segunda-feira, 29 de março de 2021

#Curiosidade: Gênero, sexualidade e transtornos


Entre os muitos assuntos que geram controvérsias até hoje em nossa sociedade, se destaca, sem sombra de dúvida, a diversidade sexual. E é a este tema tão complexo que este novo artigo da categoria #Curiosidades se dedica a versar. Apesar de prometer ser longo, será o mais sucinto possível, sem deixar de ser abrangente.
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        Mari se declara cisgênero1 heterossexual, que namora Jorge, formando um casal heterossexual clássico. O casal admira os vários amigos, por "ser cada um de um jeito". 
        O amigo Maurício é gay cis, casado com Mário, também cis. Bia é lésbica cis de expressão andrógina e a namorada feminina. São casais homossexuais clássicos. A amiga Anita confunde Mari, que não sabe dizer se ela é simplesmente travesti, transexual ou drag queen. Anita namora um gay masculino clássico.
        Mari fala de Daniel, um cis autodeclarado demisexual; fala também da pansexual Geisa, e de Marcos, que se considera yag. E ainda cita a intersexual Michele.
        Ao final das apresentações na entrevista, Mari assume se sentir confusa com tantos termos, todos relativos a sexo, gênero e sexualidade, e na relação entre eles. Sobre isso será falado aqui.

-> Sexo e gênero: até hoje, muita treta

        O ano era 2012, no governo Dilma Rousseff. O pastor e deputado Marco Feliciano se torna então presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias na Câmara. Houve um alarido, devido aos comentários homofóbicos, sexistas, machistas e infelizes dele.
        Em 2013, lançou projeto que reconheceria somente homem e mulher cis e heterossexuais, sem desconsiderar a diversidade sexual, e outro que protege pastores de acusação de homofobia nos cultos. Um tanto inconstitucionais e ridículos, os projetos não foram adiante.
        A grita contra o projeto da heteronormatividade foi pela natureza excludente; e contra o protetivo aos pastores, por intolerância e poder incitar ao ódio. Foi neste que se notou a confusão de sexo com gênero e de orientação com identidade sexual. Todos têm diferença.

Sexo
        No senso comum se reconhecem na biologia dois sexos, o feminino e o masculino, em observação de genitália, hormônios e cariótipos cromossomais (XX feminino e XY masculino). Mas pode haver combinações cromossômicas diferentes que gerariam os tipos intersexuais.
        Homens com síndrome de Klinefelter têm cariótipo XXY, com características físicas femininas e masculinas. Mulheres com síndrome de Turner têm apenas um X, com caracteres algo masculinos, infertilidade, seios muito pequenos ou ausentes e pescoço alado. São condições raras, mas conhecidas pelos médicos.
        Também raras são condições para hermafroditismo, ou seja, pessoas com traços das genitálias dos dois sexos biológicos. Uma minoria de sindrômicos de Klinefelter pode ter hermafroditismo. Essas condições diferenciadas não interferem na orientação ou na identidade sexual. 
        A mentalidade sobre sexo sexualidade e formação familiar evoluiu muito. Daí alguns países, por lei, terem desobrigado a definição do sexo nas certidões de nascimento das crianças.

Gênero
        Sua definição se liga aos papeis e expectativas sociais sobre comportamentos, pensamentos e características do sexo atribuído a cada pessoa. Portanto, o papel social a ser desempenhado define o  gênero, coincidindo com o sexo propriamente dito.
        Na sociedade tradicional se atribui ao gênero masculino prover a família e ao feminino, cuidar da família e do lar. Com a maior participação feminina no mercado de trabalho, surgiu a definição para "profissões femininas" e "masculinas", que hoje são pouco diferenciadas. Mas os salários....
        Compreende-se, assim, o gênero como convenção de papéis e expressões sociais. Mas há casos que "fogem do padrão", como as pessoas que não se identificam com o sexo biológico: os transexuais, ou transgêneros por sua identidade por papeis sociais ligados ao sexo oposto.
        Os tipos mais comuns de transexuais são o trans-homem (mulher biológica, mas se identifica, age e se expressa como homem), e a transmulher (o homem biológico que se identifica, age e se expressa como mulher). Mas a regra de vida não é rígida, cada um constrói suas regras.
        Há os que não se identificam com sexo ou gênero, se considerando queergenderqueer ou "gênero fluido". 
        Essas definições também não interferem necessariamente na orientação sexual. As histórias são bastante diversas, em decorrência da flexibilidade de regras e preferências.

Orientação sexual
        Se define pela seleção e comportamento sexual (sexualidade). Sua razão biológica é conhecida por ocorrer em centenas de outras espécies animais. Contudo, em meio sociocultural mais progressista, casais não tradicionais têm visibilidade maior com certa margem de tolerância.
        Pode ser heterossexual (opostos se atraem); homossexual (atração pelo mesmo sexo), bissexual (atração pelos dois sexos), etc. Assim como ocorre no gênero, a orientação sexual é elástica em várias identidades. 
        O casal hétero pode ser cis ou transexual; o homossexual pode ser uma mulher cis com outra cis ou trans-homem, ou dois homens cis ou um cis e outro transmulher, ou ambos transmulheres ou trans-homens. Sim, eis uma mostra da elasticidade na homossexualidade.
        Entre os bissexuais se destacam os yags, termo novo para homens de vida heterossexual, mas com eventuais encontros sexuais com outros homens, gays ou héteros. E há outros tipos.
        Demissexual é a pessoa que só tem vida sexual com sentimentos. O pansexual é o tipo com vida sexual mais diversa, convivendo com cis ou transgêneros. O tipo poliamor se relaciona com mais de uma pessoa, e até existem famílias assim formadas.
        Existem outras formas, consideradas bizarras, as parafilias: pedofilia, zoofilia, etc., tratadas no campo tanto psiquiátrico quanto criminal, na nossa legislação.

-> Identidade de sexo ou gênero

        Uma vez se distinguindo sexo de gênero, fica menos complexo entender o que é identidade de gênero. Antes designado identidade sexual, o fenômeno se refere a uma conduta de autoidentidade por meio da qual a pessoa pode se sentir mais à vontade na sua sexualidade.
        Há uma discussão sobre a denominação correta. Mas, vale a máxima na autoidentidade: quem se referencia no sexo biológico acredita ter identidade sexual, e quem se referencia o gênero, é identidade de gênero. A autoidentidade que é a mesma, mas o pensamento, a visão, depende de cada um.
        Cissexual é a pessoa que se define como no sexo biológico: é mulher porque é do sexo feminino, não importa o traje e a eventual aparência andrógina. Cisgênero é a pessoa que vê correspondência do seu sexo biológico com o papel social. O mesmo ocorre e pode ocorrer com o sexo masculino.
        Transexual designa a pessoa que se vê como do sexo oposto, acreditando ter "nascido com corpo errado". Transgênero seria muito mais a partir do papel social atribuído ao sexo oposto, daí mais do que se vestir e ter aparência feminina, é assumir uma vida atribuída a esse sexo oposto.

-> Escolha, instinto ou transtorno?

        Há muito se discute sobre até onde a sexualidade humana pode ser considerada normal. A OMS considerou as orientações não heterossexuais como transtornos mentais até descartar, no fim dos anos 1970. Países ocidentais acompanharam a OMS, mas outros não, por motivações socioculturais. 
        A razão do descarte é o bom ajuste social observado nos homossexuais, e que o desajuste vem do meio social e não deles. Nisso, os homossexuais cis venceram, após anos de muita luta. Mas não os transexuais/ transgêneros e portadores de parafilias, ainda alvos de certo olhar clínico na psiquiatria.
        Embora questionado, o olhar clinico deles tem lógica: eles avaliam por sinais ligados ao ajuste psicossocial, para ver possível associação com transtorno psíquico conhecido. Descartada qualquer disfunção psicossocial, eles veem a sexualidade "diferente" como instinto particular, à luz psicológica.
        Até os anos 1980, a pessoa trans era tida como portadora de transtorno de identidade sexual. Mas, por conta da questão de ajuste psicossocial, a tese foi se dissolvendo, com forte ajuda da psicologia.      
        Conduta sexual a interferir na função social e laboral é um transtorno, e a pessoa sabe que sua sexualidade agride a moral comum. 'Dependência' sexual, pedofilia, zoofilia, necrofilia e outros são vistos como transtornos sexuais2. Algumas dessas parafilias são criminalizadas, inclusive no Brasil.

-> Sexualidade, legislação e educação

        Homossexualidade, transexualidade e parafilias são criminalizados em alguns países, e não são só os islâmicos. A cristã Uganda condena os não-héteros a até 14 anos de prisão; Coreia do Norte e Irã geralmente penalizam à morte. E estes são apenas alguns exemplos.
        Embora seja tão dura, a legislação iraniana permite a reversão da pena capital se um dos parceiros julgados aceitar a transexualização física, para sobrevivência e o casal seguir uma vida aparentemente heterossexual diante do peso social e da sharia. Exemplo local de hipocrisia.
        Muitos países ocidentais são tidos como libertários em relação à diversidade sexual. De fato, na maior parte da Europa, nos EUA, Canadá e alguns países da América Latina as uniões homoafetivas são reconhecidas em lei. Mas, entre a lei e os valores morais há uma trincheira.
        Um exemplo muito bom sobre isso é o Brasil: a legislação atual é progressista (apesar da grita de políticos fundamentalistas), criminaliza a homofobia, mas permanece líder mundial de assassinatos de minorias sexuais em dados absolutos.
        A legislação não modifica o pensar de uma sociedade, ainda que colabore para moldar condutas das pessoas ao encarar a diversidade sexual. Ela impõe limites comportamentais, mas não interfere nos valores morais aprendidos em seios familiares e comunitários. Num país laico e democrático como o Brasil, nem pode.
        É aí que entra o papel fundamental da educação - setor ainda mais desprezado e nevrálgico na era Bolsonaro, graças ao pesado lobby cristofascista e às travas crescentes à liberdade de cátedra. Se aulas de anatomia genital foram censuradas, discussão de gênero virou ideologia comunista...
        É aí que se precisa atacar. Não existe ideologia de gênero. A discussão de gênero em si nada tem de ideológica, pois ela visa o debate sobre os papeis sociais de gênero e o que se pode imaginar do futuro, já que a sociedade está sempre sob constantes e novas influências.
        Se os países tivessem evoluído bem nesse tema, desvinculando-se de valores religiosos arcaicos (pois a moral religiosa tem papel fundamental nisso), é muito provável que a discussão de gênero e de sexualidade hoje mal tivesse importância: já seria tratada de novo modo, ou ultrapassada.

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Imagens: Google (montagem da autoria do artigo)

Notas da autoria
1. Cisgênero, cissexual ou cis, se tratará no texto. O contrário de transexual, transgênero ou trans.
2. Será tema do próximo artigo de #Curiosidades.

Para saber mais
- https://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-54123807 (sexo, gênero, orientação sexual, identidade)
- https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/02/140219_quebra_cabeca_evolucao_homossexualidade_lgb
- http://www.ghente.org/ciencia/genetica/turner.htm#:~:text=A%20s%C3%ADndrome%20de%20Turner%20%C3%A9,sexuais%20h%C3%A1%20apenas%20um%20X.


quarta-feira, 24 de março de 2021

Análise: comemoração do golpe de 1964 


        Na semana anterior, em meio ao agito à volta das ameaças do governo sobre manifestantes que o chamaram de genocida, a proibição e as ameaças, o presidente Jair Bolsonaro conseguiu na Justiça o direito de comemorar o golpe militar de 1964.
        A proposta surge em meio à crescente raiva popular contra a inércia propositada do governo na gestão da sindemia de C19, em plena maximização com aproximadamente 300 mil mortos, segundo dados oficiais captados pelo consórcio de mídia.
        Houve uma reação nas redes, embora comparativamente menor do que o ocorrido com o apelido mortífero que encarnou no governante. Talvez por menos pessoas terem acompanhado essa novidade por trás do festival de metralhadora giratória contra tudo e todos.

-> Um desejo antigo

        O desejo de Bolsonaro em oficializar e abranger a comemoração do aniversário do golpe de 1964 não é nova. Ele se manifestou publicamente nos primeiros meses de seu governo, mas sem propor por enquanto, pois o clima geral ainda não era, ou não parecia propício.
        Vale salientar que isso tem suas razões, explicitadas a princípio na sua vida pregressa na caserna, mesmo sofrível e repleta de irregularidades, segundo nota do próprio Exército que determinara o seu afastamento gratificado com a reforma a lhe garantir a patente de capitão.
        Nos seus "causos", muitos dos quais inventados, Bolsonaro contou que chegou a ajudar militares no interior de SP, na busca de gente do grupo de Carlos Marighella, no final dos anos 1960. Mas a sua admiração pelas comemorações do golpe de 64 sempre foi muito sincera.
        Seria ele um espírito golpista? Bem, possivelmente não. Na época ele era um jovem frango ainda menor de idade, mas, já definindo a sua decisão de entrar na carreira militar, pelo menos. O que viesse seria lucro.
        O lucro que ele quis resultou em sua ambição desmedida em atos indisciplinados na caserna, que todos já sabem: se achava merecedor de grande riqueza. Por isso viu na política o lugar certo onde se esbaldaria em liberdade e libertinagem - que se veriam ainda hoje.

-> Proposta do autocrata insatisfeito: reflexão final

        O alcance da presidência da República representa, para ele, o poder máximo, não só de estar no cargo mais alto do Executivo, e sim, principalmente, se achar com liberdades irrestritas. De ouvir da nação "excelentíssimo senhor presidente, capitão Jair Messias Bolsonaro".
        Como falado antes, a sua prática política é a projeção de sua pessoa, o seu próprio eco para toda a nação, no lançar de um personalismo paranoide, escoltado pelos filhos de utilidade bem duvidosa e uma penca de seguranças, muitos de origem suspeita.
        O sadismo de cortes reiterados nos setores mais sensíveis em pleno avançar da sindemia de C19, da destruição ambiental sistemática, da liberação de agrotóxicos condenados globalmente e outros, com ajuda dos ministros e inércia do Congresso, revela a sua pessoa e seu caráter autocrata personalista.
        A autocracia personalista de Bolsonaro é o arquétipo do ditador. É intolerante a tudo que discorde de suas ideias e que impeça o seu modus operandi, mesmo que o STF vete vários de seus decretos.
        Apenas uma minoria de brasileiros atende hoje à sua impulsiva necessidade de ser admirado. Mas um punhado não satisfaz seu apetite voraz de poder infindo. Parte para dominar tudo e todos, vindo aí então a proposta da comemoração do golpe de 1964.
        É usual os quartéis das FFAA celebrarem o golpe, na ausência do presidente. Foi nessa contexto, e usando a nostalgia popular dos "bons tempos das ruas tranquilas", que Bolsonaro agora comemorará em cerimônia junto aos militares em Brasília.
        A repercussão internacional foi ruim. O relator especial da ONU para a verdade Fabián Salvioli considerou ser "imoral e inadmissível" celebrar os "crimes horrendos" cometidos pela ditadura, e visar uma revisão para detrimir uma incontestável verdade histórica.
        Bolsonaro verá na comemoração judicialmente permitida o momento oportuno de se mostrar "o grande", reforçando a autoestima já deturpada pela psicopatologia, e sua monocracia totalitária por repressão à patuleia e mortes por queima de arquivo - verdades tão duras e incontestáveis quanto os horrores do golpe.

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Imagem: Google.

Notas da autoria
1. 

Para saber mais
- https://oimparcial.com.br/colunas/bastidores/bolsonaro-propoe-comemorar-55-anos-do-golpe-militar-no-brasil/
- https://www.dw.com/pt-br/comemorar-golpe-de-1964-%C3%A9-imoral-e-inadmiss%C3%ADvel-diz-relator-da-onu/a-48121663
- https://exame.com/brasil/militares-fazem-ato-em-sp-em-comemoracao-ao-golpe-de-64/
- https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/noticias/governo-bolsonaro-ganha-na-justica-direito-de-celebrar-golpe-de-1964/


domingo, 21 de março de 2021

Análise: a ditadura bolsonarista parte 2 


        Nessa semana, o presidente Jair Bolsonaro ficou irado com o desabafo da patuleia geral o chamando de "genocida" pela sua inação total diante das dimensões da tragédia da C19. Decidiu ameaçar geral com a Lei de Segurança Nacional.
        No dia 18/3, Bolsonaro foi ao STF conversar com o ministro e presidente do órgão Luiz Fux, que o questionou sobre a suposta ameaça de estado de sítio para "sossegar os ânimos" da geral.
        No calor da coisa, o presidente pediu na Justiça que liberasse comemorações oficiais do golpe militar de 1964. O ministro do STF Gilmar Mendes, quer analisar tudo isso.

-> "Genocida!"

        Que o mundo está sob uma nova onda da sindemia de C19 ninguém duvida. Houve novos dados mais altos de óbitos, o que já ocorre há algum tempo. Mas, nada comparado ao Brasil, cuja curva de óbitos sobe sem controle, frente à sorridente indiferença de Bolsonaro, Guedes et caterva.
        Continuando a defender o perigoso e fracassado Kit-C19 e aglomerações sem máscaras por aí, os Bolsonaros sorriem ao ver a atual faixa da assustadora cifra próxima de 3000 mortes oficiais diárias, que seria perfeitamente evitável se o governo tivesse tomado atitude certa há um ano atrás.
        Resultado: ecoa o grito "Genocida, genocida!!", iniciado por políticos, intelectuais, artistas e digital influencers, como resposta às exibições de frieza e desprezo à dor de milhares de famílias com medo e fome. Atravessou oceanos até chegar à ONU e Haia, onde as denúncias de genocídio estão em apreciação.
        Em 7/9/2020, Lula apontou Bolsonaro por usar a C19 como instrumento de "morte em massa", e repetiu a dose em discursos recentes. Também o chamando de genocida, Haddad engrossou o deboche em resposta à ameaça do presidente à geral por ser acusado de... genocídio.
        Genocídio vem do grego genis (origem), e cidis (morte), matar povo de certa nacionalidade, etnia ou cultura. Mais especificamente, é a morte em massa de um povo local em curto espaço de tempo, por diversos motivos e usando métodos e instrumentos mais convenientes ou variados.
        Na história das Américas há registros de genocídios de nativos praticados pelos colonizadores. No século XX há vários, como em várias guerras (sino-japonesa, II Guerra, as da Coreia e do Vietnã...). Há os internos, como o da Bósnia e o da etnia tutsi de Ruanda nos anos 1990, e dos palestinos por Israel até hoje. 
        Aqui há diferenças: embora queira muito armar toda a população, Bolsonaro tem utilizado outros meios perigosos, como os mais de 400 agrotóxicos proibidos no resto do mundo, devastação ambiental, grilagens, assassinatos de índios e MSTs, cortes de benefícios sociais, e agora, o vírus da C19.
        Sua aliança com o Corona gerou o bolsovírus, que se tornou o mais eficiente instrumento de sua política de extermínio. O Corona sozinho é uma poderosa força da natureza, mas é bem menos letal do que o político bolsovírus, que se mostra mais perigoso do que as piores variantes naturais.
        Nessa semana em que houve quase 3000 mortes oficiais diárias, houve entrelinhas de que o dado é ainda maior, na faixa dos 3000 nos piores dias. Por conta disso, há quem aponte a possibilidade de o bolsovírus ser outra arma para um suposto golpe anarcomilitar.
        Calma, que ainda tem mais.

-> Ameaça na Lei de Segurança Nacional (LSN)

        A raiva presidencial se traduziu em ameaças a quem o chamasse de genocida. Enquanto a proposta de reformulação das PMs (falada neste blog) não sai, Bolsonaro lança mão da LSN como intimidação.
        A Lei de Segurança Nacional (LSN) atual foi criada em 1983, no final da ditadura. A alegação na época foi a mesma dos demais países, a de forma primária de defesa à soberania nacional. Mas, como ainda era uma ditadura e a demagogia sempre existiu, no Brasil ela teve outros fins.
        Na prática, essa lei serviu mais para regulamentar a intimidação sobre o próprio povo brazuca se resistir aos desmandos do governo e da elite. Endureceu a proteção à elite contra o suposto perigo dos pobres. Claro que na ditadura a desculpa era encontrar comunas infiltrados. Só que... 
        Agora estamos em contexto que restringe os comunistas à psicose da família Bolsonaro, pela qual bastou o presidente enquadrar o influenciador digital Felipe Neto, que nada tem de comunista, na LSN. E, não satisfeito, quer estendê-la a qualquer um que o chame de genocida.
        Se isso vier à tona, significaria praticamente um estado de sítio (previsto na LSN para situações excepcionais). Em se falando de estado de sítio, Bolsonaro se encrencou ao acionar o STF contra as ações restritivas de governadores de 3 estados para frear o descontrole da C19.
        Se encrencou porque o ministro do STF Luiz Fux o chamou para se explicar sobre esse estado de sítio. Pois, pela Constituição, a liberdade de expressão, desde que não lesione os governantes, tanto da parte do povo quanto de cátedra e de imprensa, são garantias democráticas constituídas.
        Bolsonaro disse não ter decretado estado de sítio contra ninguém, mas comparou o lockdown dos governadores dos três estados a estado de sítio. Nada a ver. Será que a Europa aplicou estado de sítio por causa de um vírus? Sem sentido algum.
        O lockdown tem sido medida encontrada para conter, com relativa eficiência. o descontrole da sindemia de C19, somado às medidas profiláticas da OMS. O estado de sítio é empregado em extrema crise sociopolítica, guerra civil, ditadura ou guerra geral. Dois eventos distintos, mesmo semelhantes.
        O STF reagiu. O ministro Lewandowsky mencionou que a ameaça de estado de sítio através da LSN sobre a geral por chamá-lo de genocida, e a questão do lockdown em três estados é, na verdade, "um fóssil normativo". Ou seja, apelar por uma atitude típica da ditadura não cabe ao contexto atual.

-> Reflexão final: a atenção continua

        Como se pode ver, as ações de Bolsonaro têm muito de alarde onde não há necessidade. Por ser mestre em causar alarmes e cortinas de fumaça justamente em momentos tão cruciais nessa esfera sociopolítica, muitos já se perguntam o que há por trás do festival de bravatas.
        Sim, esses dois anos têm sido de muita bravata, que alimentou a popularidade do presidente, ainda que seja no seu nicho eleitoral, hoje cada vez menor. Mas, foram maciotas para distrair o povo de seu viés autoritário e seus objetivos escusos.
        Viés que agora se transparece e com que Guedes se afina bem. Que o diga Pinochet. A tranca de direitos tem sido bem festejada pelos mais ricos, que lucram sobre os encargos pesados pagos pela patuleia popular. Somada com a encolha da oposição, Bolsonaro se sente totalmente à vontade.
        As ameaças e interferências do presidente mostra não só o seu autoritarismo, mas também suas fragilidades: sabe que tudo tem um limite e sente que o seu próprio limite pode estar mais próximo do que se imagina. Só não sabemos qual e como vai se operar.
        Os primeiros limites já se vislumbram: a lua de mel com o Centrão já acabou, e a relação com as FFAA não é muito diferente: promíscua, prostituída e hipócrita. Eles estão lá pelo salário. Não há, na verdade, um apoio incondicional dessas duas partes a Jair.
        Mas devemos ter atenção a Bolsonaro mesmo assim: ao dizer a apoiadores que "só Deus me tira daqui", ele pode estar em ameaça real, e pode usar seu plano B: decretar a formação de ala paramilitar de PMs estaduais que, alerta Marcelo Freixo (PSOL) ao canal do Youtube Galãs Feios, pode ser um instrumento de golpe - caso o resto se fracasse.
        Claro que esse plano B também expressa a fraqueza pessoal do governante. Mas, para um sujeito com possível perfil psicopata, merecemos estar alertas a qualquer movimento. Toda atenção é pouca.

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Imagem: Google

Notas da autoria
1. 

Para saber mais
- https://www.politize.com.br/lei-de-seguranca-nacional-o-que-e/
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_de_Seguran%C3%A7a_Nacional
- https://www.dw.com/pt-br/lei-de-seguran%C3%A7a-nacional-vira-meio-para-constranger-opositores-do-governo/a-56934688
- https://noticias.uol.com.br/colunas/camilo-vannuchi/2021/03/18/bolsonaro-pode-ser-chamado-de-genocida.htm
- https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2021/03/17/haddad-chama-bolsonaro-de-genocida-por-que-nao-manda-a-policia-aqui.htm
- https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/julia-rocha/2021/03/16/se-nao-posso-chamar-de-genocida-eu-chamo-de-que.htm
- https://www.poder360.com.br/internacional/lula-volta-a-cobrar-articulacao-do-g20-por-vacinas-e-ataca-bolsonaro/
- https://odia.ig.com.br/brasil/2021/03/6108367-manifestantes-fazem-ato-a-favor-da-vacina-e-chamam-bolsonaro-de-genocida.html
- https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2020/12/12/interna_politica,1219925/bolsonaro-ataca-jornalista-que-o-chamou-de-genocida-assunto-repercute.shtml
- https://www.cartacapital.com.br/justica/policia-intima-felipe-neto-por-chamar-bolsonaro-de-genocida/
- https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/03/4912874-fux-liga-para-bolsonaro-questionando-declaracoes-sobre-estado-de-sitio.html




sexta-feira, 19 de março de 2021

#Curiosidade: psicose e esquizofrenia


Eventualmente se noticia sobre pessoas que, alegando mando insistente de vozes em suas cabeças, cometem algum ato insano. Alguns são penalizados, mas há casos que terminam condenados ao manicômio, para se tratar. Esse será assunto no canal #Curiosidades, subcategoria Transtornos psiquiátricos.

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        Há algum tempo a sra. Aldine observa o jeito estranho do filho Felipe. Ele sempre foi tranquilo e sem vícios, mas ultimamente está esquisito: olha apavorado para a parede vazia da sala sem ter nada nem ninguém e diz algo desconexo. Com suspeita, ela iria tirar a limpo em momento oportuno.
        Quando Felipe, bem lúcido, foi visitar o pai, ela procurou minuciosamente algum indício de droga no quarto dele. Nada. Mais tarde, se assusta: o jovem chega em crise, trazido pelo pai, que contou ter procurado por droga, sem sucesso, ao perceber a conduta alucinada do filho. Ambos decidiram ser necessário fazer algo.
        No dia seguinte levaram Felipe ao ambulatório hospitalar. Pelo histórico contado pelos pais, o psiquiatra confirmou hipótese de transtorno psicótico ou esquizofrênico. Seu Chico, o pai, já esperava: teve um tio esquizofrênico. Mesmo tristes com a constatação, os pais se uniram para lutar pelo filho.

-> Psicose e Esquizofrenia

        São dois transtornos agregados em características clínicas-chave a desconexão com a realidade (desrealização); comportamento, pensamento e fala bizarros; disfunções cognitiva, social e laboral; e achatamento emocional-afetivo.

Psicose
        É uma síndrome com perda de contato com a realidade (desrealização) e alteração de consciência de seu eu (despersonalização) e do mundo em que o paciente se insere, que incorrem em pensamento e fala desorganizados e comportamento motor bizarro. 
        O Manual de Doenças Mentais (DSM-V) também define a psicose como um quadro sintomático importante na esquizofrenia, mas como síndrome diferencial pela Associação Norte-americana de Psiquiatria, modificando o tradicional conceito de loucura.
        A psicose tem fases: precoce (sintomas ativos e às vezes piores), intermediária (episódios de crise e remissão visíveis e contínuos, com piora funcional) e tardia (padrão de transtorno, com incapacidade funcional estável ou a diminuir), importantes na classificação do transtorno da esquizofrenia.
        Prevalência: entre 0,5 e 1% na população geral.
        Etiologia: neurobiológica (alteração estrutural do cérebro e alterações neuroquímicas, genética); ambiental (risco social amplo).
        Comorbidade: a psicose é comórbida da esquizofrenia.
        Diagnóstico: diferencial, em seu conjunto clínico. 
        Tratamento: ver abaixo em Esquizofrenia.

Esquizofrenia
        Importante transtorno com alucinações visuais e/ou auditivas, delírio (crença falsa ou bizarra), fala e pensamento desorganizados, déficit cognitivo (raciocínio, memória e resolução de problema), conduta motora bizarra ou inapropriada, e embotamento emocional ou afetivo. Muitos desses sintomas são da psicose que acompanha o transtorno.
        Sua gravidade é variável, desde crises mais brandas até as mais agressivas e incapacitantes. Se inicia no fim da adolescência ou no começo da fase adulta, e pode ser progressiva até incapacitar o paciente. Pode progredir em fases, com duração e padrão variáveis: prodrômica, prodrômica avançada, psicótica (precoce, intermediária e tardia - supracitadas em Psicose).
        Prodrômica- sintomas desorganizados mais leves, ainda sem prejuízo social ou laboral, a serem reconhecidos retrospectivamente, e pode se agravar trazendo tal prejuízo.
        Prodrômica avançada- sintomas subclínicos de isolamento, irritabilidade, desconfiança, distorções perceptivas, pensamentos incomuns, desorganização. Delírios e alucinações podem surgir em dias ou em anos. 
        A categorização sintomática é positiva (distorção funcional, incluindo delírios e alucinações), negativa (diminuição ou perda das funções e afeto), desorganizada (pensamento e conduta bizarros) e cognitiva (déficit no processamento de informações e resolução de problemas).
        Fala pobre e concisa; olhar vago/ sem contato e face inexpressiva; anedonia (atividade sem prazer ou propósito); sociabilidade baixa ou nula; perda de objetivos; deficiência cognitiva (velocidade de processamento, atenção, memória de trabalho/ declarativa, abstração, resolução de problemas, entender interações).
        Os delírios são convicções errôneas em relação à realidade. Podem ser persecutórios (achar que está sendo enganado, perseguido ou vigiado); de referência (acreditar que textos de livros, jornais ou letras musicais sejam ligadas a ele), e de retirada/ inserção de pensamento (crer que outros leem seus pensamentos ou que estes vão para outras pessoas).
        Esquizofrenias com sintomas negativos dominantes são as com déficit, e as com dominância dos positivos, sem déficit. Até 6% dos esquizofrênicos se suicidam, 20% são tentativas, e a ideação forte é mais comum, sendo os mais susceptíveis os de início tardio e bom funcionamento pré-mórbido.
        A violência geralmente se restringe a esquizofrênicos com história de abuso de psicoativos, que não se tratam e os com delírios persecutórios; ainda assim as ameaças sem consumar são mais comuns. 
        A violência é rara na esquizofrenia, é mais comum ameaçar de violência, sem consumar. Os com abuso de psicoativos, os que não se tratam e os com delírios persecutórios tendem a cometer delitos.
        Comorbidade: TOC, personalidade borderline, depressão maior em até 40% dos casos. 
        Prevalência: 1% na população geral.
        Etiologia: ver acima, em Psicose.
        Diagnóstico: critério clínico DSM-V; combinação de sinais e história, com ajuda de família ou amigos. Quanto mais precoce, melhor o prognóstico de sucesso no tratamento. Diferencial na distinção com psicoses oriundas de outros distúrbios médicos ou por abuso de psicoativos.
        Tratamento: antipsicóticos; reabilitação com retificação cognitiva, interação comunitária e serviço de suporte; psicoterapia para treinar a resiliência.

-> Mediunidade e esquizofrenia

        A esquizofrenia e a psicose são temas que reacendem debates em grupos que reúnem religiosos (especialmente espiritualistas), alguns intelectuais (em parte céticos) e leigos sobre os significados de um fenômeno observado em várias crenças espiritualistas: a mediunidade.
        Esse debate não é nada novo, na realidade. Já houve até apresentações televisivas no passado em referência a esses assuntos, como o Pinga-Fogo da extinta TV Tupi, entre o fim dos anos 1960 e início dos 70, que deu ao médium mineiro Chico Xavier projeção nacional com suas participações.
        Em algumas entrevistas, o famoso médium dissera que alguns "loucos" (como eram chamados os esquizofrênicos) poderiam ter "grande abertura para mediunidade" - o que explicaria muitos espíritas acreditarem seriamente numa relação, e a forte reserva científica sobre isso.
        Segundo publicação do Arquivo de Notícias da UFJF1 (2010), estudiosos do Nupes2 até admitem haver semelhanças entre manifestos psicóticos e mediúnicos, mas afirmam haver independência entre ambos. Eles se basearam em experimentos com um grupo de médiuns e outro de psicóticos.
        Os 100 médiuns psicografaram textos de autoria de falecidos e própria, e os estudiosos notaram ligeira diferença de zonas cerebrais ativadas. Comparando com imagens obtidas dos psicóticos, viram novas diferenças locais, o que os levaram à citada conclusão de independência.
        O estudo fez parte da tese de doutorado de Adair Menezes Jr., que pretendeu ver se a experiência espiritual é, ou não, uma forma específica de transtorno mental, daí ter chamado os 100 médiuns para averiguação minuciosa caso a caso.
        Dessa averiguação Menezes Jr. enumerou nove critérios diferenciais: ausência de sofrimento psicológico; ausência de prejuízo social e ocupacional; curta duração do manifesto; criticidade (dúvida da realidade objetiva da vivência); compatibilidade cultural-religiosa; ausência de comorbidade; ajuda ao outro; controle sobre a experiência e crescimento pessoal ao longo do tempo.
        O psiquiatra do Nupes, Alexander Moreira-Almeida ainda verificou relação da mediunidade com transtorno de personalidade múltipla, mas as imagens e o bom ajustamento geral dos médiuns estudados afastou hipótese de qualquer transtorno mental. E acrescentou:
"Os médiuns, assim como qualquer pessoa, podem sofrer de transtornos mentais. Mas os estudados exibiram bom nível de ajustamento social e uma prevalência de problemas psiquiátricos menor do que na população geral".
        Apesar da tese afirmar a mediunidade como fenômeno independente e não patológico, o professor alertou que a crença na aliança da mediunidade com surto psicótico deve ser apenas pessoal, para se evitar, entre os fiéis, a minimização dos transtornos psiquiátricos em geral como problemas de saúde pública, sendo a psicose e esquizofrenia entre os mais importantes.

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Imagem: Google (site A Psicanálise)

Notas da autoria
1. 

Para saber mais
- https://www.apsicanalise.com/index.php/blog-psicanalise/48-artigos/370-pequenas-explanacoes-sobre-psicose-esquizofrenia-neurose-e-psicanalise
- http://www.psiquiatriageral.com.br/psicopatologia/sindromepsicotica.htm
- https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/esquizofrenia-e-transtornos-relacionados/esquizofrenia
- https://www.ufjf.br/arquivodenoticias/2010/05/pesquisa-revela-que-mediunidade-nao-esta-atrelada-a-esquizofrenia/






 

sábado, 13 de março de 2021

Análise dos fatos pós-decisão de Fachin

Análise: o furacão Lula!


     O Dia Internacional da Mulher de 2021 veio fulminante. Muito mais do que um dia de lembrar de tantas lutas renhidas há mais de um século, foi um momento especial no contexto sociopolítico brasileiro: o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula, está de volta. Com direitos políticos plenos.
     Esse retorno aconteceu graças à decisão do ministro do STF Edson Fachin de suspender as penalidades imputadas ao ex-presidente pelos ex-juízes federais Sérgio Moro e Gabriela Hardt, em tribunal de Curitiba, ambas no âmbito da operação Lava Jato, pelo caso do tríplex do Guarujá, no litoral de São Paulo, e no do sítio de Atibaia, no interior do estado.
     A decisão retira de Lula a espada jurídica pela qual as condenações em 2ª instância o enquadraram na Lei da Ficha Limpa, devolvendo a ele os direitos políticos então suspensos, conforme previsto na citada Lei.

-> Fatores da decisão de Fachin

     A decisão de Fachin foi movida por razões jurídicas a escancarar a conduta ilegal de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol no caso Lula. Mas, o foi também por razão interna: Fachin sempre foi favorável à operação da PF sobre corrupção que envolveu agentes políticos, gestores públicos (Petrobras) e empresários. 
     As empresas privadas envolvidas foram as empreiteiras Odebrecht, da família de mesmo nome; e a OAS. Também foi envolvido no imbróglio o grupo JBS, do qual faz parte a empresa Friboi, que entrou nas fake news como sendo propriedade de Lulinha, filho do ex-presidente.
     As citadas empreiteiras participaram de várias obras dos governos petistas, em especial as obras do PAC1. Aliás, a Odebrecht atua junto desde a ditadura. Como previsto em lei. O que pegou foi o mau uso dos recursos públicos pelas empresas. Que, vale lembrar, é um ato bem anterior ao PT e a Lula.
     E, na intepretação do STF, as ações de Moro em coordenar as investigações e Dallagnol em forjar provas documentais foram provadas em diálogos captados por hackers que ajudaram no derrame de informações conhecido como Vaza Jato pelo The Intercept Brasil ainda em 2018. Elas foram liberadas a Lula pelo STF recentemente.
     Além de toda a ilegalidade das atuações de Moro e Dallagnol, as conversas provaram a parcialidade de Moro, revelada no claro intento dos envolvidos em tirar Lula da disputa eleitoral de 2018, quando as pesquisas de intenção de voto davam ampla possibilidade do petista sobre Bolsonaro e demais nomes.
     Junta-se também na lista de ilegalidades o fato de uma sede de Curitiba não ter a competência para julgar a série de fatos de âmbito federal muito mais amplo, que deveria ser feita em Brasília. Mais do que as conversas, a incompetência local foi considerada por Fachin.
     Apesar das provas de má-fé dos de Moro e Dallagnol, Fachin queria a todo custo evitar a votação da suspeição de Moro pelos colegas para livrá-lo do pior. Mas, a votação acabou ocorrendo a posteriori, terminando empatada em 2 a 2, com Nunes Marques pedindo vistas "para se decidir". 
     Quem se deu bem nesse momento foi Lula. Até situação em contrário.

-> O efeito Lula

     Como a internet informa em tempo real, logo o fato a libertar Lula caiu na imprensa internacional, com repercussão em sua maior parte positiva, ainda que cautelosa. No mesmo dia 8/3, Lula recebeu mais ligações felizes dos governantes de outros países do que Bolsonaro em todo o seu governo.
     O povo se dividiu na maioria que foi positiva à decisão de Fachin, e a parte minoritária teve certa ironia ou revolta, mas os bolsonaristas e a caterva de Bolsonaro ficaram irados.
     Brasília ficou em polvorosa. O presidente da Câmara Arthur Lira condenou a decisão de Fachin; a PGR de Augusto Aras entrou com recurso contra a decisão. Nos bastidores se comentou que o Planalto teve chilique antes de Bolsonaro alegar a inverdade de que Fachin "teve forte ligação com o PT". 
     O vice-presidente Hamilton Mourão argumentou sobre a decisão como um "perdão à corrupção", e, "diplomático", tentou minimizar: "se em 2022 escolherem o PT, paciência". Mas seria ofuscado após o que veio: o discurso devastador de Lula.
     O discurso mostrou o estadista que a prisão refinou em vez de apagar. As muitas leituras, visitas de autoridades e entrevistas lhe refinaram o linguajar sem perder a arte do improviso, bem humorado e as rasteiras na mídia e no governo na condução da C19, com direito a campanha de conscientização.
     Claro que houve algumas escorregadas em um ou outro ponto no discurso, mas o espírito estadista com inegável poder popular e de oratória as ofuscou. 
     A internet mostrou maior intensidade reativa da geral após o discurso de Lula. Memes explodiram constrangendo ainda mais a ala bolsonarista, que sem argumento contra o discurso se limitou a atacá-lo de "ladrão", "o maior corrupto da história", e outras ladainhas já batidas. 
     Devastado, Bolsonaro sancionou decreto de incentivo à vacinação, e discursou com máscara a favor da vacina. Seu filho Flávio tuitou uma defesa à vacina, após muito achincalhá-la. Antes de anunciar a saída de Pazuello pelo médico e deputado do centrão Luizinho, no MS.
     Acusado de atraso no cronograma de vacinação, o MS já anunciou a compra de mais de 30 milhões de doses da vacina AstraZeneca, e outro lote de doses da russa Sputinik V - últimas ações de Pazuello.
     Após "causar" com vídeo curto enquanto dirigia, criticando a mídia sobre a campanha preventiva da C19 e sugerindo colocar máscara no furévis, Eduardo Bolsonaro finalmente tuíta defendendo uso de máscara e a vacinação com o ZéGotinha empunhando uma seringa improvisada em fuzil.
     Para finalizar este item: o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, cutuca Bolsonaro com elogios ao discurso de Lula reconhecendo-lhe a vocação estadista, apesar das nítidas diferenças políticas. Depois de sair pela porta dos fundos sem acenar ao clamor popular, tudo vale, não é? 

-> Reflexão final

     Em todos os aspectos acima, Lula deu uma reviravolta no status quo bolsonarista. Pelo menos na cena externa aos bastidores, aos olhos do público - o que merece reflexão se foi mesmo efeito de um encurralamento pelo efeito lulista, ou se foi mera conveniência da família e sua caterva. 
     Encurralado devido à súbita mudança de conduta e a expressão abatida do presidente. Conveniência por surgir tal mudança em momento crucial de sindemia da C19 e planejamento pré-eleitoral. Nesse caso se configura uma manobra grosseira, demagógica e mentirosa dos Bolsonaro, que não convence.
     Mas, segue a caravana aos trancos e barrancos. A substituição de general de intendência que falhou na sua especialidade logística, por médico no MS, aparentou ser positiva. Mas, em se tratando da era Bolsonaro, vale uma boa checada no histórico deste Luizinho como gestor em saúde.
     A tuitada de Eduardo Bolsonaro com o Zé Gotinha armado como descrito acima demonstra não só o mau gosto pela violência, como a tendência delituosa implícita em personalidades antissociais forjadas na má educação. A frase de Flávio reflete o seu tradicional cinismo. Válido refletir.
     Para finalizar, o próprio Lula. Ele mostra que se movimenta bem além das preocupações internas em seu partido: antes da entrevista coletiva, ele se reunira com o pessoal de um fundo russo e escreveu uma carta para o líder da China, Xi Jimping. O objetivo convergente é a aquisição de mais vacinas. 
     Mostra ele não só astúcia, tem inteligência política. Deu uma dura lição de ação e diplomacia, além de oratória e elegância com os jornalistas, sem perder apelo popular. 
     Por isso, se pode finalizar aqui que, enquanto Bolsonaro é o presidente oficial, em voto e burocracia, Lula é o estadista ex-oficio. Um é o corpo que carrega a faixa presidencial, mas o outro é a sombra que tende a pôr as coisas em movimento, o que se espera de um líder da nação.

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Imagem: Google

Notas da autoria
1. Programa de Aceleração do Crescimento, conjunto de tarefas de infraestrutura e desenvolvimento em PPP (participação público-privada) nos governos Lula com casas populares, ampliação de acesso à água e eletricidade, crédito popular, etc. 

Para saber mais
- https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2021/03/10/com-discurso-de-estadista-lula-se-torna-a-gastrite-de-bolsonaro-ate-2022.htm
- https://www.agazeta.com.br/brasil/lula-afirma-em-discurso-que-pt-nao-pode-ter-medo-de-polarizar-0321
- https://g1.globo.com/politica/blog/andreia-sadi/post/2021/03/11/nos-bastidores-governo-admite-que-queria-polarizacao-com-pt-mas-nao-com-lula.ghtml
- https://ricardoantunes.com.br/exclusivo-bolsonaro-troca-pazuello-pelo-deputado-luizinho-na-saude-e-reforca-apoio-do-centrao1/
- https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-03/ao-congresso-pazuello-nega-atraso-em-cronograma-de-vacinacao
- https://blogs.oglobo.globo.com/bela-megale/post/lula-e-vacina-reuniao-com-fundo-russo-sobre-sputnik-v-e-carta-para-xi-jinping.html




quinta-feira, 11 de março de 2021

Reflexão: um dia de muita luta



     Já é sobejamente conhecido por nós de que o dia 8/3 é o Dia Internacional da Mulher. O que muitos não sabem, certamente, é de sua historicidade. Ele surgiu de uma reunião comemorativa no estadunidense Partido Socialista da América, de orientação social democrata, no início do século XX, por igualdade e luta pelo voto feminino.
     Sim, partido Socialista da América, nos EUA. Que existe até hoje, ao contrário do que pensam os críticos do pluripartidarismo brasileiro. Ele é apenas um entre as dezenas de partidos que se adensam em dois grandes blocos famosos, o Republicano, de tendência mais conservadora, e o Democrata, mais progressista por sua vez, conforme autodeclarados.
     Nesse sentido, o pluripartidarismo estadunidense se distingue do brasileiro por não existir, na legislação partidária brasileira, esse adensamento que ocorre nos EUA. O citado partido devia se destacar como independente à época.
     Mas, por que essa decisão? Sigamos um pouco mais na história. 

-> Primórdios

     A iniciativa do citado partido estadunidense, que visou a igualdade de direitos civis, foi louvável, na influência da assimilação filtrada do ideal marxista sobre o papel feminino na vida produtiva. Marx e Engels já percebiam a hiperexploração do trabalho delas, enfatizando seu valor nas lutas de classe.
     No auge da I Revolução Industrial, já havia participações femininas em protestos de trabalhadores nas fileiras da Revolução de 1848 e na Comuna de Paris (1871), entre outros manifestos menores na época. Em média, mulheres e crianças trabalhavam até 12 horas diárias, com ganhos bem inferiores aos dos homens.
     A ideia de comemoração anual veio da alemã Clara Zetkin1, mas sem especificar um dia, o que viria depois, em manifestos ocorridos nos EUA em março de 1911 por conta de incêndios em fábricas nos quais quase todas as centenas de vítimas fatais eram mulheres, e outro grande na Rússia em 8/3/1917, que eclodiu mais tarde na Revolução soviética.
     O manifesto feminino russo foi o chute final para a determinação do dia da mulher, estendendo as homenagens às vítimas estadunidenses dos supracitados incêndios de 1911, o que se chegou a se cogitar ser uma sabotagem, o que não foi oficialmente confirmada.
     Outros eventos se seguiram, e a ONU tornou 1975 o Ano Internacional da Mulher, num resgate da data após certa queda de seu significado entre o grande público. E desde então muita coisa ocorreu de forma a promover maior visibilidade ao gênero feminino.

-> Reflexão final: nada a comemorar, muito a lutar

     Que o papel social da mulher ganhou uma relevância considerável no mundo nas últimas décadas, não resta dúvida. Todavia, a sombra de numerosas violações as acompanham, muitas delas tornadas leis em alguns países.
     Apesar da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW em sigla em inglês) documentada pela ONU, ainda se registram muitas violações de direitos contra meninas e mulheres no mundo inteiro. Há numerosos exemplos.
     Apesar da imensa maioria de países signatários, a CEDAW é amplamente desrespeitada, em parte por conta da influência das profundas tradições que predizem sobre o papel social feminino em muitas culturas. 
     Em países de regime islâmico (sharia2) há papeis distintos de gênero. A elas são vetados certos esportes, sexo pré-casamento, andar sem hijab (lenço da cabeça) e/ou niqab (rosto), calça comprida, e até escolas laicas, exceto madrassas3, variando localmente. Nos laicos, o valor da sharia é relativo.
     Mesmo no Ocidente e no Oriente high tech (China, Japão, Taiwan, Coreia do Sul), desigualdades de gênero são flagrantes, não importam o bom espaço no mercado de trabalho e mais estudo. Persistem os tabus das médias salariais mais baixas, assédios em geral, violência doméstica, crimes sexuais, etc.
     A ascensão da extrema-direita, tornada governo em alguns países, promete reveses. Emblemático, o Brasil de Bolsonaro retrocede ao negar recursos para abrigos às vítimas de violência doméstica, com o recrudescer de crimes sexuais e feminicídios, propostas de criminalização total do aborto, etc.
     A exótica diplomacia atual tem polemizado em eventos internacionais de direitos femininos no plano sexual-reprodutivo. Para se fortalecer, aproximou-se de países conservadores como Polônia, Hungria, Ucrânia, Arábia Saudita, Indonésia e outros, para a contenção de tais direitos.
     Embora sem prática conhecida no Brasil, a mutilação genital feminina (MGF) é comum em mais de 30 países na África, Ásia e até da UE. Mesmo sendo crime em quase todos eles, ela ainda é praticada, com prisões eventuais. A Pleno News acusa os grupos feministas de hipocrisia com as vítimas da MGF.
     Vale lembrar que nos países da sharia as lutadoras são muito reprimidas. Mas, em outros países de ocorrência, as denúncias partem de grupos feministas locais, graças aos quais a ONU publicou, em 2012, resolução internacional condenando a prática, ameaçada pela turva aproximação do Brasil dos países onde a prática é recorrente.
     Portanto, não é nada fácil lutar contra os interesses dos grandes grupos transnacionais, que roubam as atenções dos governantes que terminam invisibilizando os direitos das mulheres nos países mais pobres, que mesmo não sendo vítimas da MGF, o são de outras tantas violações de nível global.
     O Dia Internacional da Mulher pode ser mercadologicamente comemorado. Mas, sobretudo, é para todas as mulheres, um dia de luta. Muita luta, nada a comemorar.

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Imagem: Google

Notas da autoria
1. Líder feminista da época, ela se destacou na Internacional Socialista de 1910 em Copenhagen, Dinamarca, onde explicitou a ideia acima escrita.
2. Lei islâmica, que determina os caminhos a serem seguidos na legislação e na vida política de países de maioria islâmica.
3. Escolas de alfabetização e leitura do Corão para meninas. Em países laicos são opcionais, por haver escolas laicas.

Para saber mais
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_Internacional_da_Mulher
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Socialista_da_Am%C3%A9rica#:~:text=O%20Partido%20Socialista%20da%20Am%C3%A9rica,do%20Partido%20Socialista%20Trabalhista%20da
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Inc%C3%AAndio_na_f%C3%A1brica_da_Triangle_Shirtwaist
- https://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2013/03/convencao_cedaw.pdf
- https://pleno.news/opiniao/marisa-lobo/a-hipocrisia-feminista-e-a-circuncisao-feminina-na-africa.html
- https://memoria.ebc.com.br/2012/11/onu-aprova-resolucao-condenando-mutilacao-feminina
- https://brasil.elpais.com/brasil/2020-07-09/cruzada-ultraconservadora-do-brasil-na-onu-afeta-ate-resolucao-contra-mutilacao-genital-feminina.html

 

segunda-feira, 8 de março de 2021

O morticínio de Bolsonaro: reflexão

     Enquanto o mundo começa a sentir a remissão dos números da sindemia de C19, o Brasil assume a frente do avanço da maré. Entre preocupado e indignado, o mundo assiste às cenas de cemitérios que não param de crescer, e a dor dos que ficam a digladiar com a insensibilidade do governo.
     
A foto ao lado mostra um cemitério urbano a se expandir entre cercas de mato em alguma cidade brasileira qualquer. à esquerda da foto, já aparece outra ala do cemitério. Vejam essa foto para se ter ideia do seu tamanho, e para mostrar que algo está anormal por aqui. E segue assim.
     Não é de se admirar que toda essa miscelânea paradoxal ecoe forte na mídia internacional, com riqueza de detalhes dos quais possivelmente os europeus e estadunidenses saibam mais do que nós, brazucas, do que ocorre aqui. 
     Nessa mistura paradoxal de fatos um personagem invisível se protagoniza: a diversidade do vírus da C19. Diversidade esta que acrescenta mais spoilers de reflexão neste artigo.

-> Aglomerações fatais

     A cada mais de 1000 mortes diárias, sem considerar as muitas subnotificações, ocorre um evento popular em que a figura central é Bolsonaro. Ele está lá, sem máscara para dar seu exemplo e incentivar mais aglomerações ao debochar dos que lutam para se cuidar e viver para tocar o país.
     Nesses eventos festivos se opera discurso de palanque- característica notória da cultura política do Brasil desde sempre. Mas, para Bolsonaro, da boca para fora, há um motivo, como mostra Leonardo Sakamoto, em artigo da blogosfera do UOL em 2/3:

"Ele acredita que a melhor forma de passarmos pela pandemia é todo mundo ir para a rua e se expor ao coronavírus para adquirir a imunidade de rebanho. E os mortos e feridos que deixaríamos com essa tática suicida? Como ele mesmo disse, todo mundo morre um dia. Quer dizer, dane-se".

     Nessa citação se evidenciam dois pontos consideráveis, um deles a ignorância sobre a imunidade de rebanho, e a estarrecedora insensibilidade com os sentimentos dos outros em relação à morte, que tem vergonhosa repercussão global.
     É normal que a vida nos traga maturidade psicológica suficiente para encararmos a morte de forma bem realista, mas sempre choraremos a perda de nossos entes queridos. Mas Bolsonaro é um caso à parte, nada normal. É possível que, se um de seus filhos morrer, ele reaja com frieza.
     A frieza com outrem já foi tratada neste blog, sobre a alta chance de personalidade antissocial e/ou psicopatia. Bolsonaro se alega na carreira militar, mas a sua afirmativa é desmentida pelo seu laudo psicológico feito por psicólogo do Exército, que consta diagnóstico de "agressivo, antissocial e inapto para a vida militar".
     Já a imunidade de rebanho é pouco compreendida mesmo. Essa resistência adquirida por exposição contínua e secular a determinado patógeno existe, surge via evolução por seleção natural de indução à memória imunológica. Para se ter uma ideia, 520 anos depois, ainda há indígena morrendo por gripe comum no Brasil.
     Amarrando a explanação acima, pode-se dizer que, por sua capacidade manipuladora, o presidente induz aos populares em geral a seguir a vida pré-C19, um caminho ao abatedouro, invocando pelas aglomerações fatais no sórdido mote de salvar a economia.

-> Sindemia a serviço de Bolsonaro ou coincidência? Reflexão final

     Que a C19 é uma sindemia a encontrar nas condições socioambientais, sanitárias e políticas terreno fértil para a sua disseminação; que o seu vírus é transmissível e a cada mutante, mais agressivo, disso não se tem mais dúvidas. O que não se esperava era deparar com governos favoráveis ao flagelo. Como Bolsonaro.
     Neste âmbito, não podemos descartar que o aparecimento da C19 em plena era Bolsonaro seja, de fato, uma forte (e péssima) coincidência. Afinal, é uma força da natureza, mesmo que os fatores para a sua disseminação tenham sido antrópicos - ainda mais no comportamento desse governante.
     Não seria de se surpreender, se a galera se lembrasse de que o Brasil já teve governantes relapsos antes, como os da ditadura militar, que demoraram a agir contra a também sindemia de meningite que assolou o país em 19743-4. Seria algo a ser lembrado, mas, enfim, são outros tempos.
     Mas, mesmo sendo a era Bolsonaro um contexto diferente da do regime militar, alguns aspectos históricos se repetem, como o viés autoritário e a prioridade em satisfazer interesses de grandes grupos privados na hiperexploração das classes populares e o desprezo aos serviços públicos essenciais.
     É certo que Bolsonaro já se prestava com retrocessos ainda em 2019, mas o seu encontro com a C19 apressou ainda mais as coisas. O descontrole da C19 evidencia esse retrocesso de 50 anos em 2 anos, pois lembra o comportamento inicial do surto da meningite há 37 anos.
     Nesse encontro, Bolsonaro conseguiu vislumbrar e fazer valer o bolsovírus, resultado da fusão do líder com o vírus. O Corona é natural, mas não o bolsovírus, e é este o mais agressivo e contagiante, abrindo as porteiras e pavimentando a avenida para o abatedouro coletivo, onde passa a sua boiada.
     É a partir desse encontro, ocorrido há um ano e hoje mutante e mais agressivo, que o bolsovírus mostra não ser uma coincidência, e sim um produto premeditado de um plano cruel e desumano, que revela a concepção distorcida de Bolsonaro sobre o povo como descartável após satisfazer seus desejos. 
     Mas, o bolsovírus não pensa amplamente: com o fim de quem ele mais oprime, ele próprio terá o seu fim. Um fim que tem tudo para ser tão trágico quanto o das centenas de milhares que matou. Com uma diferença ainda mais amarga: no seu próprio leito de morte, não verá uma lágrima de condolência.
      
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Imagem: Google

Notas da autoria
1. 

Para saber mais
- https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2021/03/03/bolsonaro-sabota-medida-capaz-de-frear-covid-e-ritmo-das-mortes-acelera.htm
https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-sakamoto/2021/03/02/bolsonaro-ve-mortos-da-covid-como-peoes-descartaveis-no-xadrez-da-reeleicao.htm
- https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2020/04/14/juiz-manda-bolsonaro-excluir-igrejas-da-lista-de-servicos-essenciais.htm
- https://www.viomundo.com.br/politica/miola-pazuello-e-bolsonaro-tem-que-ser-julgados-por-genocidio-morticinio-arruina-imagem-das-forcas-armadas.html

     

CURTAS 98 - ANÁLISES (Brasil- Congresso)

  A GUERRA POVO X CONGRESSO                     A derrota inicial do decreto do IOF do governo federal pelo STF foi silenciosamente comemo...