Análise: polêmica nova, rixa antiga
Enquanto rola nova sessão da CPI-C19 após um período de recesso, o presidente Jair Bolsonaro voltou a metralhadora giratória para atirar impropérios ofensivos ao ministro do STF e atual presidente do TSE Luiz Roberto Barroso, sobre o tema do voto impresso.
Antes dessa saraivada de tiros impublicáveis do presidente, a ideia de retorno do voto impresso pautada pelo mesmo tem rodado com uma polêmica nova, em um país que há 25 anos opera suas eleições com votação 100% eletrônica, que é auditável e é impresso na forma de estatísticas por candidato.
O sistema totalmente eletrônico de voto brasileiro é alvo de elogios em todo o mundo por dar agilidade em resultados com margem ampla de segurança. Periodicamente as urnas são checadas por pessoas do Exército sob supervisão de técnicos especializados, e antes dos pleitos as urnas são zeradas.
Mas, já sabemos disso, e os bolsominions idem, mesmo negando até as últimas consequências, pois como sabemos, não assumem que darão o braço a torcer um dia.
Por outro lado, o voto impresso é um assunto velho, e já rendeu até ameaças. O presente artigo se objetiva a falar sobre os fatos que envolveram políticos bizarros e um juiz eleitoral.
A chapa quente do pleito de 1994
Após impeachment de Collor em 1992, o então vice Itamar Franco assume a presidência, e junto com o então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, o FHC, criou o Plano Real, através do qual FHC seria escolhido presidente da República pelas eleições de 1994.
O pleito-1994 para presidente, governador, deputados e senador foi o último 100% cédula e, idem, no suspense por resultados. No pleito municipal-1996 o teste eletrônico em 57 cidades foi um sucesso, tornando a nova modalidade absoluta e definitiva: o antigo sonho pelo fim das fraudes foi realizado.
O pleito-1994 se marcou por várias fraudes, e o principal palco foi a capital Rio de Janeiro.
Personagens- Encerrada a votação, começou a exaustiva contagem das cédulas. No dia seguinte à apuração de urnas na 25ª zona eleitoral (Santa Cruz, oeste carioca), a mídia divulgou denúncia de grave fraude anotada pelo juiz eleitoral local. Um fato que não podia ser ignorado.
Esse juiz eleitoral, hoje ministro e presidente do STF Luiz Fux, constatou que mais de 90% das urnas locais haviam sido fraudadas. Ele destituiu 60 responsáveis pela checagem e determinou prisão em flagrante de cinco deles. Tornado público, o fato mexeu com a facção Comando Vermelho.
Os bandidos ameaçaram Fux de morte, que se armou e pediu escolta ao Exército. Em paralelo, o então candidato a deputado federal Jair Bolsonaro foi apontado em esquema de fraude. Na matéria Roubo no Varejo (Jornal do Brasil, 1994), ele aparece como um dos quatro suspeitos de falsificação de cédulas em urna na 24ª zona eleitoral.
Apesar de tudo, devido à maioria de votos válidos, o pleito de então foi validado. E recentemente, a imprensa aponta que Bolsonaro não foi beneficiado com a fraude, suscitando incerteza, pois também não há prova de sua inocência. Detalhe: naquela época, Bolsonaro era amplamente favorável ao voto eletrônico.
Bolsonaro x Barroso: a história se repete? Reflexões finais
A paranoia de Bolsonaro pelo voto impresso se explica na alegação, sem prova, de suposta fraude na eleição de 2018, pois "era para eu ter sido eleito no 1º turno". Barroso negou, STF exigiu as provas inexistentes, e vieram as ameaças de "não haver eleição de 2022" e agressões verbais ao ministro.
O STF o jogou no inquérito das fake news, e a verborragia presidencial se acirrou a se perder a razão. Enquanto isso, o seu aliado presidente da Câmara Arthur Lira jogou para votação em plenário a PEC do voto impresso em 10/8, após derrotada em comissão especial.
Bolsonaro recebeu convite da Marinha para ver treino em Formosa, e teve a ideia de um desfile militar1, junto à votação da citada PEC. Apesar das negativas posteriores, soou como intimidação para aprovarem o texto. Mas, nascida para o fracasso, a PEC morreu por insuficiência de votos.
Nessa queda de braço eleitoral, Barroso não só venceu o agressivo Bolsonaro, como também o interesseiro Lira, que agora joga fichas pelo retrógrado e personalista distritão, recém-aprovado por comissão e prestes a ser votado em plenário.
Por ter certo apoio de Bolsonaro, esse modelo eleitoral, tão antidemocrático quanto o próprio voto impresso, pode ser a nova dor de cabeça para o TSE e o STF, a ser motivo para nova queda de braço e insultos.
Spoiler final: Bolsonaro só não tem treta com Fux porque um não teve nada a ver com outro nos esquemas de fraudes de 1994, até possível prova em contrário.
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Imagem: Google
Notas da autoria
1. Será tema do próximo artigo.
Para saber mais
- https://maquinandopensamentos.blogspot.com/2021/07/analise-isso-e-uma-ameaca-p.html
- https://www.oantagonista.com/brasil/em-1994-fux-apontou-fraudes-no-voto-impresso-e-foi-ameacado-de-morte/
- https://eassim.com.br/em-1994-jornal-do-brasil-noticiava-votos-falsificados-em-favor-de-jair-bolsonaro/
- https://www.poder360.com.br/eleicoes/post-engana-ao-dizer-que-bolsonaro-se-beneficiou-de-fraude-eleitoral-em-1994/
- https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/08/10/entenda-o-que-e-o-distritao-e-por-que-especialistas-o-consideram-um-retrocesso.ghtml
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