de mulheres, por exemplo.
        Embora não saibamos de sua infância e juventude, os insultos de Bolsonaro dirigidos à deputada Maria do Rosário (PT-RS) e às jornalistas, bem como comentários sexistas, revelam o seu desprezo misógino que, por seu turno, aponta a existência de transtorno psicopatológico.
        Detalhe: Bolsonaro se referiu a estupro em um dos insultos à então colega de Câmara Maria do Rosário (PT-RS). No mesmo insulto, ele a chamou de vagabunda. Ainda que o xingamento tenha siso politizado, a alusão ao termo pode indicar o desprezo de Bolsonaro por mulheres. 

Reflexão final

        A intenção de elaborar este artigo foi mostrar uma análise fria, mas reflexiva, sobre a origem da possível misoginia de Bolsonaro, concluindo ser esta independente da fé e mais ligada a psicopatologia já observada em seus tempos de militar, enquanto que o machismo, cultural, tem sua expressividade político-ideológica a reforçar alianças com setores sociais conservadores, como o religioso.
        Essa conclusão foi possível graças à abordagem psicanalítica, que permite diferenciar machismo de misoginia. Claro que isso não evitará questionamentos, como: "se Bolsonaro é misógino, como ele se casou três vezes gerando cinco filhos?". A resposta está na visão que se tem da mulher.
        Sexo com mulher, machista e misógino fazem. A diferença está na capacidade do machista de criar um clima romântico e sensual para o momento, pois sabe que a mulher tem sentimentos. O misógino não a vê além de mero objeto para satisfazer seu prazer instintivo e egoístico, sem clima algum.
        Claro que isso está longe de apontar o presidente como misógino, nem há uma intenção nisso. Já sabemos de seu provado machismo, relevante na sua predileção de atacar mulheres independentes e profissionais de sucesso, que se destacam diante dele.
        Dada a sua psicopatologia já observada e descrita em seus tempos de militar, no máximo podemos apontar Bolsonaro um narcísico e ferrenho machista, que pode revelar algum problema sexual oculto, que se alivia no prazer em subjugar as mulheres emancipadas.
        O maior dos problemas - que mulheres bem informadas devem saber - está na representatividade dele para o senso comum masculino que nele vê um exemplo de poder viril. O que pode ser, aí sim, se traduzir, em muitos homens, uma inconsciente ode à misoginia.

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Imagem: Google

Notas da autoria
1. Igreja Católica Apostólica Romana

Para saber mais
- https://www.poder360.com.br/justica/presidente-do-stj-libera-nomeacao-de-pastor-para-funai/
- https://ctb.org.br/mulher-trabalhadora/ideologia-do-perdao-faz-evangelicas-se-calarem-sobre-violencia/
- https://www.hypeness.com.br/2018/03/40-das-mulheres-vitimas-de-agressoes-fisicas-e-verbais-sao-evangelicas/
- https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/12/20/o-que-e-misoginia-veja-como-pensam-homens-que-odeiam-mulheres.htm


 

quarta-feira, 23 de junho de 2021

Análise: Lázaro e a autopromoção na intolerância

        Nas duas últimas semanas, surge nas mídias um novo nome que virou motivo de preocupação geral: Lázaro Barbosa. Um desconhecido que logo se tornou conhecido como serial killer acusado de matar 6 pessoas, sendo 4 de uma mesma família, no DF.
        O alvoroço não veio tanto porque Lázaro foi apontado pela polícia como serial killer, em um país tão severamente marcado pela violência. Mas, sim, por como ele está sendo tratado pela grande mídia e pela própria polícia, por sua caçada até o momento fracassada.
        E como se não bastasse isso, surge um novo ponto aí: achados sugerindo rituais de satanismo na casa de Lázaro, que suscitaram inúmeras ideias junto a discussões sobre como é encarada a diversidade religiosa no país. Afinal, a polícia vê em Lázaro um bandido ou um satanista?
        Afinal, o que é serial killer? O que a suposta crença satânica tem a ver com a condição criminosa do sujeito em questão? Quem demonstra intolerância religiosa, a polícia ou os meios de comunicação? É sobre isso que o presente artigo se centra em refletir.

Breve apanhado sobre serial killer

        A biografia de serial killers tem sido bem explorada pelos meios de comunicação, em especial em plataformas como Youtube, WhatsApp e correlatos. No Youtube mesmo há vários canais dedicados a apresentar esse tema. 
        Na crônica policial, serial killer é 'assassino em série' em inglês. Mas no Brasil a versão inglesa é mais conhecida, sobretudo por influência do cinema estadunidense. A razão disso é o fato de os EUA ser o país que mais explora o assunto, e terra natal dessas 'celebridades' que inspiram Hollywood.
        A crônica policial define serial killer como criminoso que age geralmente só (ou dupla), e em seus crimes há um modus operandi, assinatura pessoal que ajuda a polícia em seu rastreio investigativo. Tal assinatura pode conter, ou não, traços religiosos, mas geralmente evoca algum prazer mórbido, sexual.
        Embora a maioria dos nomes conhecidos seja do sexo masculino, há uma importante minoria de mulheres com históricos também famosos. Como Aileen Wuornos nos EUA e a brazuca Fera da Penha, ambas envolvendo problemas com homens, embora por motivos diferentes.
        Nas crônicas policial e forense, serial killers são comumente tidos como portadores de transtorno de personalidade (TP) sociopata, psicopata ou explosivo intermitente; ou transtorno mental (TM) como psicose/esquizofrenia grave, embora tenham inteligência dentro ou acima da média. Citam-se também motivos e/ou objetivos de matar, como vingança, fé ou justiçamento. 
        Há serial killers no mundo todo, mas os EUA têm uma lista longa, com nomes célebres por crimes bizarros, como Jeffrey Dahmmer, Henry Lee Lucas, Ted Bundy, e Ed Gein, entre tantos exemplos. No Brasil se destacam, entre eles Preto Amaral, os Maníacos de Contagem e do Parque, Pedrinho Matador, e o atual Lázaro Barbosa.

Lázaro Barbosa de Sousa - breve biografia
        Lázaro Barbosa de Sousa nasceu em Barra do Mendes, interior da Bahia, em agosto de 1988. É casado, mas sem filhos. Seria mais um desconhecido morador rural não fosse a sua inclinação para o crime, iniciada nos anos 2000, com roubo, posse ilegal de arma, sequestro, estupro e assassinato.
        Conhecedor de terrenos de matagais e bem orientado, Lázaro se tornou "experiente mateiro", e direcionou seus ataques a moradores de chácaras e sítios. Foi na zona rural de sua cidade natal que fez suas duas primeiras vítimas fatais, em 2007. No mesmo ano foi capturado e preso.
        Spoiler: foi nessa época ainda que ele passou a supostamente desenvolver crença em demônios, a despeito de ser de berço cristão com superstições tipicamente rurais, segundo relatos de seu pai.
        10 dias depois, fugiu para Brasília, onde foi logo recapturado e preso no Complexo da Papuda por roubo, estupro e porte ilegal de arma, e em minúcia médica, foi apontado como "impulsivo, agressivo, ansioso e com preocupações sexuais, retratando problema mental sério".
        Um ano depois conseguiu regime semiaberto por bom comportamento, para escapar da Papuda em 2016 e ser recapturado somente em março de 2018, sendo preso em Águas Lindas de Goiás, de onde fugiu novamente 4 meses depois, estando foragido desde então.
        Em 2020 invadiu uma chácara onde golpeou com machado um morador, que sobreviveu com sequelas. Em 2021, em Sol Nascente (Ceilândia), ele invadiu uma casa onde trancou pai e filho num quarto e estuprou a mulher; e depois invadiu outra chácara onde trancou todos os homens e obrigou as mulheres a servi-lo nuas.
        Em Ceilândia, Lázaro invadiu outra chácara onde assassinou a sangue frio pai e três filhos, e na fuga levou a mulher, Cleonice, como refém. Ela conseguira avisar seu irmão do ocorrido antes do seu sequestro. Foi então que se iniciou nova caçada policial

Caçada policial
        A caçada policial a Lázaro teve início tão logo que se soube de sua fuga, em 2018, mas todas as tentativas têm sido fracassadas até o momento. A mais recente, que reúne a PM, PC, PRF e PF, surgiu graças à ligação-denúncia do irmão da vítima Cleonice.
        O tamanho do aparato policial resultou das tentativas infrutíferas das polícias civil e militar na perseguição a Lázaro. Os agentes reconheceram a experiência do criminoso em se embrenhar pelas matas e conhecer bem os terrenos em grande área.
        Embora saibam que Lázaro seja casado e tenha residência fixa, os policiais sabem que ele possa ter vários esconderijos nessa área abrangida. A região tem várias grutas, e nelas ele e a refém descansam entre as fugas.
        Recentemente houve supostos boatos de que ele teria sido finalmente localizado pelos agentes, que se prontificaram para cercá-lo de modo que sua fuga seja impedida. Mas, nada foi comprovado.

Polêmica: violência policial e intolerância

        A caçada de 200 policiais a Lázaro, que se tornou digna de filme de ação hollywoodiano, lançou mão de outros meios com o objetivo de facilitar no rastreio e captura do criminoso. Nesses momentos, até houve proveito com a mídia, que divulgou matérias com indícios a mostrar um pouco do caráter de Lázaro, no caso a crença religiosa, e a abordagem em residências.
        Mas, o direcionamento da conduta pode gerar bons ou maus resultados, que podem ir a favor, ou contra a já fragilizada reputação das polícias no país.

Violência      
        Enquanto não há sucesso em capturar Lázaro, a polícia tem se utilizado de outros meios para ter mais informações e rastros do criminoso. E com isso se aproveitou da mídia. Só que a coisa pode não gerar bons resultados, o que levaria a polícia entrar em maus lençóis na sua já fragilizada reputação.
        A começar pela abordagem na casa da esposa de Lázaro. A mulher, que não quer ser identificada para evitar represálias, contou que após interrogatório inicial normal, policiais a torturaram para saber do paradeiro. Ela revelou tudo em entrevista a Roberto Cabrini, em programa dominical na TV Record.
        Outro mau lençol aconteceu no Maranhão. Um jovem foi morto pela polícia por suposta apologia ao criminosoDeu xabu, pois o jovem tem problemas psiquiátricos, conforme laudos apresentados pela mãe. Os policiais foram afastados pelo governo do Estado. 

A possível intolerância religiosa
        A mídia tem acompanhado de perto, conforme possível, os passos da caçada a Lázaro. Em busca de sinais e indícios, mídias divulgaram uma espécie de altar com objetos e decoração de suposto culto evocando satanismo. Entre várias fotos, uma delas mostra a inscrição 'Satan' com tinta grafite preta em parede do que parece uma casa antiga, pelo estado aparente de exposição às intempéries.
        Nessa questão religiosa, as mídias divulgaram tais imagens como sendo da residência da mãe de Lázaro. Essas fotos teriam sido passadas pelos policiais. 
        Passa-se nisso a pecha de Lázaro  sua família como satanistas, o que, para os supersticiosos, vira explicação para o sucesso em escapar da polícia. Nas localidades onde o criminoso passou, esse tipo de crença é comum entre rurais mais humildes. Mas, a conduta da polícia e mídia foi em outros alvos: os praticantes de fé afro-brasileira.
        Segundo a Hypness, as imagens atribuídas como da residência a família de Lázaro são, na real, de um assentamento de candomblé em região não especificada do DF. O altar se refere a Exu, que na fé afro-brasileira é deus e/ou entidade ligada ao inconsciente e aos fenômenos imprevisíveis da natureza.
        No Candomblé, Exu é uma divindade (orisà) representada por fenômenos naturais espontâneos ou imprevistos. Na Umbanda, religião brasileira que sincretiza ritos católicos, indígenas e africanos, Exu é também uma entidade ligada ao nosso inconsciente e abre caminhos para o fiel alcançar seus desejos.
        Os umbandistas ainda apontam que, uma vez feita a escolha, o fiel é advertido por Exu sobre as consequências dessa escolha, como reflexo da dualidade humana: ao lado dos bons resultados, sempre há alguns problemas que desafiam o fiel a resolvê-los e, com isso, crescer interiormente.

Reflexões finais

        A conjuntura de fatos acima apresentados nos leva à compreensão de que, antes de mais nada, devemos sempre pautar por um julgamento prudente, a partir de análises e reflexões com fontes. O já exposto nos dá uma ideia de quem mais vem se queimando nessa história: a polícia.
        Ainda que não saibamos de sua veracidade, a denúncia de tortura pela esposa de Lázaro é credível. Em residência ou delegacia, a violência policial para extrair confissão ou informação de paradeiro de outro é fato típico no Brasil, fruto do elitismo ('dois pesos, duas medidas') e das arbitrariedades da ditadura militar.
        Amplamente abordada neste blog, a tortura se revela mais como atestado de abuso de autoridade, estultícia, estupidez e incompetência, na flagrante desqualificação dos policiais a monstros a encararem os cidadãos populares como inimigos a serem combatidos para proteger a coitadinha da elite.
        O abuso de poder se revelou na reação desproporcional à ação. A polícia maranhense alegou a fala do jovem por ela assassinado como apologia, sem avaliação alguma. Pois bem, uma vez que problema mental não é déficit intelectual, é bem possível que o jovem tenha feito uma ironia para a polícia.
        Sim, muito possível. Um transtornado mental em tratamento tem momentos lúcidos, quando pode avaliar o que vê: como 200 homens com cães e tudo não conseguem pegar um criminoso sozinho? E surge o fardado que assassina o jovem crítico. 
        Por isso existe a possibilidade de o policial ter percebido a ironia e, interpretando como afronta ou desacato, mata o jovem estupidamente. Mais um motivo de diploma de abuso e incompetência.
        Sobre a questão religiosa, a atribuição de suposto satanismo a Lázaro deu a este dupla aura. Além da explicitada superstição que associa a esperteza de Lázaro ao satanismo, há outra que se volta, mais feia, para as próprias instituições policiais respingando, de certo modo, à mídia.
        Novamente, a conjuntura exposta mostra que os policiais não estão devidamente preparados para a proteção indistinta aos diferentes locais de culto e aos seus praticantes, e mais ainda, parece ignorar por completo muita coisa da fé afro-brasileira.
        A coisa toda também expôs abertamente a ignorância imperante nas instituições policiais, pois é comum associar Exu ao diabo cristão. Em parte isso se liga ao histórico (e errado) sincretismo, e há também a cultura própria de alguma denominação religiosa em particular.
        Ou seja, algumas correntes cristãs veem no diabo um símbolo de advertência, enquanto outras já o desenham como entidade totalmente má. que se aproveita da fragilidade do fiel para dominá-lo e ferrar seu caminho. Há outras visões, mas todas o apontam como entidade ruim. Foi nessa base que se associa Lázaro ao culto diabólico, mas o distancia de Exu, conforme explicado acima.
        Assim, nessa conjuntura, como a polícia não advertiu a imprensa sobre as imagens religiosas, ficou a ideia do Lázaro satanista. Por outro lado, a própria polícia se sai mal na fita, tendo atuado por meio da autopromoção na violência, na estupidez e na intolerância. E Lázaro continua livre, leve e solto.

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Imagens: Google (montagem da autoria do artigo)

Notas da autoria
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Para saber mais
- https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%A1zaro_Barbosa
- https://revistaforum.com.br/brasil/policia-mata-apologia-a-lazaro/
- https://oglobo.globo.com/brasil/caso-lazaro-objetos-encontrados-na-casa-de-criminoso-geram-polemica-sobre-satanismo-25064587
- https://www.hypeness.com.br/2021/06/caso-lazaro-expoe-racismo-cronico-com-associacao-de-religioes-negras-ao-satanismo/
- https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2021/06/20/mulher-lazaro-tortura.htm
- https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2021/06/18/o-que-e-panico-satanico-e-como-ele-tem-atrapalhado-investigacoes-desde-1970.htm



terça-feira, 22 de junho de 2021

Análise: Cloroquiners na CPI e 500 mil mortes 

        Neste dia 19/6, o país acordou com a notícia de que atingimos a marca dos 500 mil mortos pela C19 e/ou de suas complicações diretas, segundo dados oficiais obtidos pelo consórcio de imprensa junto às Secretarias Estaduais de Saúde. É marca triste, em menos de 1 ano e meio de sindemia.
        Este é um dado preliminar, pois num sábado os servidores ligados à gestão e estatística estão ausentes ou apenas trabalham pela manhã.
        Vale salientar, assim, que até o final do dia, as novas mortes não serão contabilizadas plenamente, o que explica os números menores que acompanham os finais de semana. Mas, a patuleia acredita que seja por "menos movimento" nas sextas e sábados, o que não é verdade.
        Como apontado no artigo anterior, estudo realizado nos EUA e divulgado pela mídia brasileira no início deste junho faz uma projeção sinistra da progressão da sindemia de C19 no Brasil: em outubro, poderemos alcançar a incrível e catastrófica marca de 1 milhão de falecidos.

Médicos cloroquiners na CPI da C19

        Enquanto o pais se revela na sina de se transformar num imenso conjunto de cemitérios gigantes, na sexta dia 18/6, dois médicos, Ricardo Ariel Zimerman e Francisco Cardoso Alves, compareceram à tribuna da CPI da C19 para depor.
        Os dois médicos foram na condição de convidados pelos senadores governistas para depor na CPI, para "comprovar" as supostas maravilhas da cloroquina e da hidroxicloroquina, protagonistas no kit do tratamento precoce da C19. Tudo bem aí, pois o regimento interno permite o convite pelos senadores fora da cúpula da CPI, e faz parte do jogo democrático brasileiro.
        Já que Zimerman e Alves foram a convite dos governistas, o dia foi marcado pela verborragia dos supostos efeitos positivos dos citados fármacos para uma virose cujos estudos em busca da cura ainda caminham. Mas, nada como um pouco de "boas notícias" para massagear o ego de Bolsonaro e caterva, né?
        Cientes da doutrina ideológica dos governistas e dos convidados, os não governistas e de oposição questionaram pouco; Renan nem quis perder tempo. Randolfe se ausentou em parte do depoimento para, após a sessão, divulgar à imprensa a lista dos 14 primeiros investigados pela CPI.
        Lista: ex-MS Eduardo Pazuello, o atual Marcelo Queiroga, os cloroquiners Nise Yamaguchi e Paolo Zanotto, ex-chanceler Ernesto Araújo, ex-secretário da Secom Fábio Wajngarten, empresário Carlos Wizard, ex-assessor da presidência Arthur Weintraub, coord. do PNI1 Francieli Fantinato, ex-Sec. Saúde-AM Marcellus Campêlo, ex-secretário do MS Elcio Franco, os secretários do MS Mayra Pinheiro e Hélio Angotti Neto, e o anestesista da Marinha Luciano Dias Azevedo.
        Vale lembrar de que Mayra é a Capitã Cloroquina; Azevedo, o responsável em propor inclusão da C19 como indicação de tratamento na bula da cloroquina; e Wizard sumiu. Só falta o Conselho Federal de Medicina (CFM) entrar na lista, pela omissão na falsa propaganda da cloroquina, mesmo após sua comprovada ineficácia.
        Acompanhado por Randolfe, o senador petista Humberto Costa acrescentou que a CPI convocará também os responsáveis pelas plataformas Facebook e YouTube para depor, uma vez que conteúdos pseudocientíficos ligados à sindemia de C19 continuam disponíveis ao grande público.

Explode o #19J-ForaBolsonaro

        A condução governamental irresponsável em todos os sentidos e o descontrole da C19 vêm sendo acompanhados por lideranças contra o governo, entre elas políticos, pesquisadores, intelectuais e de movimentos sociais de esquerda. Até que foi noticiado o triste alcance dos 500 mil mortos.
        Se a irresponsabilidade criminosa do governo já era forte motivo, a marca acima foi a gota d'água para a explosão de manifestações populares neste dia 19/6, que ficaram conhecidas como #19J-Fora Bolsonaro, tal como o #29M no mês anterior. 
        Os movimentos já encheram as ruas ainda pela manhã, inclusive em cidades mais bolsonaristas. Toda sorte de cartazes evocando todos os retrocessos criminosos do governo com perda de direitos e benefícios sociais; fotos de familiares vítimas da C19; etc. Foi também um manifesto em homenagem póstuma.
        Como no #29M, a cidade de São Paulo se destacou na lotação da sua via principal, a av. Paulista, tomada por mais de 100 mil pessoas, a maioria vestida de vermelho. O movimento progressista anti-Bolsonaro Gaviões da Fiel Antifascistas também participou, com faíscas de fogos vermelhas. Valeu pela diversidade, com movimentos de vários grupos sociais.
        Em Brasília, ao manifesto se juntaram grupos indígenas do movimento Levante pela Terra, numa contribuição importante para que o #19J-ForaBolsonaro pudesse superar as expectativas, sendo mais volumoso do que o anterior. Este movimento agrega também ambientalistas.
        Idealizado nas redes sociais, o movimento teve confirmação inicial por lideranças de 19 Estados, mas ainda pela manhã, 23 já estavam com ruas cheias em suas cidades. É possível que, na prática, os manifestos tenham ocorrido em todos os Estados. 
        O protesto brasileiro não se resumiu às ruas e avenidas brasileiras. Contou com a solidariedade internacional, conforme já previsto nas redes sociais. A maior parte dos registros é de países europeus, onde hoje vivem mais brazucas. Apesar da deportação em massa, houve registros nos EUA.
        A repetição dos atos contra Bolsonaro no futuro, que é no mínimo muito provável, tende a isolar ainda mais o presidente interna e externamente. Internamente, sua popularidade está mais capenga, e lá fora, se renovam o desprezo a ele e a solidariedade ao povo.

Enquanto isso...

        Nos bastidores, mesmo irritado com o maior volume do #19J, que tem apoio até da direita que a ele se opõe, Bolsonaro mexeu seus pauzinhos. Como o anúncio do encerramento do contrato com o Instituto Butantã. A alegação real pode ser tanto técnica quanto ideológica.
        A alegação técnica do MS seria a eficácia relativamente baixa. Embora cubra o mínimo de 50%, requisito da Anvisa, ela é considerada menos eficaz do que outras já usadas no cotidiano, como a Pfizer e AstraZeneca, ambas com mais de 70% de cobertura geral.
        Há algo de inconsistente na alegação, pois o próprio MS libera, por exemplo, as vacinas contra a gripe, malária e febre amarela, também com 50% de eficácia geral, pouco menos que a Coronavac, com 50,3%.
        Outro motivo da inconsistência da alegação técnica é própria declaração de Bolsonaro ao cancelar o acordo com o Butantã: "já mandei cancelar, o presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade [...] até porque estaria comprando uma vacina que ninguém está interessado".
        Ou seja, valeu a mistura de egolatria com paranoia ideológica próprio do bolsonarismo. A questão técnica é muito mais um detalhe a maquiar e dar a consistência necessária `motivação da não compra.
        Como a CPI vem mostrando, a recusa por vacinação não é de agora. A supracitada declaração é relativa aos primeiros contatos da chinesa Sinovac, antes do acordo com Butantã, aceito muito mais por força da iniciativa do governo Doria (SP). O intento de Bolsonaro agora é suspender tudo.
        Aí já se inicia um silencioso racha com o ministro Queiroga que, sem descartar totalmente o que aprendeu na sua formação, sabe que a suspensão total como quer o chefe seria assinar um atestado de cumplicidade com o genocídio.

Reflexões finais

        Ao completar o saldo de 500 mil enterrados, o Brasil mostra a sua cara da forma mais vergonhosa. É isso que o megaprotesto #19J mostrou, incomodando Bolsonaro profundamente, apesar do Gabinete do Ódio ter tentado, em vão, filmar rabeiras ou início dos manifestos, com poucas pessoas, visando propalar fake news.
        Mas, o tamanho dos manifestos foi mais eficiente do que o do #29M, por exemplo, para calá-las, devido à ajuda da própria mídia da casa grande, que desta vez não criou sua versão dos cenários, foi no fato, e ainda confirmou o caráter pacífico e cuidadoso nos protocolos profiláticos.
        O que contribuiu para mais um fracasso do Gabinete do Ódio, que foi debochar das aglomerações nos manifestos. Como já descrito no artigo anterior, que tratou do #29M, a grande mídia reconheceu a inteligência dos organizadores em distribuir máscaras e álcool extra, e a participação dos camaradas da inesquecível geração 1968.
        O povo não teve outra alternativa a não ser se arriscar na rua, juntando-se em enormes coletivos contra o genocídio e outras medidas descabidas em andamento. Pois as medidas virtuais de mostraram insuficientes, e também bem ocupadas por espaços de extrema-direita. Todavia, as redes sociais ainda são eficientes meios de organização coletiva. 
        Os manifestos de rua vêm provando que são o recurso mais eficiente de confrontar um governo que tenta, de toda forma, atropelar a democracia a partir da própria República. Funcionou para, pelo menos, incomodar Bolsonaro. E o incômodo, se repetido, pode calar médicos cloroquiners e o mito da morte.

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Imagens: Google

Nota da autoria
1. Programa Nacional de Imunização (PNI)

Para saber mais
- https://g1.globo.com/politica/ao-vivo/senado-cpi-da-pandemia.ghtml (18/6 - resumo com vídeo e lista de investigados)
- https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2021/06/manifestacoes-19j-contra-bolsonaro/
- https://www.viomundo.com.br/politica/em-brasilia-indigenas-do-levante-pela-terra-juntam-se-aos-protestos-do-19j-que-superam-todas-as-expectativas-videos.html
- https://www.poder360.com.br/internacional/cidades-da-europa-registram-protestos-contra-bolsonaro-veja-imagens/
- https://revistaforum.com.br/politica/bolsonaro/bolsonaro-quer-encerrar-contrato-com-butantan-e-vetar-coronavac-diz-jornal/
- https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2021/06/19/interna_politica,1278430/eficacia-baixa-ministerio-da-saude-quer-encerrar-uso-da-coronavac-no-pais.shtml
- https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/10/21/bolsonaro-cancela-acordo-por-coronavac-nao-abro-mao-da-minha-autoridade.htm


sexta-feira, 18 de junho de 2021

Análise: CPI, Witzel e a merda no ventilador 

        Já se discutiu aqui no blog que é comum que os brazucas desenvolvam indiferença às CPIs por não terem sentido nelas resultados efetivos esperados, e que esta da C19 seria apenas mais uma a terminar em generosa pizza.
        Mas, ao que tudo vem indicando, a CPI da C19 não pretende oferecer pizza. As baixarias recorrentes protagonizadas por Flávio Bolsonaro e seus colegas governistas, com intuito de afrouxar a corda da forca, apenas revelam a solidez dessa comissão.
        Nessa quarta-feira 16/6 não foi nada diferente. Aliás, mais baixaria ainda houve, mais uma vez puxada pelo filho do presidente da República, desta vez com deputado aliado a tiracolo e seguido pelos colegas senadores governistas. Mas, houve uma diferença: o depoente era Wilson Witzel.

Witzel na CPI

Breve passagem política
        Em 2018, o então ilustre desconhecido Wilson Witzel foi eleito governador do Rio de Janeiro na esteira de Bolsonaro, após posar junto aos então PMs candidatos a deputado Amorim (estadual) e o Silveira (federal, agora pendurado) quebrando a placa simbólica da vereadora PSOL Marielle Franco, assassinada em março de então.
        Político estreante, Witzel se aproveitou da febre popular do mote bolsonarista de segurança, com pose ao lado de Flávio Bolsonaro. Manobra eleitoreira inteligente, que teria se esfacelado durante sua breve e violenta governança estadual. 
        O racha com o clã veio a público pela acusação, por Bolsonaro, de corrupção relativa a hospitais de campanha em 2020, o que teria induzido a um bem-sucedido processo relâmpago que terminou em seu recente impeachment. Mas, Witzel reaparece para revelar outras coisas de tempos anteriores.
        Quando seu nome foi anunciado para depor como ex-governador do RJ quando a C19 já havia se instalado, o STF, através do ministro de Bolsonaro Kassio Nunes Marques, concedeu a ele habeas corpus para não comparecer. Mas, Wtitzel fez questão de ir. Ele tinha uma bomba em mente.

O resumo de um depoimento bombástico
        Foram 5 horas e meia de depoimento explosivo, marcado por muitas trocas de desaforos pelos senadores bolsonaristas. Witzel acusou Bolsonaro de culpar os governadores pelo caos econômico devido às medidas restritivas. A mídia à época divulgou esse tema como causa do racha. Erro feio.
        Segundo Witzel, o racha com o clã veio em 2019, durante investigações da execução de Marielle, quando "foram presos os dois executores [...], e o governo começou a retaliar", impedindo diálogos com ministros: "encontrei o ministro Guedes. Ele virou a cara e falou 'não posso falar com você'". 
        Tal perseguição "coincidiu" com o afastamento do delegado da PF Hélio Khristian Cunha de Almeida, o HK, por propina de mais de R$ 300 mil para obstruir a tarefa, quando Bolsonaro foi citado devido à sua amizade com os executores1
        O ex-ministro Sérgio Moro foi mencionado lhe dando um recado de "parar de falar que que ser presidente, (senão), infelizmente ele não vai te atender em nada", sendo respondido por Witzel de que "está no caminho errado. Se quer ser ministro do Supremo, não tem que fazer isso".
        O depoimento de Witzel sobre o caso Marielle partiu de um questionamento do próprio presidente da Comissão, Omar Aziz. E também revelou que a aliança de Witzel com os Bolsonaro foi meramente eleitoreira. Conseguido o objetivo, as investigações voltaram a rolar até a citada obstrução.
        Sobre a C19, Witzel contou que se dispôs a colaborar em toda a rede hospitalar, e em hospitais de campanha para mais vagas em UTIs, mas que fora impedido nos hospitais federais, porque "são de Flávio Bolsonaro", conforme disse ter ouvido, e completou que a "milícia está por trás da máfia" dos federais, esvaziando os de campanha2.
        E disse correr risco de vida: "Porque sei da máfia da saúde no RJ e quem está por trás dela. E tenho certeza de que tem miliciano por trás disso, eu e minha família corremos risco [...]. Inclusive, já disse que era a minha intenção sair do país para preservar a integridade física [...] da minha família".
        Por diversos momentos, houve baixarias causadas pelos senadores governistas capitaneados por Flávio Bolsonaro, que por sua vez era escorado por dois deputados aliados. Sem responder a perguntas do senador governista Girão, Witzel saiu da CPI, sendo chamado de "covarde" por Flávio.
        Com a sessão então encerrada pela saída, o ex-governador se reuniu com Randolfe, Aziz e Renan para um depoimento em reservado sobre o caso Marielle e mais da saúde: "os fatos são muito graves". E ali terminou de contar o resto, que caiu em segredo de justiça.
        Em decorrência de suas revelações, Witzel sabe que seu risco de vida é maior do que nunca, e por saber que por enquanto não poderá sair do país, requisitou proteção, sendo prontamente atendido por Randolfe, que acionou a sólida Polícia do Senado. 

Reflexões sobre o depoimento

        O depoimento do ex-governador Wilson Witzel não revelou, na prática, novidades. Mas serviu, ao menos, para solidificar a veracidade de uma interferência tão profunda quanto negativa na saúde pelo clã Bolsonaro, e a ligação do mesmo com criminosos milicianos. E por isso o 01 Flávio fez espetáculo na tribuna, depreciando a saída precoce do depoente.
        O revelar do verdadeiro caráter dos Bolsonaro em plenário e a público foi a principal motivação para o interesse de Omar Aziz em questionar Witzel sobre os acontecimentos relacionados à execução de Marielle - sobre os quais o ex-governador contaria em segredo de justiça, em reservado. Nesse caso, por isso Witzel não se intimidou com as ameaças de Flávio.
        Sobre a gestão dos hospitais federais, de fato se observa que desde o início do governo o senador Flávio Bolsonaro indicou gestores para a Superintendência e na direção de oito unidades federais, no Rio. É muito possível que esse vício já existisse quando era deputado estadual.
        Pelo teor do exposto, o desmonte dos hospitais de campanha no RJ mostrou à CPI a imposição de milicianos na saúde federal desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência, e virou objeto para forja de provas de corrupção usadas para o impeachment de Witzel e investigação sobre sua esposa.
        Isso talvez explique o desmonte acelerado na saúde federal, com carência severa de infraestrutura e na saída de servidores temporários sem renovação, a cara de abandono. Como os federais do Andaraí e do Bonsucesso, este último alvo de incêndio a matar alguns pacientes internos, ainda não investigado. 

Documento para tribunais internacionais
        Witzel expôs a público toda a merda jogada no ventilador. Tal merda são os novos elementos que podem se agregar a uma série de outros a integrar um megaprojeto político de Bolsonaro, de natureza destrutiva, a se abater amplamente sobre o povo brasileiro.
        Mais do que mero descaso de governo, a dominação dos hospitais federais desnuda o que a PEC32, a reforma administrativa, vai agravar se aprovada. Além de excluir 80% dos brazucas do direito à saúde pública e outros serviços essenciais, a PEC favorecerá o descontrole do nepotismo miliciano. O citado incêndio no HF Bonsucesso é só um sinal disso.
        Quando foi nomeado ministro da Saúde, Mandetta era anti-SUS, aprendendo a valorizá-lo como público graças à sindemia de C19. Tornado pró-SUS, se preocupou com a interferência do 01 Flávio Bolsonaro na saúde federal no RJ e suas consequências.
        Além dos sucessivos desinvestimentos e desvios de recursos aos serviços públicos essenciais, e a retirada de direitos e benefícios (agora o abono do PIS pode ser abolido), o assassinato de pelo menos alguns opositores (entre índios e servidores) e o descontrole da C19 entram no rol do megaprojeto de Bolsonaro.
        A cúpula da CPI já sabia disso: antes da convocação de Queiroga e anteriores, já estava em mente elaborar recurso com apontamentos de juristas convocados, para despachar a tribunais internacionais. Os dados de Witzel, incluindo os segredados, servirão para compor nova denúncia para o TPI de Haia.
        Relembrando: o Tribunal de Haia é especializado em julgar crimes contra a humanidade, entre eles genocídio, geral ou por limpeza étnica. Já existem denúncias contra genocídio indígena. Agora, será contra o megaprojeto político de genocídio em massa geral contra praticamente toda a nação.
        Se isso acontecer, toda a merda jogada no ventilador reunida como prova documental provará algo de que a nação tem sempre desconfiado: a de que essa CPI não vai oferecer pizza alguma. E, muito menos, pão e circo para bolsominions e alienados.
        
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Imagens: Google (montagem: autoria deste artigo)

Notas da autoria
1. PM reformado Ronnie Lessa e ex-PM Élcio Queiroz, da milícia Escritório do Crime e próximos dos Bolsonaro. Moravam no mesmo condomínio do clã.
2. Foram alvos do pretexto dos Bolsonaro para acusar Witzel e sua esposa de corrupção, forjando provas para impeachment.

Para saber mais
- https://www.viomundo.com.br/denuncias/depois-de-quase-5-horas-e-meia-de-depoimento-explosivo-wilson-witzel-deixa-cpi-mas-sera-reconvocado-veja.html
- https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/noticia/2021/06/ponto-a-ponto-veja-como-foi-o-depoimento-de-wilson-witzel-na-cpi-da-covid-ckq01p8qn008x018m7u6d6tkw.html
- https://br.noticias.yahoo.com/witzel-fala-sobre-caso-marielle-e-bolsonaro-na-cpi-da-covid-fatos-sao-graves-173146698.html?guccounter=1&guce_referrer=aHR0cHM6Ly93d3cuZ29vZ2xlLmNvbS8&guce_referrer_sig=AQAAADd-K5EWuirx9SPKN71pLh4r0uaR5LQiDtxSQz-ykBkRT3kOps5Sn-tLX47xfMMeWIogmetkjtSK7KCjTSGfZQuiBDMFk3qAWzFwKGeYI-uD0OZA0ZwvkijP0HPhd0acBt-tQxWN3oBjWYagXZN2yU5w8S7i2kg4nVHKIB2x-WNE
- https://www.opopular.com.br/noticias/cidades/delegado-que-apura-assassinato-de-marielle-ser%C3%A1-afastado-do-caso-diz-colunista-1.1750646
- https://www.dw.com/pt-br/nome-de-bolsonaro-surge-em-investiga%C3%A7%C3%A3o-da-morte-de-marielle/a-51042497
- https://www.opopular.com.br/noticias/cidades/delegado-que-apura-assassinato-de-marielle-ser%C3%A1-afastado-do-caso-diz-colunista-1.1750646
- https://redetvwebmais.com/site/delegado-da-pf-no-caso-marielle-criou-central-de-mutretas-diz-inquerito/
- https://www.brasildefato.com.br/2020/03/14/marielle-bolsonaro-e-a-milicia-os-fatos-que-escancaram-o-submundo-do-presidente
- https://www.oantagonista.com/brasil/cpi-da-covid-convoca-juristas-para-apontar-crimes-de-bolsonaro-e-fundamentar-denuncia-no-tribunal-de-haia/
- https://www.redebrasilatual.com.br/politica/2021/04/cpi-da-covid-pode-embasar-acoes-contra-bolsonaro-em-tribunais-internacionais/

        

        

CURTAS 98 - ANÁLISES (Brasil- Congresso)

  A GUERRA POVO X CONGRESSO                     A derrota inicial do decreto do IOF do governo federal pelo STF foi silenciosamente comemo...