terça-feira, 26 de julho de 2022

Análise: reflexos cotidianos do bolsonarismo

 

        Brasil, 2013-16: na era Dilma Rousseff, eclodiram nas ruas das cidades de médio e grande porte grandes manifestos populares contra decisões vindas de Brasília. PMs dos Batalhões de Choque e colegas à paisana, os P2, partiam para o sarrafo. 
        Povo entre a geral, vândalos para a grande imprensa, massa de manobra para o capital e seus políticos, a patuleia na rua foi um mosaico, de esquerdistas a direitistas. Houve um grupo separado, de verde e amarelo, nas ruas nobres: os coxinhas, antepassados dos ferozes fanáticos bolsominions.
        Brasil, 2017: na era Temer, o 'vampiro golpista', geral ocupa as ruas contra as reformas previdenciária e da CLT, mas a desta última prosseguiu. O bolsonarismo avança com forte apoio da imprensa e mercado financeiro.
        Brasil, 2018: o atípico pleito marcado pela polarização entre PT e Direita elege o extremista Jair Bolsonaro. Símbolo da moralidade entre os coxinhas, Bolsonaro abriu a caixa de Pandora que verteu toda a sujeira ética e moral de uma cultura mal aparada pela falta de educação cidadã.
        Bolsonaro conquistou popularidade pelo seu jeito tosco e sem nenhum tato, com impressão de franca honestidade. Só que não...
        Vimos 2019 passar como o ano mais tranquilo do que se tornaria a era Bolsonaro. A partir de 2020, a coisa mudou de vez. De forma a assustar o mundo, e nós mesmos.

Resumo de um governo personalista

        Tão logo após a cerimônia de posse, Bolsonaro lançou uma série de decretos que dariam persona própria ao seu governo, sem diálogo com a população e agitando o Congresso. O governo ganha a cara e personalidade do presidente, pela qual os fins justificam os seus meios e não o contrário.
        Com ajuda de Arthur Lira, o Cunha 4.0, seu sinistro Guedes piorou a reforma trabalhista de Temer, ferrou com a aposentadoria e elaborou as draconianas PECs administrativa e tributária, com trâmites suspensos no Congresso pela C19 e sua CPI, pelos escândalos na Saúde e, agora, pela corrida eleitoral.
        Em 2020 Bolsonaro escancara sua persona na proposital má gestão da pandemia que gerou 700 mil óbitos (dados oficiais) ou mais (Eduardo Moreira), e os novos e sucessivos escândalos envolvendo sua famiglia.
        Autoritário, autocrático e  globalmente antipático, Bolsonaro submeteu o Brasil a seus caprichos psicopáticos em todos os nichos possíveis. A nefasta aliança com pentecostais caça-níqueis doutrinou a patuleia pela cartilha moralista, enquanto libera armas comercializáveis no crime organizado.
        Diante do favoritismo eleitoral de Lula, Bolsonaro quer o caos. Observa-se aí o macabro desfile da morte pela violência policial liberada, em ataques de bolsominions a coletivos com opositores políticos e agressões contra qualquer um com camisa vermelha. É o explosivo ódio bolsonarista a marcar um governo personalista.
        Personalismo- movimento filosófico de Emmanuel Mounier em 1929, derivado do humanismo, filosofia moral que aponta o homem como protagonista dos fatos no mundo. O movimento credita os problemas sociais a fatos econômicos e morais, e foi defendido pelo papa João Paulo II e por católicos da Democracia Cristã.
        Apesar do apolitismo defendido, Mounier não conseguiu evitar a correlação, feita posteriormente por analistas e mesmo filósofos, entre seu movimento e certos estilos de governo ou regimes políticos, que seriam descritos como personalistas, por assumirem marcas pessoais de seus líderes nacionais.
        Coincidência ou não, essa observação debruçou-se em regimes ou governos autoritários, como os apontados Hitler (nazismo), Stalin (sovietismo), McCarthy (macarthismo, EUA), Castro (castrismo), Kim Jong-Un (Coreia do Norte), e no Brasil, Getúlio Vargas (varguismo) e agora Bolsonaro.
        O personalismo difere do culto à personalidade, por sua vez compreendido como uma doutrinação coletiva que endeusa um governante como o messias e líder supremo da nação. Embora os fenômenos se difiram, o bolsonarismo os aproximou ao ponto de praticamente fundi-los.
        Personalismo de Bolsonaro- como já explorado, o bolsonarismo deriva do tradicionalismo, um movimento extremista de direita surgido na aliança entre política e crença pela qual a construção só é possível após a destruição de estruturas políticas, socioeconômicas e materiais vigentes.
        Explica-se, aí, a aliança estreita com setores pentecostais e neopentecostais e suas interpretações próprias que tornam mais draconiano o antigo testamento bíblico por eles seguido, bem como a ação de Bolsonaro pela anomia que esgarça o tecido social a partir do desregramento de leis e da convivência.
        Munido de valores típicos do Brasil profundo1, da ditadura militar e da suposta supremacia cristã, o bolsonarismo nasceu no underground sociopolítico ainda nos anos 1990, nascendo com a carreira política de Jair Bolsonaro, e já se mostrava pelas bravatas já divulgadas na imprensa desde então.
        Enquanto sua importância era subestimada pela mídia e pelo advento da centro-esquerda petista, Bolsonaro se aproveitou do tempo e dos fatos para alimentar os valores de sua ideologia. Só faltou ele escrever uma versão brasileira do Mein kampf (minha luta) de Adolf Hitler para narrar sua história.
        Ainda deputado, ele mostrou simpatia ao nazismo em suas conversas com descendentes diretos dos que atuaram com Hitler. Agregando a sua intolerância à diversidade social, apreço ao ódio e supremacia do moralismo do Velho Testamento, Bolsonaro personalizou seu tradicionalismo: eis o bolsonarismo.
        
Onde iremos parar: reflexões finais

        A temperatura da já explosiva violência generalizada pela politização bolsonarista dos fatos vai aumentando na medida que o tempo até 2/10, dia das eleições, é paulatinamente encurtado. Em paralelo também cresce a expectativa dos milhões de brazucas tornados inimigos de Bolsonaro por estarem "do outro lado".
        Na convenção que aprovou oficialmente a sua candidatura no Maracanãzinho, no Rio, Bolsonaro conclamou aos presentes que estejam presentes, "pela última vez, em 7/9", como o prenúncio de uma decisão definitiva, a do propalado golpe de Estado.
        Muito de seus instintos foram projetados nos fatos cotidianos e nos fatos escabrosos do governo, dos quais já sabemos de cor e salteado. Seu governo vem se tornando cada vez mais personalista na medida em que prega sucessivamente sua política destrutiva e na campanha para a reeleição, e chegará ao ápice em 2/10. 
        Como já mencionado em artigo anterior, Bolsonaro tem, entre seus objetivos, a ideia de autogolpe, mesmo sem apoio de entes basilares como os EUA, que reiteradamente recusa a ideia, e o decrescente apoio dos milicos das altas patentes. 
        Se terá golpe mesmo, mesmo sem apoio, certamente não sabemos, mas pelo menos temos certeza de que um golpe seria a satisfação de seu ego psicopático, mesmo que seja o prenúncio de seu próprio fim. Anomia, caos, o fim: do mar de incertezas, é tudo que nós sabemos. 

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Imagens: Google (fotomontagem: autoria do artigo)

Notas da autoria:
1. Compreende o povo com valores culturais moralistas, rudes e rigorosos, secularmente arraigados e de forte teor religioso.

Para saber mais
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Personalismo#:~:text=O%20personalismo%20%C3%A9%20um%20movimento,verdade%20em%20toda%20a%20circunst%C3%A2ncia.
- https://www12.senado.leg.br/manualdecomunicacao/glossario/atividade-de-cunho-politico-partidario-ou-personalista
- https://www.cartacapital.com.br/politica/diplomacia-personalista-de-bolsonaro-derruba-imagem-do-brasil-no-mundo-dizem-analistas/
- https://www1.folha.uol.com.br/colunas/joel-pinheiro-da-fonseca/2021/09/bolsonaro-intoxicou-o-brasil-de-cloroquina-e-personalismo.shtml
- https://exame.com/brasil/bolsonaro-faz-aposta-personalista-e-de-risco-ao-lancar-novo-partido/
- https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2020/09/4876629-empenhado-na-reeleicao-bolsonaro-esta-cada-vez-mais-personalista.html
- https://www.youtube.com/watch?v=Z91i9EyRckk (Eduardo Moreira e números fatais assombrosos da C19 que o governo esconde).
- https://maquinandopensamentos.blogspot.com/2020/12/tradicionalismo-politica-e-misticismo.html
- https://maquinandopensamentos.blogspot.com/2022/07/analise-no-brasil-de-lula-o-bolsonarismo.html


        

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