sábado, 26 de abril de 2025

Ligeirinhas 24 (Caiado e PM-G, Anistia)

 

A PERIGOSA POLÍCIA DE CAIADO

                Ex-presidenciável em 1989, ex-parlamentar federal e atual governador do Estado de Goiás pelo partido União Brasil, Ronaldo Caiado é, com certeza, o político de maior influência de seu Estado. Localmente, ele também é o nome que lidera a poderosa classe latifundiária da soja e do milho.
                Não precisa ser especialista para observar que as condutas assumidas por Caiado refletem abertamente o seu forte sentimento de classe. Elas se estendem ao fato de fazer o Palácio governamental uma extensão de sua residência particular, e de implicar censura às mídias sobre surtos de adoecimentos graves por agrotóxicos.
                E ele vai mais fundo na ousadia. Em reunião de governadores com o presidente Lula sobre a unificação das polícias estaduais para combater as organizações criminosas e amenizar a guerra urbana, Caiado disse: “a PM de meu Estado é um exemplo para todo o país, não há mais criminalidade”.
                Se Caiado, velho opositor político de Lula, quis atingir o governo federal, a fala ressoou entre os demais, que se entreolharam calados. Embora a patuleia do Sudeste já esteja envolta em problemas locais, Brasília e mídias de massa sabem que Goiás não é o paraíso de segurança que ele diz ser.
                A reunião do governo serviu para comunicar a regulamentação da lei de 2022 que cria o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), e investir mais em inteligência para maior eficácia no combate ao crime, e mesmo na guerra urbana. Caiado quis dizer que “a PM-GO não precisa disso”.
                Só que, divulgados pelas mídias, os levantamentos anuais do Anuário da Violência desmentem Caiado. Goiás é o campeão de trabalho escravo no campo, e cenas de violência são obtidas pela imprensa: os PMs não usam câmeras contrariando a lei federal, e rondas são feitas em viaturas sem placa.
                Eu quero a testemunha, na sexta-feira à tarde. Eu tô de viatura, caçando esse covarde. Se eu pego eu atiro, sem dó e compaixão. Minha emoção é zero, um verdadeiro inferno”. Entoada por policiais, a canção de guerra revela o verdadeiro perfil da PM-GO e a tensão vivida pelas periferias urbanas.
                Um dos mais letais do Brasil, o perfil da PM-GO reflete a verdadeira face da política de segurança pública alardeada por Caiado nas campanhas para o governo estadual. A morte gratuita, fora dos limites legais, na verdade é a sua política. Como disse Jaqueline Muniz¹, “por trás da polícia que atira está o governador”.

Nota: ¹socióloga especialista em segurança pública.
Para saber mais
- https://www.youtube.com/watch?v=bVn4wKd9EzQ. (Folha Democrata, 13/4/25 – futuro da segurança pública no Brasil)
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Idade crítica
PMs, MORTE JUVENIL, PREVIDÊNCIA

                A previdência social é, com certeza, a maior fonte de benefícios sociais aqui e lá fora. Nossa história se inspirou no modelo europeu desenvolvido há mais de 100 anos e tem caráter contributivo solidário, em variados níveis de cota. Servidores públicos contribuem até mesmo durante a aposentadoria, para o RPPS¹.
                Mas não vamos nos centrar sobre servidores aqui. O objetivo deste texto é procurar explicitar, em linguagem simples, a relação entre a letalidade da PM sobre crianças e jovens periféricos e a situação previdenciária atual. E também, até que ponto a reforma de 2019 pode ajudar ou atrapalhar.
                A reforma de 2019 aumenta o tempo mínimo de contribuição, com direito a ganho integral após 40 anos, aumentando a engorda do sistema que beneficia, também, estratos provadamente incapazes de trabalhar ou famílias mais pobres. Outros contribuintes podem ser jovens trabalhadores.
                No Brasil, a maioria dos jovens periféricos inicia a carreira trabalhadora formal como jovem aprendiz (14-18 anos). Essa é uma fase crítica, não só para testar sua persistência e vontade de aprender. Essa é, historicamente, a fase mais alvejada pela letalidade policial, no pretexto da guerra às drogas.
                No período entre 2023-24, os Estados campeões em letalidade policial nas periferias foram São Paulo, Goiás, Rio de Janeiro e Bahia (ordem aleatória aqui). Segundo a Agência Brasil, com dados do Anuário da Violência, o recorde pertence ao Estado de SP, com aumento de 121%.
                Além de empobrecer subitamente as famílias periféricas, a letalidade policial sobre jovens periféricos invoca num vácuo geracional que diferencia em até 22 anos a expectativa de vida comparada entre periferia e bairro rico. E ocasiona um déficit de contribuintes em atividade de impostos e na previdência social.
                Para reduzir o impacto desse déficit, os governos futuros criarão medidas impopulares. Num país refém do mercado financeiro, sobrará para os futuros aposentados CLT passarem a contribuir no INSS, como os citados servidores. O que nos revela o quão inócua se torna a reforma de 2019, que mira a galera jovem, com muito tempo pela frente.
        Nesta, o impacto direto é menos população com potencial longo de contribuição, o que poderá implicar em governos futuros criar medidas para contribuição contínua de aposentados CLT (e o sequente empobrecimento). O que revela, ao menos aí, a nulidade da reforma trabalhista de 2019, que mira o povo ativo mais jovem.

Nota: ¹RPPS = regime próprio da previdência social, de servidores públicos e classe política.
Para saber mais


Reflexão
A ANISTIA DA VERGONHA

                A nova era Lula – Lula 3 – é diferente das suas passagens anteriores que revelaram o nosso ápice democrático. Ele depara com um Brasil mais hostil e polarizado, a mentalidade mais bolsonarizada, que influencia em baixas nas pesquisas de análise de seu governo.
                A condenação de centenas da horda fanática à prisão pelo STF pelos crimes da intentona de 8/1 fez o senador Gal. Hamilton Mourão elaborar o PL da Anistia com o objetivo de livrar financiadores, incentivadores e partícipes da intentona, desde 30/10/2022 a 8/1/2023.
                O texto encontrou apoio irrestrito dos deputados, que correram para coletar assinaturas suficientes para votar direto em plenário. Mas o processo não encontrou apoio popular. Desde então, pesquisas repetidas de opinião pública revelaram a maioria favorável à condenação.
                Na prática, o perdão judicial proposto a todos os envolvidos na intentona tem como objetivo final livrar o ex-presidente Bolsonaro e o generalato da prisão por tentativa de golpe. Muito difícil: no julgamento da denúncia da PGR, o STF declarou todos eles réus do processo.
                Os milicos denunciados e já presos, como o reformado Braga Netto, seguiu Mauro Cid ao afirmar Bolsonaro como o mandante número 1 do plano de intentona golpista. Perto de chegar a sua vez, Bolsonaro, que passeava no Nordeste, acabou sendo hospitalizado.
                Convenhamos, já não surpreende mais. A enésima internação para operar o intestino da já controversa facada em plena convocação para depor é, sabidamente, um plano eficiente de fugir da responsabilidade de depor sobre no julgamento do processo da intentona de 8/1.
                A anistia de 1979 só foi possível naquela época mediante acordo espúrio: que os militares com as mãos retintas de sangue também fossem perdoados e o regime naturalizado – o que alimentou o saudosismo de muitos e o instinto golpista de milicos alinhados a Bolsonaro.
                A anistia de 1979 também deve ser lembrada como uma chantagem contra a nação, para manter os privilégios de uma casta de farda – tornada cultura atrativa aos jovens desejosos por carreira militar estável. Politicamente foi péssima, ao chancelar o enfraquecimento da democracia.
                O PL da Anistia agora foi estancado pelo presidente da Câmara Hugo Motta, que recebeu duro recado de Lula 3 que atingiu aliados que apoiaram a ideia. Em resposta, muitos retiraram suas assinaturas, sobrando apenas os bolsonaristas liderados por Sóstenes Cavalcanti e Silas Malafaia.
                Se aquela anistia já foi ruim, agora querem repeti-la para que novas intentonas nazifascistas fossem tentadas até o seu sucesso final. Assim, se fosse aprovada, seria a anistia da vergonha.
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