sábado, 28 de novembro de 2020

Os racismos nossos de cada dia


     Nos EUA, notícias de violência policial contra os cidadãos negros pipocam, e manifestações populares com a inscrição Black Lives Matters (vidas negras importam) explodem por todo o país, unindo cidadãos de todas as cores, e ganham adesão fora dos EUA.
     No Brasil, manifestos esporádicos ocorriam quando violências contra certos cidadãos negros ocorrem e viram notícia. Mas, não há sequer notas resumidas sobre as violações rotineiras ou mais sutis contra não brancos.
     No Mato Grosso do Sul, uma mãe avisou ao PM que precisava comprar comida para para o filho autista de 3 anos. O PM a agrediu do nada e a mulher reagia em autodefesa. O brucutu foi contido pela colega.
     Detalhe: apesar das críticas ao PM nas redes, não foi vista nota de protesto coletivo favorável à mulher, que está grávida. Será que é por ser branca? Bem...
     O racismo brasileiro é notório e permanente a partir da violação preferencial do poder público sobre cidadãos pobres e não brancos, não importa os antecedentes e inocência destes. O objetivo deste artigo se debruça em mostrar esses detalhes.

-> Racismo nos EUA e Brasil: diferenças

     Que nos países do Ocidente o racismo é uma característica notória, não se pode negar. Do Canadá à Terra de Fogo, da Escandinávia às ilhas mediterrâneas, e mesmo na África muito marcada pela colonização europeia, em todos há racismo.
     Não poderia ser diferente no Brasil e EUA, que tiveram colonização com sistema escravista sobre africanos e seus descendentes nascidos longe da terra ancestral. Mas, há distinções em detalhes históricos.
     O escravismo nos EUA se iniciou em 1526 através dos espanhóis, e acompanhou a progressão da expansão territorial. Foi abolida em 1865 pela 13ª Emenda Constitucional1, todavia durou como parceria clandestina de trabalho forçado com presos afro-americanos em fazendas do sudeste do país por quase 100 anos.
     No século XIX surgiram nos EUA teorias de hierarquia racial2 que poriam africanos negros, nativos australianos e melanésios como inferiores, explicando os vergonhosos "zoológicos humanos" na Europa. Tal contexto construiu o racismo como conhecemos.
     Iniciado após 1549, o escravismo brasileiro também absorveria teorias racistas, mas com acréscimo do elitismo: quanto mais escravo, mais rico. Um sistema relacional que reforçou ainda mais a hiperexploração escravista, abolida oficialmente em 1888 pela Lei Áurea. Mas ficaram fortes reflexos sociais.
     A maioria dos ex-escravos ficou ao léu. Em terrenos baldios nas cidades fundaram as primeiras vilas e favelas. Os que ficaram nas fazendas viveram com os imigrantes europeus e asiáticos. O atual sistema de dois pesos e duas medidas sujeita os não brancos a discriminação em várias situações e ambientes sociais, médias salariais menores e mais violência.
     Para se ter uma ideia, 63 mil jovens brasileiros são mortos por ano, mais do que nos países em guerra civil, e os negros têm 70% a mais de chances de morrer pelas forças repressivas3. Outro grupo muito visado é o indígena, em várias situações de violência: em 2019 foram mais de 230 assassinados.
     O racismo nos EUA ainda reflete as teorias racistas no sistema étnico: o filho de um anglo-saxão com latina, por exemplo, será dado como latino, não importa a cor de pele. E latina é uma etnia tão desprezada quanto a afro por lá. No Brasil, é simplesmente mestiço.
     O valor social do mestiço brasileiro está na cor de pele. Quanto mais claro, melhores impressões nas relações sociais, pela ideologia do branqueamento de origem colonial. Daí a bem vista mestiçagem com um branco. O mestiço de pele mais escura é mal visto ou "destinado" a posições sociais inferiores.
     Aqui e lá, a imensa quantidade de negros cristãos se reflete numa forma simbólica de branqueamento. O que explica esse propósito é a demonização, por esses negros, das crenças de seus antepassados. 
     Vale ressaltar que, genericamente, os racismos no Brasil e EUA não são tão diferentes assim. O que os diferenciam são pormenores sutis já apontados.

-> Tipos de racismo: reflexões

     O racismo não é uniforme. Ataca qualquer um e em várias formas e circunstâncias ele se manifesta. Há perguntas sobre racismo estrutural e reverso, por exemplo. Daí haver uma tipologia para classificar4 os racismos, a seguir.
     Primário- praticado mais na força emocional, sem uma justificativa que o defina.
     Ecológico ou ambiental- praticado contra grupos que defendem a terra natural de seus ancestrais. No exemplo brasileiro, ocorre contra indígenas e quilombolas.
     Religioso- a demonização das crenças de viés afro ou indígena resulta deste tipo de racismo. Devido a confusões se evita mencioná-lo; todavia, expô-lo didaticamente é um mal necessário.
     Individual- mais específico, se baseia em apontamento de traços, aparência ou vestuário da vítima. Em ambiente de trabalho é uma forma específica de assédio moral.
     Cultural- praticado por um grupo cultural que se julga superior ao vitimado. Depreciar a cultura dos indígenas, chamá-los de indolentes, é uma forma de racismo cultural, assim como com a cultura afro.
     De origem- deprecia a pessoa por sua origem: o urbano médio contra o colega do interior.
     Institucional- praticado por empresas e instituições e estudado estatisticamente.
     Estrutural- é o mais perigoso, por ser muito amplo e mais sutil, reflexo sócio histórico em costumes e falas banalizadas com o tempo. Se imiscui em situações que determinam alguns dos tipos supracitados.
     A polêmica do estrutural reside em falas como 'denegrir' (enegrecer), 'coisa está preta', 'criado-mudo' (móvel), associação a funções servis ou banditismo, etc. Mesmo que as gerações atuais percam a maldade dos antepassados, movimentos negros têm tocado no tema e são respondido com acusação de patrulha ideológica. Mas, e a manutenção das dominações, não é patrulha ideológica? Para refletir.
     As falas do presidente Bolsonaro, em entrevista no programa de Preta Gil há alguns anos, de que os filhos "não se casariam com negra porque foram muito bem educados" revela um caso notório de racismo institucional (associação de raça com falta de educação e cultura) e prática de injúria racial. 
     A relação do atual presidente com o deputado Hélio Negão é meramente utilitarista: o homem atua como seu guarda-costas ou algo como dama de companhia. Na melhor das hipóteses, pela identidade de militar: Hélio é militar da reserva.
     Um negro é taxado de racista reverso quando 'discrimina' um branco. Devido à abolição mais ou menos recente, os reflexos sociais já expostos, a falta de conscientização educativa e a seletividade institucional, classificar tal reação à opressão como racista se torna um erro grosseiro.
     Mas também é errado deixar tocar essa reação. É preciso trabalhar a consciência coletiva, na infância, de que somos todos um, na origem africana de toda a humanidade. É desafiador e de efeito retardado, mas precioso.
     Todos os racismos, em suas formas e circunstâncias, são intolerâncias, portanto, são violências, e são crimes por lei. E as reações são vinganças, pratos frios passíveis de se voltar ao seu emissor. As notícias são mais do que suficientes para mostrar que os racismos nossos de cada dia são desnecessários e ruins. Até para quem os pratica.

----
Notas da autoria: (números aparecem em negrito ao lado de palavra no texto)
1. Emenda constitucional dos EUA que criminalizou a escravidão, mas prevê servidão involuntária como pena criminal alternativa.
2Distorções sobre a teoria da evolução biológica de Charles Darwin. Estudos em genética de populações derrubam de vez os fundamentos das teorias racistas.
3. Tal estatística acima é só um exemplo para ilustrar o problema.
4. Há acréscimos, para definir situações específicas.

Fonte das imagens: Google. (1ª: cidadão negro reprimido por policiais na Bahia; 2ª: bandeira dos EUA e Brasil fundidas)

Para saber mais:
- https://mundoeducacao.uol.com.br/sociologia/racismo-no-brasil.htm
- https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/07/20/implantacao-efetiva-de-estatuto-da-igualdade-racial-ainda-e-desafio-no-brasil
- https://www.youtube.com/watch?v=WMD6PFoUW2k (Paulo Ghiraldelli)
- https://www.youtube.com/watch?v=OEsl65eMxRs (Portal do José)
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Escravid%C3%A3o_nos_Estados_Unidos
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Racismo_no_Brasil
- http://publicadireito.com.br/artigos/?cod=1723fad1c93e5c6c
- http://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/o-racismo-em-tres-seculos-de-escravidao
https://www.politize.com.br/racismo-como-e-estruturado/#:~:text=Racismo%20ecol%C3%B3gico%20(ou%20ambiental)%3A,por%20n%C3%BAmeros%2C%20dados%20e%20estat%C3%ADsticas.
- https://www.cut.org.br/noticias/violencia-policial-contra-jovens-negros-escancara-o-racismo-estrutural-no-brasil-f507
- https://www.brasildefato.com.br/2020/09/30/casos-de-violencia-contra-indigenas-aumentam-150-no-primeiro-ano-de-bolsonaro#:~:text=Em%202019%20foram%20registrados%20113,Viol%C3%AAncia%20Contra%20os%20Povos%20Ind%C3%ADgenas%E2%80%9D&text=Apesar%20de%20ser%20um%20pouco,2019%2C%20contra%20110%20em%202018.
     

 

domingo, 22 de novembro de 2020

C19 e o engano dos números


     Após curto tempo de obediência à OMS, os brasileiros relaxaram por completo, atiçados por Bolsonaro, no momento mais crítico da pandemia. Aglomerados, eles assistem à notícia: a segunda onda de C19 chegou, e para valer.  
     Quase histéricos, alguns políticos bolsonaristas negam, mas não adianta. A C19 bate mais forte nas portas, se iniciando nos bairros mais nobres das cidades: a mídia já denuncia a falta de vagas de UTI em hospitais privados. 
     Mas a galera popular já paga a conta: hospitais públicos lotados já anunciam o colapso. Agora o vírus mostra uma ferocidade antes ignorada, e sua velocidade de expansão é bem maior do que a capacidade de demanda dos hospitais.
     Mas, o que realmente aconteceu para, em tão pouco tempo, ocorrer uma segunda onda de C19 no mundo? Ou não é uma segunda onda? Será que as estatísticas foram enganosas? Ou é outra coisa?

-> C19: resumo de uma história midiática

     Através da mídia, o mundo soube de uma nova virose humana que matou um homem em Wuhan, China, após contato com animais silvestres em um mercado. Houve novas mortes, mas ainda na mesma cidade.
     Houve alerta geral quando houve mais mortes na China e a OMS temeu contágio transnacional devido às viagens. Novas mortes além da China provaram que o vírus tem transmissão muito fácil, ampla e veloz.
     Como as mídias se atentaram ao vírus como descoberta chinesa, o temor popular levou a uma nova dimensão da sinofobia1, originando teorias conspiratórias2 ainda virais na rede graças aos milhares de crédulos.
     Com os adoecimentos e mortes pelo "vírus chinês" em outros países em velocidade recorde, a OMS declarou pandemia em fevereiro. E vieram os nomes: SARS-CoV-2 para o patógeno, e Covid19 para a doença3. Seria melhor se fosse o vírus Covid-2 e a patologia SARS-19, mas, enfim...
     Para simplificar, a partir deste artigo o vírus será "Cov2" e a sua doença, "C19".

-> A história do C19 fora das mídias

     É fato que a associação entre síndrome respiratória aguda grave (SARS) e o Cov2 foi descrita na China. É mérito, e não o contrário. Já a grande mídia não se dignou em falar sobre a história do vírus para o conhecimento público.
     Ou seja, a mídia fez valer como verdade apenas o resumo de uma "primeira" ocorrência infecciosa pelo vírus em humanos na China. 
     A história da descoberta do Coronavírus é bem anterior à China. Remonta dos anos 1960, e tem uma mulher como protagonista. Pouco conhecida, mas de enorme valor para a história da virologia - e da infectologia.
     Escocesa de família pobre, June Almeida (1930-2007) desde nova se destacou na microscopia e técnicas laboratoriais. Foi contratada aos 16 anos por laboratório especializado em alterações celulares patológicas. Mais tarde foi trabalhar num hospital em Londres, e depois foi ao Canadá, onde aprendeu a lidar com microscopia eletrônica (ME).
     Na ME ela mostrou a que veio. Retornou ao hospital de Londres, onde desenvolveu um método com anticorpos para encontrar vírus, popular até hoje. Em 1964, analisando material de um menino gripado, identificou em fotos do ME não o Influenza, mas um esférico coberto de protuberâncias, e o batizou de Coronavírus. Em seu trabalho, apontou-o como agente infeccioso em humanos.
     Sua descoberta foi rejeitada por uma revista científica, devido à qualidade baixa das fotografias do ME4 na época, talvez por confusão com o Influenza. Daí, June mergulhou em mergulhar na fotografia e foi reconhecida, posteriormente, pelas fotos de alta qualidade obtidas do vírus HIV e outros. 
     Em 2007, aos 77 anos, falece June Almeida, reconhecida virologista pelo brilhantismo autodidata que compensou a falta de diploma superior. Mas permanece vivo o legado da descoberta do Corona e de sua infecção em humanos. De um vírus para, hoje, uma uma família de mais de 30 tipos. E tudo graças a essa grande pesquisadora. 

-> Reflexão: Brasil - incoerências e omissão do Ministério da Saúde

     As estatísticas de toda doença são divulgadas diretamente pelos ministérios da saúde dos países ou pela imprensa, e acompanhados pela OMS. Com pandemias como o HIV e C19 não é diferente.
     Por trás da fria neutralidade, os números dizem muita coisa que nos cabe decifrar. Assim como se sabe que doenças crônicas se ligam ao estilo de vida e/ou genética, as infecções também nos informam pelos números como cada povo e governo lida com os patógenos.
     Muitos criticam a atenção atual ao Cov2. O motivo é ele ser uma "novidade" a expandir-se em escala e velocidade inauditas, e seu potencial letal ou de sequelas em recuperados. Controla-se o HIV pandêmico hoje graças à atenção dada a ele nos anos 1980. Agora é a vez da pandemia de C19.
     Os dados oficiais somados globalmente estimam em mais de 56 milhões de infectados e mais de 1,6 milhão de mortes, em torno de 20% dessa soma nas Américas. O Brasil e os EUA são os epicentros da pandemia, juntando mais de 400 mil mortes e mais de 20 milhões de infectados.
     No Brasil, a desconfiança de profissionais de saúde, gestores e população com os números é grande. Têm razão. Em abril, apenas 8% dos casos foram notificados, que certamente não melhorou com o MS5 militarizado, falhas nos sistemas do órgão, e o apagão no Amapá há mais de duas semanas.
     Após um pico de mais de 1450 mortos/dia em época de alta até setembro, veio uma forte baixa a partir de outubro, chegando a 180 mortes no país em 24h. Todas as atividades econômicas reabriram e a popular indisciplina sanitária, que nunca cessou realmente, atinge seu ápice.
     É incoerente a baixa estatística com tudo aberto e ampla displicência popular. A desconfiança com a subestimação desde a alta no meio do ano sinaliza suspeita de restrição ou omissão de contagem, sem considerar doentes tratados em casa e sem atendimento quando agravados, e mortos sem diagnóstico ou em casa.
     Idade avançada e doenças crônicas são maiores riscos de C19 grave, mas entre os mortos brasileiros há uma importante parcela na faixa etária mais produtiva (25-50 anos). A displicência sozinha não explica isso: a maioria foi de classe trabalhadora ativa, indicando ter encarado um cotidiano de muitos contatos.
     A afirmação explica também porque são enganosas ou mentirosas as motivações de Bolsonaro de que trabalhadores jovens não pegam C19 ou não adoecem gravemente se saírem às ruas, e a imunidade de rebanho, já desmascarada, mas ainda sustentada pelos bolsonaristas.
     Agora é a vez da alta, já sentida no aumento de atendimentos cujos testes apontam aumento de casos positivos. Na Europa, após período de reabertura de atividades econômicas, a "segunda onda" surge mais agressiva, e no Brasil idem. Mas, o MS e as secretarias regionais se silenciam diante da visão do caos.
     
-> Reflexões finais

     Com os dados acima, é mais fácil refletir e compreender sobre a história do Coronavírus e porque os bolsonaristas caem agora no descrédito eleitoral e os conspiradores passam vergonha na internet. 
     A descoberta do primeiro Corona por June Almeida em material humano abriu portas para mostrar, desde então, a necessidade de divulgar as descobertas relativas a essa família virótica pelos governos e mídias, para conhecimento público. 
     O não reconhecer do Corona de June à época impediu novos estudos que apontassem o seu potencial epidemiológico, infeccioso e letal. Não se sabe se o Cov2 pandêmico atual deriva diretamente ou de uma mutação anterior daquela cepa ignorada.
     Embora não saibamos quantas espécies de Coronavírus sejam infectantes em humanos, um estudo em Manaus descobriu 4 tipos só no Brasil. Há outros Covs descobertos na Dinamarca, Reino Unido, um tipo no País de Gales, e outro na Colômbia. Todos humanos. Legados da pandemia.
     Concentrados em campanhas de autopromoção, Bolsonaro e Trump expuseram o seu desprezo aos cuidados, próprios e dos populares, à promoção da saúde contra a pandemia. No caso de Trump, isso explica porque ele tanto nega a sua derrota eleitoral.
    Bolsonaro é o maior culpado pela tragédia da C19 no país ao liderar a turba de pastores imprudentes e seu séquito de milicos e bolsominions. Evitável no início, a tragédia tomou a proporção atual graças à insensibilidade dele e do restante, metendo o Brasil numa vulnerabilidade jamais vista antes. Agora ele amarga a derrota eleitoral nos municípios.
     Reitera-se, aqui, que a tragédia atual se revela como um dos instrumentos da sua política de genocídio. O negacionismo reforça a eficiência do Cov2 como instrumento de morte, que ainda contribui com outros, como a dissolução de direitos sociais e desvios volumosos de recursos para "salvar os bancos do pior".
     É certo que essa segunda onda da C19 seja, na verdade, a retomada da primeira onda. Especialmente aqui, dado o péssimo comportamento geral já citado, em nome da economia. O Cov2 deixa de ser simples ente natural para ser meio de sustentação do capital via extermínio das classes populares e minorias.
     Mas, a questão econômica é outra história. A mais importante para os brasileiros agora é saber como o MS vai se comportar: até quando seu silêncio durará perante o caos?
     
----
Notas da autoria:
1. Aversão à China e seu povo. Com a pandemia, a sinofobia foi redimensionada numa "intenção" do governo chinês de disseminar o flagelo, segundo duas versões de teorias da conspiração explicadas a seguir.
2. ¹China "fabricou e liberou o vírus para que o mundo se curve ao comunismo"; ²Cientista dos EUA aponta o vírus como fruto de acidente laboratorial em Wuhan. Ambas comprovadamente falsas.
3. O nome técnico SARS-CoV-2 do vírus especifica patologia e espécie; e Covid19 à doença para fundir o patógeno e o ano de descrição fisiopatológica. (SARS = sigla inglesa para síndrome respiratória aguda grave).
4. Há dois tipos de ME: de transmissão ou MET (imagens atravessadas por feixes de elétrons, igual raio X), e de varredura ou MEV (de superfície do objeto), que pode ser convencional ou variantes (de transmissão, confocal). (será feito artigo sobre essa curiosidade com imagens de exemplo).
5. Ministério da Saúde, atualmente sob direção do general Eduardo Pazuello, sem qualificação em saúde.

Para saber mais:
- https://www.hc.ufu.br/noticia/descoberta-primeiro-coronavirus-humano-foi-gracas-mulher
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Microsc%C3%B3pio_eletr%C3%B4nico_de_transmiss%C3%A3o_convencional
- https://www.paho.org/pt/covid19
- https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/06/07/omisso-de-dados-de-covid-19-aumenta-a-desconfiana-internacional-sobre-bolsonaro.ghtml
- https://www.bbc.com/portuguese/brasil-54478219
- https://www.rededorsaoluiz.com.br/instituto/idor/novidades/apenas-8-dos-casos-de-covid-19-sao-notificados-no-brasil
- https://www.poder360.com.br/coronavirus/em-meio-a-apagao-amapa-deixa-de-contar-novos-casos-de-covid-19/
- https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2020/11/13/ministerio-da-saude-diz-que-ha-indicios-de-que-a-pasta-tenha-sido-alvo-de-ataques-ciberneticos.ghtml
- https://www.brasildefato.com.br/2020/11/21/sem-energia-amapa-registra-aumento-de-250-novos-casos-de-covid-19
- https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2020/05/22/verificamos-estudo-60-mil-pessoas-espanha-ineficacia-quarentenas/
- https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2020/11/14/estudo-no-amazonas-descobre-4-linhagens-ineditas-do-coronavirus-no-pais.htm




     
     

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Eleições municipais 2020: perdas e ganhos


     As eleições municipais neste 15/11 nos deram muito suspense, pois foram afetadas por um ataque cibernético nos servidores do TSE, atribuídas mais tarde a milícias digitais.
     Seus indícios ocorreram no país todo, mas até se saber quem foi, a lentidão deu nervoso geral. Só após as 22h que a velocidade da contagem ficou normal, revelando os primeiros resultados e dando aval para análises preliminares.
     A maioria das cidades vai ter segundo turno para definir o novo prefeito. Mas o resultado preliminar já nos oportuniza analisar a conduta do eleitor, o tipo de voto e o cenário político geral. E quem ganha ou perde com isso. 

-> Tipo de voto

     Para dar argumento ao título deste artigo, há variantes que revelam a realidade das nossas relações com a política. Uma variante importante para se entender a nossa realidade é o tipo de voto, que pode ser: útil, exclusão, estratégico, ideológico, e de cabresto. 
     ÚTIL- é o mais comum no primeiro turno dos pleitos regionais e federal. O motivo é a grande quantidade de candidatos. A 1ª eleição presidencial direta no pós-ditadura (1989), por exemplo, largou com 22 candidatos.
     A utilidade maior deste voto é a seletiva, através da análise do cidadão sobre a viabilidade eleitoral de cada candidato. O eleitor compreende que o candidato em 3º lugar entra como uma opção nas próximas eleições.
     EXCLUSÃO- típico no 2º turno, tem caráter decisivo a partir de um refino analítico do eleitor, que escolhe quem deve ser eleito. Neste tipo ocorre o tradicional "o menos pior", ou "rouba, mas faz".
     Mas não é exclusivo do 2º turno. Exemplo notório é o de Belo Horizonte, com a reeleição de Kalil logo no 1º turno, e em cidades nas quais só concorrem dois candidatos. Sorte dos belo-horizontinos em plena segunda onda de Covid...
     ESTRATÉGICO- ocorre quando o eleitor analisa o contexto geral e os candidatos em seus currículos e capacidade técnica. É o mais racional e complexo. O Opus Pesquisa dá um exemplo:
"A corrida presidencial em dois turnos possui três candidatos, e o eleitor demonstra preferência pelo que está na liderança. Entretanto, ele avalia que o seu candidato possui mais chances de vencer o segundo turno caso enfrente o terceiro colocado nas pesquisas eleitorais. Após avaliar o cenário, o eleitor decide então votar no terceiro colocado, vislumbrando uma vitória mais fácil no segundo turno".
     A citação revela como o eleitor deve contextualizar a situação de cada candidato para se decidir.
     IDEOLÓGICO- este tipo ocorre em duas formas: na identificação com a vertente político-partidária, ou na confiabilidade/competência técnica para resolução e administração de problemas.
     Ou seja: se o candidato é de esquerda, direita ou centro, se liberal ou conservador, se democrático ou não; e a capacidade técnica aliada à objetividade e presença atitudinal na minimização de problemas. 
     DE CABRESTO (curral)- voto compulsório por indicação de líderes in loco1. Ocorre desde a República Velha, e hoje tem outro nome: curral eleitoral. É notoriamente antidemocrático e ilegal, mas o pior é ser forte determinante na manutenção de uma política tradicional que nada agrega de positivo à nação.

-> Perdas e ganhos 

     Os resultados preliminares das eleições municipais de 2020 geraram um alvoroço no meio midiático, que mais pareceu a continuidade da reação da mídia mundial à eleição de Joe Biden nos EUA. Nossas eleições municipais mais pareceram a continuidade da estadunidense. Faz sentido o alvoroço.
     Em várias capitais e cidades de médio porte observou-se domínio de nomes, já reeleitos ou líderes no 2º turno, nada bolsonaristas. Em Belo Horizonte, o centrista Alexandre Kalil foi reeleito com mais de 60%, revelando a forte influência do voto ideológico por avaliação de competência.
     São Paulo é outro caso interessante: estão no 2º turno Bruno Covas2 e Guilherme Boulos, do PSOL, uma surpresa nunca apostada, que ultrapassou o bolsonarista Celso Russomanno. Boulos tem 35% das intenções de votos e Covas 47%, conforme pesquisa mais recente.
     No Rio de Janeiro, Eduardo Paes (DEM) lidera com folga no 2º turno. O bolsonarista Marcelo Crivella tem grande rejeição popular devido à administração desastrosa e corrupta, e concorre via liminar, que pode (ou não) ser cassada após os resultados finais do pleito.
     A eleição de Crivella em 2016 teve peso da geral evangélica por ser bispo da IURD (voto de curral), e do medo de outros eleitores sobre Marcelo Freixo, alvo das fake news de aliança com o tráfico. Mas agora pode perder mediante voto por avaliação de competência.
     Mas a escolha de Paes também pode indicar variantes ocultas, como a antipatia ao PT de Benedita ou a ausência de Freixo, de crescente relevância na Câmara federal. Este último principalmente, no fático crescimento de psolistas na vereança, e tendo Tarcísio Motta como vereador mais votado.
     Cidade de médio porte, Juiz de Fora (MG) votou ideologicamente em Bolsonaro em 2018. Todavia, a bolsonarista Delegada Sheila perdeu. Estão no 2ºturno Margarida Salomão (PT) e Wilson Rezato (PSB). A petista concorre pela 4ª vez seguida e lidera, podendo ser eleita por capacidade.
     Entre as capitais de N e NE, algumas se inclinaram para a direita tradicional bonapartista (Salvador, Natal, João Pessoa, São Luís, Manaus) ou centro-esquerda (Recife, Fortaleza, Aracaju, Belém). Em Campo Grande, Cuiabá e Goiânia domina a centro-direita, mas não o bolsonarismo, até o momento restrito a Vitória.
     Apesar da cultura bonapartista, as capitais do Sul não escolheram o bolsonarismo. Em Florianópolis,  o tucano Gean foi reeleito. Em Curitiba, Grecca foi eleito em boa parcela pelos que ele odeia: populares. Em Porto Alegre Sebastião Melo (MDB) e a comunista Manuela D´Ávila estão acirrados.
     Os exemplos acima mostram destaque do bonapartismo3, mas a esquerda está mais visível. O PT teve prefeitos eleitos em cidades do interior, e muitos vereadores. O PSOL surpreende em duas capitais (em Belém lidera) e na vereança da maioria delas. 
     Apesar do maior destaque na vereança, o bolsonarismo perdeu lugar entre prefeitáveis. Mais para a esquerda do que para a própria direita. É uma guinada muito forte, ainda que, vale salientar, a direita bonapartista não seja lá a solução dos problemas piorados e outros adicionados. Esse é o recado maior, mas há outros.
     Como a percepção de que o bolsonarismo foi o extremo de aposta errada, sem proposta positiva e, daí, ser representado por administrações catastróficas e muito corruptas. E que nenhum extremismo dura muito tempo em nações historicamente diversas. 
     E, em termos da relação entre religião e política, vale ressaltar que o segmento evangélico é, na real, heterogêneo, com uma crescente minoria progressista, como a que segue o pastor psolista Henrique Vieira, do RJ, que encarnou o polêmico Cristo LGBTQ em histórico desfile da Mangueira em 2019.

-> Conclusões para a esquerda e centro-esquerda

     Mesmo não sendo a grande vencedora, a esquerda reconquista, aos poucos, antigos redutos. E com possibilidade de conquistar os novos. Depois de alguns anos duramente recuada pelos bolsonaristas, seu retorno, mesmo tímido, já pode ser considerado um ganho, e se oportunizar reencontrar as bases que a sustentam.
     Típica da velha política, a direita bonspartista também é um osso chato de roer. Mas, por não ser próxima dos populares e só priorizando a perpetuação no poder, pode sofrer queda em muitos locais no pleito de 2022. Assim, as forças progressistas de centro-esquerda e esquerda podem reconquistar seus lugares, e aí, sim, se completa o ganho.
 
----
Notas da autoria:
1- Locais conhecidos são: seios comunitários, igrejas, associações específicas, etc.
2- Do PSDB, Covas não é bolsonarista, e concorre à reeleição.
3- No Brasil, é apelido da direita tradicional, cujos representantes, como Rodrigo Maia, querem se perpetuar no poder. Não é populista, a prioridade é unicamente o poder. Ela é antiga e caracteriza o coronelismo dos rincões do interior.

Para saber mais:
- https://www.opuspesquisa.com/blog/eleitoral/tipos-de-voto/
- http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=36fa3ecc0b2d2bfe
- http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/2010/Historia/teses/8lee_tese.pdf
- https://blogdaboitempo.com.br/2020/06/22/bolsonaro-e-o-ocaso-da-teoria-politica-moderna/
- https://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/breves/influencia-das-milicias-no-processo-eleitoral-e-relevante-diz-barroso/
- https://www.cartacapital.com.br/blogs/dialogos-da-fe/notas-preliminares-sobre-religiao-nas-eleicoes-2020/
- https://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2020/segundo-turno-em-sao-paulo-covas-boulos-o-que-esperar/
- https://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/ibope-no-2o-turno-covas-tem-47-e-boulos-35/
     



terça-feira, 17 de novembro de 2020

Bolsonaro vs Biden, Brasil vs EUA?


          "Quando acabar a saliva, vai ser preciso a pólvora".

     Após a vitória de Joe Biden sobre Donald Trump nos EUA, que se consolida no final da contagem em alguns estados, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro agora mira o eleito em alvo de sua irritação pela decepção com a derrota de seu aliado.
     A frase destacada acima reflete a sua posição, diante da posição de Biden sobre a ameaça de sanção comercial se não frear a destruição da Amazônia e as ameaças aos povos indígenas.
     A repercussão nas redes sociais dos brasileiros foi um festival de memes e piadas a comparar as FFAA dos EUA com as nossas em todos os quesitos possíveis. Mas, piada à parte, a coisa é muito séria lá fora. Pois a frase pode soar, para um líder de país central, como uma ameaça, ou mesmo uma declaração antecipada de guerra, a depender da interpretação desse líder.
     E, muito certamente o presidente eleito Joe Biden e sua vice Kamala Harris não reagirão com a mesma indiferença de Trump com que nos acostumamos tão rapidamente.

-> Joe Biden: resumo biográfico

     Joseph Biden nasceu na Pensilvânia em 1942, descendente de uma família de irlandeses, franceses e ingleses. Seus primeiros anos de infância foram a cidade natal, mas devido a dificuldades financeiras do pai pelo desemprego, mudou-se com a família para Delaware, onde passou a maior parte de sua vida, e onde também entrou e se formou em Dreito, na universidade local.
     Já formado, prometeu à sua esposa que iria entrar na política após os 30 anos. Dito e feito: entrou em 1973, pelo partido Democrata, no qual pode conciliar ideias mais progressistas e a sua fé católica. Teve um mandato como prefeito e o restante como senador, como que atuou até este 2020.
     Se direcionou contra a injustiça da desigualdade de gênero, atuando para combater a violência contra a mulher, cujos índices naqueles anos eram ainda alarmantes em algumas regiões e quando os governos republicanos estavam no poder. Essa violência sempre foi tema mal explorado pela mídia.
     A relação com colegas como o veterano Bernie Sanders, Alexandria Ocasio-Cortez e Kamala Harris foi proveitosa para aprofundar na importância da luta contra o racismo, a desigualdade social e a questão do meio ambiente em escala nacional e internacional. 
     Se tornou vice-presidente de Barack Obama quando da eleição de 2008, na chapa que durou até 2016. Foi se preparando para uma futura corrida à presidência, na falta ou desistência de outro candidato em seu partido. Dito e feito: em 2020 entrou, após desistência de Sanders.
     Entusiasmado pela inflamada defesa de Kamala pela causa ambiental e as culturas originárias, Biden a chamou para compor para ser vice na chapa a concorrer com Trump na corrida presidencial de 2020, e vencer com um recorde de mais de 70 milhões de votos populares e mais de 320 votos de delegados, no pleito mais nervoso da história dos EUA.
 
-> Kamala Harris: resumo biográfico

     Kamala Devi Harris é filha de um imigrantes jamaicano e uma indiana, que se conheceram e se casaram em Oakland, que seria a cidade natal de todos os filhos do casal. Kamala nasceu em outubro de 1964. A família passou a seguir a crença Batista. 
     Ela enfrentou as dificuldades típicas em sua infância e juventude. Talvez por este motivo desenvolveu um olhar crítico, aguçado pelos anos de vida acadêmica e de advogada. Foi eleita procuradora duas vezes, distrital em San Francisco e geral em seu Estado. 
     No partido Democrata, tentou se candidatar à presidência dos EUA, mas depois foi para ser senadora, cargo em que foi eleita. No período, criticou duramente o governo Trump, especialmente na gestão sobre a pandemia de Covid19, e na aliança com governos como o de Jair Bolsonaro. 
     Destacou-se na tribuna por sua personalidade forte aliada à inteligência e aguçado senso crítico. Suas chamadas nas redes sociais sobre meio ambiente e povos originários a opuseram aos governos de países destruidores e atraíram Biden, que a chamou para a compor a chapa presidencial em 2020.
     Desde 2014, Kamala Harris é casada com Douglas Emhoff, um estadunidense também com formação em Direito, exercendo advocacia no momento. Por conta da eleição da esposa como vice-presidente da República, Douglas se prepara para se tornar segundo-cavalheiro, sendo ele o primeiro na história, dado ser Kamala a primeira vice-presidente da República.
 
-> Possível atuação da era Biden-Kamala

     Enquanto a posse de 20/01/2021 não chega, os primeiros sinais mostrados pela dupla eleita nos fornece algum vislumbre da direção política assumida por Biden-Harris nos primeiros dois anos, nas políticas interna e externa.
     Embora analistas apontem o viés liberalizante, Biden não tem uma visão progressista pelo olhar mais à esquerda, apesar do aprendizado com Sanders. Ele certamente não tocará em assuntos que melindrem os mais ricos: enfrentar o stablishment estimulado pelo trumpismo1 em apenas alguns pontos já será desafiante.
     Política internaA dupla terá desafios internos de peso, em especial na saúde pública, na economia interna e desigualdades sociais, e o complexo e histórico problema do racismo.
     Saúde pública: o descontrole da C19 entre os mais pobres escancarou a falta que faz a saúde pública nos EUA. O problema é vencer a queda de braço com os empresários que dominam o setor e tiveram incentivo de U$ 3 trilhões, o que não adiantou. Mas essa briga será um estresse necessário para conter a pandemia.
     Economia interna: com política anarcoliberal, o trumpismo encorpou os reflexos da crise de 2008, com aumento expressivo da população sem teto em 5 anos e redução do consumo doméstico. Essa camada tem sido um alvo da então senadora Kamala, que tem cobrado das autoridades políticas públicas contra a crise habitacional.
     Racismo: manifestos populares por todo o país devido à violência policial contra os cidadãos negros desmascarou a persistente e histórica crise racial, alimentada no trumpismo.  Mas há o arraigamento religioso, como o cinturão bíblico pentecostal no sudeste dos EUA, onde o preconceito racial é mais forte, apesar de, ironicamente, a maioria negra da região ser cristã pentecostal: o que fazer?
     Por entender nos protestos em massa um recado popular para combater o racismo, a dupla terá que investir na educação, como a melhor forma de buscar a pacificação. Combater o preconceito será difícil, mas uma política educacional inclusiva da diversidade tem tudo para ser a melhor solução. 
     Política externa: é sabido que na política externa os EUA adoram dar pitaco no mundo. Com Biden não será diferente, tendo os mesmos assuntos pendentes: acordos nucleares, econômicos, disputa de poder, etc. A depender do país. Mas tudo dependerá da postura do próprio Biden nos diálogos.
     Acordos nucleares: A Coreia do Norte parece temer Biden na chance de perder acordo feito com Trump sobre não soltar mais mísseis. Já o Irã pode voltar à política de suspender experimentos com combustível nuclear. Tudo vai depender mais de como Biden pensa sobre esses assuntos.
     Econômicos: em decorrência da crise da pandemia de C19, há suspense sobre acordos econômicos com parceiros europeus tradicionais como a Alemanha. Mas há chances positivas, devido ao plano global de Biden de combate ao flagelo virótico com uma equipe multinacional (tem até brasileira no meio). 
     Disputa de poder global: China queria a reeleição de Trump porque este teria diminuído os EUA. Mas não foi Trump o grande culpado, e sim o mercado financeiro. E Biden não conseguirá mudar o cenário. Portanto, a China continuará a dominar o mundo, por um triunfo: seu capitalismo industrial, que sempre está aí para substituir o desgastado ou o obsoleto em consumo.

-> Biden e o Brasil

     Brasil e EUA sempre foram parceiros, independente de quem esteja no poder. O que manda é o giro econômico. Mas o momento presente tem um contexto bem peculiar na história dos dois países, eco de uma fisiologia estranha ligada ao extremismo anarconeoliberal. 
     A posição subalterna do Brasil é antiga. Na ditadura se ressaltava: "o que é bom para os EUA é bom para o Brasil". Na era petista houve um sopro de autoestima, que diminuiu no 2º governo Dilma até ferrar-se no bolsonarismo. Afinal, "I love You".....
     As negociações entre Bolsonaro e Trump se resumiram ao financeiro como a ideia de Guedes de entregar o Banco do Brasil ao exaurido Bank of America. Ninguém tocou em pontos prioritários2, inclusive o leilão do pré-sal foi um fiasco total.
     Com recordes de devastação ambiental e assassinatos de indígenas, é certo que a relação entre Biden e Bolsonaro será muito diferente. É bem difícil estimar como o brasileiro se portará, mas como já se sabe, dele se espera tudo. Mas, também, pode botar a barba de molho: Kamala pode tomar a frente.
     Há dois pontos também não resolvidos: a sobretaxação do aço brasileiro imposta por Trump e, claro, o meio ambiente, entre outras coisas. Mesmo se quiser se omitir no segundo, o governo brasileiro deve se preparar com Kamala: "imponha desmate zero agora, e retiraremos a sobretaxação".
     Muita calma nessa hora: como declarou Kin Jong-un, da Coreia do Norte, Biden é "uma fúria calada". Imagine Kamala. A liberdade de zombar com bravatas pode ser de latão, mas um encontro no mínimo educado e protocolar, é de ouro. Guardar a birra para si será o melhor caminho para colher os melhores frutos dessa relação.
     
----
Notas da autoria:
1 Ideologia cristocêntrica e supremacista branca, de política econômica anarconeoliberal, marca política de Donald Trump.
2 Planos bilaterais de comércio de matérias-primas, produtos e serviços, leque de intercâmbios, manejo ambiental e recuperação de áreas degradadas, etc.
3 

Para saber mais:
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Joe_Biden (biografia)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Kamala_Harris (biografia)
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-54864131 (política externa)
- https://oglobo.globo.com/mundo/plano-de-governo-de-biden-o-mais-progressista-em-decadas-mas-pode-enfrentar-obstaculos-no-congresso-24729117
- https://www.dw.com/pt-br/joe-biden-e-kamala-harris-uni%C3%A3o-das-diferen%C3%A7as-faz-a-for%C3%A7a/a-54597627
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Bible_Belt
-
-

     
     
     



sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Caso Mari Ferrer: patriarcalismo ou interesse?


     Há uma semana explodiu na internet matérias sobre a audiência online envolvendo por ação movida pela autora, a influencer de moda Mariana Ferrer. Estavam presentes a autora, o réu André de Camargo Aranha, as defesas das respectivas partes, o promotor e o juiz.
     A ação foi motivada por estupro de que Mari fora vítima quando trabalhou em evento no Café de La Musique, club bech de luxo, matriz em Florianópolis.
     Mídias anexaram trecho do vídeo da audiência com a depreciação à jovem e absolvição do réu. Os indícios materiais do crime foram o esperma e o laudo toxicológico1 da vítima. Daí surge o termo estupro culposo.
     Foi a detonação da bomba: a expressão apareceu na mídia como mencionada pelo juiz. Existe estupro culposo, se em circunstância sexual, consentida ou não, sempre há intenção de pelo menos uma das partes?
     Em verdade, a matéria em tela envolve pontos polêmicos, indo além dos apresentados acima. É neles que o presente artigo se concentra em analisar, sem se aprofundar em detalhes cronológicos.

-> Circunstâncias do crime e tortura psicológica

     Matriz em Florianópolis, o Café de la Musique é restaurante durante o dia, e à noite, beach club luxuoso frequentado por turistas e poderosos. O dono, Álvaro Garnero, é "vassourinha" também entre políticos2. Os seus clientes buscam mulheres que se dispõem a programas sexuais.
     Que fique claro: se dispor não significa se obrigar. Via de regra, ao escolher a trabalhadora para a sua noite de prazer, o cliente pode receber uma negativa.
     Porém, a exploração sexual de mulheres e menores de idade é mais comum, ministrada pelo gerente, título que só mascara o de cafetão. Sujo, bilionário e reforçado pelo turismo, o negócio é tema recorrente na mídia. E pode ocorrer na citada casa.
     Como as redes sociais de Mari Ferrer foram apagadas a mando da justiça, é impossível saber sobre os detalhes do fato. O que se sabe está disponível nas mídias noticiosas, base para as reflexões a seguir.
     Em novembro de 2018, Mari Ferrer, então embaixadora do Café, estava em evento no local quando foi levada a um local possivelmente privativo do local, e ali fora dopada e estuprada. Mas, o pior estaria por vir, um ano depois.
     Na audiência, o promotor Cláudio Gastão da Rosa Fº classificou as fotos de Mari de "pornogáficas" e a depreciou moralmente pelo trabalho. As palavras ofensivas e a falta de provas materiais3 a comprovar o crime convenceram o juiz Rudson Marcos a absolver o réu, mas sem menção do "estupro culposo".
     Mas, como a citada expressão foi usada pela mídia como uma alusão irônica, movimentos feministas e simpatizantes se manifestaram on-line e nas ruas contra a cultura que encoberta os crimes sexuais e por Mari, dada a tortura psicológica sofrida também no decorrer da audiência.
     A repercussão surtiu efeito: a OAB-SC solicitou continuidade da apuração do caso, e o CNJ, por sua vez, deseja saber porque o juiz não interrompeu as ofensas. A ausência de respostas indica o andamento dos processos solicitados.
     Como já referido o início deste tópico, Álvaro Garnero é referência na alta sociedade - fora do Brasil também, o que ressalta um histórico: a possível relação com hoje falecido Jeffrey Epstein, condenado por crimes de exploração sexual e tráfico de menores e mulheres.

-> Jeffrey Epstein: resumo biográfico 

     Nato de Nova York, Jeffrey Epstein teve carreira diversificada: de jardineiro, professor e empresário, a várias funções como financista. Inteligente e habilidoso, soube lidar com uma elite rica e complexa, bem como resolver problemas financeiros complicados.
     Foi nesse estágio, e na diversificação das relações com a clientela mais alta, que entrou numa carreira paralela: a criminal. A princípio sem despertar suspeitas, apenas contratando mulheres para satisfazer os clientes. E logo passaria à exploração sexual de menores, que envolve gente muito poderosa.
     Nessa carreira, Epstein aumentou seu leque de contatos de elite em vários países. Segundo achados do grupo Anonymous, ele conheceu Álvaro Garnero e seu pai Mario, que relataram receber chantagens dele, por um alto dinheiro após filmar os encontros íntimos no lugar.
     A chantagem supracitada revela a atividade de Epstein e colegas: escolher, contratar e prostituir as menores, fotografá-las nas casas noturnas e filmar os encontros íntimos, pelos quais chantageia os donos das casas noturnas ou clientes no intuito de extorquir dinheiro.
     A carreira de explorador de menores para prostituição turística em locais de luxo continuou até que foi denunciado pelos pais de uma adolescente abusada. Em 2008, foi condenado e ficou preso por 13 meses por tê-la chamado para prostituição. 
     Por outro lado, investigadores descobriram que Epstein participara de exploração de mais 36 menores, algumas com 14 anos de idade, e foi novamente preso, permanecendo encarcerado até 10/8/2019, quando foi descoberto morto em sua cela, aos 66 anos de idade. Embora não haja conclusão definitiva, a causa mortis oficializada pelos legistas foi suicídio.

-> Reflexões

     Tudo isso fornece importantes reflexões.
     Primeira: o Café de la Musique ser restaurante de dia e casa noturna à noite não é problema em si. Mas pelo fato de só ricos serem bem tratados e as mulheres importunadas, de acordo com alguns relatos online, já acende uma luzinha de alerta.
     Mais do que bonitas, disponíveis ao trabalho à noite e preferencialmente solteiras, as trabalhadoras de casas noturnas aprendem que estarão sempre sujeitas a importunações e humilhações, até por parte de seus chefes. Existem relatos de simples frequentadoras importunadas.
     A caixa de Pandora aberta pelo bolsonarismo mostrou um Brasil mais perigoso do que o sabido para as mulheres. Honestos que queiram conhecer casa noturna chique devem pesquisar se podem levar suas companheiras, atentando-se aos valiosos relatos pessoais e online de frequentadoras eventuais.
     A segunda: casas noturnas de luxo são conhecidas pelo alto empresariado de todo ramo e de toda índole. E se Mario Garnero foi chantageado por Epstein, é certo que este transitou livremente na casa.
     Menores são proibidas por lei oficial, mas não na do submundo. É uma realidade difícil de solucionar por envolver gente muito poderosa. Embora não haja afirmações nesse caso específico, há acusações sobre o Café de la Musique de "dopar garotas e 'vendê-las' a empresários".
     A terceira: a legislação brasileira não criminaliza a prostituição voluntária, mas não a regulariza por motivos morais que a permeiam. São crimes o aliciamento e a exploração que legitimam a exploração e as violências sexuais em casas de luxo, quase sempre encobertos por quem deveria combater esses crimes.
     Abusos nesse submundo só vem à tona na mídia por denúncia arriscada pela vítima. É quando o "ouvi falar" vira conhecimento do fato. Mariana correu risco temerário por mexer com gente poderosa. Ela nega ser prostituta, mas isso não importa, e sim a sociedade saber da realidade.
     A quarta: os movimentos feministas em apoio à Mari Ferrer, que também agregam homens, mandam um recado à sociedade e às autoridades competentes. O recado da mulher violada física e aviltada na psique mais por ser mulher do que pelas suas características étnicas, culturais, origem, fé, etc.
     O presente artigo não vitimiza Mari Ferrer, mas mostra que, até prova em contrário, ela é vítima sim. Juridicamente. A vilanização das vítimas de crimes sexuais é uma realidade iniciada na sociedade e instituída nas DPs e, com frequência, nos tribunais. 
     Uma ruindade à cidadania a partir do ambiente institucional. Ao Estado cabe assegurar aos cidadãos estratégias inteligentes de proteção e combate à violência legitimada pelo moralismo, patriarcalismo, interesses de classe e financeiros. Esse é o recado de Mari Ferrer e de todas as demais vítimas da violência e da exploração sexual. 

----
Imagens: Google.

Notas da autoria:
1. Tais indícios não podem ser considerados provas por si sós. 
2. Garnero tem proximidade com Jeffreu Epstein, família Bolsonaro e Donald Trump. 
3. Na audiência só foram exibidos vídeos de câmeras internas sobre Mari, para "provar" sua sobriedade.

Para saber mais:
- https://www.conjur.com.br/2020-nov-05/veja-integra-audiencia-mariana-ferrer-estupro
- https://www.conjur.com.br/2020-nov-09/mp-debate-desamparo-vitima-sistema-justica-mariana-ferrer
- https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2020/11/10/caso-mari-ferrer.htm
- https://istoe.com.br/caso-mariana-ferrer-mp-diz-que-crime-nao-pode-ser-comprovado-diz-site/
- https://www.poder360.com.br/justica/especialistas-dizem-que-estupro-culposo-nao-foi-citado-no-caso-mariana-ferrer/
- https://paranaportal.uol.com.br/geral/caso-mariana-ferrer-cnmp-investigacao-contra-promotor-omisso/
- https://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-suposta-ligacao-entre-o-cafe-de-la-musique-onde-mari-ferrer-foi-estuprada-e-jeffrey-epstein-por-caique-lima/
- http://portalmakingof.com.br/policia-civil-se-manifesta-sobre-denuncia-de-estupro-em-beach-club-de-jurere (maio 2019)
- https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2019/05/21/influenciadora-digital-denuncia-estupro-em-beach-club-em-jurere-internacional.ghtml 
- https://falauniversidades.com.br/o-machismo-silencia-influencia-na-denuncia-de-casos-de-estupro/
- https://www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/especiais/trabalho-infantil-sp/reportagens/exploracao-sexual-ainda-e-tabu-e-invisivel-no-brasil/
- https://dp-pa.jusbrasil.com.br/noticias/2128891/oficina-debate-papel-da-midia-no-combate-a-violencia-sexual-infanto-juvenil
- https://veja.abril.com.br/brasil/caso-mariana-ferrer-expoe-o-drama-da-vilanizacao-das-vitimas-de-estupro/
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Jeffrey_Epstein


segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Eleições EUA e a ansiedade de Bolsonaro


     No momento, o mundo volta as atenções para as eleições para presidente nos EUA. O Brasil também, na expectativa dos números cujo resultado final parece nunca chegar. Uma sensação de agonia toma conta da geral.
     O democrata Joe Biden segue à frente no complicado pleito, que virou alvo de zoeira para muita gente, e de questionamentos sobre o significado de democracia nos EUA. As duas visões, claro, fazem pleno sentido.
     O humor se justifica pelo sistema eleitoral dos EUA, que mantém o mesmo método desde o século XVIII, pós-independência. Avançado no início, ultrapassado hoje, pois Brasil e mais 34 países usam o voto eletrônico. Até alguns estados dos EUA também o usam, o que pode contribuir para a bagunça.
     Outro alvo da zoeira nesse pleito é Donald Trump, que percebe a iminente derrota até em alguns dos Estados tradicionalmente republicanos e alega fraude, sem provas. E Jair Bolsonaro entra na zoeira que viraliza na internet, devido à sua forte proximidade com o republicano.
     A crítica está na manutenção de voto indireto decisivo por um colégio eleitoral de delegados nos 50 estados (o número depende de eleitores recenseados¹), e na segurança da informação, devido à grande suscetibilidade de fraude ou erro, independente da ética dos mesários.
     Há um detalhe relativo à segurança da informação: a lei prevê recontagem se a diferença entre os dois candidatos é menor que 0,5%, ou por erro de dado, o que pode sugerir fraude². E, não raro, a parte em desvantagem, inconformada, pode recorrer ao indecoro visando a virada do placar.
     O ponto positivo é o voto por carta, que se torna vantajoso na excelência do sistema postal e nesse contexto de pandemia. Esses votos estão sendo aos poucos contabilizados, se mostrando até o momento majoritários a Biden, e é em cima deles que Trump faz inconformados ataques conspiratórios.
     Neste momento em que escrevo este artigo, recebo a notícia do reconhecimento da vitória de Biden, a despeito de ainda ter um pequeno punhado de votos para terminar de contar - o que só consolida a dada vitória do democrata. E Trump resiste bravamente: "não vou sair da Casa Branca, eu ganhei".

-> Governo Biden: relação Brasil-EUA, Bolsonaro, democracia estadunidense

     A maioria dos brasileiros, dentro do Brasil, parece ter participado da votação, tamanha a torcida da maioria por Biden, e uma minoria barulhenta por Trump. Tal como ocorreu com as eleições presidenciais de 2018, os dois grupos de brazucas torcem pelos seus candidatos como que para times de futebol.
     Mas o principal motivo dos brasileiros não pesa no suposto perfil político do democrata ou o que fará, se eleito. E sim no enfraquecimento de Bolsonaro, que enfrenta a rejeição externa geral, e a interna é crescente. Se espera que a derrota definitiva do republicano sele o destino de Bolsonaro até 2022.
     Internamente, o governo Biden será o tradicional America first ('América primeiro', que o Brasil poderia fazer igual para combater a anomia³ do momento). Com vários desafios a ser enfrentados, como polarização, e maior empobrecimento, desigualdade e violência policial contra minorias, a postura poderá ser bem rigorosa.
     Mas, há um detalhe: Kamala. Primeira vice-presidente da história política estadunidense, não-branca, ela tem personalidade forte, e pode ser decisiva no governo Biden. O que pode fazer grande diferença em um país sem muita atenção aos vices, e na sua relação com o mundo, incluindo o Brasil.
     A relação Brasil-EUA foi muito mais Bolsonaro-Trump do que entre os dois países, dada a prioridade em afinidades ideológicas sobre os negócios. Piadas e memes à parte, essa relação (de dominação) nos prejudicou brutalmente: ninguém gosta de puxa-saco submisso.
     É certo que o governo Biden-Kamala implicará mudanças profundas na relação com o Brasil. Poderá haver possíveis conflitos diplomáticos nos temas de direitos humanos e ambiente natural, se o governo brasileiro resistir às mudanças impostas devido à birra político-ideológica. Vai ser dureza: Bolsonaro conseguirá encarar isso? Afinal, já está ansioso o bastante.
     American democracy: um mito desmascarado por fatores como a reeleição duvidosa de Bush filho, os manifestos populares tão pelo social quanto antirracistas, e o próprio sistema de voto, que o pleito-2020 derrotou não só pelo ridículo num país pioneiro em TICs4, como também por minimizar o valor popular.
     Já se vislumbra nos bastidores a necessidade de profunda reforma eleitoral estadunidense. Mas, como possível legado da pandemia de Covid, o voto pelo correio, que só ocorre em alguns estados, valerá para o país todo. Mas, o mais importante é refletir se a manutenção de delegados decisivos é mesmo válida, o que já ocorre desde antes. E esta eleição já deu a sua resposta.

----
Notas da autoria:
1 O sistema, gerrymendering, prevê a relação entre número de populares eleitores e delegados. A ausência de certo número de populares implica na redução de delegados participantes de forma correspondente.
2 A recontagem ocorre por decisão da Suprema Corte, o STF dos EUA. 
3 Destruição da ordem sociopolítica (sobre a República) e econômica (no esfacelamento do Estado). A versão brasileira do America first é a prioridade aos interesses internos do Brasil (brazilian first), para se opor à anomia.
4 Tecnologias da informação e comunicação, desenvolvidas a partir da computação.

*Fotomontagem pela autoria do artigo; fotos captadas no Google Imagens.

Para saber mais:
- https://es360.com.br/como-surgiu-e-com-funciona-o-colegio-eleitoral-nos-eua/
- http://www.sedep.com.br/noticias/pesquisa-revela-que-35-paises-utilizam-sistema-eletronico-de-votacao/
- https://brasil.elpais.com/internacional/2020-11-06/resultado-das-eleicoes-eua-2020-ao-vivo-biden-x-trump.html
- https://g1.globo.com/mundo/blog/sandra-cohen/post/2020/09/24/mais-de-60percent-dos-americanos-apoiam-emenda-para-substituir-colegio-eleitoral-pelo-voto-popular.ghtml

CURTAS 98 - ANÁLISES (Brasil- Congresso)

  A GUERRA POVO X CONGRESSO                     A derrota inicial do decreto do IOF do governo federal pelo STF foi silenciosamente comemo...