quarta-feira, 29 de agosto de 2018

João Amoêdo: novo nome a trabalhar duro na velha política neoliberal

Entre os candidatos na retaguarda das intenções de votos destaca-se João Amoêdo. Destaca-se não por questão de representatividade, mas pelo perfil que vende.
Em uma entrevista publicada pela Veja Online, Amoêdo revelou seu patrimônio declarado em 480 milhões de reais, fruto de "anos de muito trabalho duro", o que já dá margem de suspeita sobre ele: na verdade um banqueiro. Qualquer trabalhador sabe que atingir esse notável patrimônio com salários modestos, mesmo por anos a fio e sem cometer delito, é uma meta praticamente impossível na melhor das hipóteses.
No que tange à polêmica relacionada à ONU, ele se disse favorável às interferências da entidade, de modo a contribuir para o "restabelecimento da ordem e aos direitos humanos".
Sobre a política de direitos humanos, ele se declarou favorável aos direitos dos LGBTIs. O que faz sentido, visto que este público costuma consumir mais do que o homossexual, segundo o Correio Brasiliense de 2013.
No que se refere à reforma trabalhista, ele a declarou como um "feito positivo do governo", alegando que desonera os empregadores, e à reforma previdenciária, também se mostrou favorável, mas que "fará uns ajustes". Resta saber que ajustes serão estes, e adivinhem para quem vai sobrar.
Sobre políticas públicas, Amoêdo foi claro: "sou a favor da privatização de todos os serviços públicos", garantindo ser possível "atendimento público pela iniciativa privada", justificando-se na velha ideia de "estado ineficiente", a ser substituído pela "eficiência do mercado". Declarou que até na educação básica, dever público por lei, pode ser totalmente privatizada.
Bem, nesse ponto qualquer bom entendedor poderá saber que, nesse ponto, ele realmente trabalhará com o mesmo interesse e afinco com que diz sido a origem de sua fortuna.



segunda-feira, 27 de agosto de 2018


Eleições 2018 e a crise: o papel ativo do voto nulo

     Apesar da previsão de inverno mais frio do que a média, em eleição este ano é quente pra chuchu no Brasil. A despeito dos números, a incerteza domina o cenário eleitoral. Condenado e preso um ex-presidente com provas dadas como controversas por uns e suficientes por outros, e livres nomes comparativamente mais perigosos que geram aversão e repulsa, nas redes sociais se digladiam dois grupos de campanha: um defensor do voto consciente e o outro defensor do voto nulo.
     Com apoio governamental, a campanha do voto consciente é constante desde a era Collor. Foram eleitos vários nomes novos, que não demoravam, no entanto, a aparecer em falcatruas divulgadas nas mídias, como até hoje. Com os escândalos de corrupção atuais, surgem as contracampanhas pelo voto nulo, que tomam a internet e as mídias.
     Atualmente, a lei eleitoral torna inválidos tanto os votos em branco quanto os nulos, o que não invalida o pleito mesmo quando os votos válidos sejam minoria na apuração pós-pleito. Ainda assim, a opção pelo nulo cresce nas redes sociais, proporcionalmente ao número de candidatos provadamente criminosos à eleição/reeleição.
     Daí entra a inovação na campanha do “voto consciente”: “quem vota nulo se anula”. O slogan faz sentido para quem vota apenas se aventurar, mas não para quem o faz por razões mais sólidas. E o governo sabe muito bem disso.
     Geralmente, quem vota nulo o faz como protesto: novos nomes não garantem nova política, com inúmeros exemplos há tempos. Na nossa cultura política, os interesses do grande capital pesam mais na representação dos candidatos. Mesmo sabendo ser seu voto sem efeito, os eleitores demonstram nele sua rejeição à preferência dos eleitos pelo poder em detrimento das necessidades da nação. E isso é uma razão profunda.
     O governo e a mídia sabem dessa consciência política, e se preocupam. Isso basta para mostrar que a nulidade não está em quem vota nulo, mas na ilusão de quem vai pelo "nome novo", sem saber que perpetua a velha e viciada política de sempre. Ainda mais pelo fato de que, na realidade, os votos válidos sempre terminam maioria nas urnas.
     Afinal, basta pensar um pouco para saber quem sempre esteve, de fato, em vantagem no nosso cenário, independentemente do partido no poder.

Alimentos transgênicos x agrotóxicos: uma crise alimentar e ambiental

É sabido entre a geral de que o Brasil é um líder entre os países que mais consomem agroquímicos na agropecuária. Mas, para a maioria dos parlamentares da bancada do boi, o consumo não é suficiente.
Tramita no congresso um projeto de lei que propõe liberação fiscalizada de mais agroquímicos, que se sabe serem condenados em vários países e pela OMS devido à grave toxidade à saúde humana. Entre os mais de 10 tipos de agroquímicos listados, figuram Endossulfam, Cihexatina, Tricloform, Pentaclorofenol e Lindano, este último usado em tratamento de madeiras.
Muitos desses produtos, citados no referido projeto, sequer têm descrição de seus efeitos, conforme mostra a tabela exposta pela Fiocruz (http://cee.fiocruz.br/?q=Anvisa-e-contraria-a-PL-do-veneno-e-lista-riscos-de-nove-agrotoxico-proibidos), o que aumenta ainda mais o potencial de envenenamento advindo do consumo alimentar.
O tema caiu nas redes sociais, sob fortes críticas da maioria dos internautas. Além da citada toxidade, a crítica razoável ocorre pelo fato de o uso de agrotóxicos (outro nome dos produtos) carecer de fiscalização pela Anvisa, nossa versão da estadunidense FDA, expondo trabalhadores e meio ambiente a índices preocupantes de contaminação.
O maior risco não fica somente no consumo dos alimentos "irrigados" com tais agroquímicos. O meio ambiente também sofre, o que pode se alastrar por grandes áreas além dos grandes campos cultivados, contaminando assim áreas naturais remanescentes nas adjacências e atingindo algumas populações tradicionais que porventura povoem os locais.
E pensar que os digníssimos parlamentares foram eleitos também tendo-se em vista dos anseios populares de melhor qualidade de vida. E pensar que a imprensa e os grandes ruralistas estão por trás dos ensejos de enfraquecer o potencial produtivo mais saudável do MST.



sábado, 25 de agosto de 2018

Ódio e intolerância como armas políticas: a voz da crise social

Desde a sua criação e popularização, a internet tem sido a principal fonte de informações atualizadas, notícias, entretenimentos diversos e negócios, no conforto doméstico e outros ambientes, inclusive na rua. Mas, também, passou a ser um espaço amplo para divulgação de páginas de cunho político, especialmente nas redes sociais.
Tais páginas têm proporcionado, propositalmente ou não, debates ou embates entre os usuários, que mostram suas posições políticas e ideológicas, nas quais "revivem" campos dados como "mortos" como direita e esquerda. Campos tão vivos que preocupam a classe política e movimentos da sociedade civil. Não, não é difícil explicar.
Preocupação esta que faz sentido. Especialmente nos últimos anos da era petista, a polaridade entre grupos ideologicamente distintos se direcionou para a agressividade. Grupos que apoiam a direita chamando os esquerdistas de "esquerdopatas" e esquerdistas chamando aqueles de "neofascistas" ou "nazifasci". E não ficou só nisso.
O crescimento dos grupos ditos fascistas - proto ou neofascistas -, muito mais rápido, tem sido impulsionado com a queda do PT como governo e a desorganização histórica da esquerda brasileira, voltando-se contra grupos e movimentos da sociedade civil que lutam por políticas alinhadas como esquerda: emancipação social de negros, mulheres, LGBTIs, indígenas, cotas para universidades e concursos públicos, Bolsa Família, etc.
Esses ataques demonstram a tendência protofascista que atinge em especial as gerações mais jovens e menos instruídas, que se deixam fascinar pela imagem de impoluto e sincero de vários nomes da dita nova direita (que de nova nada tem), que pregam políticas como liberação do porte de armas para os cidadãos ditos "de bem", diminuição da idade penal, aumento dos privilégios para as instituições cristãs, militarização das escolas na educação básica, fim das políticas de distribuição de renda como Bolsa Família.
Tal conjuntura de políticas prometidas pode, se concretizada numa hipotética vitória de Bolsonaro, por exemplo, agravar o estado clínico da sociedade brasileira, já adoentada pela extrema polarização causada pelo aprofundamento da divisão socioeconômica, cultural e filosófica.






quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Bolsonaro e a crise pessoal 3: ausência no próximo debate

Os três debates que ocorreram - na GloboNews, Band e RedeTV! - certamente agitaram muito a cena política, mostrando que esse ano é mesmo quente pra chuchu no quesito eleitoral.
Eles têm mostrado claramente como os candidatos podem influir na escolha dos eleitores na reta final até o pleito - mesmo que, nos casos de alguns dos nomes, muitos eleitores mantenham a mesma escolha.
E, como sempre, Jair Bolsonaro tem sido um dos destaques nos encontros, ou confrontos, o que vocês acharem melhor. Vencido ou vencedor nos confrontos individuais com determinados nomes, ele tem deixado a sua marca.
Fontes diversas na internet, como Uol, Globo, Jornal do Brasil, Revista Forum, Carta Capital e outras tantas, reportaram matéria segundo a qual o militar decidiu não comparecer no próximo debate, promovido pela Radio Jovem Pan. A alegação dele é a de ser "mais produtivo" fazer atos de campanha diretamente com eleitores ou em corpo-a-corpo.
Mas há quem possa não acreditar em tais alegações, pois o PT e Lula vem lutando para participar de ao menos algum dos debates, com recurso via judice. Um motivo a reforçar a descrença nas alegações do candidato é o fato de ele ter sido obrigado a se calar após os argumentos de Boulos no encontro da GloboNews e os de Marina Silva no da RedeTV!.
É... parece que Bolsonaro está a enfrentar, mesmo calado, a sua maior crise pessoal, consigo mesmo ou com seu personagem encarnado e pelo qual seus eleitores são tão apaixonados.


Bolsonaro e a crise pessoal 2: quem ele se demonstra

Ao fim do longo debate, os candidatos trocaram cumprimentos cordiais. Jair Bolsonaro idem, embora um pouco contido após os embates com adversários como Cabo Daciolo e Marina Silva. É nesse ínterim que os repórteres dos diversos canais de imprensa abordam os candidatos para as entrevistas.
Dentre os vários repórteres, destacou-se um jovem, que entre outras perguntas, perguntou a Bolsonaro sobre o conteúdo da "cola" escrita na palma da mão esquerda durante o debate. Foi aí que o militar se irritou, passando a confrontar o jornalista com bravatas jocosas como "você quer saber a cor da minha cueca?".
Esta cena agressiva foi parar nas redes sociais, recebendo uma gama de comentários diversos, muitos deles criticando a postura do candidato como desnecessária e destemperada, e outros a favor, voltando-se contra o jornalista quanto ao interesse dele pela cola.
Por incrível que pareça, é nessas horas infames que podemos perceber detalhes que servem de alerta para os espectadores. Se, de um lado, nessa hora a atribuição jornalística parece tão constrangedora, uma vez que é inescapável expor a estes e outros infortúnios, por outro lado é possível desmascarar o candidato em suas intenções e/ou caráter, pois uma cola, por mais inocente e infantil que pareça ser, revela muito de seu autor.
É justamente nessas horas que o eleitor se oportuniza de experimentar a grande chance de refletir sobre a sua escolha prévia. Se mesmo assim manter a mesma escolha, por um lado é direito, mas por outro, também se torna um indicador do caráter ou da qualidade do senso crítico do próprio eleitor.

terça-feira, 21 de agosto de 2018

Bolsonaro e a crise pessoal 1: embate com Marina Silva

O debate da rede TV! se repetiu com os candidatos mostrando-se como são, em suas posições ideológicas e temperamentos. Mas, desta vez, os holofotes se voltaram para Jair Bolsonaro, em dois momentos. Neste texto destaco o momento do embate com Marina Silva.
Duas figuras muito distintas: uma, formada na caserna, defensora das políticas de moralização militar da sociedade; a outra, moldada pela luta dos seringueiros por melhores condições de trabalho, com forte espírito político, a princípio na esquerda, para hoje estar em cima do muro.
O apreço à fé cristã é afinidade entre ambos, o que os leva a encarar reservadamente a massa LGBTI, mas com nuanças diferentes. E foi no tema dos direitos humanos, inclusive no trabalho, que a semelhança se dissolveu.
Ele defendia a diferença salarial entre os gêneros, o porte de arma pelos "cidadãos de bem", a militarização na educação, e a "redefinição" dos direitos dos LGBTI. Marina discordava, com argumentos até bastante sólidos para defesa da igualdade na diversidade, olhos nos olhos do militar, mostrando-se uma adversária à altura. Ao ponto de calá-lo na falta do que argumentar a mais para defender suas propostas.
Será que nesse embate Marina Silva ganha pontos para o pleito? Resta saber, em posterior debate.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Corrida eleitoral 2: Cabo Daciolo e a URSAL

Em se falando de corrida eleitoral, como descrito no texto anterior, o que caracterizou o debate foi a diversidade de perfis nos candidatos, o que possibilita ao eleitor se identificar melhor com aquele que lhe parecer mais palatável, pois de palavras ao vento de promessas e politicagens o povo já está cheio.
Mas um perfil não foi mencionado - propositalmente. Pois este caso merece atenção especial. É Cabo Daciolo. Ele se destacou ao liderar a greve dos bombeiros militares do Rio de Janeiro em 2011, chamando a atenção de muitos servidores estaduais e da PMERJ, que já sofriam problemas salariais, e o apoio de boa parcela do povo.
O espírito de liderança agregou respeito e fãs. Mas também, o olho grande na política. Foi assim que o ex-cabo do Corpo de Bombeiros Militar do RJ se elegeu deputado federal, inicialmente pelo PSOL. E não ficou só nisso.
Foi no porto seguro da política que ele pode então mostrar seu lado religioso. Evangélico, se destacou na Casa ao propor euforicamente a mudança no preâmbulo da Constituição de "Todo o poder emana do povo" para "Todo poder emana de Deus", em forte fervor. O que lhe custou a expulsão pelo princípio laicista do PSOL, tão fervoroso quanto a sua fé.
Atualmente está no Patriotas, antigo PT do B, onde aparentemente tem se limitado a seguir os passos de seus colegas de bancada religiosa, sem esquecer-se de, pelo menos, fazer propostas em prol de melhores condições de trabalho para os bombeiros militares. E onde também se lançou candidato à presidência, com 1 dígito de intenções de voto.
Como convidado ao primeiro debate, na Band, também se destacou: acusou Ciro Gomes de ter fundado o "perigoso" Foro de São Paulo e de articular a criação da URSAL, União das Repúblicas Socialistas da América Latina. Enquanto Ciro nada entendia, Daciolo desfilou explicações sobre a sigla. O que lhe rendeu uma enxurrada de memes nas redes sociais.
Certamente, Daciolo pode cair na poeira do primeiro turno das eleições presidenciais. Mas poderá ser o campeão de votos em matéria de memes, tão estapafúrdios e fervorosos quanto os seus discursos.
Corrida eleitoral: a crise contida no perfil dos candidatos

A corrida eleitoral começou de verdade assim que foram lançados os candidatos à presidência da República, no mês corrente. Os candidatos: Bolsonaro, Ciro Gomes, Marina Silva, Cabo Daciolo, Henrique Meirelles, Geraldo Alckmin, Guilherme Boulos e Álvaro Dias. A rede Bandeirantes de TV, ou Band, abriu o primeiro debate entre eles. Embora convidado, Lula foi impedido judicialmente de comparecer.
Em seus pronunciamentos, respondendo às perguntas de Ricardo Boechat, os candidatos mostraram suas posições. Nas esferas econômicas e serviços públicos, a maioria se expressou liberal ou neoliberal (Alckmin, Álvaro, Meirelles, Ciro), mais à esquerda (Boulos) ou populista (Ciro), e na dos direitos humanos, mais neutra (Alckmin, Ciro, Meirelles, Álvaro), três mais conservadores (Bolsonaro, Daciolo, Marina), e um progressista (Boulos). 
No temperamento, variaram desde o ímpeto de Bolsonaro, passando pelo contido Ciro, o "tiozão" Álvaro e os insossos Alckmin, Marina e Meirelles. Mesmo sendo mais jovem do que os citados, Boules mostrou-se mais determinado e pungente em seus apontamentos, sendo seu discurso associado em memes como os de um utópico maconheiro. Embora ausente, Lula já é conhecido em seu tom, dispensando comentários.
Embora a grande mídia tradicionalmente se atente às propostas na esfera econômica e no destino dos serviços públicos, o debate tem mostrado que o temperamento é componente valioso no perfil de um candidato, pois tem peso de voto baseado no sentimento de identidade do eleitor - e é aí que reside a maior crise eleitoral. E, pelo menos para esquentar ainda mais o ambiente, Lula fez muita falta.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Marina Silva: as pérolas metamorfósicas de uma bissexta

Após muito tempo assumindo a cara da militância de esquerda, Marina Silva assume há algum tempo dar muitas voltas nos caminhos políticos. E ultimamente tem sido lembrada pelo povo apenas nos anos de campanha eleitoral para a presidência da República. 
Em 2010, atuando no PV, partido que registrou a sua marca como ambientalista após sua passagem pelo Ministério do Meio Ambiente no primeiro governo Lula, ela faz a sua primeira campanha: "É preciso manter as conquistas, reparar os erros e superar os novos desafios", disse então.
Perdida a eleição para Dilma Rousseff, ela pareceu sumir de cena novamente, até que, quando da campanha de 2014, ela se filia ao PSB e, após um acordo, lança-se em campanha como vice na chapa com o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, também do PSB. 
Mas Eduardo Campos morre na queda de avião em São Paulo, e Marina então assume a campanha em seu lugar. Seu slogan: "No Brasil que temos, precisamos manter as conquistas, corrigir os erros e superar os novos desafios, para chegar ao Brasil que queremos".
Resultado: derrotada no primeiro turno das eleições, ela passa a apoiar Aécio Neves. Viu sem candidato derrotado nas eleições por diferença mínima, e sumiu de novo.
Em 2018, Marina retorna, já na linha de frente, tendo como vice Eduardo Jorge. E, junto, traz sua "nova" pérola": "Se eu ganhar a Presidência, vou manter as coisas boas, corrigir as coisas erradas e encarar os novos desafios".
Restará aos seus eleitores - que não são raros - verificar se a bissexta Marina inovou em seu discurso, e decidir se mantêm, ou não, a fidelidade bissexta em seu voto.
Roda Viva: na linha de tiro entre “bolsominions” e “petistas”

            O Programa Roda Viva foi escalado para sabatinar os presidenciáveis deste ano. Guilherme Boulos (MTST, PSOL); Geraldo Alckmin (PSDB-SP); Manuela D’Ávila (PC do B-RS) e Ciro Gomes (agora no PDT-CE) já passaram por lá, e os últimos, Jair Bolsonaro e Álvaro Dias. Normal, já que o Roda Viva há tempo se apraz nessa nobre função.
            A série de sabatinas com nomes tão diversos causou rebuliços nas redes sociais, revelando a audiência relativamente alta nas entrevistas. Claro, afinal, os eleitores esperam saber do que pensam os candidatos, o que é inteiramente normal, a despeito do arrastar insistente do esquema político, com discursos lindos, mas já desgastados.
            Os dois rebuliços mais relevantes foram os que envolveram Manuela e Bolsonaro, ideologicamente bem opostos. A entrevista com a jovem comunista foi classificada pelos simpatizantes vermelhos como “de tom reacionário e inquisidor”. Já os do militar julgaram como “esquerdopata”: os alvos dos ataques passaram a ser os jornalistas e não os candidatos.
            Há um bom tempo as relações entre a população e o jornalismo andam estremecidas. E nesse ano quente, eleitoral, onde nomes, políticos e juristas, têm notado notoriedade gritante, seja para serem atacados, ou endeusados como salvadores da pátria. Isso porque o povo, dentro ou fora das redes, toma informação dos fatos através da ação jornalística.
            Há quem julgue o jornalismo brasileiro como desgastado ou morto. Mas a conjuntura do momento tem mostrado que o nosso jornalismo está, ou pode estar, mal alfabetizado politicamente, mas não morto, definitivamente. Tendencioso ou não, o Roda Viva, em suas sabatinas, tem mostrado que o nosso jornalismo tem mediado a crise entre o povo e os políticos. Para o bem ou para o mal. 
Roda Viva: na linha de tiro entre “bolsominions” e “petistas”

O Programa Roda Viva foi escalado para sabatinar os presidenciáveis deste ano. Guilherme Boulos (MTST, PSOL); Geraldo Alckmin (PSDB-SP); Manuela D’Ávila (PC do B-RS) e Ciro Gomes (agora no PDT-CE) já passaram por lá, e os últimos, Jair Bolsonaro e Álvaro Dias. Normal, já que o Roda Viva há tempo se apraz nessa nobre função.
A série de sabatinas com nomes tão diversos causou rebuliços nas redes sociais, revelando a audiência relativamente alta nas entrevistas. Claro, afinal, os eleitores esperam saber do que pensam os candidatos, o que é inteiramente normal, a despeito do arrastar insistente do esquema político, com discursos lindos, mas já desgastados.
Os dois rebuliços mais relevantes foram os que envolveram Manuela e Bolsonaro, ideologicamente bem opostos. A entrevista com a jovem comunista foi classificada por seus simpatizantes como “reacionária e inquisidora”. Já os do militar julgaram como “esquerdopata”: os alvos dos ataques passaram a ser os jornalistas e não os candidatos.
Há um bom tempo as relações entre a população e o jornalismo andam estremecidas. E nesse ano quente, eleitoral, onde nomes, políticos e juristas, têm notado notoriedade gritante, seja para serem atacados, ou endeusados como salvadores da pátria. Isso porque o povo, dentro ou fora das redes, toma informação dos fatos através da ação jornalística.
há quem julgue o jornalismo brasileiro como desgastado ou morto. De certa forma, carece de certa originalidade. Mas a conjuntura do momento tem mostrado um caráter mal alfabetizado politicamente, mas não morto, definitivamente. Tendenciosas ou não, as sabatinas do Roda Viva têm mostrado que o nosso jornalismo tem mediado a crise entre o povo e a classe política. Para o bem ou para o mal.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018


MST e a crise: a agricultura orgânica na linha de tiro


Surgido no fim dos anos 1970 na luta pela reforma agrária – velho problema brasileiro – na zona rural do Pontal do Paranapanema (PR), alicerçado pelo progressista MEB da Igreja Católica e pelo movimento campesino de esquerda, o MST se destacaria por sua organização singular, cimentada na estrutura educacional crítica das escolas improvisadas nos assentamentos.
Embora reconhecido após o fim da ditadura militar, o MST continua na luta, com grupos assentando-se em terras ditas improdutivas de grandes fazendas. O que foi tratado como invasão pela grande imprensa, tornando o movimento conhecido (e rejeitado até hoje) pelo grande público. A maioria culpa os próprios sem-terra pela chacina de Eldorado dos Carajás em 1996 e outros confrontos com as polícias, ignorando que assentar-se em terras improdutivas já era proposta discutida com o governo Sarney.
Mas persiste também a ignorância sobre o papel do MST na renovação agrícola, em métodos como controle biológico de pragas e agroflorestas, para produzir alimentos orgânicos, livres de agrotóxicos. Os sem-terra estão por trás da atuação de algumas cooperativas em pequenas fazendas especializadas na produção de orgânicos, que terminam em crescente número de lares brasileiros.
Ironicamente, a grande imprensa sequer fala disso. Explica-se pela sua ligação com políticos conservadores, muitos dos quais da elite ruralista, fortemente movida por grandes doses de agrotóxicos e culturas transgênicas, fabricadas e generosamente oferecidas pela poderosa indústria do agronegócio. E seus produtos genética e quimicamente modificados, produzidos em massa, chegam mais baratos às mesas das classes trabalhadoras.
A Globo já abordou sobre a produção de orgânicos, mas na perspectiva capitalista, que gera produtos mais caros, consumidos por uma parcela mais restrita e abastada da população, omitindo que o MST está por trás de 65% da produção e do consumo de alimentos orgânicos. É a alimentação saudável na linha de tiro da crise relacional entre dois velhos inimigos: o movimento popular produtor e seus consumidores abastados.




Reforma trabalhista: a lei do mercado e a crise do trabalhador
Assumindo o governo sob protestos populares, o sempre impopular Temer anunciou a reforma trabalhista em cadeia nacional, sendo respondido com mais rejeição e manifestos ainda. Para pacificar os ânimos (sem êxito), Temer garantiu que “os direitos serão mantidos”. O povo não acreditou e seguiu nas ruas sob tiro, porrada e bomba da polícia.
A reforma trabalhista revogou dezenas de artigos e alterou severamente outras dezenas na CLT: férias distribuídas em até 3 períodos; redução do tempo de almoço a meia hora; contribuição sindical opcional; contrato intermitente (antes não havia); flexibilidade remuneratória; negociado sobre o legislado; mais descontos salariais por interesse do empregador, etc. Foi aprovada e sancionada em tempo recorde. Políticos e empresários atingiram o orgasmo. Para essa proeza, Temer pagou bilhões pelos votos favoráveis, como “emendas parlamentares”, de boa. A tríplice bancada BBB (bala, bíblia e boi) encabeçou os votos favoráveis. A oposição, claro, votou contra.
Apesar de a reforma vigorar apenas a partir de novembro/2017, os empregadores a puseram em prática tão logo foi aprovada, em agosto: muitos empregados foram demitidos e readmitidos pela nova lei, e nos litígios judiciais os trabalhadores ganharam uma dor extra de cabeça enquanto os ex-empregadores se safaram.
O governo e a grande mídia venderam a reforma no slogan de “mais liberdade e menos burocracia”. Mas por que então quase todo o povo é contrário a ela? Vamos aos pontos.
Alvos: o alvo é a população trabalhadora do mercado privado. Exceto os que trabalham em empresas diretamente terceirizadas pelos supremos tribunais, Congresso, Palácio presidencial e adjacências, que também ganham salários surrais.
Imposto sindical opcional: se o trabalhador se livra de imposto obrigatório de um lado, pode ficar ainda mais vulnerável nos seus direitos. Entre os sindicatos, os que têm histórico de mau proveito de contribuições ou irregularidade com erário público se ferram ainda mais.
Contrato intermitente: empregos de baixos salários são mais vulneráveis à precarização de direitos e da renda do que freelancers de padrão salarial muito alto.
Descontos salariais: os valores inicialmente negociados podem ser ainda mais achatados sob alegações diversas do empregador: tempo de trajeto entre casa e trabalho, cafezinho, banheiro (ferra o art. 4º da antiga CLT), conforme previsto na reforma.
FGTS: nesse direito em demissão, o empregador cresce o olho. Embora a lei preveja até 40% para o empregador, há quem pegue meio bolo de uma vez sem hesitar. Se não pedir mais!
Negociado sobre o legislado: é tanta liberdade de negociação em motivos diversos (demissões, alterações contratuais e/ou salariais, férias, etc.), que a lei parece perder seu valor. A vulnerabilidade do trabalhador chega a ser estapafúrdia. Há muito não podemos confiar nos empregadores...
Ação judicial: maior margem de perda ao trabalhador, que além das custas processuais, deve indenizar o ex-empregador. Tudo que construiu pode ser perdido no martelo do juiz. Já foram noticiados casos assim, bem antes da reforma vigorar de vez. Virou uma “indústria”, incentivada pelos próprios empregadores, na garantia de causa ganha.
Foi essa indústria, resultando em casos como o da ex-funcionária do Itaú em Curitiba, condenada a indenizar o banco em quase 70 mil reais, que teria levado o governo, segundo a mídia, a criar uma MP visando amenizar o problema. Mas a MP foi solenemente ignorada pelos congressistas, por prioridade a outros interesses.
A grande imprensa alardeia que os contrários à reforma “estão enganados”. Se fosse verdade, por que ela não se aplica às exceções diretamente terceirizadas pelos poderes em Brasília? Mais uma vez evidencia-se a cultura de privilégios e o andar térreo ganha menos e paga missa ato ainda. Com vocês, a Lei do Foda-se Trabalhador – mais um instrumento a favor do aprofundamento da crise nacional.


Escola sem Partido e a crise: o fundo do poço da ignorância política

Estamos num momento em que se aborda muito sobre a ignorância política nas mídias e nas redes sociais, ringues de ataques virtuais, iniciados quando alguém acusa políticos de determinada ideologia, não importa qual seja. Mas, afinal, como podemos definir e identificar a ignorância política?
É difícil definir a ignorância política por esta independer da corrente ideológica e pela indisfarçada conveniência midiática. Mas é fácil identifica-la: ataques subliminares a nomes de certa corrente podem indicar defesa a nomes de oposição – longe de ser politicamente alfabetizado. E isso tudo só enfatiza o histórico descaso com a educação.
As mídias enfatizam o tema em bons ou maus números sobre a alfabetização dos mais pobres, restringindo a discussão da qualidade na crítica às condições acintosas dos docentes, face à vergonhosa ostentação dos políticos e do judiciário. Não mensura sobre a capacidade da escola de completar a formação de cidadãos, de muni-los, inclusive, de alfabetização política – alvo do projeto conhecido como Escola sem Partido, do senador-pastor Magno Malta, que visa proibir o tema em aula “em respeito às convicções religiosas dos alunos”, demitindo e punindo professores “infratores” e tendo, claro, a doutrinação religiosa como pano de fundo.
Tal projeto visa, portanto, destruir a própria essência da educação, pois para a formação da cidadania, prevista pela Conferência Mundial de Educação para Todos (Tailândia, 1990), do qual o Brasil é signatário, e pela LDB/1996, é função da escola reforçar os valores de cidadania (solidariedade, justiça social, respeito à diversidade) e, por fim, capacitar o sujeito para fiscalizar as condutas dos governantes, parte da alfabetização política.
Se sem o mencionado projeto a escola já não tem tradição de alfabetizar politicamente – até por falta de preparo adequado dos docentes –, imagina com o mesmo vigorando, a escola atuando como centro de formação de apolíticos e acríticos prosélitos, e caminho de condução ao mais fundo do poço da crise da ignorância política e sociocultural da história moderna tupiniquim.
E esse ano oferece oportunidade para milhares de professores da educação básica de todo o país de decidirem pelo futuro - seu e das futuras gerações.
           


Judiciário: o crime, o privilégio e a crise
O judiciário brasileiro tem ganhado destaque no atual governo, pela sua forte proximidade com as classes governantes. Há um antagonismo entre a visão oficial e a popular sobre certos delitos e os réus. Vejamos alguns fatos conhecidos:
Bandido da Luz Vermelha: vindo de família pobre de SC, o criminoso foi condenado a mais de 100 anos de prisão por assaltos em residências, estupros e homicídios, cumprindo 30 deles por ser pena máxima no nosso código penal. Cumpriu-a integralmente, em regime fechado.
Thor Batista: o carro do filho de Eike Batista atropelou um ciclista numa via expressa carioca. O ciclista morreu. O velocímetro revelou alta velocidade (e direção perigosa). Thor se apresentou em delegacia e tudo, mas segue livre, leve e solto em seus possantes e o fato foi esquecido.
Galdino: O índio pataxó Galdino dormia em banco de praça pública em Brasília após participar de evento indígena, quando foi queimado vivo por cinco jovens “de classe média”. Faleceu no hospital. Apesar da longa repercussão midiática e popular, os rapazes, de famílias de megaempresários e políticos, estão impunes até hoje.
Marielle Franco: A recente execução da vereadora carioca do PSOL de início repercutiu forte na mídia e na população. Agora, a nossa imprensa mal aborda a respeito das investigações, mas na Europa a repercussão segue forte, com direito a manifestos populares pela punição dos envolvidos.
Tais fatos revelam que interesses de classe podem superar a gravidade do delito nas decisões judiciais. O fato de a justiça sempre funcionar seletivamente, mantendo impunes os mais abastados e influentes, revela a sua grave e crônica crise sócio identitária, traduzida em 60% da população carcerária ser composta de pobres aguardando julgamento, superlotando sem necessidade os presídios e ajudando a alimentar a violência.

Eleições 2018 e a crise 2: o papel ativo do voto nulo
Apesar da previsão de inverno mais frio do que a média, em eleição este ano é quente pra chuchu no Brasil. A despeito dos números, a incerteza domina o cenário eleitoral. Condenado e preso um ex-presidente com provas controversas, e livres nomes bem mais perigosos, que geram aversão e repulsa, nas redes sociais se digladiam dois grupos de campanha: um defensor do voto consciente e o outro defensor do voto nulo.
Com apoio governamental, a campanha do voto consciente é constante desde a era Collor. Foram eleitos vários nomes novos, que não demoravam, no entanto, a aparecer em falcatruas divulgadas nas mídias, como até hoje. Com os escândalos de corrupção atuais, surgem as contracampanhas pelo voto nulo, que tomam a internet e as mídias.        Os indecisos em geral votam em branco, mas seus votos são computados em favor do candidato ou legenda em vantagem. Por não ser computado, o voto nulo é perdido, não invalidando o pleito mesmo sendo maioria. Ainda assim, a opção pelo nulo cresce nas redes sociais, proporcionalmente ao número de candidatos provadamente criminosos à eleição/reeleição.
Daí entra a preocupação do governo, que inova na campanha do “voto consciente”: “quem vota nulo se anula”. O slogan faz sentido para quem vota apenas se aventurar, mas não para quem o faz por razões mais sólidas. E o governo sabe muito bem disso.
A grande maioria dos que votam nulo é de quem o usa como protesto: novos nomes não garantem nova política, com inúmeros exemplos há tempos. Na nossa cultura política, os interesses do grande capital pesam mais na representação dos candidatos. Mesmo sabendo ser seu voto sem efeito, os eleitores demonstram nele sua rejeição à preferência dos eleitos pelo poder em detrimento das necessidades da nação. E isso é uma razão profunda.
O governo e a mídia sabem que os optantes pelos voto nulo podem ter forte consciência política, tornando o seu voto, portanto, uma mensagem de alerta ou de discordância às escolhas. O que já basta para mostrar que a nulidade não está em quem vota pelo nulo, mas em quem vai pela ideia do nome novo, e/ou quem vota em branco, sem saber que perpetua a política contaminada, viciada e velha de sempre.
 

domingo, 5 de agosto de 2018

PT: Lula 2018 e a crise
            Mesmo massacrado pelo rolo compressor da dupla MDB-PSDB e aliados de partidos menores, o PT é tenaz como aço: entusiasmado pela solidariedade de militantes e fãs Brasil afora, tem persistido em Lula para a corrida presidencial, e agora o lança como "o cara" na arena. Mas como, se ele foi condenado como ficha-suja?
Segundo mídias diversas, Cármen Lúcia, presidente do STF, teria reconhecido que a prisão em segunda instância não impede obrigatoriamente a candidatura, o que indicaria uma brecha na Lei da Ficha Limpa. E o PT se aproveitou dessa brecha lançando Lula na disputa pela presidência.
Mas nem tudo são flores: junto à vantagem há duas desvantagens.
A vantagem se concentra no inegável carisma popular do ex-presidente, sua vocação estadista reconhecida (prêmios e títulos de honoris causa dentro e fora do país) pelos juízes do TRF-4 antes da condenação, a inteligência política, a repercussão dos movimentos populares no Brasil e em outros países com sua prisão, e as recentes pistas a sugerir possível falta de provas consistentes para a sua condenação.
A primeira desvantagem é depender da boa vontade do TSE em dar o sinal verde, o que pode ser bem difícil, apesar dos cenários mais recentes de intenção eleitoral indicarem a ampla liderança do ex-presidente, em torno de 40%.
A segunda é a de passar impressão de que PT e Lula parecessem ser um só, o que não é verdade. Há petistas de peso que nunca foram citados em escândalos e seguem os princípios originais da sigla, perdidos no ápice do poder: o senador Paulo Paim (RS), conhecido por sua defesa aos direitos trabalhistas, o senador Eduardo Suplicy, e o ex-governador Olívio Dutra (RS), que dispensava algumas mordomias. E tem outros, é ir na fé.
O PT poderia lançar nomes experientes, mas novos no pedaço presidencial, com propostas populares convincentes, com Lula como pano de fundo para dar aquela forcinha. Talvez pelas incertezas desse ano insista em Lula, pois este, tal como um espectro, ainda assombra os pra lá de suspeitos Henrique Meirelles, Geraldo Alckmin, Ciro Gomes, Bolsonaro e outros na corrida.
Porém, é bom insistir: é possível que tal insistência em Lula aguce ainda mais a  própria crise existencial petista.

Atualizado em 5 de agosto de 2018.
Reforma trabalhista, a crise do trabalhador

Assumindo o governo sob protestos populares, o sempre impopular Temer anunciou a reforma trabalhista em cadeia nacional, sendo respondido com mais rejeição e manifestos ainda. Para pacificar os ânimos (sem êxito), Temer garantiu que “os direitos serão mantidos”. O povo não acreditou e seguiu nas ruas sob tiro, porrada e bomba da polícia.
A reforma trabalhista revogou dezenas de artigos e alterou severamente outras dezenas na CLT: férias distribuídas em até 3 períodos; redução do tempo de almoço a meia hora; contribuição sindical opcional; contrato intermitente (antes não havia); flexibilidade remuneratória; negociado sobre o legislado; mais descontos salariais por interesse do empregador, etc. Foi aprovada e sancionada em tempo recorde. Políticos favoráveis e empresários atingiram o orgasmo. Para essa proeza, Temer pagou bilhões pelos votos favoráveis, como “emendas parlamentares”, de boa. A tríplice bancada BBB (bala, bíblia e boi) encabeçou os votos favoráveis. A oposição, claro, votou contra.
Apesar de a reforma vigorar apenas a partir de novembro/2017, os empregadores a puseram em prática tão logo foi aprovada, em agosto: muitos empregados foram demitidos e readmitidos pela nova lei, e nos litígios judiciais os trabalhadores ganharam uma dor extra de cabeça enquanto os ex-empregadores se safaram.
O governo e a grande mídia venderam a reforma no slogan de “mais liberdade e menos burocracia”. Mas por que então quase todo o povo é contrário a ela? Vamos aos pontos.
Alvos: o alvo é a população trabalhadora do mercado privado. Exceto os que trabalham em empresas diretamente terceirizadas pelos supremos tribunais, Congresso, Palácio presidencial e adjacências, que também ganham salários surrais.
Imposto sindical opcional: se o trabalhador se livra de imposto obrigatório de um lado, pode ficar ainda mais vulnerável nos seus direitos. Entre os sindicatos, os que têm histórico de mau proveito de contribuições ou irregularidade com erário público se ferram ainda mais.
Contrato intermitente: empregos de baixos salários são mais vulneráveis à precarização de direitos e da renda do que freelancers de padrão salarial muito alto.
Descontos salariais: os valores inicialmente negociados podem ser ainda mais achatados sob alegações diversas do empregador: tempo de trajeto entre casa e trabalho, cafezinho, banheiro (ferra o art. 4º da antiga CLT), conforme previsto na reforma.
FGTS: nesse direito em demissão, o empregador cresce o olho. Embora a lei preveja até 40% para o empregador, há quem pegue meio bolo de uma vez sem hesitar. Se não pedir mais!
Negociado sobre o legislado: é tanta liberdade de negociação em motivos diversos (demissões, alterações contratuais e/ou salariais, férias, etc.), que a lei parece perder seu valor. A vulnerabilidade do trabalhador chega a ser estapafúrdia. Há muito não podemos confiar nos empregadores...
Ação judicial: maior margem de perda ao trabalhador, que além das custas processuais, deve indenizar o ex-empregador. Tudo que construiu pode ser perdido no martelo do juiz. Já foram noticiados casos assim, bem antes da reforma vigorar de vez. Virou uma “indústria”, incentivada pelos próprios empregadores, na garantia de causa ganha.
Foi essa indústria, resultando em casos como o da ex-funcionária do Itaú em Curitiba, condenada a indenizar o banco em quase 70 mil reais, que teria levado o governo, segundo a mídia, a criar uma MP visando amenizar o problema. Mas a MP se perdeu por... “esquecimento” dos políticos por votação em outros interesses.
A grande imprensa alardeia que os contrários à reforma "estão enganados". Se fosse verdade, porque ela não se aplica às exceções diretamente terceirizadas pelos poderes em Brasília?
Mais uma vez, evidencia-se a cultura de privilégios e o andar térreo ganha menos e paga mais alto ainda. Com vocês, a Lei do Foda-se Trabalhador, mais um instrumento a favor do aprofundamento da crise nacional.

Publicado em junho de 2018.

Judiciário: o crime, o privilégio e a crise

O judiciário brasileiro tem ganhado destaque no atual governo, pela sua forte proximidade com as classes governantes. Há um antagonismo entre a visão oficial e a popular sobre certos delitos e os réus. Vejamos alguns fatos conhecidos:
Bandido da Luz Vermelha: vindo de família pobre de SC, o criminoso foi condenado a mais de 100 anos de prisão por assaltos em residências, estupros e homicídios, cumprindo 30 deles por ser pena máxima no nosso código penal. Cumpriu-a integralmente, em regime fechado.
Thor Batista: o carro do filho de Eike Batista atropelou um ciclista numa via expressa carioca. O ciclista morreu. O velocímetro revelou alta velocidade (e direção perigosa). Thor se apresentou em delegacia e tudo, mas segue livre, leve e solto em seus possantes e o fato foi esquecido.
Galdino: O índio pataxó Galdino dormia em banco de praça pública em Brasília após participar de evento indígena, quando foi queimado vivo por cinco jovens “de classe média”. Faleceu no hospital. Apesar da longa repercussão midiática e popular, os rapazes, de famílias de megaempresários e políticos, estão impunes até hoje.
Marielle Franco: A recente execução da vereadora carioca do PSOL de início repercutiu forte na mídia nacional e internacional, e na população. Mais de 3 meses após sua morte, não há novidades sobre investigação, mas na Europa a repercussão segue forte, com direito a manifestos populares dos movimentos feministas e pela punição dos envolvidos.
Tais fatos revelam que interesses de classe podem superar a gravidade do delito nas decisões judiciais. O fato de a justiça sempre funcionar seletivamente, mantendo impunes os mais abastados e influentes, revela a sua grave e crônica crise sócio identitária, traduzida em 60% da população carcerária ser composta de pobres aguardando julgamento, superlotando sem necessidade presídios sem condições para reinserção social e ajudando a alimentar a violência.

Eleição 2018 e a crise 1: intenções eleitorais
Os cenários eleitorais simulados, normais nessa época de eleições federais e estaduais, ainda seguem como tema bem quente para discussões, debates e muitos ataques dentro e fora das redes sociais, independentemente de as pesquisas serem verossímeis ou não.
Aqui também há dois momentos fáticos, antes e após a prisão de Lula.
Antes: Lula liderava imbatível em todos os cenários eleitorais simulados, não importando a mídia, mesmo tendo índice relativamente alto de rejeição. Bolsonaro em segundo, e Ciro e Marina brigando pela terceira colocação. Mesmo em simulações em caso de Lula ser condenado (julgamento em curso).
Após: surgem cenários sem Lula, nos quais Bolsonaro lidera. Com o petista, este volta a liderar, com cifras menores do que antes, devido à maior rejeição ligada à prisão. E é possível ele se candidatar mesmo assim, conforme o STF. Só na última pesquisa de intenção eleitoral, realizada pelo Instituto Paraná de Pesquisas e divulgado hoje, 21/6/2018, pelo Jornal do Brasil, que se mostra uma virada de placar simulado no estado de São Paulo, mostrando o militar à frente do ex-presidente.
Já houve aceno tímido do STF, segundo o qual ainda há possibilidade, ainda que bastante remota, de Lula se candidatar mesmo preso. Ainda assim, emedebistas, tucanos e outros aliados envolvidos nos mais diversos escândalos, embora beneficiados pela PGR e pelo STF, estão presos não na prisão como Lula, mas na panela de pressão da menor popularidade e da incerteza quanto ao futuro político. O motivo? O fantasma de Lula... mesmo preso.

Postagem de junho/2018.
Lula e a crise 1

Mesmo que não tenhamos pleno conhecimento dos crimes de Lula, também não o temos sobre o currículo dos atores políticos e jurídicos que protagonizaram o impeachment de Dilma. E olha que o pouquíssimo que sabemos, uma gota no rio Amazonas, é suficientemente assustador.
Ainda assim o governo atual, imposto pelos citados atores, autoproclamados “enviados divinos da moralização e da justiça”, está aí, e conseguiu a proeza de pôr o Brasil numa posição vergonhosa perante a comunidade internacional.
Lula segue cumprindo a sua pena. Mas, afinal, qual é o pior dos crimes? Ter propriedades particulares com o mimo de uma empresa “amiga”, ou botar uma nação inteira de joelhos e na miséria econômica, educacional e social, sendo vendida com quase tudo dentro, em nome dos interesses do grande capital? 
Ponte para o Futuro e a crise
Dilma sai de cena e entra Temer, cuja impopularidade se endureceu com as grandes mídias espetacularizando “bons ventos na economia”, “retorno do emprego” e “subida do PIB”, após anúncio da “Ponte para o Futuro”.
A Ponte: Fracasso da Reforma Política. Aprovação de projetos polêmicos a preços astronômicos. Enterro do pacote anticorrupção de Dilma. Perda de vários direitos trabalhistas. Mais perdão e isenções para gigantes empresariais, bancos e grande imprensa. Salário mínimo perdido. Inflação real desmentindo a oficial com aumentos frequentes penalizando o povo. Acordo trilionário com a Shell. Ameaça de privatização dos Correios e da Petrobrás. Desvios repetidos de grana dos serviços públicos essenciais para publicidade, subsídios e outros. Intervenção militar no Rio. Abusos financeiros do judiciário, que mantém livre gente altamente perigosa. Fim da Farmácia Popular. Fatiamento do Pré-Sal a preços irrisórios.
Consequências: Demissões nos Correios e no BB. Retração da produção interna. Quase 30 milhões de desempregados. Greves. Pobreza e violência urbana explodem. Imprensa admite: ricos enriquecem mais, economia e imagem do país lá fora afundam - apesar da insistência da grande mídia mais recentemente divulgar que a economia está se aquecendo.
Resultado final: crise socioeconômica, política, moral, institucional e existencial.
Restou ao povo a certeza implacável de que já viu esse filme antes, com inúmeros flashes em preto e branco, de várias décadas atrás. É, patuleia, essa é a Ponte para o Futuro... do Pretérito. Que não tem levado nada nem ninguém a lugar nenhum.


Crise nas relações de trabalho

Há quem diga que as relações de trabalho, mesmo funcionais, sejam no fundo pessoais. Há quem discorde, apontando que a eficiência funcional exige a frieza necessária à produção. Mas mesmo a confiança na presteza de certo funcionário tende a ser movida por empatia pessoal quando soltam o genérico “Fulano é melhor do que Cicrano”.
É normal se dar bem com uns, ser legal com outros e até não gostar de alguém específico. Conflitos eventuais são normais e bons para identificação e resolução de falhas, mas se são muito frequentes, sinalizam assédio moral, sentimentos pessoais negativos ou relação de poder, que desmotivam o funcionário “visado” e prejudicam seu desempenho. Mas há solução.
Um diálogo franco, aberto e com respeito mútuo, permite a identificação e a busca conjunta para resolver o problema. Se não for este o caminho, é melhor o dominador buscar um plano de reeducação ou, quiçá, uma consulta psiquiátrica.
O respeito é imprescindível. Cada pessoa é única em seu jeito de ser/agir, temperamento, ideias e ritmo de trabalho, não por má vontade ou acomodação. O funcionário deve saber se trabalha com ou para a equipe: subordinação e submissão são diferentes, e relações de poder evidenciam a crise civilizatória e de humanidade que vivemos. Não custa nada fazer a Lei Áurea funcionar!

CURTAS 98 - ANÁLISES (Brasil- Congresso)

  A GUERRA POVO X CONGRESSO                     A derrota inicial do decreto do IOF do governo federal pelo STF foi silenciosamente comemo...