segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Análise: a eficiência bolsonarista

 

        Que o governo Bolsonaro prima pela distorção das atribuições do Estado para a população, todos têm percebido, gerando como consequência principal a rejeição crescente ao líder, com influências já adiantadas para o cenário eleitoral de 2022.
        
Essa rejeição atualmente é também protagonizada por eleitores decepcionados e arrependidos que nele votaram acreditando em mudanças reais nos campos da segurança pública, da saúde e da educação, além do já combalido mote do combate à corrupção.
        
Mas há uma galera, uns 30% dos eleitores, fanática por Bolsonaro: os bolsominions . Um grupo heterogêneo abarcando dos mais abastados a pobres e minorias, a surpreender por serem estes últimos desprezados pelo ídolo. Mergulhados na visão radical do mundo, extensiva à fé, os bolsominions não toleram qualquer discordância. É a guerra cultural.
        
Por que os bolsominions ainda acreditam em Bolsonaro, mesmo em maioria sofrendo os arrochos impostos em seu governo, pelo avançar da Covid19, carestia generalizada e aumento da miséria e da fome? Buscar explicar analiticamente este fenômeno é o objetivo deste artigo. 

Bolsonarismo: breve histórico e consequências

        Neste item os detalhes serão poucos, para evitar delongar demais o texto, mas serão abordados da melhor forma possível.
        O bolsonarismo é um termo novo para um fenômeno não tão recente, mas singular. Embrionário na ascensão política de Jair Bolsonaro, ele só assumiu volume e forma nos anos 2010, na esteira das redes sociais e da expansão neopentecostal. É um agregado estranho de retórica de extrema-direita nazifascista, cristofascismo, ódio violento à diferença, intolerância impetuosa às discordâncias, teorias conspiradoras, anticiência e difusão de notícias falsas sobre adversários políticos e outros. Tudo, com fanatismo.
        Há também elementos de tradicionalismo, segundo o qual se precisa de reconstrução nacional por meio do ciclo místico de destruição e renascimento.
        A construção de ideologia bolsonarista ocorreu por influência de nomes diversos, com destaque para ideólogos como o estadunidense Steve Bannon e o brasileiro Olavo de Carvalho, e líderes religiosos hoje à guisa de conselheiros de Bolsonaro, como o pastor Silas Malafaia e correlatos, e o padre Ricardo da corrente carismática da Igreja Católica.
        O crescimento e a consolidação do bolsonarismo foram insidiosos e sutis por anos, até a sua explosão pública em 2017-18. Na esteira de Bolsonaro, muitos nomes, de carreira militar ou não, foram eleitos parlamentares e governadores, e os bolsominions se sentiram plenos na definição de dominar todos os cenários mediante agressões aos diferentes.

Serventia

        Pode nos parecer loucura seguir o bolsonarismo, mas este tem mostrado utilidade eficiente, principalmente por haver uma troca, não verdadeiramente recíproca, mas nítida e real. Sua funcionalidade pode ser percebida em vários aspectos.
        Carisma: Bolsonaro conseguiu passar para parte do público um ar autêntico, realista nas suas colocações e falas. Como a primeira impressão é a que fica, segundo dito popular, este é até hoje dado como sinceridade e carisma, que passa confiança em sua conduta política.
        Nostalgia e segurança: os manifestos de 2014-16 clamando por intervenção militar foram bons para Bolsonaro se popularizar, usando a nostalgia de alguns pelos "bons tempos" da ditadura militar. Usou seu histórico militar nas promessas de segurança pública, como polícias mais ostensivas, e na educação pelas "escolas cívico-militares". Dai delegados se lançarem na política oportunamente.
        Catarse moral e fé: o moralismo foi muito explorado na campanha de Bolsonaro. A sua personagem de político incorruptível e conservador conquistou grande parte do eleitorado evangélico pentecostal e neopentecostal.
        Fidelidade: hoje o presidente tem um fã-clube fanático que acredita em sua inocência diante de sucessivos crimes de responsabilidade e escândalos de corrupção, e alegando os flagelos (inflação, C19, miséria, fome e aumento da violência) aos outros - apesar de provas incontestes. Apesar da aparente proximidade, Bolsonaro no fundo despreza seus fãs.
        Notícias falsas e teorias conspiratórias: muito usadas na campanha, ele insistentemente as usa, acrescentando novos alvos. Tendo como fonte básica o Gabinete do ódio, as mentiras são reproduzidas exponencialmente pelo fã-clube nas redes sociais, mesmo sob ameaça de banimento de perfis a mando da Justiça ou pelas diretrizes dessas plataformas.

Reflexão final

        Todos os dados acima expostos apontam uma verdade tácita: o bolsonarismo se estende para além do campo teórico, para se tornar um movimento sociopolítico, tal como ocorreu na História com o fascismo mussoliniano e o nazismo de Hitler. cujas marcas estão na memória até hoje, com direito a novos simpatizantes.
        Se faz interessante que o bolsonarismo compartilha alguns elementos com os pretéritos movimentos, como cristocentrismo, autoritarismo e aversão à diversidade, mas com a distinção de ter se desenvolvido em contexto relativamente democrático com certa liberdade de imprensa, de cátedra e de expressão.
        Este contexto de democracia relativa talvez possibilite a peroetuação do bolsonarismo, independentemente do futuro político do presidente Jair Bolsonaro e sua família. Pois sabemos que um dia ele vai sair, ou cair, a depender dos fatos. Mas, assim como o fascismo e o nazismo, o bolsonarismo vai durar. Por décadas.
        
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Imagem: Google

Notas da autoria
1. 

Para saber mais
https://brasil.elpais.com/brasil/2020-12-12/benjamin-teitelbaum-destruicao-e-a-agenda-do-tradicionalismo-a-ideologia-por-tras-de-bolsonaro-e-trump.html?utm_source=Pensamentos&utm_medium=Pingback
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